Quantos de nós já estiveram a ver o noticiário, e, quando surge uma história, ficamos cativados por ela, e começamos a fazer perguntas como: "Será que estes dados e informações estão corretos?" Ou quantos de nós já estiveram numa fila para a caixa, a olhar para os jornais e revistas - para quem não sabe o que é um jornal, são palavras impressas, não nas redes sociais - mas quantas vezes estivemos naquela fila de caixa e dissemos: "Ná, não pode ser verdade"? Ou terceiro, virando-me para as redes sociais, quantos de nós já estiveram nas redes sociais e vemos estas histórias virais a circular que nos fazem pensar ou preocupar - tal como o Desafio da Momo - e depois descobrimos que são uma aldrabice? O mundo em que vivemos hoje está a produzir imenso acesso instantâneo à informação. Como é que deciframos entre tudo isso? E não apenas decifrar entre tudo isso. Como é que a usamos para tomar decisões informadas e inteligentes? E agora, se vos dissesse que existe de forma legitima uma competência no mundo que todos podem aprender - não somente aprender, mas tornar-se bom nisso - que nos vai capacitar para entender melhor dados e informações e depois tomar decisões informadas? Demasiado bom para ser verdade? Garanto que não. É real, e é acessível a todos. Esta competência é a literacia de dados. Antes de começar a falar no que é a literacia de dados, quero estabelecer os fundamentos para entendermos a era e o mundo em que vivemos com a tecnologia e a informação. O tempo em que vivemos tem sido chamado de Quarta Revolução Industrial. O que raio é que isso quer dizer? Quer dizer um mundo digital, Penso que todos podemos concordar que vivemos num mundo muito digital. De facto, é muito difícil encontrar pessoas que não têm um computador no bolso, no "smartphone". Para ajudar a entender melhor, vou examinar alguns exemplos convosco apenas para mostrar quão conectados estamos e quanta informação está a ser produzida. O primeiro exemplo: Sabiam que, hoje em dia, precisam de um frigorífico que tem um ecrã táctil? (Risos) E não é só um ecrã táctil, mas que pode reproduzir vídeos do YouTube, que pode dizer o tempo. Estas coisas existem, sabiam que precisam delas? Agora, sem ocultar nada, adivinhem quem tem um desses? (Risos) Segundo: Sabiam que precisam de uma máquina de lavar loiça que se liga à Internet? Porque eu não consigo imaginar algo que eu mais queira, quando estou no cinema, do que saber quando é que o ciclo de lavagem está completo. (Risos) Sabiam que precisam disso? Terceiro: Sabiam que se está a tornar demasiado difícil rodar uma torneira para abrir o chuveiro? (Risos) Que agora podem fazer "download" de uma aplicação que pode abrir a água e - imaginem só - regular a temperatura exata que pretendemos? E mais, podemos ter um ecrã táctil no chuveiro, e essa mistura de eletricidade e água... (Risos) Sabiam que precisam disso? A realidade é que tudo está a ser conectado. E não só conectado: adivinhem o que isto produz para nós? Dados e informações. Os dados agora são chamados o "novo petróleo", mas acho que devemos olhar de longe para essa afirmação para a entender melhor. Os dados são um bem valioso mas, tal como o petróleo, necessitam de passar por pessoas e de serem refinados para ganhar valor. Isso é literacia de dados. Agora, por definição, a literacia de dados é a capacidade de ler, de trabalhar com os dados, de os analisar e de os questionar, quatro competências dentro de um espectro. Reparem que eu não disse que a literacia de dados é ciência de dados. Nem toda a gente no mundo precisa de ser cientista de dados, mas todos precisam de se sentirem confortáveis com dados para serem bem-sucedidos na Quarta Revolução Industrial. Então, vamos mergulhar nestas quatro competências para nos ajudar a entendê-las melhor. Para o fazer, vamos imaginar que vamos todos comprar um frigorífico. Os princípios que estou prestes a vos ensinar não se aplicam só na vida pessoal, também se aplicam no setor público, aplicam-se nos negócios, e aplicam-se na sociedade. A primeira característica é a capacidade de ler dados. Imaginem que vamos a uma loja, estamos a olhar para todos os frigoríficos e não fazemos ideia de qual o mais adequado às nossas necessidades. Então o primeiro passo é ler a informação e os dados fornecidos. Se forem pesquisar no Google a palavra "ler", significa olhar para algo e compreendê-lo. Quando entramos na loja e estão lá 30 frigoríficos, deve haver alguns sem ecrã táctil, podemos ler as informações que nos são fornecidas, e compreendê-las para tomar uma decisão inteligente. Ler dados é uma das coisas mais poderosas que pode libertar a nossa mente na Quarta Revolução Industrial. Sabiam que, há centenas de anos, saber ler podia ser um ato criminoso? De forma alguma estou a dizer que será