Eu vou falar-vos de duas das coisas mais emocionantes possíveis. Provavelmente já adivinharam — os dados e a História. Certo? Eu não sou historiador. Não vos vou dar uma definição de história Ao invés disso, vamos pensar na História dentro de uma estrutura. Então, quando fazemos História, ou quando criamos documentos históricos, nós agarramos em coisas que aconteceram no passado, e juntamo-las, costurando-as numa história. Vou começar com um bocadinho da minha história. Como todos os da minha idade que trabalham criativamente com computadores, eu era um jovem popular, socialmente bem ajustado (Risos) — e desportista! Um jovem desportista. Tal como muitos da minha idade e no meu ramo de atividade, eu fui tremendamente influenciado pela Apple. Mas observem a minha escolha do logotipo aqui. A Apple da esquerda, não a Apple da direita. Eu sou tão influenciado pela Apple da direita como qualquer outra pessoa mas a Apple da esquerda... olhem para aquele logótipo! É um arco-íris. E nem está na ordem correta! (Risos) Isto mostra quão louca era a Apple. (Risos) Mas eu não quero falar muito sobre a empresa. Vou começar por falar sobre uma máquina. É fascinante pensar nisso. Vou recuar no tempo e pensar nisso. Quarta-feira. Uma quarta-feira, quando eu tinha uns 12 anos, não tinha computador. Na quinta-feira, eu tinha um computador. Conseguem imaginar esta mudança? É tão drástica. Não consigo pensar em nada que possa mudar tanto a nossa vida. Mas não vou falar no computador. vou falar num programa que vinha naquele computador. Fora feito, não pelo homem à esquerda, mas pelo homem à direita. Alguém sabe quem é o homem à direita? Nunca ninguém sabe a resposta a esta pergunta. Este é Bill Atkinson. Bill Atkinson foi o responsável por muitas das coisas que vemos no nosso computador diariamente. Mas eu quero falar de um programa que o Bill Atkinson escreveu, designado HyperCard. Há alguém ali a aplaudir. (Risos) O HyperCard era um programa que acompanhava o Mac, e fora desenvolvido para que os utilizadores do computador escrevessem programas nos seus computadores. Uma ideia louca hoje. Estes programas não eram os aplicativos em que pensamos hoje, com grandes orçamentos e grandes distribuições. Eram pequenas aplicações que as pessoas criavam. para seguirem a pontuação das equipas de basquete locais ou para organizarem uma pesquisa ou para ensinarem música clássica às pessoas ou para calcularem datas astronómicas estranhas. E claro, para fazerem alguns projetos artísticos. Este é o meu favorito. Chama-se "Se os monges tivessem Macs". É um tipo de ambiente de exploração não-linear. Estou eternamente grato às estrelas pelo HyperCard. E igualmente grato às estrelas por me terem colocado nesta época em que eu pude usar o HyperCard. O HyperCard foi o último programa lançado num computador público que foi desenvolvido para os utilizadores poderem fazer os seus programas. Se conversássemos com os inventores do computador e lhes disséssemos que um dia, um dia mágico, todos teriam um computador, mas ninguém saberia programar, eles pensariam que estávamos malucos. Vamos avançar uns anos. Estou a começar a minha carreira de artista, e construo coisas com o meu computador, numa escala pequena, investigando coisas como os sistemas de crescimento das plantas. Ou, neste exemplo, construo uma economia simulada onde os pixéis estão a negociar cores uns com os outros, tentando investigar como funcionam estes tipos de sistemas, e a divertir-me um bocado. Então, este projeto levou-me a trabalhar com dados e comecei a fazer gráficos como este, que compara "comunismo" — a frequência do uso da palavra "comunismo" no New York Times — com "terrorismo", no topo. Vemos que "terrorismo" aparece e "comunismo" vai desaparecendo. Com estes gráficos, eu estava interessado na estética deles. Estes são o Irão e o Iraque. Lê-se como um relógio. Chama-se "gráfico de relógio". Este é outro gráfico de relógio que sobrepõe "desespero" e "esperança". Há apenas três momentos — é "crise" sobre "esperança" — há apenas três vezes em que "crise" eclipsa "esperança". Neste momento, estamos no meio de uma delas. Mas não pensem muito nisso. (Risos) Finalmente, culminando este trabalho com os dados do New York Times há uns anos tentámos combinar o ciclo de notícias de um ano inteiro num único gráfico. Estes gráficos mostram-nos um ano inteiro de notícias, todas as pessoas, e como elas se interligaram num único gráfico. A partir daí, comecei a interessar-me novamente por sistemas mais ativos. Este é um projeto chamado "Acabei de Aterrar," em que estou a ver as pessoas a fazer "tweets" no Twitter. "Olá! Acabei de aterrar no Havai!" — como as pessoas se tentam insinuar nas suas conversas do Twitter: "Eu não estou a exibir-me. A sério. Mas acabei de aterrar no Havaí." Então eu estou a detetar a viagem destas pessoas na esperança de podermos usar as redes sociais e os dados que isto nos proporciona para criar um modelo da movimentação das pessoas. que pode ser valioso para epidemiologistas, entre outros. E, muito divertido — este é um projeto similar: olhar para as pessoas que dizem "Bom dia" umas para as outras pelo mundo inteiro. O que me ensinou, a propósito, que é verdade que, em Vancouver, na Costa Oeste as pessoas acordam mais tarde e dizem "bom dia" muito depois das pessoas na Costa Leste, que são mais intrépidas. Este é um projeto mais útil — talvez — em que eu agarrei em todas as informações do Projeto Kepler e tentei dar-lhe uma forma visual que fizesse sentido para mim. Devo dizer que tudo que mostrei até agora são coisas que fiz apenas por prazer. Pode parecer estranho, mas isto volta ao HyperCard. Eu estou a construir ferramentas para mim. Posso partilhá-las com outras pessoas mas são apenas para diversão, são para mim. Todas estas ferramentas que mostrei ocupam um espaço estranho entre a ciência, a arte e o "design". É aqui que reside a minha prática. Ainda hoje, a partir da minha experiência com o HyperCard, estou a construir ferramentas visuais que me ajudam a entender sistemas. Hoje trabalho no New York Times. Eu sou o artista de dados residente no New York Times. E tive a oportunidade no Times de trabalhar numa série de projetos muito interessantes. dois dos quais vou partilhar hoje convosco. No primeiro, tenho trabalhado em conjunto com Mark Hansen. Mark Hansen é professor de estatística na UCLA e também é artista dos "media". E o Mark veio ao Times com uma pergunta muito interessante que pode parecer um problema óbvio: Quando as pessoas partilham conteúdos na Internet, como é que o conteúdo vai da pessoa A para a pessoa B? Ou talvez, da pessoa A para B, para a pessoa C, para a pessoa D? Sabemos que as pessoas partilham conteúdos na Internet, mas o que não sabemos é o que ocorre nesse intervalo de uma pessoa para a outra. Assim, decidimos construir algo para explorar isso e esta ferramenta chama-se Cascata. Se olharmos para estes sistemas eles começam com um evento que leva a outros eventos. Chamamos "cascata" a esta estrutura. Estas cascatas ocorrem ao longo do tempo. Então podemos modelá-las ao longo do tempo. O New York Times tem muita gente que partilha os nossos conteúdos, por isso a cascata não é parecida com esta, mas com esta. Esta é uma cascata típica. No canto inferior esquerdo, o primeiro evento. Depois, as pessoas partilham o conteúdo de uma pessoa para outra, nós subimos no eixo Y — os graus de separação — e avançamos no eixo X — o tempo. Podemos olhar para essa conversa e duas maneiras: esta, que nos mostra os tópicos da conversa, e esta, que combina essa visão empilhada com uma visão que nos permite ver os tópicos. O Times publica umas 7000 peças de conteúdo, todos os meses. Assim, quando estávamos a criar esta ferramenta, era importante para nós torná-la exploratória, para as pessoas poderem cavar este vasto terreno de dados. Penso nisso como um veículo que estamos a dar às pessoas para atravessar este terreno de dados realmente grande. É este o seu aspeto, e esta é a cascata a ocorrer em tempo real. Eu