Sou cientista comportamental
e professor de psicologia.
O objetivo principal de meu trabalho
é ensinar as pessoas sobre a alegria
e fascinação de pensar cientificamente
sobre o mundo ao nosso redor.
Como ouvimos hoje,
os cientistas exploram e descobrem
e o que fazem é criativo
e de certa forma mágico.
Mas você só será um bom cientista se
estiver disposto a abrir mão das certezas,
reconhecer que você está partindo
de uma posição de ignorância
sem saber as respostas.
Você pesquisa, testa e espera para ver
aonde a natureza pode te levar.
Às vezes não vai encontrar uma resposta.
Alguns problemas levam tempo
para se resolver.
Mas os cientistas também são pacientes.
Estão dispostos a deixar os fatos
desconhecidos, incompletos
até o momento em que uma explicação
convincente seja descoberta.
Os cientistas também sabem
que vão cometer erros.
Por exemplo
uma das minhas aulas
é de introdução à psicologia,
sempre tenho um desses aqui comigo,
e nós costumávamos ensinar isto.
Por muitos anos ensinamos aos alunos
que havia quatro receptores de paladar:
doce, salgado, azedo e amargo
e que eles estavam organizado
na língua como um mapa,
como se fossem os
"Estados Unidos da Língua".
Hoje sabemos que isso
está totalmente errado.
Na verdade, temos
cinco receptores de paladar
sendo o quinto deles o umami,
e os receptores estão espalhados
por toda a língua,
onde houver papilas gustativas.
Os erros são parte do processo científico.
A palavra experimento sugere
que devemos esperar pelo erro
e que nem todas as tentativas
vão funcionar.
Infelizmente, na vida de um pesquisador
muitos experimentos fracassam.
Mas os fracassos são válidos,
porque nos mostram por onde não seguir.
Infelizmente, descobri
que esse erro sobre a língua
é bem difícil de consertar.
As pessoas preferem a ideia
de "Estados Unidos da Língua"
em vez do conceito
de "uma nação, muitos sabores".
Mas eu sigo tentando.
Faço pesquisa comportamental
e ensino ciências e comportamento humano
e adoro cada minuto.
Também estudo comportamento irracional
e de fato existe uma fonte ilimitada
de comportamento irracional.
(Risos)
Nunca vai me faltar assunto para estudar.
Mas ao longo do tempo
trabalhando com isso,
passei a entender que palavras
e evidências são limitadas.
Às vezes as pessoas vão se convencer
com novas informações e bons argumentos,
mas com frequência são teimosas
e se apegam a velhas ideias.
Por alguma razão,
às vezes a história falsa
é mais interessante do que a verdadeira,
e assim as pessoas continuam a acreditar
nos Estados Unidos da Língua
em vez de no conceito correto.
E os Estados Unidos da Língua
são o menor de nossos problemas.
Um número cada vez maior de pessoas
assumem falsas crenças bem mais críticas.
De acordo com uma pesquisa recente
48% dos adultos norte-americanos,
menos da metade,
acreditam que os humanos
vieram de outras espécies.
Na mesma pesquisa, aqui temos
o número de adultos norte-americanos
que acreditam que
a astrologia é científica.
Infelizmente, as coisas
estão tomando a direção errada.
Espero não estar causando nenhum mal-estar
quando digo que a astrologia não é
científica, que ela não passou nos testes.
Mas muitas pessoas ainda acreditam.
Para professores de ciências isso
demonstra a necessidade de humildade.
Às vezes as pessoas são influenciadas
por argumentos razoáveis,
então continuamos apelando à razão.
No entanto, muitas vezes
elas saem do debate ilesas.
Talvez eu convença a maioria das pessoas
a abandonar os Estados Unidos da Língua,
mas no caso da evolução e fraquezas
da astrologia seria muito mais difícil.
E por quê?
Porque essas crenças tocam em uma parte
muito mais profunda da vida das pessoas
que teve início muitos anos atrás.
Este é o tópico principal
da minha palestra.
O pensamento científico
se desenvolve em ambientes
que são ao mesmo tempo
protetores e permissivos.
Se queremos criar pessoas
interessadas na ciência e na verdade,
e não em astrologia e criacionismo,
precisamos deixar
que as crianças façam descobertas
no mundo físico e no das ideias.
Minha história é um exemplo disso.
Cresci nos anos 1950 e início de 1960,
num subúrbio ao sul de Chicago, Illinois,
numa época em que a infância
era algo bem diferente do que é hoje.
Não havia computadores,
videogames ou celulares
e muito menos programação
de atividades para crianças.
Mas havia algo que poucas crianças
norte-americanas têm hoje:
liberdade.
A partir dos seis ou sete anos de idade,
meus amigos e eu podíamos
passar o dia inteiro
vagando pelo bairro
longe dos olhos dos pais.
Tínhamos que voltar para casa ao anoitecer
e para as refeições de vez em quando,
mas passávamos muitas horas por semana
perambulando livremente.
Nada disso era incomum na época.
