[Script Info] Title: [Events] Format: Layer, Start, End, Style, Name, MarginL, MarginR, MarginV, Effect, Text Dialogue: 0,0:00:11.80,0:00:15.43,Default,,0000,0000,0000,,Há cerca de 20 anos perdi a visão. Dialogue: 0,0:00:16.42,0:00:18.34,Default,,0000,0000,0000,,Não gosto de falar nisto publicamente Dialogue: 0,0:00:18.34,0:00:21.100,Default,,0000,0000,0000,,porque é uma forma barata\Nde fazer espetáculo, Dialogue: 0,0:00:22.50,0:00:27.50,Default,,0000,0000,0000,,porque seria uma forma de me refugiar\Nnuma identidade deficitária. Dialogue: 0,0:00:28.12,0:00:31.37,Default,,0000,0000,0000,,Eu gosto de me definir\Ncomo qualquer um de nós enquanto pessoa, Dialogue: 0,0:00:31.41,0:00:32.73,Default,,0000,0000,0000,,por aquilo que faço, Dialogue: 0,0:00:32.73,0:00:34.35,Default,,0000,0000,0000,,por aquilo que faço todos os dias, Dialogue: 0,0:00:34.35,0:00:35.81,Default,,0000,0000,0000,,pela minha profissão, Dialogue: 0,0:00:36.24,0:00:37.53,Default,,0000,0000,0000,,pela minha família, Dialogue: 0,0:00:37.53,0:00:39.23,Default,,0000,0000,0000,,e não por ter uma deficiência. Dialogue: 0,0:00:39.33,0:00:43.53,Default,,0000,0000,0000,,Aceitei fazê-lo\Nporque o tema é "Confiança". Dialogue: 0,0:00:44.07,0:00:45.93,Default,,0000,0000,0000,,Eu disse que foi há cerca de 20 anos Dialogue: 0,0:00:45.93,0:00:47.74,Default,,0000,0000,0000,,porque não foi de um dia para o outro. Dialogue: 0,0:00:47.74,0:00:53.85,Default,,0000,0000,0000,,Foi qualquer coisa que foi acontecendo\Ncom retrocessos, recaídas, recuperações, Dialogue: 0,0:00:54.67,0:00:56.45,Default,,0000,0000,0000,,com dez operações pelo meio, Dialogue: 0,0:00:56.45,0:00:58.96,Default,,0000,0000,0000,,até que a visão se perdeu completamente. Dialogue: 0,0:00:59.23,0:01:02.16,Default,,0000,0000,0000,,E é evidente que\Nnum processo destes, longo, Dialogue: 0,0:01:02.21,0:01:04.90,Default,,0000,0000,0000,,houve muitos momentos de incerteza, Dialogue: 0,0:01:04.92,0:01:09.76,Default,,0000,0000,0000,,de insegurança, de perda total\Nde confiança nos outros, Dialogue: 0,0:01:10.40,0:01:13.20,Default,,0000,0000,0000,,nos médicos principalmente,\Nembora a culpa não fosse deles Dialogue: 0,0:01:13.23,0:01:16.53,Default,,0000,0000,0000,,— é uma doença\Nque ultrapassa muito a medicina, ainda. Dialogue: 0,0:01:17.48,0:01:20.54,Default,,0000,0000,0000,,Mas, sobretudo, em mim,\No que é que vai ser o mundo, o meu mundo, Dialogue: 0,0:01:20.56,0:01:22.13,Default,,0000,0000,0000,,daqui para a frente. Dialogue: 0,0:01:22.29,0:01:26.32,Default,,0000,0000,0000,,Curiosa coincidência,\Nfalou-se aqui há muito pouco tempo Dialogue: 0,0:01:26.46,0:01:28.24,Default,,0000,0000,0000,,de Camilo Castelo Branco. Dialogue: 0,0:01:28.25,0:01:29.100,Default,,0000,0000,0000,,E coincidência porquê? Dialogue: 0,0:01:30.31,0:01:33.74,Default,,0000,0000,0000,,Nasci na mesma cidade de Camilo, no Porto. Dialogue: 0,0:01:33.96,0:01:38.53,Default,,0000,0000,0000,,Nasci no mesmo dia de Camilo,\Num dia do mês de março. Dialogue: 0,0:01:38.99,0:01:41.59,Default,,0000,0000,0000,,Ceguei com a mesma doença que Camilo Dialogue: 0,0:01:41.71,0:01:43.54,Default,,0000,0000,0000,,— um glaucoma. Dialogue: 0,0:01:43.94,0:01:48.01,Default,,0000,0000,0000,,Só ainda não dei um tiro na cabeça\Ncomo Camilo e espero... Dialogue: 0,0:01:49.28,0:01:53.55,Default,,0000,0000,0000,,e o que é que terá feito a diferença? Dialogue: 0,0:01:53.100,0:01:59.38,Default,,0000,0000,0000,,Talvez eu tenha tido condições\Nde recuperação da confiança Dialogue: 0,0:01:59.95,0:02:01.75,Default,,0000,0000,0000,,que ele não teve. Dialogue: 0,0:02:02.74,0:02:07.11,Default,,0000,0000,0000,,Enfim, passaram 130 anos\Ne, entretanto, o mundo mudou. Dialogue: 0,0:02:09.03,0:02:10.93,Default,,0000,0000,0000,,O que é a confiança? Dialogue: 0,0:02:12.04,0:02:15.40,Default,,0000,0000,0000,,É a convicção de que os outros\Nse vão comportar Dialogue: 0,0:02:15.41,0:02:17.44,Default,,0000,0000,0000,,do modo como