(Vídeo)
[Shake-spismo]
Giles Terera: Shakespismo.
Dan Poole: Shakespismo.
GT: Já teve Shakespismo? DP: Hã...
GT: Você está com Shakespismo?
DP: Muitos têm esse problema.
GT: Shakespismo é... DP: Hã...
GT: Sabe quando você...
DP: Ele pode destruir pessoas.
GT: Parece uma constipação.
DP: Minha mãe padeceu
de Shakespismo muitos anos.
GT: Parece uma indigestão,
só que de Shakespeare.
DP: Todos já sofremos com isso,
é difícil de explicar...
na escola secundária, universidade...
professores, crianças, adultos.
GT: O dicionário Oxford o define assim:
"uma aversão extrema e irracional,
altamente infecciosa,
a Shakespeare e suas palavras". DP: Ai!
GT: No ônibus, passando
na porta do teatro, tem lá:
"Shakespeare, Ricardo III, Shakespeare".
É esse sentimento que dá ali...
DP: O problema do Shakespismo
é que é transmissível.
É uma reação irracional.
Podemos literalmente passar para alguém.
GT: A primeira vez que notei que sofria
de Shakespismo, eu tinha 16 anos.
O professor falou: "Próximo semestre,
vamos estudar 'Macbeth'".
De repente, comecei a passar mal,
e isso durou o semestre todinho.
Começamos a ler a peça.
Fui ao médico, e ele falou:
"É... você pegou Shakespismo".
Aí, melhorei.
DP: Se houver quatro pessoas numa sala,
só uma gosta de Shakespeare.
É grave assim o Shakespismo,
tem a ver com escola...
GT: Conte às pessoas. Elas precisam saber.
DP: Shakespismo é algo
que podemos resolver. Hã...
(Risos)
Shakespismo mata se você deixar,
então não deixe.
GT: A pessoa pode ter 2 ou 80 anos
de idade, e ainda assim sofrer disso.
É uma doença silenciosa.
DP: Juntos podemos vencê-la.
GT: Se eu pronunciar agora
a palavra "Shakespeare",
é isso... esse sentimento...
é o Shakespismo.
[shakespearefilm.com]
(Fim do vídeo)
(Aplausos)
GT: (Espanhol) Obrigado.
(Aplausos)
Primeiro, queremos dizer que não voamos
até aqui, nem viemos de avião.
GT e DP: Viemos de carro.
GT: Pelo menos não foi de avião.
(Espanhol) Legal! Obrigado, obrigado.
(Risos)
Bem, há muito, muito tempo,
num país muito, muito distante,
(Risos)
o jovem William Shakespeare,
20 anos de idade, levantou-se uma manhã
e decidiu que queria deixar
seu tranquilo e agradável lar no interior
e se mudar para Londres,
pois queria se tornar ator.
DP: Daí, 400 anos depois,
fizemos exatamente a mesma coisa.
(Risos)
Bem, Shakespeare era um homem...
um homem que escrevia peças excelentes,
a não ser que prefiram acreditar
que alguém o ajudou a escrevê-las,
mas isso não importa.
O que importa é que ele não deveria
ser colocado num pedestal.
Ele não é um deus; é um homem
que escreveu ótimas histórias.
GT: Tecnicamente...
DP: E adoro uma boa história.
GT: Adoro uma boa história. Todos nós.
DP: Todos adoramos.
"Romeu e Julieta", "Macbeth",
Romeu e Julieta apaixonados...
o perigoso Macbeth...
E foi aí que nossa história
começou: com uma história.
Cresci no norte da Inglaterra,
numa cidadezinha mineradora.
GT: E eu, no sul.
DP: E Shakespeare cresceu
em algum lugar por aqui.
Quando criança, tive
muito problema com Shakespeare.
Aos 11 anos, estudando "Romeu e Julieta",
eu não entendi bem a história, sabe?
Eu meio que entendi que, no fim,
os dois amantes morrem,
e que aconteceu uma briga de espadas,
mas o resto realmente não entendi,
não peguei de jeito nenhum.
Mas deixem-me dar o contexto:
quando eu tinha 11 anos,
minhas aulas de inglês
normalmente começavam com um soco na cara.
Eu sofria bullying de outro menino
que, toda quarta, me socava no rosto.
Bem, já tínhamos lido a peça
e, naquele dia, íamos assistir ao filme.
Daí, minha professora diz:
"Dan, vá buscar a TV".
E eu naquela... esperando o soco.
Aí, fui até a sala, peguei a TV
e "bum", bem no meio da cara.
