Eu sou negra. Desde que me lembro, é assim que eu me descrevo. Descrever-me como negra nunca foi algo que fiz com ódio. Eu era uma criança que tinha que pensar sobre raça, porque, quando você cresce com um Jesus branco, você vai se perguntar o porquê de ele não se parecer com você. Minha mãe foi a primeira pessoa a moldar meu ponto de vista sobre raça e diversidade. A explicação dela era simples: "Existem pessoas negras, brancas, asiáticas, etc. Apesar de parecermos diferentes, somos todos iguais". E era isso. Eu estava na sexta série quando descobri que não era apenas negra. Na verdade, eu tinha a pele parda, ou seja, no meio do espectro da cor negra. O termo pele parda é relativo, Comparado a quem? Ninguém sabe, porque é tudo inventado, e varia de pessoa para pessoa. E ainda, há um entendimento muito claro entre a maioria das pessoas que Drake tem a pele clara, e Lupita Nyong'o tem a pele escura. Pensei: "Isso é plausível". Há pessoas de pele clara, parda ou escura. E, na minha escola no Brooklyn, cheia de negros, pensei que não houvesse divisão entre os ditos tons de preto. Todos saíam com todos, e todos geralmente eram respeitados, mesmo se, de vez em quando, a gente ouvisse: "Ei, seu negro maluco". Basicamente, ocorriam outras coisas em que víamos aquilo que determinava nossa estratificação social. Então, fui para o ensino médio e comecei a notar algumas coisas. Percebi que o mundo ao meu redor tendia um pouco para as pessoas com pele mais clara. Percebi que garotas com pele mais clara tinham mais curtidas e comentários no Instagram, e que os caras de quem eu gostava só iam atrás de certos tipos de garotas. Também percebi que pessoas mais escuras não eram representadas nos programas de TV e nos filmes a que eu assistia. E, quando eram, representavam o gueto, começavam as brigas, eram personagens secundários. No entanto, os efeitos que o colorismo tiveram sobre mim na época eram coisas que pensei que poderia evitar e até contrariar, sem gastar energia com isso e vivendo minha vida. E assim eu fiz. E, por um tempo, funcionou, porque consegui me convencer de que se eu conseguir me separar do problema, posso evitá-lo. Tudo mudou quando entrei na faculdade, porque lá, entre todos os universitários e pressões acadêmicas, aprendi muito a meu respeito e ainda mais sobre o mundo ao meu redor. Pela primeira vez, eu não tinha mais a garantia de ter pessoas que pensavam exatamente como eu. Pela primeira vez, o espectro de pardo não era um espectro. Era uma dicotomia. Você tinha a pele clara ou escura. Eu era considerada de pele escura, e as pessoas não viam isso como uma coisa boa. É claro, ninguém me dizia: "Amaya, sua pele é escura. Você é feia". Mas houve muitas microagressões que deixaram isso bem claro. Vocês conhecem a história: "Não é que as garotas de pele escura sejam feias. Eu apenas prefiro garotas mais claras". Foi então que percebi que o colorismo está vivo e bem, e as pessoas não gostam de falar sobre isso. O que é colorismo afinal? Embora não seja um fenômeno novo, essa palavra foi criada em 1982, por Alice Walker, que a definiu como tratamento tendencioso ou preferencial de pessoas da mesma raça com base somente na cor. O termo-chave aqui é: pessoas da mesma raça, o que o torna um pouco diferente do racismo evidente. É tipo isto: se os Estados Unidos fossem uma árvore, e suas raízes fossem o racismo, o colorismo seria como uma folha saindo do ramo que é o eurocentrismo. Porque, desde que os europeus tiveram contato com os africanos, eles acreditavam que eram a melhor raça. E essa ideia generalizada do claro ser melhor do que o escuro, porque branco é melhor do que negro, nunca deixou de existir. E isso é ruim, porque significa que não apenas os negros mais escuros têm que lidar com o racismo dos brancos e das pessoas não negras, mas também com um tratamento mais severo de outros negros, porque são mais escuros do que um saco de papel pardo. Há vários motivos pelos quais esse fenômeno é problemático. Por uma questão de tempo, compartilharei apenas alguns. O colorismo cria um estereótipo sobre o que é a negritude aceitável. Ele cria um modelo de negro, se podemos assim dizer, e o colorismo coloca os negros uns contra os outros, e é isso que os brancos querem. Entendam que as pessoas de pele clara não são culpadas pelo colorismo. Elas não têm culpa por terem nascido assim. No entanto, o privilégio da pele clara existe, porque, junto com essas visões, noções e estereótipos do que é a negritude aceitável, vêm visões, noções e estereótipos negativos de pessoas que não se encaixam nessa caixa-preta "branca". Os estereótipos incluem: serem menos cultos, mais do gueto, mais feios e, em geral, menos apropriados do que os de pele mais clara. Isso é visto em todos os lugares ao longo do tempo. Em espetáculos de menestréis, em que homens brancos se fantasiavam de caricaturas