estamos à espera. Dialogue: 0,0:02:17.66,0:02:19.49,Default,,0000,0000,0000,,E estamos à espera que se comportem Dialogue: 0,0:02:19.52,0:02:23.44,Default,,0000,0000,0000,,de acordo com normas\Nsocialmente consensualizadas, Dialogue: 0,0:02:23.79,0:02:26.95,Default,,0000,0000,0000,,aceites como válidas e como úteis. Dialogue: 0,0:02:27.84,0:02:31.27,Default,,0000,0000,0000,,Podemos dizer que a confiança\Né a base da vida social. Dialogue: 0,0:02:32.44,0:02:37.26,Default,,0000,0000,0000,,O quotidiano mais banal\Nbaseia-se na confiança. Dialogue: 0,0:02:37.49,0:02:39.94,Default,,0000,0000,0000,,Nós só saímos de manhã de automóvel Dialogue: 0,0:02:40.98,0:02:44.78,Default,,0000,0000,0000,,— ainda nos convencionais,\Nnestes que somos nós que conduzimos — Dialogue: 0,0:02:45.21,0:02:49.70,Default,,0000,0000,0000,,porque temos a certeza\Nque toda a outra gente vai conduzir Dialogue: 0,0:02:49.70,0:02:51.50,Default,,0000,0000,0000,,pelo lado direito da estrada. Dialogue: 0,0:02:51.69,0:02:54.27,Default,,0000,0000,0000,,Se assim não fosse,\Nninguém sairia de casa. Dialogue: 0,0:02:56.43,0:03:02.38,Default,,0000,0000,0000,,O contrário da confiança, e esta ideia\Né de um sociólogo inglês, Anthony Giddens, Dialogue: 0,0:03:02.45,0:03:05.48,Default,,0000,0000,0000,,ele diz-nos que o contrário da confiança\Nnão é a desconfiança. Dialogue: 0,0:03:06.30,0:03:09.13,Default,,0000,0000,0000,,É o medo, é uma ansiedade Dialogue: 0,0:03:09.17,0:03:11.15,Default,,0000,0000,0000,,de que o mundo não funcione, Dialogue: 0,0:03:11.15,0:03:14.46,Default,,0000,0000,0000,,uma ansiedade\Nque vou chamar de existencial. Dialogue: 0,0:03:16.25,0:03:18.87,Default,,0000,0000,0000,,A confiança é tanto mais importante Dialogue: 0,0:03:18.94,0:03:23.69,Default,,0000,0000,0000,,quanto mais anónimos\Nsão os contextos em que estamos Dialogue: 0,0:03:23.90,0:03:27.68,Default,,0000,0000,0000,,e quanto mais incerta\Né a situação em que vivemos Dialogue: 0,0:03:27.74,0:03:30.97,Default,,0000,0000,0000,,— desde logo, a do próprio\Ncontexto sociocultural. Dialogue: 0,0:03:31.23,0:03:33.87,Default,,0000,0000,0000,,E como é que nasce a confiança? Dialogue: 0,0:03:34.58,0:03:36.41,Default,,0000,0000,0000,,Nasce quando nascemos. Dialogue: 0,0:03:36.46,0:03:42.05,Default,,0000,0000,0000,,Nos primeiros laços que estabelecemos\Ncom as figuras cuidadoras, naturalmente. Dialogue: 0,0:03:43.04,0:03:46.58,Default,,0000,0000,0000,,Um conjunto de especialistas\Nde saúde mental Dialogue: 0,0:03:46.82,0:03:48.99,Default,,0000,0000,0000,,a seguir à II Guerra Mundial Dialogue: 0,0:03:49.06,0:03:51.36,Default,,0000,0000,0000,,foi fazendo uma série de trabalhos Dialogue: 0,0:03:51.42,0:03:55.39,Default,,0000,0000,0000,,com crianças vítimas de abandono\Ndas figuras cuidadoras, Dialogue: 0,0:03:55.44,0:03:56.92,Default,,0000,0000,0000,,principalmente da mãe Dialogue: 0,0:03:56.96,0:03:58.84,Default,,0000,0000,0000,,que, por regra, Dialogue: 0,0:03:58.86,0:04:02.14,Default,,0000,0000,0000,,é aquela que mais cuidados\Ntem com o recém-nascido, Dialogue: 0,0:04:02.18,0:04:04.26,Default,,0000,0000,0000,,é mais próxima dele. Dialogue: 0,0:04:04.77,0:04:10.53,Default,,0000,0000,0000,,Alguns destes homens e mulheres\Nficaram para a história da saúde mental, Dialogue: 0,0:04:10.62,0:04:13.72,Default,,0000,0000,0000,,da psicologia e da psicopatologia. Dialogue: 0,0:04:13.87,0:04:19.38,Default,,0000,0000,0000,,Anna Freud, filha de Freud,\NJohn Bawlby, René Spitz. Dialogue: 0,0:04:21.00,0:04:23.97,Default,,0000,0000,0000,,A teoria da vinculação,\Nde que muitos terão já ouvido falar, Dialogue: 0,0:04:23.97,0:04:27.32,Default,,0000,0000,0000,,diz muito simplesmente,\Né uma teoria formulada para explicar Dialogue: 0,0:04:27.38,0:04:29.55,Default,,0000,0000,0000,,como é que estes primeiros laços Dialogue: 0,0:04:29.57,0:04:32.36,Default,,0000,0000,0000,,entre o bebé e os cuidadores, Dialogue: 0,0:04:33.23,0:04:35.53,Default,,0000,0000,0000,,criam