Então, os primeiros 15 minutos
do filme "Romeu e Julieta",
pra ser honesto, eu meio que perdi,
mas, quando comecei a assistir,
parecia um daqueles filmes antigos,
nada a ver comigo.
Era uma versão da BBC,
dos anos 1960 ou 1970,
filmada como peça de teatro.
Então, não me agradou.
Era uma versão fria,
estoica, esse tipo de coisa.
Por isso, quem for ensinar Shakespeare,
não faça desse jeito.
Além disso, nunca diga a uma pessoa
que, se ela não for inteligente,
jamais vai entender Shakespeare.
GT: Isso não é legal,
mas a razão de estarmos aqui hoje,
nós, vocês,
neste prédio tão bonito,
de termos dirigido até aqui,
é por causa do TED.
Bem, o lema do TED é:
"Ideias que merecem ser divulgadas".
"Ideias que merecem ser divulgadas".
Adoramos esse lema,
mas também achamos que há ideias
que não merecem ser divulgadas.
(Risos)
Por exemplo, quando estávamos
concluindo o curso de teatro
para nos tornar atores, em Londres,
veio um diretor enorme
para nossa escola de teatro...
DP: (Espanhol) Gordo...
GT: Ele era enorme...
para nos preparar para audições.
A ideia era apresentarmos um texto,
e ele nos orientar.
Bem, eu tinha acabado de descobrir
Hamlet, eu adorava Hamlet.
Eu realmente entendia Hamlet,
pelo menos achava que entendia.
Hamlet era jovem, estava com raiva,
sentia falta do pai
e não confiava em ninguém.
Então, fiz o monólogo "Ser ou não ser"
e, quando terminei, aquele homenzarrão
se vira pra mim e diz:
DP: "Tá, tá, vamos parar por aqui..."
GT: Espere aí. Ele era escocês.
DP: Verdade.
(Risos)
GT: Continue.
DP: (Com sotaque escocês)
"Tá, podemos parar por aqui.
Você nunca vai fazer Hamlet;
realmente não é o seu perfil."
GT: Nunca vou fazer Hamlet.
Ele disse que eu nunca iria fazer Hamlet.
Eu adorava Hamlet, mas, ao sair da sala,
comecei a pensar que talvez
aquele grandalhão estivesse certo
e que eu não devia fazer Hamlet.
E essa ideia começou a subir
pelo meu braço,
passou pelo ombro e começou
a sussurrar no meu ouvido,
aquela ideia de minhoca,
uma minhoca da cabeça, como se diz,
que sussurra em seu ouvido
e diz: "Psst. Psst.
Você não pode fazer Shakespeare.
Shakespeare não é pra você.
Shakespeare é para os outros.
Você não pode ser Hamlet.
Hamlet não é preto, (Espanhol) estúpido".
(Risos)
DP: O quê? Ele não é preto?
(Aplausos)
GT: E o tal diretor tinha
me infectado com aquela ideia.
Era Shakespismo da pior espécie.
Eu ouvia aquele minhoca
na cabeça e acreditava nela,
e sabia que, se não me livrasse
imediatamente daquela ideia,
ela ia subir pro cérebro e me devorar.
Então, lembrei de uma coisa,
de uma fala de Hamlet,
e passamos o verão pensando nela
enquanto assistíamos às Olimpíadas
com aqueles atletas incríveis, em Londres.
Hamlet não diz: "Que obra de arte
é o homem branco".
DP: Também não diz:
"Que obra de arte é o homem pobre".
GT: "Que obra de arte é o homem rico."
DP: "Que obra de arte é o homem gordo."
GT: "Que obra de arte
é o homem velho ou o homem jovem."
Ele diz: "Que obra de arte é o homem.
Tão nobre em sua razão,
tão infinito em faculdades,
em forma e movimento
quão rápido e admirável".
DP: "Na ação, tão próximo dos anjos,
na compreensão tão semelhante a um deus."
GT: Essas são ideias
que merecem ser divulgadas.
DP: E a escola de teatro?
O que acontece quando você se forma?
Se tiver sorte, consegue um emprego,
e alguns de nós têm e arranjam trabalho,
mas o interessante é que,
quem não tiver a oportunidade
de estudar Shakespeare no palco
depois de sair da escola,
vira essa coisa,
o Shakespismo se torna um problema,
uma verdade incômoda.
Será que consigo fazer? Não consigo?
Será que estou assombrado
por "Shakespeare faz o ator?"
"Shakespeare faz o homem?"
E não tive a sorte
de conseguir oportunidades.
Então, eu ficava pensando:
"Consigo fazer? Sou bom o bastante?