escuras e se faziam parecer quase idiotas para zombar dos negros. Ainda é visto hoje na televisão, em que personagens escuros são usados como ferramentas para contrastar personagens claros, para que estes pareçam mais vulneráveis e suaves. Por exemplo, Penny Proud, de "A Família Radical", e sua melhor amiga, Dijonay Jones, com seus oito irmãos e irmãs e um nome difícil de pronunciar. Ou Pam e Gina, da série de TV "Martin", da Fox. Também está na literatura aclamada pela crítica. Por exemplo, "O olho mais azul", de Toni Morrison, em que a personagem principal Pecola Breedlove ouvia repetidamente que, por ser negra, não era bonita. E ela internalizou isso, o que a fez odiar pessoas de pele clara. Isso é muito problemático, porque pessoas mais escuras farão esforços drásticos para se tornarem esse modelo negro para receberem os privilégios associados a ele. É por isso que o povo caribenho branqueia a pele. É por isso que mulheres falam a seus filhos: "Não fiquem lá fora por muito tempo ou ficarão muito escuros". E é por isso que alguns homens escuros, e mulheres, na verdade, encontram a pessoa mais clara que puderem para se casarem e terem filhos, para que seus filhos não sejam escuros como eles. Isso espalha o ódio por si mesmos e coloca os negros uns contra os outros. Outra coisa para se entender: colocar os negros uns contra os outros não é um fenômeno novo. Isso foi usado, durante a escravidão, para dividir e conquistar. Os brancos fazem isso agora pela mesma razão. Se você fizer os negros se odiarem por algo tão natural e biológico como a cor da pele, é menos provável que fiquem unidos, e assim será preciso menos trabalho para você se manter no poder. Isso é bem mostrado no filme "Lute Pela Coisa Certa", de Spike Lee, em que um dos destaques do filme é uma cena musical na qual mulheres claras e escuras trocam ofensas como: neguinha, cabelo ruim e aspirante a branquela. Os brancos também usam isso para desculpar suas intenções ou noções racistas. Ao dar privilégios especiais a esses negros-modelos e ajudá-los a chegar ao topo, podem mantê-los acima do restante de sua raça, dizendo: "O sistema não é o motivo de sua falha. Veja essas pessoas: elas são bem-sucedidas. Você não é por sua causa. Aqueles negros-modelos... são bem-sucedidos". E a parte mais maluca é que esse não é um fenômeno visto apenas na comunidade negra. Comunidades asiáticas, sul-asiáticas e latino-americanas vivenciam a mesma coisa. O colorismo nessas comunidades assume muitas formas diferentes. Seja um comercial chinês de lavanderia, em que um homem escuro entra em uma máquina de lavar para se tornar mais claro, e mais chinês, ou os filipinos, que são informados de que estão na base do totem asiático porque são escuros. Em Bollywood, houve um clamor nos últimos anos porque seus filmes usam uma gama muito pequena de tons de pele para representar toda a população indiana. Como resultado, algumas pessoas iniciaram movimentos contrários a essa propaganda prejudicial, como Nandita Das e sua campanha "Why Dark Is Beautiful". Estrelas latinas, como Amara La Negra, recebem reação significativa ao tentar quebrar o molde de como são os principais artistas latinos, incluindo hiperanálise do cabelo e da pele, sendo acusada de "rosto negro" e nem mesmo sendo considerada latina. Sendo algo que afeta tantas pessoas, você pode pensar que mais pessoas falariam sobre isso. E, sim, tem havido um interesse crescente nessa coisa toda de colorismo. No entanto, não é tão veemente quanto poderia ser porque as pessoas acham que é natural. Elas nunca foram expostas a nada diferente. Elas cresceram nesse ambiente. E, mesmo que você tenha crescido em uma família como a minha, que ensinava que seu preto é lindo, ou sua cor parda é linda, que sua pele escura é formidável, e seu cabelo também, assim que sair por aquela porta, você sentirá todos os efeitos do colorismo. Ponto. Então, qual é o objetivo de estar dizendo isso a vocês? Acredito que caberia aqui a famosa citação: "O primeiro passo para a recuperação é admitir que você tem um problema". Sim, existem muitos problemas por aí... hum, Trump. No entanto, eles estão sendo consertados porque há pessoas lá fora que trabalham incansavelmente para fazer o público reconhecer que há algo que precisa ser consertado. E este é um deles. Não tenho uma solução específica para o colorismo, porque sou apenas uma garota, e tive apenas a minha experiência. No entanto, quero enfatizar uma coisa. Quando os Estados Unidos e o resto do mundo reconhecerem que o colorismo não é natural e que, em vez disso, tem sido introduzido em nossa mente por gerações que mais claro é melhor, então, como seres humanos, podemos começar o processo de descolorização. Temos que abandonar isso e deixá-lo em nosso passado, pois queremos realmente que nosso tempo na Terra seja assim? Obrigada. (Aplausos) (Vivas)