todo um reservatório, Dialogue: 0,0:04:35.53,0:04:37.66,Default,,0000,0000,0000,,a que vou chamar\No reservatório da confiança, Dialogue: 0,0:04:37.66,0:04:39.22,Default,,0000,0000,0000,,para o resto da vida. Dialogue: 0,0:04:39.22,0:04:41.96,Default,,0000,0000,0000,,Tem a ver com o conforto destes cuidados. Dialogue: 0,0:04:41.96,0:04:43.65,Default,,0000,0000,0000,,Tem a ver com o modo Dialogue: 0,0:04:43.67,0:04:49.60,Default,,0000,0000,0000,,como a criança pôde usufruir\Nde um clima tranquilo à sua volta, Dialogue: 0,0:04:49.65,0:04:53.47,Default,,0000,0000,0000,,de um clima em que\Nse sentiu tocada e amada. Dialogue: 0,0:04:54.70,0:04:56.61,Default,,0000,0000,0000,,Digo bem: tocada. Dialogue: 0,0:04:57.98,0:05:02.23,Default,,0000,0000,0000,,Porque o primeiro diálogo que se tem\Ncom uma criatura que ainda não fala, Dialogue: 0,0:05:02.26,0:05:04.54,Default,,0000,0000,0000,,como nos aconteceu a todos nós\Nque aqui estamos Dialogue: 0,0:05:04.57,0:05:06.63,Default,,0000,0000,0000,,durante os dois primeiros anos de vida, Dialogue: 0,0:05:06.64,0:05:09.07,Default,,0000,0000,0000,,o primeiro contacto é um contacto tátil. Dialogue: 0,0:05:09.09,0:05:11.58,Default,,0000,0000,0000,,É um contacto corpo a corpo. Dialogue: 0,0:05:11.60,0:05:14.37,Default,,0000,0000,0000,,Já lhe chamaram bipolaridade tátil. Dialogue: 0,0:05:14.55,0:05:17.48,Default,,0000,0000,0000,,Eu, quando toco, sou tocado. Dialogue: 0,0:05:17.63,0:05:21.40,Default,,0000,0000,0000,,O bebé é tocado e aprende a tocar, Dialogue: 0,0:05:21.59,0:05:24.09,Default,,0000,0000,0000,,mesmo quando ainda\Nnão o faz com as mãos, Dialogue: 0,0:05:24.22,0:05:27.76,Default,,0000,0000,0000,,e fá-lo até primeiro com a boca,\Nquando mama, por exemplo. Dialogue: 0,0:05:28.75,0:05:34.02,Default,,0000,0000,0000,,Ele vai aprendendo a fronteira,\Natravés do toque, entre ele e a mãe, Dialogue: 0,0:05:34.79,0:05:36.38,Default,,0000,0000,0000,,e entre ele e o mundo. Dialogue: 0,0:05:36.41,0:05:39.92,Default,,0000,0000,0000,,Portanto, podemos dizer\Nque a pele é o primeiro órgão Dialogue: 0,0:05:39.94,0:05:43.14,Default,,0000,0000,0000,,que estabelece os limites\Nentre o eu e os outros. Dialogue: 0,0:05:43.39,0:05:47.53,Default,,0000,0000,0000,,E, portanto, é o primeiro órgão\Nque estabelece a confiança. Dialogue: 0,0:05:50.78,0:05:55.17,Default,,0000,0000,0000,,Todo este diálogo tónico\Nentre o cuidador ou cuidadora Dialogue: 0,0:05:55.23,0:05:58.58,Default,,0000,0000,0000,,e o bebé é pré-verbal Dialogue: 0,0:05:58.58,0:06:01.22,Default,,0000,0000,0000,,— muito embora o adulto se farte\Nde falar com a criança, Dialogue: 0,0:06:01.22,0:06:04.81,Default,,0000,0000,0000,,apesar de ela não responder\Na não ser com sons e com mímicas — Dialogue: 0,0:06:05.56,0:06:08.43,Default,,0000,0000,0000,,portanto podemos dizer que\No primeiro contacto é afetivo, Dialogue: 0,0:06:08.76,0:06:11.86,Default,,0000,0000,0000,,isto é, a ternura é tátil. Dialogue: 0,0:06:12.06,0:06:13.73,Default,,0000,0000,0000,,A ternura e o afeto Dialogue: 0,0:06:13.74,0:06:16.43,Default,,0000,0000,0000,,são as primeiras formas\Nde construção do psiquismo. Dialogue: 0,0:06:16.51,0:06:20.09,Default,,0000,0000,0000,,Dito de outra maneira,\No psiquismo nasce no corpo, Dialogue: 0,0:06:20.12,0:06:22.42,Default,,0000,0000,0000,,expande-se através dele. Dialogue: 0,0:06:22.54,0:06:27.21,Default,,0000,0000,0000,,Temos no eu corporal\No primeiro modelo do eu psíquico, Dialogue: 0,0:06:27.23,0:06:30.11,Default,,0000,0000,0000,,e estou a citar\Numa psicanalista brasileira, Dialogue: 0,0:06:30.87,0:06:35.07,Default,,0000,0000,0000,,Ivanise Fontes,\Naliás é ela quem fala de ternura tátil. Dialogue: 0,0:06:35.18,0:06:36.39,Default,,0000,0000,0000,,Eu trouxe-a para aqui Dialogue: 0,0:06:36.40,0:06:40.06,Default,,0000,0000,0000,,porque parece-me uma expressão metafórica\Nextremamente elucidativa Dialogue: 0,0:06:40.11,0:06:42.39,Default,,0000,0000,0000,,do que eu estou