Eu deveria estar fazendo Shakespeare?
Deveria estar no palco? O que posso...".
GT: Calma, calma, está tudo bem.
(Risos)
E tudo isso tem a ver com o TED,
ideias que merecem...
(Risos)
DP: Sem ele, não sou ninguém.
GT: Ah, sem ele, não sou ninguém.
DP: E aí, o que você faz?
Decidimos descobrir
por que as pessoas tinham medo
e se sentiam intimidadas
e desencorajadas pela linguagem.
O interessante é que, na vida,
tudo o que nos acontece
emocional, física e psicologicamente
já aconteceu com todos
os personagens de Shakespeare.
Eles viveram tudo antes de nós,
está tudo ali de bandeja.
Então,
decidimos fazer um filme.
Bem, falar é fácil
e, na verdade, foi fácil falar,
mas fazer um filme é um poço de problemas,
como dinheiro, pra início de conversa.
Como fazer um filme
se você nunca fez um filme?
Mas decidimos meter a cara e fazer.
Tem uma fala em que Macbeth
pergunta a Lady Macbeth:
"E se falharmos?"
E ela responde:
GT: "Falhamos.
(Risos)
Mas junte toda sua coragem
e não falharemos."
DP: Bem, era o que precisávamos.
Daí, juntamos toda
nossa coragem e lá fomos nós.
GT: Bem, aquilo foi Macbeth,
mas podemos aplicar isso
a qualquer situação imaginável:
"Junte toda sua coragem
e não falharemos".
Shakespeare é universal.
Ben Johnson, famoso escritor inglês,
amigo de Shakespeare,
disse quando este morreu:
"Shakespeare não foi de uma era,
mas de todos os tempos",
e gostamos de pensar que Shakespeare
não foi só para poucos,
mas para todo mundo.
Porque todos já fomos jovens,
já nos apaixonamos, certo?
Certo?
(Espanhol) Sim, sim, sim!
(Inglês) Todos já nos apaixonamos.
Todos já desejamos o que era de outrem.
Todos já questionamos a vida.
Todos já quisemos matar alguém.
DP: O quê?
(Risos)
GT: (Espanhol) Sim, sim, sim!
(Inglês) Todos já quisemos matar alguém.
DP: Na verdade, eu nunca
quis matar ninguém.
GT: Faça-me o favor!
Então, durante nossas aventuras,
você não quis me matar nem uma vez?
DP: Ah, ah... você... sim, sim. Uma vez.
GT: Muhammad Ali disse:
(Fingindo lutar boxe: Grr, grr, grr.)
"Sou o Shakespeare do boxe".
E JFK disse: "Não pergunte
o que seu país pode fazer por você".
E Nelson Mandela,
quando esteve preso por 27 anos
na Ilha Robben, na África do Sul,
mantinha como seu lema
uma das falas de Júlio César.
Sabem qual?
"Os covardes morrem muitas vezes
antes da própria morte.
Os valentes só morrem uma vez".
É verdade.
(Aplausos)
GT: (Espanhol) Ah... olá!
(Aplausos)
DP: (Espanhol) Olá!
GT: Charlie Chaplin sonhava fazer Hamlet.
Podem imaginar
que filme maravilhoso seria?
Vejam, o negócio é que Shakespeare sabia
que um artista é capaz de ilustrar
exatamente o que você está
sentindo ou pensando.
Cervantes fez isso.
Bob Dylan fez isso.
Michael Jackson fez isso.
E Shakespeare fez isso
melhor do que ninguém.
Então, todo mundo
ia assistir às suas peças.
O rei e a rainha iam assistir,
os ladrões, os mendigos
e as prostitutas iam ver suas peças,
e todos os demais iam ver,
e ainda continuam a assistir.
Em Nova York ou no Reino Unido,
ou no Japão, em Paris, em Madri,
todo mundo vai ver Shakespeare.
De fato, esta manhã estávamos pensando:
"O que Shakespeare pensaria
se pudesse nos ver todos aqui,
agora, nesta tarde,
falando sobre suas peças, sua vida,
sobre suas palavras,
seus personagens, seu trabalho?"
Achamos que ia dar um nó
naquela carequinha dele.
(Risos)
DP: Careca?
(Risos)
GT: Sim. Careca, careca.
Shakespeare era careca.
DP: Não era careca.
GT: Era. Não tinha cabelo nenhum.
DP: Não, ele tinha aqui. Era...
GT: Não, não, não,
essa era a parte calva, essa era...
Vamos continuar, vamos em frente.
Vamos lá.