tenho de dizer, isto foi um momento tremendo. Tínhamos trabalhado com dados de teste, com dados falsos, durante tanto tempo, que, quando vimos isto, no primeiro momento foi como um arqueólogo que acabara de tirar o pó a ossos de dinossauro. Nós descobrimos esta coisa, e estávamos a vê-la pela primeira vez, essas estruturas de partilha subjacente à Internet. Talvez a analogia do dinossauro seja uma coisa boa, porque estamos a fazer suposições probabilísticas sobre como essas coisas se articulam. Olhamos para algumas destas peças e a fazer algumas suposições, mas tentamos garantir que elas são, estatisticamente, tão rigorosas quanto possível. Os "tweets", neste caso, tornam-se partes das histórias. Tornam-se partes das narrativas. Então, estamos a construir histórias aqui, mas são histórias de curto prazo. E às vezes as cascatas muito grandes são as mais interessantes, mas às vezes as pequenas também são interessantes. Esta é uma das minhas favoritas. Chama-se "Cascata Rabino". É uma conversa entre rabinos sobre este artigo no New York Times, sobre o facto de os trabalhadores religiosos não terem muito tempo livre. Eu acho que os sábados e os domingos são maus dias para eles arrancarem. Nesta cascata, há um grupo de rabinos a conversar sobre uma história do New York Times. Um deles tem o melhor nome do Twitter de sempre, chama-se "O Rabino Velveteen". (Risos) Mas nunca teríamos encontrado isto se não fosse esta ferramenta exploratória. Isso estaria apenas algures, e nunca o teríamos visto. Mas esse exercício de agarrar em pedaços isolados de informações e construir estruturas narrativas, construindo histórias a partir deles, é extremamente interessante, quanto a mim. Eu mudei-me para Nova Iorque há uns dois anos. Em Nova Iorque, toda a gente tem uma história relacionada com aquele acontecimento de enorme impacto que ocorreu a 11 de setembro de 2001. A minha história no 11 de Setembro tornou-se muito mais complexo, porque passei muito tempo a trabalhar num pedaço do memorial do 11 de Setembro, em Manhattan. A ideia central do Memorial do 11 de Setembro é que os nomes no memorial não estão dispostos por ordem alfabética ou por ordem cronológica. Em vez disso, estão dispostos de uma maneira em que as relações entre as pessoas que morreram estão incorporadas no memorial. Os irmãos estão colocados ao lado de irmãos, os colegas de trabalho estão colocados juntos. Este memorial considera todas essas inúmeras ligações que faziam parte da vida dessas pessoas. Eu trabalhei com uma empresa chamada Local Projects, a trabalhar num algoritmo e numa ferramenta de "software" para ajudar os arquitetos a construir o "layout" do memorial: quase 3000 nomes e quase 1500 pedidos de vizinhança, esses pedidos de ligação — uma história muito densa, uma narrativa muito densa, que se torna numa parte incorporada deste memorial. Trabalhando com Jake Barton, produzimos a ferramenta de "software", que permitiu aos arquitetos, primeiro que tudo, gerar um "layout" que satisfez todos os pedidos de vizinhança, e depois, fazer pequenos ajustes onde era preciso, para contar as histórias que eles queriam contar. Esse memorial, segundo penso, tem um conceito extremamente oportuno na nossa era das redes sociais, porque essas redes — as redes da vida real que compõem a vida das pessoas — estão incorporados dentro do memorial. Uma das experiências mais terrivelmente comoventes é ir ao memorial e ver como essas pessoas estão colocadas umas ao lado das outras, para que este memorial represente as suas vidas. Como é que isso afeta a nossa vida? Eu não sei se vocês se lembram, mas na primavera, houve uma controvérsia, porque descobriu-se que, no iPhone, e nos nossos computadores, guardávamos uma quantidade enorme de dados sobre localização. Então, a Apple respondeu, dizendo que não eram dados de localização sobre nós, eram dados de localização sobre as redes sem fios que estavam na área onde vocês estão. Portanto, não é sobre nós, é sobre onde nós estamos. (Risos) São dados muito