a procurar explicar. Dialogue: 0,0:06:42.73,0:06:45.32,Default,,0000,0000,0000,,Vivemos hoje uma crise da confiança? Dialogue: 0,0:06:45.58,0:06:47.22,Default,,0000,0000,0000,,É comum ouvir-se dizer isto. Dialogue: 0,0:06:47.28,0:06:49.75,Default,,0000,0000,0000,,Eu vou relacionar esta questão Dialogue: 0,0:06:49.81,0:06:54.08,Default,,0000,0000,0000,,com duas etiquetas que habitualmente\Npomos à sociedade, ou às sociedades, Dialogue: 0,0:06:54.19,0:06:56.05,Default,,0000,0000,0000,,em que vivemos atualmente. Dialogue: 0,0:06:56.20,0:06:58.78,Default,,0000,0000,0000,,Seriam sociedades do risco, por um lado, Dialogue: 0,0:06:58.81,0:07:01.79,Default,,0000,0000,0000,,e seriam sociedades da transparência, Dialogue: 0,0:07:01.79,0:07:03.20,Default,,0000,0000,0000,,por outro. Dialogue: 0,0:07:03.61,0:07:08.43,Default,,0000,0000,0000,,Sociedades do risco: haveria hoje\Numa infinidade de riscos à nossa volta. Dialogue: 0,0:07:08.48,0:07:09.78,Default,,0000,0000,0000,,Será que é assim? Dialogue: 0,0:07:09.82,0:07:12.29,Default,,0000,0000,0000,,Nós estamos hoje mais inseguros,\Nmais expostos, Dialogue: 0,0:07:12.39,0:07:14.33,Default,,0000,0000,0000,,do que estivemos no passado? Dialogue: 0,0:07:14.71,0:07:16.69,Default,,0000,0000,0000,,Objetivamente, não. Dialogue: 0,0:07:16.99,0:07:21.39,Default,,0000,0000,0000,,Há uma tese que fez caminho\Ne continua a ser muito invocada, Dialogue: 0,0:07:21.42,0:07:23.68,Default,,0000,0000,0000,,que dá pelo nome\Nde "suavização de costumes", Dialogue: 0,0:07:23.94,0:07:26.09,Default,,0000,0000,0000,,e é enunciada por Norbert Elias. Dialogue: 0,0:07:26.18,0:07:29.54,Default,,0000,0000,0000,,Ele diz-nos que, ao longo da história,\Ne sobretudo da modernidade, Dialogue: 0,0:07:29.56,0:07:36.50,Default,,0000,0000,0000,,nós fomos capazes de fazer retrair,\Nsempre, o risco, a ideia de morte, Dialogue: 0,0:07:36.53,0:07:41.10,Default,,0000,0000,0000,,a morte física — a morte física é hoje\Nmenos provável, é mais difícil morrer. Dialogue: 0,0:07:41.37,0:07:43.63,Default,,0000,0000,0000,,Nós conseguimos controlar, muito mais, Dialogue: 0,0:07:43.77,0:07:46.59,Default,,0000,0000,0000,,os fatores de risco da doença e da morte, Dialogue: 0,0:07:46.76,0:07:50.14,Default,,0000,0000,0000,,sejam riscos biológicos,\Nsejam riscos sociais. Dialogue: 0,0:07:50.25,0:07:54.38,Default,,0000,0000,0000,,Portanto, não deveríamos estar aqui\Na militar na ideia duma sociedade de risco Dialogue: 0,0:07:54.40,0:07:56.78,Default,,0000,0000,0000,,— porque é que isso acontece, então? Dialogue: 0,0:07:57.16,0:07:59.33,Default,,0000,0000,0000,,Porque o hiper-representamos. Dialogue: 0,0:07:59.42,0:08:03.46,Default,,0000,0000,0000,,E hiper-representamo-lo\Nfruto das tecnologias de comunicação. Dialogue: 0,0:08:03.64,0:08:05.22,Default,,0000,0000,0000,,Desde logo da televisão, Dialogue: 0,0:08:05.25,0:08:07.42,Default,,0000,0000,0000,,que começa a estar um pouco "démodée" Dialogue: 0,0:08:07.45,0:08:10.84,Default,,0000,0000,0000,,face a outras formas\Nde fazer circular imagem Dialogue: 0,0:08:11.08,0:08:15.24,Default,,0000,0000,0000,,— seja como for,\Nhiper-representamos o risco. Dialogue: 0,0:08:15.51,0:08:19.77,Default,,0000,0000,0000,,Todos nos lembramos do 11 de setembro\Ne das mil vezes que o vimos Dialogue: 0,0:08:19.79,0:08:22.00,Default,,0000,0000,0000,,nos dias seguintes, nos meses seguintes, Dialogue: 0,0:08:22.05,0:08:24.12,Default,,0000,0000,0000,,e ainda hoje de vez em quando. Dialogue: 0,0:08:24.25,0:08:26.56,Default,,0000,0000,0000,,E passou ainda muito pouco tempo Dialogue: 0,0:08:26.56,0:08:30.01,Default,,0000,0000,0000,,sobre o último dos atentados\Nmediatizados à escala global Dialogue: 0,0:08:30.05,0:08:31.89,Default,,0000,0000,0000,,— foi na Nova Zelândia. Dialogue: 0,0:08:31.97,0:08:37.13,Default,,0000,0000,0000,,O perpetrador do ataque filmou,\Nem direto, o que estava a fazer, Dialogue: 0,0:08:37.17,0:08:41.74,Default,,0000,0000,0000,,e muita