Olá, meu nome é Tony e este é o "Cada Frame é um Quadro", onde analiso técnicas do cinema. O filme de hoje é O Impostor, de 2012, dirigido por Bart Layton. Se você ainda não viu, não leia mais nada. Não veja nem o gênero. Apenas feche esta janela e vá assistir. Porque vou dar todos os spoilers. Você tem 5 segundos para destruir esta gravação. Pronto? 5, 4, 3, 2 O Impostor Vamos lá. Acho que Bart Layton tomou uma das decisões mais inteligentes e simples que já vi para um documentário. Todas as pessoas na história são filmadas em um formato normal de entrevista, olhando fora do quadro, para outra pessoa. Exceto o vilão. Desde quando me lembro, quis ser outra pessoa. Que olha diretamente para nós. É isso. Muito simples. O cinema sempre teve fascinação pelos vilões, e sempre olhamos diretamente para eles, sejam gangsters, canibais, sociopatas, psicopatas, garotas japonesas ou o Leonardo DiCaprio. E adoro quando uma história de detetive ou thriller quebra a quarta parede. Jonathan Demme faz muito isso em O Silêncio dos Inocentes, que quer fazer com que você entenda... Mais perto. ...o ponto de vista dela. São pequenas coisas, como a experiência de ser mais baixa e mulher em uma sala como esta. Podem ir. Aqui temos uma cena de Zodíaco. Essa é a primeira entrevista com o principal suspeito. Os três detetives estão tentando descobrir: esse cara é o assassino? Quando ele diz algo suspeito, olhe para quais tomadas o Fincher corta. Bem, vamos verificar isso. Esteve alguma vez no sul da Califórnia? E este é o clímax da cena: Eu não sou o Zodíaco. E se eu fosse, com certeza não contaria pra vocês. O filme está pedindo para que você julgue: o que você acha desse cara? Mas em ficção, é muito difícil manter alguém olhando para a lente o tempo todo. É demais. Sim. Mas se você for para os documentários... Vou começar a frase porque sei exatamente o que queria dizer. Continue! Ok. ...vai se deparar com o Errol Morris, que faz isso o tempo todo. Para ele, o objetivo é te tornar a primeira-pessoa, dar a sensação que está na mesma sala com essas pessoas, falando com elas. E quando se explicam não quebram o contato visual, então é mais fácil de empatizar com elas. Essa é a configuração de câmera para O Impostor. Esse ângulo nos coloca na mesma sala que o vilão, julgando-o. Mas o mesmo ângulo nos torna muito suscetíveis à persuasão dele. Em outras palavras, sabemos que ele é o vilão. Mas isso não nos protege. Se observar com atenção, verá que há outras decisões no filme que se originam daí. A maioria das reconstruções são filmadas do ponto de vista do impostor. Ele até faz sincronia labial... Não fui eu que falei sobre ter sido abusado sexualmente. Fiz com que eles me perguntassem. ...no passado e presente. Outras pessoas vemos de cima ou de baixo, mas aqui estamos no nível do olho. Além do mais, eles são filmados com profundidade, e você pode ver seus ambientes e de onde vêm. Mas o fundo do impostor é literalmente um borrão. Não há nem mesmo um título nos dizendo quem ele é. Essas são claramente escolhas da direção. Mas por quê? Por que fazer o filme de forma que o vilão controla a história e como ela é contada? Porque o filme quer te enganar. Não com um "te peguei!" O diretor quer que você experimente ser persuadido por esse cara. Ele passa a maior parte da história contando como mentiu e enganou todo mundo. Sabemos que não deveríamos acreditar no que ele diz. Mas depois de dois terços do filme, ele pergunta: Por que a família o aceitou tão facilmente? Não confiaram demais nele? Não precisei ser um gênio para juntar as peças. Por qual outro motivo o aceitariam? Eles o mataram. Ah, merda! Alguns fizeram isso, alguns sabiam e outros escolheram ignorar. Espera aí, o quê? Foda-se ele! A reação natural de muitas pessoas a esse caso é menosprezar a família Barclay. Vê-los como burros ou facilmente manipuláveis. O filme até dá motivos pra você pensar isso. Espanha? Isso não é do outro lado do país? Além do mais, quem não reconhece o próprio filho? O filme deixa você acreditar nisso. Não enfiando goela abaixo, mas só te deixa acreditar no que já estava predisposto a acreditar. E você cai na mesma cilada. Porque como já estava pensando nisso, tudo o que ele teve que fazer foi olhar pra você e confirmar. Se funciona ou não com você, não posso dizer. Mas eu posso dizer que caí nessa. E acho que o filme tem bastante empatia pela família. Por 90 minutos, ele te faz experimentar a história do jeito deles: com uma reviravolta atrás da outra, até que você não saiba mais o que pensar ou sentir. E talvez no final, entenda um pouco melhor como eles podem ter sido enganados por algo que parece tão óbvio para mim ou para você. Ou talvez não, e você é um psicopata. Editado e narrado por Tony Zhou Com trechos de