Estas são duas imagens duma casa. Há uma diferença óbvia, mas para esta paciente, P. S., parecem totalmente idênticas. P. S. sofreu um AVC que danificou a parte direita do cérebro, deixando-a inconsciente de tudo do seu lado esquerdo. Mas embora não consiga distinguir qualquer diferença entre as duas casas, quando os investigadores lhe perguntaram em qual delas preferia viver, ela escolheu a casa que não estava a arder — não apenas uma vez, mas vezes sem conta. O cérebro de P.S. continuava a processar informações do seu campo de visão. Ela via as duas imagens e percebia a diferença entre elas, mas não tinha consciência disso. Se alguém atirasse uma bola para o lado esquerdo, ela encolhia-se. Mas não tinha consciência dessa bola nem sabia porque é que se encolhera. O estado de P.S. conhecido por negligência unilateral, revela uma distinção importante entre o processamento de informações do cérebro e a nossa experiência desse processamento. Essa experiência é aquilo a que chamamos consciência. Temos consciência do mundo exterior e do nosso interior — temos consciência duma imagem do mesmo modo que temos consciência de nós mesmos, olhando para uma foto ou dos nossos pensamentos e emoções. Mas de onde surge a consciência? Cientistas, teólogos e filósofos têm tentado chegar ao fundo desta questão, desde há séculos, sem chegarem a um consenso. Uma teoria recente é que a consciência é a imagem imperfeita que fazemos da nossa atividade cerebral. Para compreender esta teoria ajuda-nos termos uma ideia clara duma forma importante como o cérebro processa as informações dos nossos sentidos. Com base nas informações dos sentidos, constrói modelos que estão continuamente a atualizar-se, descrições simplificadas de objetos e acontecimentos no mundo. Tudo aquilo que sabemos baseia-se nesses modelos. Nunca captam todos os pormenores ou coisas que descrevem, apenas o suficiente para o cérebro determinar respostas adequadas. Por exemplo, um modelo construído profundamente no sistema visual codifica a luz branca como um brilho sem cor. Na realidade, a luz branca inclui comprimentos de onda que correspondem a todas as diferentes cores que vemos. A nossa perceção da luz branca é errada e ultrassimplificada, mas suficientemente boa para nós funcionarmos. Do mesmo modo, o modelo do cérebro para o corpo físico mantém a noção da configuração dos nossos membros mas não das células individuais nem sequer dos músculos, porque esse nível de informações não é necessário para planear movimentos. Se eu não tivesse o modelo que tem a noção da dimensão e da forma do corpo, e dos movimentos que faço em qualquer momento, rapidamente me magoaria. O cérebro também precisa de modelos de si mesmo. Por exemplo, o cérebro consegue prestar atenção a objetos e acontecimentos específicos. Também controla essa concentração, mudando-a de uma coisa para outra, interna e externamente, consoante as nossas necessidades. Sem essa capacidade de dirigir a nossa concentração, não conseguiríamos avaliar ameaças, acabar uma refeição, nem sequer funcionar. Para controlar a concentração, eficazmente, o cérebro tem de construir um modelo da sua própria atenção. Com 86 mil milhões de neurónios a interagir permanentemente uns com os outros, não há forma de o modelo do cérebro de si mesmo, do processamento de informações poder ser perfeitamente autodescritivo. Mas, tal como o modelo do corpo ou a nossa conceção da luz branca, não precisa de o ser. A nossa certeza de que temos uma experiência subjetiva metafísica pode surgir de um dos modelos do cérebro, uma descrição de atalho daquilo que necessita para processar informações de modo concentrado e profundo. Os cientistas já começaram a tentar descobrir como o cérebro cria esse modelo de si mesmo. Estudos MRI são uma via promissora para localizar as redes envolvidas. Estes estudos comparam padrões da ativação dos neurónios quando alguém está consciente ou não dum estímulo sensorial, como uma imagem. Os resultados mostram que as áreas necessárias para o processamento visual são ativados quer o paciente esteja ou não consciente da imagem mas toda uma rede adicional se ilumina só quando ele está consciente de ver essa imagem. Os pacientes com negligência unilateral, como P.S., têm normalmente danos numa parte especial desta rede. Por vezes, danos mais extensos da rede podem levar a um estado vegetativo, sem quaisquer sinais de consciência. Indícios como este aproximam-nos mais da compreensão de como se forma a consciência no cérebro, mas ainda há muito que aprender. Por exemplo, a forma como os neurónios nas redes relacionadas com a consciência calculam peças específicas de informações está fora do âmbito da nossa tecnologia atual. À medida que nos aproximamos de questões de consciência com a ciência, abrir-se-ão novas linhas de estudo sobre a identidade humana.