gente viu em direto,\Num ataque terrorista. Dialogue: 0,0:08:43.05,0:08:47.20,Default,,0000,0000,0000,,Todo este conjunto de circulação Dialogue: 0,0:08:47.39,0:08:50.84,Default,,0000,0000,0000,,de rumor insecurizante\Ne de imagens insecurizantes Dialogue: 0,0:08:50.86,0:08:54.98,Default,,0000,0000,0000,,faz com que nós criemos\Numa representação do mundo inseguro, Dialogue: 0,0:08:55.33,0:08:59.17,Default,,0000,0000,0000,,do mundo perigoso, de cidade exposta. Dialogue: 0,0:08:59.26,0:09:02.79,Default,,0000,0000,0000,,Eu penso que a metáfora\Nque explica hoje a cidade Dialogue: 0,0:09:02.79,0:09:05.50,Default,,0000,0000,0000,,ao nível das nossas representações,\Nou das nossas imagens, Dialogue: 0,0:09:05.50,0:09:07.58,Default,,0000,0000,0000,,é a da cidade exposta. Dialogue: 0,0:09:09.20,0:09:11.83,Default,,0000,0000,0000,,Há ainda uma outra circunstância\Na acrescentar a esta. Dialogue: 0,0:09:11.86,0:09:15.08,Default,,0000,0000,0000,,É que vivemos em sociedades de bem estar, Dialogue: 0,0:09:15.08,0:09:17.99,Default,,0000,0000,0000,,o Estado dá-se a si próprio\Na tarefa de nos proteger, Dialogue: 0,0:09:18.02,0:09:19.85,Default,,0000,0000,0000,,o "welfare state", Dialogue: 0,0:09:20.55,0:09:24.41,Default,,0000,0000,0000,,e fomos mimados pelo Estado,\Ndigamos assim, Dialogue: 0,0:09:24.41,0:09:26.70,Default,,0000,0000,0000,,que nos garantiu\Nque nos protegeria a vida, Dialogue: 0,0:09:26.70,0:09:31.59,Default,,0000,0000,0000,,e, portanto, lidamos muito mal\Ncom a ideia de insegurança e de risco. Dialogue: 0,0:09:31.63,0:09:34.19,Default,,0000,0000,0000,,Paradoxalmente,\Nquanto mais seguros estamos, Dialogue: 0,0:09:34.44,0:09:37.01,Default,,0000,0000,0000,,mais medo temos do risco. Dialogue: 0,0:09:39.40,0:09:42.09,Default,,0000,0000,0000,,E agora, a questão\Nda sociedade da transparência Dialogue: 0,0:09:42.14,0:09:43.92,Default,,0000,0000,0000,,— porque é que a trago para aqui? Dialogue: 0,0:09:43.94,0:09:45.63,Default,,0000,0000,0000,,Nas sociedades de pequena escala, Dialogue: 0,0:09:45.63,0:09:48.57,Default,,0000,0000,0000,,em que a interação entre nós\Nera mais densa, Dialogue: 0,0:09:48.57,0:09:53.58,Default,,0000,0000,0000,,em que o conhecimento face a face estava\Nmuito mais expandido nas comunidades, Dialogue: 0,0:09:54.94,0:09:57.90,Default,,0000,0000,0000,,o vínculo central era o da confiança. Dialogue: 0,0:09:58.48,0:10:01.41,Default,,0000,0000,0000,,A confiança significa que eu posso\Nnão conhecer o outro, Dialogue: 0,0:10:01.41,0:10:02.80,Default,,0000,0000,0000,,ou quase não o conhecer, Dialogue: 0,0:10:02.80,0:10:04.24,Default,,0000,0000,0000,,mas posso confiar nele. Dialogue: 0,0:10:04.30,0:10:07.41,Default,,0000,0000,0000,,Chamo alguém a minha casa\Npara me reparar um eletrodoméstico, Dialogue: 0,0:10:07.92,0:10:11.12,Default,,0000,0000,0000,,posso não conhecer a pessoa\Nmas acredito que ela vai lá entrar, Dialogue: 0,0:10:11.12,0:10:14.06,Default,,0000,0000,0000,,vai fazer o que tem a fazer,\Ne não me vai assaltar. Dialogue: 0,0:10:14.38,0:10:17.58,Default,,0000,0000,0000,,— nem vai lá no dia seguinte\Nquando eu não estiver em casa... Dialogue: 0,0:10:17.87,0:10:20.83,Default,,0000,0000,0000,,Da mesma forma que a pessoa que lá vai\Nconfia que faz o serviço Dialogue: 0,0:10:20.83,0:10:23.87,Default,,0000,0000,0000,,e eu só lhe pago no fim,\Nmas que vou pagar. Dialogue: 0,0:10:24.06,0:10:25.99,Default,,0000,0000,0000,,Este é o vínculo da confiança. Dialogue: 0,0:10:25.100,0:10:31.33,Default,,0000,0000,0000,,É um vínculo que, apesar de tudo,\Nainda prevalece na vida social corrente. Dialogue: 0,0:10:32.00,0:10:36.43,Default,,0000,0000,0000,,Acontece que, fruto do grande\Ncrescimento dos aglomerados, Dialogue: 0,0:10:36.56,0:10:39.26,Default,,0000,0000,0000,,da metropolização das nossas vidas, Dialogue: 0,0:10:39.53,0:10:42.91,Default,,0000,0000,0000,,nós cada vez mais\Nnos atomizámos socialmente. Dialogue: 0,0:10:43.05,0:10:45.36,Default,,0000,0000,0000,,Cada