Deixar para trás pode tornar você imbatível. Sei disso porque abandonei uma relação e recuperei minha vida. Deixar as coisas para trás pode trazer mudanças maravilhosas à vida de cada um de nós. Vou contar uma história. Quando eu tinha 41 anos, o fim de um relacionamento me ensinou a deixar, verdadeiramente, as coisas que não davam certo para trás. Naquela época, eu não pensava no futuro. Vivia como um cachorro: um momento de cada vez. Eu corria atrás de bolas e comia o que encontrava no chão. (Risos) Minha vida era boa. Meu emprego, meus amigos, meu apartamento, meu cachorro, que era mesmo cachorro... tudo era ótimo. E meu namorado também. Bem, mais ou menos. Hector não investia na relação, e eu sentia isso. Ele evitava falar de casamento e, depois de 12 anos, ainda não vivíamos juntos. Mesmo assim, ele me dava esperança. Quer dizer, às vezes. A verdade é que parecia normal para mim viver numa situação sem esperança. Não me entenda mal, fiquei com ele tanto tempo porque era bonito, inteligente, confiável, sensível e se importava comigo. Embora nossa relação não fosse perfeita, ela funcionava teoricamente. Até o dia em que uma amiga me fez cair na real, e tudo mudou. Ela era corretora e me falou que havia um apartamento à venda no meu bairro. Ela sabia que eu estava esperando Hector se comprometer e pensou: "Talvez isto dê um empurrãozinho". Meu primeiro impulso foi dizer: "Ainda não estamos prontos". "Ainda não." Esse era o bordão favorito de Hector. Eu dizia: "Quero me casar". Ele dizia: "Ainda não". Eu: "Vamos morar juntos". Ele: "Ainda não". Esse "ainda não" era um cisco que eu não conseguia tirar do olho e uma música chata que não saía da minha cabeça. Então imaginem minha surpresa quando ele aceitou prontamente meu convite para ir ver o apartamento. Cheguei animada na hora marcada. Mas Hector? Foi outra história. Passaram 15 minutos, 30 minutos, 45 minutos, 1 hora... Hector não apareceu. Por fim, ele ligou dizendo que houvera um imprevisto. Combinamos de nos encontrar mais tarde, mas ele não apareceu de novo. Naquele momento, decidi, depois de 12 anos, que estava na hora de deixá-lo para trás. Tive que abandonar Hector e esquecer a ideia de me casar com ele ou com qualquer pessoa, porque, aos 41 anos, minhas opções eram assustadoras. Ou eu ficava com aquele homem, que não se comprometia, mas era bom nos aniversários e feriados, ou terminava com ele e ficava sozinha. Deixar um homem tão bom que eu amava foi difícil. Tive que sobreviver às consequências daquela epifania. E então começou a fase da dor: "Você e Hector não ficarão juntos para sempre. Você não será a parceira dele. Provavelmente, ele vai encontrar outra logo, se casarão e ela será a parceira dele. E você terá que viver com o arrependimento". Chorei intensamente, comi muita pizza e ouvi muito Joni Mitchell. (Risos) Quando meus olhos já doíam de tanto eu esfregá-los, e quando me cansei de imaginar Hector se casando com outra mulher, ela num vestido 40, me livrei daqueles pensamentos. Abandonei aquele medo de que envelheceria e morreria sozinha, de que meus amigos usariam minha história como um alerta e de que era tarde demais para mim. Naquele momento, precisei admitir o que eu queria de verdade. Eu queria mais. Hector não ter aparecido naquele dia foi um presente que me libertou, porque, sejamos sinceros, eu estava correndo atrás daquela bola há 12 anos. Estava na hora de seguir em frente, mesmo se pudesse sofrer rejeição. Então elaborei um plano que foi ficando cada vez mais nítido. É claro, Hector tinha uma desculpa para a ausência dele, mas, àquela altura, não importava mais. Falei que estava tudo acabado. Larguei meu emprego, abracei meus amigos e vendi meu apartamento lindo, que ficava naquele mesmo bairro onde tive a epifania que mudou minha vida. Deixei tudo para trás para começar uma nova vida em New Hope, na Pensilvânia. Ele falou: "Não vá. Vamos nos casar". Respondi: "Você teve 12 anos". Ele disse: "Vou lá te visitar". Respondi: "Ainda não". (Risos) (Aplausos) Foi difícil? Podem apostar. E valeu a pena? Em menos de um ano depois, conheci