um ato criminoso saber ler dados mas, tal como há centenas de anos, com toda a informação que nos rodeia, a capacidade de a ler e compreender é uma competência fundamental. Voltando aos frigoríficos. Avançamos e chegamos à segunda característica da literacia de dados. É a capacidade de trabalhar com dados. Podem-se estar a perguntar: "Isso significa que tenho de me tornar bom em ciência computacional e estatística "para trabalhar com dados?" A resposta é: não. Significa perceber as informações, quando elas vos são apresentadas. Se pensarmos naquelas histórias virais que circulam e nos incomodam, ficamos aliviados quando descobrimos que são uma aldrabice. Trabalhar e ler dados permite-nos determinar se é uma aldrabice antes de termos de o descobrir. Assim, ao comprar esses frigoríficos - e cada frigorífico tem o seu folheto informativo - sentimo-nos confortáveis em consumir essas informações, para passar à terceira característica da definição de literacia de dados, ou seja, analisar dados. A análise de dados faz-nos refletir no "porquê?" que está por detrás. Muitas vezes digo que queremos ultrapassar a observação para chegar ao conhecimento. Na realidade, quando uma história anda a circular nas redes sociais, na maioria das vezes, estamos a fazer uma observação da informação que nos é apresentada. No caso de um frigorífico, entramos numa loja, vemos 30 frigoríficos e talvez cinco nos chamem a atenção: fazemos uma observação. Precisamos de analisar as informações sobre esses cinco frigoríficos para a podermos interiorizar e encontrar o conhecimento que nos leva a uma decisão mais acertada. Analisar também significa estar confortável a fazer perguntas. Isso é algo que não acontece com frequência nas redes sociais na nossa época. Devíamos questionar tudo. A quarta fatia do bolo é argumentar com os dados. Agora, uma pequena nota à parte, Não vos estou a encorajar a argumentar com o vendedor quando compram o frigorífico. Argumentar com os dados significa duas coisas. Uma: questionar as informações à medida que estas se apresentam. Façam muitas perguntas ao vendedor, questionem o que vos está a ser dado. O segundo lado de argumentar com dados e informações é a capacidade de tomar uma posição e poder fundamentá-la com informações. Coloquem-se no meu lugar. Digamos que a minha mulher e eu estamos a remodelar e a escolher este frigorífico. Concordamos absolutamente em tudo? Não. (Risos) Cada um de nós tem a sua posição, por isso, discutimos e fundamentamos com factos e dados para chegar ao melhor frigorífico para nós. Quatro características: ler, trabalhar com dados, analisá-los e questioná-los, capacita-nos enquanto indivíduos a dar sentido a todas essas informações e depois tomar decisões baseadas nelas. Perguntam-me muitas vezes: "Como é que eu começo? O que é que faço?" "Preciso de voltar para a escola e aprender estatística?" "Preciso de aprender a codificar?" Eu percebo que nem todos são uns grandes "nerds" como eu. Nem toda a gente quer ler um manual de estatística. Eu garanto-vos que quero. Então por onde começar? Inventei uma frase que utilizo chamada "Os Dois Cês da Literacia de Dados." O primeiro C é que eu quero que se tornem Curiosos. Eu tenho cinco filhos. Adivinhem quantas perguntas me fazem diariamente? (Risos) E o engraçado é: Eu não quero que os meus filhos deixem de o fazer. Quero que os cérebros deles trabalhem na informação e nos dados à sua frente, para chegar a respostas que eu só posso sonhar chegar eu próprio. Porque, por alguma razão, quando nos tornamos adultos, a nossa curiosidade desaparece. Tornem-se curiosos e façam perguntas sobre tudo. Esse é o começo de uma literacia de dados poderosa. O segundo C da literacia de dados é Criatividade. Existe muito entusiasmo e muita discussão no mundo do que a IA - a inteligência artificial - os computadores, as máquinas vão fazer no futuro. Nós já estamos na Quarta Revolução Industrial. Já estamos a viver num mundo digital, e estou aqui para vos dizer que o computador mais poderoso está aqui; está na nossa mente. Os dados nunca devem ser despojados do elemento humano. É uma combinação dessas máquinas de dados e da inteligência artificial combinados com o elemento humano. Lembrem-se: aquelas 4 características estão num espectro de competências. Mas o segundo C de Criatividade permite-nos abrir a nossa mente humana a algo que pode parecer aborrecido ou mundano, mas os dados e a informação têm poder. No geral, este mundo em que vivemos pode ser melhorado na sociedade, no negócio, e nas nossas vidas pessoais, à medida que melhoramos na leitura, no trabalho com os dados, na sua análise e questionamento. Se querem ter uma forma infalível de ter sucesso no futuro e neste mundo digital tornem-se letrados em dados. Obrigado. (Aplausos)