Mas minha mãe, que era obviamente
a principal pessoa disponível em casa,
fez ainda melhor.
Não muito longe de casa
havia um terreno baldio.
Ele ainda existe!
Como podem ver nesta foto do Google Earth.
Parece que está sendo cultivado,
mas naquela época o terreno
era forrado com grama alta,
que era repleta de cobras não venenosas.
Meus amigos e eu passávamos o verão
caçando cobras pela grama
e nós pegávamos várias delas.
Minha mãe teve uma atitude
estranhamente despreocupada.
Longe de um sentimento de repulsa,
ela muitas vezes me deixava
trazer as cobras para casa.
Quando elas acabavam escapando pela casa
ela nem ligava.
Diz a lenda familiar que uma vez
minha mãe pediu para um convidado
ajudá-la a empurrar
a geladeira para o lado
para resgatar um dos répteis
desobedientes.
(Risos)
Mais tarde, quando eu tinha dez anos
um amigo meu descobriu
uma cerca velha de madeira
que tinha sido demolida no bairro.
Nós dois então carregamos a madeira
para construir uma montanha-russa rústica.
Acho que esta é a única foto
daquela estrutura.
Como vocês podem ver,
ela chamou a atenção
das crianças vizinhas.
Vejam só.
Isto aqui é o carrinho de madeira
que descia a rampa
e ele tinha rodinhas de skate.
Esta é a rampa,
e este é um pequeno túnel
que construímos para o carrinho passar.
Essa estrutura é provavelmente
a maior realização da minha infância.
(Risos)
Mas existem algumas coisas
que deveria destacar sobre a estrutura.
Primeiro: era perigosa.
Não tínhamos a menor ideia
do que estávamos fazendo
quando a montamos.
(Risos)
Não tínhamos uma licença para construí-la.
Ninguém apareceu para fazer
inspeções de segurança.
Em segundo lugar, esse é o nosso quintal.
Além da minha mãe me deixar
construir essa maluquice
que, como podem ver é uma geringonça,
ela ainda me deixou construí-la
no quintal de casa.
Foi uma infância incrivelmente valiosa
que, acredito eu, teve muita influência
na minha formação.
Se queremos dar às crianças
o senso de autonomia e competência
temos que encarar
nossos medos da vida adulta
e deixar as crianças irem para o mundo
e encarar seus próprios medos.
É importante citar que eu tinha
bastante medo de montanhas-russas
e ainda tenho.
Mas por algum motivo,
eu escolhi e tive permissão
para lidar com esse medo no meu quintal.
Minha vida como cientista
começou no bairro de subúrbio
onde minha casa ficava.
Tive sorte de crescer em uma família de
classe média com estabilidade financeira
com pais amorosos, comida, proteção
e pude estudar em boas escolas públicas.
Mas é interessante citar
que quase não tenho lembranças da escola.
Minhas lembranças
mais importantes daquela época
são a montanha-russa e as cobras.
Coisas que aconteceram
quando estava sozinho e fora de casa.
Muito do que sou hoje é em função
da permissividade de meus pais,
em especial de minha mãe.
Claro que tinha que fazer
a lição de casa e tarefas domésticas
e obedecer às regras estabelecidas
para mim e meu irmão.
Mas sempre que queria tentar algo novo
ou desenvolver um projeto
minha mãe sempre dizia sim.
Quando era jovem,
minha mãe me deu liberdade
para explorar o mundo físico;
e quando fiquei mais velho
ela me deu liberdade para explorar
o mundo intelectual também.
Meus pais não eram muito religiosos
e nunca tentaram nos impor suas crenças.
Eles eram ávidos leitores, tínhamos várias
conversas sobre os assuntos do dia a dia,
mas nunca nos deram respostas prontas
e nunca tentaram nos convencer
de um determinado ponto de vista.
Foi uma infância extraordinária
uma que poucas crianças têm hoje em dia,
e minha mãe foi
muito responsável por isso.
Devo dizer que minha mãe
está na plateia hoje,
e ela não tinha a menor ideia
que eu ia contar tudo isso.
Acho que este é o momento
de dizer em público:
"Obrigado, mãe, por ser
tão maravilhosamente permissiva".
(Aplausos)
Tive sorte de ter os pais que tive,
mas também de crescer
naquela época específica da história.
Quando tiraram a foto da montanha-russa,
o presidente John F. Kennedy
estava há sete meses no poder.
Os Estados Unidos estavam
em uma corrida espacial
que estávamos claramente perdendo.
Quatro meses antes
de essa foto ser tirada,
o cosmonauta soviético Yuri Gagarin
se tornava o primeiro ser humano
no espaço e a orbitar a Terra.
Um ano depois daquela foto ser tirada,
Kennedy proferiu seu famoso discurso
"Nós decidimos ir à Lua",
desafiando a nação a enviar um astronauta
à Lua até o fim dos anos 1960.
Em seu discurso, o presidente Kennedy
chamou a nação a uma ação coletiva
com um objetivo moral maior.