meu marido Dan na internet. Plateia: "Oh!" Eu soube, quando ele apareceu no nosso primeiro encontro vestindo a camisa mais amassada que já vi, (Risos) com um chapéu de chuva para me cobrir ao caminhar do restaurante para o carro, que ele era o cara certo para mim. (Risos) Guarda-chuvas são para pessoas que querem distância; o vento forte os vira pelo avesso, e nem os de melhor qualidade duram muito. Mas um chapéu de chuva, com um cordão para amarrar no queixo... (Risos) isso sim é íntimo. Depois de quatro encontros, virou amor. Finalmente entendi por que tive que esperar tanto tempo. Dan era lindo, sábio, sensível e gentil. Com ele, eu sentia que podia fazer e ser qualquer coisa; nós podíamos. Nos casamos um ano depois. (Respiração) (Suspiro) Quando fiz 50 anos, Hector morreu de câncer. Como podem imaginar, lamentei por muito tempo. Mas a morte dele reafirmou a promessa que fiz aos 41 anos, de que eu nunca mais desperdiçaria meu tempo. Em vez disso, eu deixaria as coisas para trás, a fim de abrir espaço para meus desejos e para as coisas mais importantes. Vou falar de cinco coisas que precisamos deixar para trás que sei por experiência própria. Primeiro: deixe de levar as coisas para o lado pessoal. Eu me perguntava por que Hector não me amava o bastante para se casar comigo, até que percebi que a incapacidade dele de se comprometer não tinha a ver comigo, mas com as obrigações dele com a família. Sim, foi difícil aceitar isso, mas me trouxe muita paz saber que o problema era dele e não um defeito meu. Quando as pessoas não lhe dão o que você quer ou se comportam mal, quase sempre, o problema é delas, não seu. Segundo: deixe para trás o que as pessoas pensam. Depois de alguns meses de namoro, levei meu marido para conhecer meus pais. (Risos) Minha mãe disse: "Ele é bem bonito. Ted Bundy, o assassino em série, também é". (Risos) Eu poderia ter permitido que isso influenciasse minhas decisões. (Risos) Poderia ter soltado minha imaginação, com medo de que meu namorado me esfaqueasse enquanto eu dormia. (Risos) Em vez disso, decidi que aquilo era coisa da cabeça da minha mãe. Há uma regra de marketing que diz: "Quando você lança algo, 10% das pessoas vão odiar, 80% serão indiferentes e 10% serão fãs enlouquecidos". Fãs enlouquecidos são incríveis. Mas, quando alguém não é fã, aceite isso também. Terceiro: deixe de tentar ser o que você não é. Tenho uma personalidade gigante que chamo de "a grandona". Algumas pessoas adoram a grandona. (Risos) Algumas são fascinadas por ela, da mesma forma que são fascinadas por malabaristas. (Risos) E outras apenas fogem. Mas eu sou assim. Já tentei diminuir a intensidade da grandona, mas, por mais que tente, ela continua assim. Há coisas em nós mesmos que não conseguimos mudar, e isso é bom. Quarto: deixe para trás a necessidade de ser perfeito. Há muitos anos, escrevia uma coluna para a Revista Shape e recebi muita correspondência de leitores, incluindo uma carta muito triste de uma adolescente me pedindo conselho sobre como melhorar a si mesma depois de seu namorado terrível ter feito ela se despir para criticar seu corpo. Essa história é real. Falei: "Termine com ele imediatamente, e nunca mais permita a ninguém fazer você se sentir mal consigo mesma". Essa necessidade de perfeição não está relacionada apenas ao nosso peso. Também tem a ver com manter a casa limpa, os cachorros bem cuidados, as crianças saudáveis, os chefes felizes, equilibrando tudo ao mesmo tempo. Tem a ver, inclusive, com manter nossa juventude intacta. No entanto... quem gostaria de ser amigo de uma pessoa perfeita? Pensem nisso. E quinto, finalmente, o meu favorito: deixe para trás o "ainda não". Quando fui embora de Chicago, minha vida era muito boa, só não era boa o suficiente. Se há algo que você queira fazer, faça um plano e aja, mas não espere. Ainda lamento por Hector; o sentimento vai e volta. A chamada telefônica que não posso mais fazer a ele me lembra de aproveitar cada dia da minha vida. Encorajo cada um aqui a fazer o mesmo. Seja qual for seu objetivo, deixem o resto para trás. Obrigada. (Aplausos)