DP: Então, entramos no carro,
pegamos nossa câmera
e saímos pelo mundo.
Em cinco anos, viajamos por nove países.
Visitamos prisões, escolas...
GT: Universidades, faculdades.
DP: Conversamos com um monte de gente,
atores, de Jude Law
a Ewan McGregor e Sir Ian McKellen,
a jovens estudantes e pessoas na rua,
frentistas de posto de gasolina.
Conversamos com todo mundo.
E, pra mim, o fascinante
nessa jornada de cinco anos
foi simplesmente uma informação-chave
que é...
bem, não podemos contar agora,
pois ainda não finalizamos o filme,
mas podemos compartilhar quatro pontos
que nortearam o resto do filme.
GT: O jovem que conhecemos na prisão...
Há uma companhia de teatro
que leva Shakespeare a prisões.
Daí, fomos com esse grupo
e conhecemos um jovem
que falou um texto de Shakespeare
tão lindamente para nós,
e achamos incrível,
mas na prisão todos ficaram impressionados
porque, até aquele momento,
aquele jovem não tinha dito
uma única palavra em cinco anos.
DP: Também conversamos com Ewan McGregor,
que tinha acabado de atuar
em "Otelo", no papel de Iago,
e ele foi muito sincero
em nos contar como achou difícil,
difícil demais,
a ponto de ter de fazer hipnoterapia
para lidar com seu medo.
Ele estava sofrendo de Shakespismo.
GT: Conhecemos uma mulher na Dinamarca,
e havia uma produção de Hamlet lá.
Ela foi ver essa produção,
e achou muito tocante
e profundo, em "Hamlet",
que Shakespeare tenha conseguido,
apesar de ser inglês,
sinterizar perfeitamente o espírito
e o modo de pensar dinamarquês.
DP: Conversamos com Mark Rylance,
que foi o primeiro diretor artístico
do Globe Theatre em Londres.
E Mark falou sobre seu medo,
sobre essa aura de medo
que cerca Shakespeare,
e conversamos sobre a questão
de que, se não for possível ensinar bem,
de uma maneira que não assuste as pessoas,
então é melhor nem ensinar.
Dali, tivemos uma ideia maravilhosa,
e sentimos que os ideais universais
sobre os quais tínhamos
conversado com as pessoas
pertenciam a outro lugar.
Pode passar o vídeo pra nós por favor?
(Durante o vídeo, os palestrantes
falam trecho de "Henry V", ato 2, prólogo)
(Música dramática)
DP: "A juventude inglesa está em chamas,
Nos cabides, as roupas de festa.
Só os armeiros prosperam,
E a honra reina sozinha em todo peito.
Vendem-se pastos para comprar cavalos
Seguindo o modelo dos monarcas Cristãos,
Como alados Mercúrios ingleses.
Pois paira no ar a expectativa".
GT: "Ó Inglaterra! Tão grande por dentro,
Com tanto coração nesse teu corpo,
Que honras poderias alcançar
Se todos os teus filhos fossem bons."
(Fim do vídeo)
O interessante nisso tudo
foi que a BBC e todos os repórteres
perguntaram a esses jovens
por que eles estavam fazendo aquilo:
"Por que vocês estão fazendo isso?",
e todos responderam a mesma coisa:
"Porque nossa voz não é ouvida.
Tudo que queremos
é que nossa voz seja ouvida".
Então, quando alguém se virar
e disser que vocês não podem sentir algo,
pensar algo, ou gostar
de determinada coisa,
seja Shakespeare ou o que for,
quem deve decidir isso são vocês.
A escolha é sua.
DP: Nas visitas às prisões,
fomos com um cara chamado Dr. Bruce Wall,
que trabalha com reabilitação
de jovens prisioneiros,
prisioneiros em geral, no mundo todo,
e uma das coisas que ele faz
é pedir que eles repitam:
"Nós temos as ferramentas"...
qual é a frase mesmo?
GT: "Deem-nos as ferramentas
e nós faremos o resto".
DP: "Deem-nos as ferramentas
e nós faremos o resto".
E, para nós, isso tem tudo a ver.
Se dermos as ferramentas
às pessoas certas,
teremos pessoas que entendem,
que se conectam com o mundo
de um jeito muito diferente.
Shakespeare definitivamente
não é pra qualquer um, sabemos disso.
Mas deveria ser acessível àqueles
que querem descobri-lo e conhecê-lo.
Afinal, ele era apenas um homem.
GT: (Espanhol) Obrigado.
DP and GT: (Espanhol) Muito obrigado.
(Aplausos)