vez mais\Nestamos entregues a nós próprios Dialogue: 0,0:10:45.42,0:10:50.21,Default,,0000,0000,0000,,— muitos dizem que vivemos\Nnuma sociedade do hiper-individualismo. Dialogue: 0,0:10:51.01,0:10:57.35,Default,,0000,0000,0000,,Nestas condições, mais do que comunidade,\No que temos são agregados de indivíduos, Dialogue: 0,0:10:57.63,0:10:59.34,Default,,0000,0000,0000,,agregados de egos, Dialogue: 0,0:10:59.34,0:11:01.34,Default,,0000,0000,0000,,que até podem perseguir interesses comuns, Dialogue: 0,0:11:01.34,0:11:04.85,Default,,0000,0000,0000,,porque têm interesse, todos eles,\Nnum mesmo objetivo Dialogue: 0,0:11:05.09,0:11:09.20,Default,,0000,0000,0000,,— alguém já falou nas "brand communities",\Nas comunidades de marca, por exemplo — Dialogue: 0,0:11:09.43,0:11:13.30,Default,,0000,0000,0000,,mas isto não chega a ser\Numa comunidade no sentido pleno do termo. Dialogue: 0,0:11:13.93,0:11:17.76,Default,,0000,0000,0000,,Qualquer coisa tem ficado pelo caminho\Nao nível do que é a confiança. Dialogue: 0,0:11:17.89,0:11:19.47,Default,,0000,0000,0000,,E quando não podemos confiar, Dialogue: 0,0:11:19.47,0:11:22.18,Default,,0000,0000,0000,,o mecanismo que a substitui\Né a transparência. Dialogue: 0,0:11:22.55,0:11:25.62,Default,,0000,0000,0000,,Se eu não posso conhecer o outro\Natravés de um vínculo próximo, Dialogue: 0,0:11:25.62,0:11:27.22,Default,,0000,0000,0000,,quero que haja um mecanismo Dialogue: 0,0:11:27.22,0:11:29.66,Default,,0000,0000,0000,,que me garanta a transparência\Ndaquela pessoa. Dialogue: 0,0:11:29.74,0:11:33.24,Default,,0000,0000,0000,,E é por isso que hoje estamos a exigir\Naos detentores de cargos públicos Dialogue: 0,0:11:33.45,0:11:35.85,Default,,0000,0000,0000,,que publiquem\Nas suas declarações de rendimentos. Dialogue: 0,0:11:36.03,0:11:40.54,Default,,0000,0000,0000,,É por isso que o parlamento português\Ncriou uma comissão para a transparência. Dialogue: 0,0:11:40.76,0:11:44.57,Default,,0000,0000,0000,,É por isso que vivemos\Nnuma espécie de um panóptico Dialogue: 0,0:11:44.57,0:11:48.44,Default,,0000,0000,0000,,que nos vigia por todo os lados,\N— vigilâncias eletrónicas, Dialogue: 0,0:11:48.50,0:11:51.04,Default,,0000,0000,0000,,estamos sujeitos à transparência. Dialogue: 0,0:11:51.33,0:11:53.03,Default,,0000,0000,0000,,Agora, não nos iludamos. Dialogue: 0,0:11:53.12,0:11:55.48,Default,,0000,0000,0000,,A transparência\Nnão é a restauração da confiança. Dialogue: 0,0:11:55.69,0:11:58.68,Default,,0000,0000,0000,,A transparência é a sociedade do controlo. Dialogue: 0,0:11:58.76,0:12:00.84,Default,,0000,0000,0000,,São mecanismos postos em marcha Dialogue: 0,0:12:00.91,0:12:07.22,Default,,0000,0000,0000,,para garantirmos que continuaremos\Na funcionar na copresença do outro Dialogue: 0,0:12:07.22,0:12:10.39,Default,,0000,0000,0000,,sem este nos trair permanentemente. Dialogue: 0,0:12:10.54,0:12:16.45,Default,,0000,0000,0000,,E agora vou juntar alguns destes elementos\Nque tenho transmitido até agora, Dialogue: 0,0:12:17.53,0:12:18.84,Default,,0000,0000,0000,,para dizer o seguinte: Dialogue: 0,0:12:18.87,0:12:23.31,Default,,0000,0000,0000,,Parece-me que a confiança se estrutura,\Npelo menos, em dois níveis: Dialogue: 0,0:12:23.79,0:12:27.92,Default,,0000,0000,0000,,no nível sensorial\Ne no nível interacional. Dialogue: 0,0:12:28.45,0:12:32.65,Default,,0000,0000,0000,,E como é que isto se processa\Nnas pessoas que perdem a visão? Dialogue: 0,0:12:35.00,0:12:39.44,Default,,0000,0000,0000,,No nível sensorial,\Ntemos que voltar a confiar no corpo. Dialogue: 0,0:12:40.31,0:12:43.88,Default,,0000,0000,0000,,A primeira coisa que acontece\Nquando não se vê Dialogue: 0,0:12:44.04,0:12:47.58,Default,,0000,0000,0000,,é não saber em que direção se caminha. Dialogue: 0,0:12:48.17,0:12:52.71,Default,,0000,0000,0000,,Dar um passo a seguir ao outro\Né caminhar num vazio, Dialogue: 0,0:12:53.05,0:12:58.11,Default,,0000,0000,0000,,é