valiosos. São como ouro para os investigadores, esses dados da mobilidade humana. Então pensámos: "Bolas! Quantas pessoas têm iPhones? " Quantos de vocês têm iPhones? Então, nesta sala, temos uma enorme base de dados de localização de que os investigadores gostariam muito, muito mesmo. Assim, criámos um sistema chamado Open Paths, que permite que as pessoas enviem os dados do iPhone e as relações com corretores, com investigadores para partilharem esses dados, para doar esses dados às pessoas que podem realmente usá-los. O Open Paths foi um ótimo sucesso enquanto protótipo. Recebemos milhares de conjuntos de dados, e criámos uma interface que permite que as pessoas vejam o desenrolar da sua vida a partir desses dados que se mantêm nos seus dispositivos. Mas não esperávamos quão emocionante seria essa experiência. Quando carreguei os meus dados, pensei: "Nada de especial. "Eu sei onde moro. Eu sei onde trabalho. O que é que vou ver aqui? " Acontece que o que eu vi foi quando saí do avião para começar a minha nova vida em Nova Iorque; o restaurante onde eu comera comida tailandesa nessa primeira noite a pensar nesta nova experiência de estar em Nova Iorque; o dia em que conhecera a minha namorada. Este é o aeroporto de LaGuardia. (Risos) Este é um restaurante tailandês na Amsterdam Avenue. Este é o momento em que conheci a minha namorada. Vejam como isto muda a primeira vez em que contei estas histórias e a segunda vez que eu falei sobre estas histórias? Porque o que fazemos é que pomos na ferramenta, involuntariamente, estes dados num contexto humano. Quando colocamos dados num contexto humano, eles ganham significado. E eu acho que isso é extremamente importante, porque estas são nossas histórias que estão armazenadas nos dispositivos. Ao pensarmos neles desta maneira, ao colocá-los num contexto humano — primeiro de tudo, o que fazemos com os nossos dados é entender melhor o tipo de informação que estamos a partilhar. Mas se pudermos fazer isso com outros dados, se pudermos colocar dados num contexto humano, acho que podemos mudar muitas coisas, porque cria, automaticamente, empatia com as pessoas envolvidas nesses sistemas. Isso, por sua vez, resulta num respeito fundamental, que, segundo creio, falta em grande parte da tecnologia, quando começamos a lidar com questões como a privacidade, ao percebermos que esses números não são apenas números, mas estão interligados, amarrados a pedaços do mundo real. Têm peso. Se entendermos isso, a caixa de diálogo torna-se muito diferente. Quantos de vocês já clicaram num botão que permite que terceiros tenham acesso aos dados de localização do telefone? Muitos de vocês. Então, a terceira parte é o programador, a segunda parte é a Apple. A única parte que nunca tem acesso a esta informação é a primeira parte! Acho que é porque pensamos nesses dados de forma isolada e abstrata. Não os colocámos em contexto o que, segundo creio, os torna muito mais importante. Assim, o que vos peço que façam é muito simples: comecem a pensar em dados num contexto humano. Não é preciso nada. Quando lerem os preços das ações, pensem nelas num contexto humano. Quando pensarem em relatórios de hipoteca, pensem neles num contexto humano. Não há dúvida de que os grandes dados são um grande negócio. Há uma indústria em desenvolvimento. Pensem em como fizemos bem em indústrias anteriores em que desenvolvemos recursos envolventes. Não foi lá muito bem. Eu acho que parte do problema é que tivemos falta de participação nesses diálogos de várias partes da sociedade humana. Então a outra coisa que eu peço é a inclusão neste diálogo de artistas, de poetas, de escritores de pessoas que podem contribuir com um elemento humano para esta análise. Porque acredito que este mundo de dados vai ser transformador para nós. Ao contrário das nossas tentativas com a indústria de recursos e as nossas tentativas com o setor financeiro, ao introduzir o elemento humano nesta história, podemos levá-lo a locais maravilhosos. Obrigado. (Aplausos)