Acho que todos aqui na plateia já se perguntaram sobre o futuro, pelo menos na palestra da Saskia, apertando o botão Avançar. Sou apaixonado por essas perguntas que cercam o futuro, e quero saber como o futuro nos verá. Nunca antes a informação foi divulgada em tal densidade e velocidade, e por todo o planeta, compartilhamos pensamentos e emoções em tempo real, e o que sobrará de todos esses compartilhamentos, posts, likes e tweets? Como a imagem de nosso mundo se parecerá daqui a 100 anos? Ou mil anos? Vamos tentar responder isso com o que conhecemos sobre o passado. Bem menos de 1% dos textos antigos ainda são conhecidos. E desde que a publicação e reprodução demandava algum esforço, nós ainda. após 2 mil anos, nós ainda podemos reconstruir o mundo antigo e sua forma de pensamento. Em contraste, publicar hoje é tão simples quanto um post ou tweet ou upload de vídeo, e não apenas cientistas ou jornais estão publicando, todos podem fazer isso hoje. E desde que a pseudociência tem tanto apelo das massas, essas histórias sobre círculos nas plantações e aliens encontram muita audiência, e são divulgadas bem mais do que artigos científicos. Esse é o motivo de uma pesquisa no Google por "círculo nas plantações" resultar em 20 milhões de entradas, enquanto, por exemplo, "pouso lunar" traz apenas 6 milhões. Um fato assustador é que 5 desses 6 milhões são resultados da "farsa do pouso lunar". Você sabia que tem a sonda espacial Gaia produzindo o mapeamento mais detalhado de nossa galáxia, produzindo muitos dados? E ainda, em sua missão de cinco anos, todos os dados resultantes estão ficando microscopicamente menores comparados com o tráfego diário de dados da Internet. As coisas em que realmente investimos, colocamos muito esforço, vão todas se afogar em oceanos de conteúdos irrelevantes, triviais, e, eu diria, besteira redundante. Entende? Uma imagem de nosso tempo daqui a 2 mil anos vai resultar numa imagem bem distorcida. Sabe todos esses vídeos de "acidentes", não é? Onde pessoas se machucam enquanto fazem coisas estúpidas, como tentar de verdade ficar em cima de uma bola inflável de exercício? Sabe o que as pessoas vão pensar no futuro? '‘Bem, esses caras do século 21 nunca realizaram um voo espacial. Muitos documentos provam que eles obviamente não entenderam ou interpretaram errado a lei da gravidade". Então, essa imagem no futuro será bem distorcida, e provavelmente nossa era será definida por vídeos do Minecraft, pornográficos, selfies, imagens de gatinhos... Mas, em alguns aspectos, ter lembranças de "acidentes" é ainda melhor do que não ter nenhuma. Por quê? Isso diz que a Internet não esquece, certo? Mas, quero que considere isso: atualmente nossa World Wide Web tornou-se no que é por definição: global. São 3,4 bilhões de pessoas online, isso são 3,4 bilhões de usuários de Internet criando dados e tráfego de dados. A cada minuto, 600 horas de vídeo são enviadas ao YouTube. Isso apenas nesse ano, 2016. Numa duração total de 35 mil anos, sendo que 30 mil anos atrás, começamos a pintar nas cavernas, e apenas 4,5 mil anos atrás construímos as pirâmides. Então, fazemos o envio de algo bem longo. Mais e mais vídeos em alta definição de aparelhos móveis o que leva à que nosso volume do tráfego de dados nos últimos dez anos, tenha dobrado, dobrado, dobrado, a cada 18 meses. E agora quero que dê um passo para uma perspectiva diferente: tráfego de dados necessita de energia, e energia causa emissão de carbono. Na verdade, a Internet já é responsável por 3% da emissão global de carbono. E se o tráfego de dados aumentar nos próximos dez anos como fez nos últimos dez, vai ficar mais de 50 vezes maior que hoje. Teoricamente, logo vamos ficar sem ar. Esse ponto crítico está próximo demais para depender de novas tecnologias como fontes de energia ilimitada ou transferência de dados sem energia; ambos vão demorar muito para acontecer. Isso significa que num futuro bem próximo, razões econômicas e ecológicas vão nos forçar a apagar dados massivamente. Um apagamento profundo executado por algoritmos. Em outras palavras, a imagem que nossos netos terão de nossa época será criada por máquinas. E o que o Snapchat começou pode se tornar uma característica comum no futuro: uma eliminação após um período predeterminado, resultando numa sociedade que flutua num presente permanente, não tendo mais passado. Isso é o porque devemos selecionar hoje o que queremos guardar para o amanhã. O projeto Memory of Mankind guarda nossas histórias, para nossos netos e para um futuro remoto. Isso é realizado de forma bem durável, guardado e protegido nas profundezas de uma mina de sal em Hallstatt, uma região Patrimônio Mundial da UNESCO nos Alpes Austríacos. E os tabletes de cerâmica carregam informação analógica, o que significa que textos são letras e imagens são fotos. Esses tabletes de cerâmica são os portadores de