caminhar numa espécie\Nde um leite esbranquiçado, ou cinzento Dialogue: 0,0:12:58.19,0:13:00.80,Default,,0000,0000,0000,,— os normovisuais imaginam Dialogue: 0,0:13:00.83,0:13:04.60,Default,,0000,0000,0000,,que os cegos estão sempre\Nnuma espécie de escuridão impenetrável Dialogue: 0,0:13:04.60,0:13:06.25,Default,,0000,0000,0000,,e não é bem isso. Dialogue: 0,0:13:06.25,0:13:08.60,Default,,0000,0000,0000,,Há uns que veem a branco,\Noutros a cinzento. Dialogue: 0,0:13:08.90,0:13:12.55,Default,,0000,0000,0000,,No meu caso, tenho uma série de brilhos\Nque me vão habitando à volta, Dialogue: 0,0:13:12.55,0:13:15.09,Default,,0000,0000,0000,,brilhos que não correspondem\Na nenhum estímulo externo Dialogue: 0,0:13:15.09,0:13:16.42,Default,,0000,0000,0000,,mas, seja como for, Dialogue: 0,0:13:16.46,0:13:18.34,Default,,0000,0000,0000,,avançar contra estas cortinas Dialogue: 0,0:13:18.39,0:13:22.59,Default,,0000,0000,0000,,é qualquer coisa que implica\Nrestaurar a confiança no corpo. Dialogue: 0,0:13:22.84,0:13:26.86,Default,,0000,0000,0000,,Isto faz-se através, por exemplo,\Nda atividade física, Dialogue: 0,0:13:27.24,0:13:32.70,Default,,0000,0000,0000,,de voltar a ganhar confiança\Nnuma atividade desportiva, por exemplo. Dialogue: 0,0:13:32.74,0:13:37.13,Default,,0000,0000,0000,,Na reabilitação do cego é importante\Npô-lo a mexer o corpo, Dialogue: 0,0:13:37.18,0:13:39.49,Default,,0000,0000,0000,,pô-lo a avançar sem medo. Dialogue: 0,0:13:41.17,0:13:43.42,Default,,0000,0000,0000,,A sensorialidade tátil, Dialogue: 0,0:13:43.58,0:13:46.99,Default,,0000,0000,0000,,a tal que foi tão importante\Nna nossa primeira infância, Dialogue: 0,0:13:47.03,0:13:50.36,Default,,0000,0000,0000,,deve ser aqui recuperada\Nem toda a sua plenitude. Dialogue: 0,0:13:50.55,0:13:52.29,Default,,0000,0000,0000,,O corpo é muito importante. Dialogue: 0,0:13:52.34,0:13:54.91,Default,,0000,0000,0000,,O nosso corpo tem\Npotencialidades extraordinárias Dialogue: 0,0:13:54.91,0:13:58.17,Default,,0000,0000,0000,,enquanto dispositivo\Nde conhecimento do mundo. Dialogue: 0,0:13:58.26,0:14:01.88,Default,,0000,0000,0000,,E vivemos numa sociedade\Nque o utiliza mais para a imagem, Dialogue: 0,0:14:02.14,0:14:04.05,Default,,0000,0000,0000,,nos Instagrams e companhia, Dialogue: 0,0:14:04.09,0:14:07.91,Default,,0000,0000,0000,,do que propriamente como\Ndispositivo de conhecimento verdadeiro. Dialogue: 0,0:14:09.11,0:14:13.84,Default,,0000,0000,0000,,Portanto, em primeiro lugar,\Nesta questão da restauração sensorial. Dialogue: 0,0:14:14.94,0:14:21.32,Default,,0000,0000,0000,,Um outro nível da restauração\Nprende-se com o plano interativo. Dialogue: 0,0:14:21.60,0:14:24.18,Default,,0000,0000,0000,,Nós somos animais de pequeno grupo, Dialogue: 0,0:14:24.19,0:14:26.73,Default,,0000,0000,0000,,mesmo quando vivemos\Nem grandes cidades, Dialogue: 0,0:14:26.77,0:14:31.13,Default,,0000,0000,0000,,mas recriamos o pequeno grupo, da família,\Nnos colegas de escola, nos amigos, Dialogue: 0,0:14:31.13,0:14:33.79,Default,,0000,0000,0000,,nos grupos de pertença, no trabalho, Dialogue: 0,0:14:35.22,0:14:41.48,Default,,0000,0000,0000,,e a qualidade destes contextos nos quais\Nse promove a interação é fundamental. Dialogue: 0,0:14:41.54,0:14:47.12,Default,,0000,0000,0000,,A qualidade do infantário,\Ndo jardim de infância, da creche, Dialogue: 0,0:14:47.19,0:14:51.94,Default,,0000,0000,0000,,a qualidade das escolas básicas,\Ndas secundárias, das universidades, Dialogue: 0,0:14:51.97,0:14:54.16,Default,,0000,0000,0000,,a qualidade dos contextos de trabalho Dialogue: 0,0:14:54.21,0:14:57.04,Default,,0000,0000,0000,,é qualquer coisa\Nem que vale a pena apostar, Dialogue: 0,0:14:57.04,0:14:59.65,Default,,0000,0000,0000,,mas uma qualidade em que haja Dialogue: 0,0:14:59.65,0:15:04.25,Default,,0000,0000,0000,,toda uma educação para\Na inclusão das pessoas com diferenças, Dialogue: 0,0:15:04.25,0:15:07.13,Default,,0000,0000,0000,,e