Ele chamou a viagem à Lua
de "a maior de todas as aventuras
na história da humanidade",
e que iríamos à Lua
pelo progresso de todos os povos.
Na verdade, a corrida espacial era
parte de um dos capítulos da Guerra Fria
e de uma corrida armamentista
que preocupava a todos.
Havia motivos militares e políticos
por trás da corrida espacial,
e Kennedy também mencionou
benefícios tecnológicos e industriais.
Mas como criança,
eu pouco sabia sobre isso.
Para mim,
o espaço era a grande aventura
de que Kennedy falava
e, como outras crianças da época, eu era
fascinado por satélites e astronautas.
Eu tive sorte de ter pais
que alimentavam meu interesse em ciência,
às vezes com resultados preocupantes.
Um dia, quando o gato da família
trouxe um pássaro morto para casa,
comecei a dissecar o corpo ainda quente
em cima da minha escrivaninha.
(Risos)
Era um momento inspirador da história
e eu fui tomado pela fascinação da ciência
pelo entusiasmo de aprender e explorar.
Aquele momento da história criou uma
ênfase renovada na ciência e na matemática
e eu fui beneficiado por aquela atmosfera.
Hoje vemos uma nova ênfase
em ciência e educação,
mas existe algo muito diferente
no atual apelo à descoberta.
Comparem o discurso de Kennedy
com a atual ênfase na educação STEM:
educação em ciências, tecnologia,
engenharia e matemática.
Se vocês visitarem o site
do Departamento de Educação dos EUA
vocês verão esta imagem:
o número projetado de empregos
em áreas STEM.
O programa do presidente Obama
"Educar para inovar"
foi explicitamente criado
para promover a ciência como o motor
da inovação empresarial
e crescimento econômico.
Este é um apelo à ciência bem diferente.
É o governo promovendo a ciência
a serviço das empresas e da economia.
Claro que ter um emprego é importante.
Ter uma economia forte é importante.
Minha infância só foi possível porque
meus pais sempre tiveram um emprego.
Mas a ênfase nas áreas STEM
não é uma abordagem
que faz com que a mente se exercite.
Não é a inspiração
do desafio da descoberta
nem de realização coletiva
por um objetivo moral maior.
É muito mais um chamado
ao sucesso tecnológico e industrial
e o que acredito ser
uma triste transformação.
A visão contemporânea da ciência
mudou a própria ciência
de uma iniciativa intelectual
para uma iniciativa econômica,
do exercício para o trabalho.
Se ter uma mente inquisitiva que valoriza
evidências e argumentos científicos
vem de ambientes protetores e permissivos,
então, o que deveríamos fazer a respeito?
Em primeiro lugar
temos que dar liberdade às crianças.
Precisamos encontrar formas
de deixá-las sair pelo mundo
e brincar com outras crianças,
inventar suas próprias sociedades,
construir suas próprias cidades
e descobrir como as coisas funcionam.
Esse tipo de exercício é muito raro hoje
e sempre que possível devemos resgatá-lo.
Nem todos têm a sorte de crescer
em um bairro seguro,
e esse é um problema
que também precisa ser resolvido.
Mas, como pais, precisamos
reconhecer que muitas vezes
o problema tem mais a ver com nossos medos
do que com a segurança de nossos filhos.
Neste mês, Hanna Rosin publicou
um artigo na revista "The Atlantic"
sugerindo que deveríamos
retomar o tipo de brincadeiras
que as crianças têm brincado por séculos
antes da era da modernidade.
Mas também é importante dar a elas
uma liberdade intelectual.
Temos que resistir à tentação
de transformar nossos filhos
em mini versões de nós mesmos.
Mesmo assim, é provável que fracassemos.
Temos sim que dar às crianças
um senso de autonomia,
criar um lar no qual se valoriza
o debate fundamentado.
É importante oferecer uma base segura,
na qual elas poderão explorar o mundo.
Por fim, temos que contagiar nossos filhos
com a alegria da descoberta
e uma fascinação pela ciência.
Ir à Lua foi meio que uma ideia maluca.
Foi muito caro e não teve
muito impacto econômico.
Mas capturou a imaginação do país,
e inspirou uma geração inteira de jovens.
Não há ninguém que represente
essa liderança política hoje em dia.
Mas há pessoas como
Neil deGrasse Tyson e Bob Ballard
que podem nos inspirar.
Precisamos garantir que todas as crianças
tenham contato com professores de ciências
que possam transmitir
a verdadeira alegria da descoberta
e do entendimento.
Tudo isso é importante,
pois quando a próxima
grande descoberta surgir
pode ser que ela não tenha
um bom resultado.
Pode ser que não se encaixe
em nenhum plano de negócios.
Mas talvez mude as coisas para todos nós
e torne a vida de todos melhor
e mais significativa.
E quando essa descoberta surgir,
é possível que ela venha de alguém
cujos pais disseram sim
e deu a ele liberdade para correr
pelo gramado do campo das ideias.
Obrigado.
(Aplausos)