dados mais duráveis que já usamos: são resistentes ao alto calor e pressão, e água e químicos, e radiação e magnetismo. E a fim de ser recuperado alguma hora no futuro, todos que participarem desse projeto recebem uma senha, um pequeno disco de cerâmica mostrando a localização do arquivo e ao mesmo tempo servindo como barreira contra acesso não autorizado. Só pode ser compreendido por uma sociedade que tenha pelo menos um entendimento técnico similar ao nosso. Linguagens estão mudando, então tem uma ferramenta de decifração: você pode imaginar um Imagicionário de fotos, milhares de fotos de coisas e situações diretamente rotuladas com as palavras respectivas, combinados com os volumes teóricos de nossos idiomas principais, como enciclopédias, gramática, frases e ortografia. Os conteúdos desse projeto Memory of Mankind são divididos em três seções: conteúdo comum, específico e individual. A fim de transmitir uma imagem mais objetiva, global, completa, nós criamos alguns mecanismos para encher esse arquivo com conteúdo. Por exemplo, grandes jornais de cada país enviam seus editoriais diários. Editoriais são mais que apenas noticias, eles já são algum tipo de interpretação, podem ser contraditórios. Também convidamos revistas relevantes para armazenar suas edições mensais. E conteúdo comum também são perfis do Facebook selecionados aleatoriamente. E, é claro, também as coisas estranhas, como as teorias da conspiração ou os círculos alienígenas nas plantações, mas, é claro, declarados como tais. Provavelmente para dar-lhes algo para rir no futuro. Conteúdos específicos são contribuições de instituições como museus, universidades ou prêmios de literatura ou ciência. E uma parte importante do Memory of Mankind é a documentação sobre repositórios de lixo nuclear da indústria atômica. Conteúdos individuais são criados por você e eu: histórias da vida, fotos de casamento, receitas de cozinha, o que você achar digno de ser preservado para a eternidade. Todos podem participar do Memory of Mankind. Envie sua mensagem pessoal numa garrafa para o futuro. O projeto Memory of Mankind certamente levanta algumas questões. Uma é: quem, no futuro, deverá se interessar por nosso legado? Bem, desde que as sociedades são baseadas no princípio da causa e efeito, e a aplicação acadêmica desse princípio, a pergunta "o que houve antes?" é parte do entendimento comum. Esse é o porquê de estarmos interessados em nossas raízes da mesma forma que os romanos estiveram na deles. A pergunta mais interessante, entretanto, para mim, é: que efeito colateral talvez esse projeto poderá ter em nossa presença? Não tem uma grande discrepância entre os traços físicos que deixamos e nosso legado virtual? Nunca antes os seres humanos exerceram tamanho impacto em nossa biosfera. O lixo químico tóxico vai superar a duração de nossa espécie por muitas vezes. E os efeitos do aquecimento global vão moldar as vidas de incontáveis gerações. E ainda, ao mesmo tempo, não deixamos nenhum registro durável sobre todas as nossas atividades atuais. Na verdade, habitamos esse planeta como se não houvesse amanhã: sujando o lugar e saindo sem pagar a conta. Pense nas câmeras de segurança: aceitamos ser vigiados permanentemente pois entendemos que isso deverá nos prevenir de cometer crimes, e se algo ocorrer, o suspeito rapidamente é detectado. Não há câmeras de segurança vigiando nosso planeta. E, no futuro, será desconhecido, completamente desconhecido, "Quem fez isso? Quem foi responsável por esse desequilíbrio ecológico?" Este provavelmente é o porquê de nos comportarmos como idiotas imprudentes? Pois ninguém jamais vai saber? Do contrário, iria um registro permanente sobre nossas atividades presentes fazer-nos comportar mais responsavelmente? Se for conhecido para sempre, quem lucrou com a exploração de nosso planeta, que famílias, que grupos, que companhias devem ser responsabilizadas, mudaria algo? Acho que sim. Uma grande voz em comum, como sabemos, pode mudar as coisas. Pense na Avaaz, por exemplo. Então, vamos tirar essa grande selfie. Quero dizer, apesar de toda bagunça ao nosso redor, tem muitas coisas fascinantes acontecendo. De tirar o fôlego, descobertas que realmente tiram o fôlego. Você se lembra das fotos de Plutão, e os efeitos da física quântica, ou as últimas tribos indígenas, ou como o smartphone mudou nossa vida? Quero dizer, como qualquer geração, nós também temos algumas boas e belas histórias para contar. Ou as TED Talks, que maravilhoso retrato do que nos move hoje. Então, vamos manter as raízes de nossos netos, os presenteando com um ontem para dar-lhes uma chance de sobreviver ao nosso amanhã. Nós mesmos também precisamos do passado para entender nossa presença. E como um grande humanista, Wilhelm von Humboldt, 200 anos atrás, colocou em palavras: "Apenas quem conhece seu passado, pode ter um futuro". Obrigado. (Aplausos)