diferenças temo-las todos. Dialogue: 0,0:15:07.18,0:15:12.13,Default,,0000,0000,0000,,Caetano Veloso diz numa das suas letras\Nque "De perto ninguém é normal". Dialogue: 0,0:15:12.85,0:15:17.62,Default,,0000,0000,0000,,Temos que continuar todos Dialogue: 0,0:15:17.65,0:15:20.75,Default,,0000,0000,0000,,a querer aprender esta tolerância\Npara com a diferença. Dialogue: 0,0:15:21.06,0:15:25.54,Default,,0000,0000,0000,,E se os contextos forem interativos,\Nse forem densos, Dialogue: 0,0:15:25.63,0:15:29.28,Default,,0000,0000,0000,,restauram a tal confiança própria Dialogue: 0,0:15:30.13,0:15:36.73,Default,,0000,0000,0000,,às comunidades de pequena escala\Nnas quais ela era o vínculo primordial. Dialogue: 0,0:15:39.38,0:15:42.90,Default,,0000,0000,0000,,Eu diria que, se tivermos\Ncondições para trabalhar, Dialogue: 0,0:15:44.27,0:15:47.02,Default,,0000,0000,0000,,repito, na restauração de pessoas\Nque o conseguiram Dialogue: 0,0:15:47.02,0:15:50.09,Default,,0000,0000,0000,,— mas isto vale\Npara outras deficiências também — Dialogue: 0,0:15:50.87,0:15:53.06,Default,,0000,0000,0000,,na restauração do plano corporal, Dialogue: 0,0:15:53.06,0:15:56.92,Default,,0000,0000,0000,,vou-lhe chamar\Nde confiança psicocorporal, Dialogue: 0,0:15:58.17,0:16:00.48,Default,,0000,0000,0000,,trabalhando a consciência corporal, Dialogue: 0,0:16:00.48,0:16:03.44,Default,,0000,0000,0000,,e a consciência corporal\Ntrabalha-se a partir do tato Dialogue: 0,0:16:03.44,0:16:05.72,Default,,0000,0000,0000,,— todos nós, também os normovisuais — Dialogue: 0,0:16:05.72,0:16:08.34,Default,,0000,0000,0000,,perdendo o tabu do toque, Dialogue: 0,0:16:08.42,0:16:12.77,Default,,0000,0000,0000,,perdendo o tabu da distância,\Ndo olhar desconfiado... Dialogue: 0,0:16:13.32,0:16:17.38,Default,,0000,0000,0000,,se nós conseguirmos fazer esta educação,\Npara a psicocorporalidade, Dialogue: 0,0:16:17.38,0:16:23.46,Default,,0000,0000,0000,,e se conseguirmos trabalhar para\Na melhor qualidade dos nossos contextos, Dialogue: 0,0:16:23.78,0:16:28.46,Default,,0000,0000,0000,,estaremos em condições\Nde recuperar a confiança. Dialogue: 0,0:16:28.68,0:16:34.83,Default,,0000,0000,0000,,Dizer o seguinte: a confiança\Nnão é uma característica, Dialogue: 0,0:16:34.83,0:16:39.12,Default,,0000,0000,0000,,não é um estado que se possa adquirir\Nde uma vez por todas, Dialogue: 0,0:16:39.37,0:16:42.77,Default,,0000,0000,0000,,e depois dizemos\N"Já está! Já sou confiante!". Dialogue: 0,0:16:42.97,0:16:44.57,Default,,0000,0000,0000,,Não, não é isso. Dialogue: 0,0:16:44.73,0:16:48.05,Default,,0000,0000,0000,,A confiança é volúvel, é lábil, Dialogue: 0,0:16:48.18,0:16:50.51,Default,,0000,0000,0000,,ela anda para cima e para baixo, Dialogue: 0,0:16:50.51,0:16:55.36,Default,,0000,0000,0000,,dependendo muito dos acontecimentos\Nfulcrais da nossa vida, Dialogue: 0,0:16:55.41,0:16:57.77,Default,,0000,0000,0000,,dependendo do modo\Ncomo os que nos rodeiam Dialogue: 0,0:16:57.81,0:17:01.28,Default,,0000,0000,0000,,dão suporte às nossas crises pessoais, Dialogue: 0,0:17:02.54,0:17:07.89,Default,,0000,0000,0000,,e, portanto, vale a pena tentarmos\Nprocurar melhor perceber Dialogue: 0,0:17:08.12,0:17:13.03,Default,,0000,0000,0000,,quais são os grandes\Nconstrutores da confiança Dialogue: 0,0:17:13.20,0:17:15.65,Default,,0000,0000,0000,,— eu sublinharia\Nfundamentalmente os psicológicos Dialogue: 0,0:17:15.70,0:17:19.54,Default,,0000,0000,0000,,mas também os interativos\Ne os socioculturais, Dialogue: 0,0:17:19.71,0:17:23.43,Default,,0000,0000,0000,,percebermos quais são\Nestes construtores da confiança Dialogue: 0,0:17:23.56,0:17:26.84,Default,,0000,0000,0000,,de modo a podermos agir\Nmais intencionalmente nela, Dialogue: 0,0:17:26.91,0:17:29.24,Default,,0000,0000,0000,,de cada vez que a perdemos. Dialogue: 0,0:17:31.22,0:17:32.44,Default,,0000,0000,0000,,Tenho dito. Dialogue: 0,0:17:32.46,0:17:35.09,Default,,0000,0000,0000,,(Aplausos)