A extinção é um tipo diferente de morte. É maior. Nós não nos apercebemos bem disso até 1914, quando o último pombo-passageiro, uma fêmea chamada Martha, morreu no jardim zoológico de Cincinnati. Esta fora a ave mais abundante do mundo tendo estado na América do Norte durante 6 milhões de anos. De repente, já cá não existia. Bandos com 1,5 km de largura e 650 km de comprimento costumavam tapar o sol. Aldo Leopold disse que esta era uma tempestade biológica, uma tempestade com penas. E era, de facto, uma espécie fundamental que enriquecia toda a floresta decídua ocidental, desde o Mississippi até ao Atlântico, desde o Canadá até ao Golfo. Mas, em apenas algumas décadas, passámos de 5 mil milhões de pássaros para zero. O que aconteceu? Bem, aconteceu a caça comercial. Estes pássaros eram caçados pela carne que era vendida às toneladas, e era fácil fazê-lo porque quando estes bandos enormes se aproximavam do solo, eram tão densos que podiam aparecer centenas de caçadores e cercadores e abatê-los às dezenas de milhares. Era a fonte de proteína mais barata da América. No final do século, já nada restava a não ser as belíssimas peles em gavetas de espécies de museu. Há um lado positivo nesta história. Isto fez com que as pessoas percebessem que a mesma coisa estava prestes a acontecer ao bisonte-americano, e, portanto, estes pássaros salvaram os búfalos. Mas muitos outros animais não foram salvos. O periquito-da-Carolina era um psitaciforme que dava vida aos quintais em todo o lado. Foi caçado até à extinção pelas suas penas. Havia uma ave de que toda a gente gostava na Costa Oeste, chamada galinha-das-pradarias. Era adorada. Tentaram protegê-la. Ela morreu na mesma. Um jornal local escreveu: "Não há uma sobrevivente, "não há futuro, não há vida que possa voltar a ser recriada nesta forma." Há um sentimento de profunda tragédia a acompanhar estas coisas, e isso aconteceu a muitas das aves de que as pessoas tanto gostavam. Isso aconteceu a muitos mamíferos. Outra espécie de importância especial é um famoso animal chamado auroque europeu. Houve um filme sobre ele, feito recentemente. O auroque era como o bisonte. Este era um animal que, basicamente, mantinha a floresta misturada com pradarias, em toda a Europa e continente asiático, da Espanha à Coreia. Este animal está documentado nas pinturas [rupestres] das cavernas de Lascaux. As extinções ainda continuam. Há um íbex na Espanha chamado "bucardo". Tornou-se extinto em 2000. Havia um animal maravilhoso, um lobo marsupial chamado tilacino na Tasmânia, ao sul da Austrália, chamado tigre-da-Tasmânia. Foi caçado até restarem apenas alguns que morreram em jardins zoológicos. Houve algumas pequenas filmagens. Desgosto, ira, luto. Não chorem, organizem. E se vocês descobrissem que, usando o ADN de espécimes dos museus, fósseis com até talvez 200 000 anos de idade, podiam ser usados para se trazer as espécies de volta, o que fariam? Por onde começavam? Bem, vocês começariam por saber se temos a biotecnologia para isso. Eu comecei com a minha mulher, Ryan Phelan, que dirigia uma empresa de biotecnologia, chamada DNA Direct, e através dela, um dos seus colegas, George Church, um dos principais engenheiros genéticos que, afinal, também era obcecado por pombos-passageiros e com muita confiança de que as metodologias em que estava a trabalhar iriam realmente resultar. Então ele e a Ryan organizaram um encontro no Wyss Institute, em Harvard, que juntou especialistas em pombos-passageiros, ornitólogos conservacionistas, bioeticistas e, felizmente, o ADN do pombo-passageiro já tinha sido sequenciado por uma bióloga molecular chamada Beth Shapiro. Tudo o que ela precisava daqueles espécimes do Smithsonian era um bocadinho do tecido da almofada do dedo da pata, porque é lá que se encontra o que é chamado de antigo ADN É ADN que se encontra muito fragmentado mas com as boas técnicas de hoje, pode-se reconstituir todo o genoma. Depois, a questão é: Podemos reconstituir com esse genoma a ave inteira? George Church pensa que sim. No seu livro Regenesis, que eu recomendo, ele tem um capítulo sobre a ciência de trazer de volta espécies extintas, e tem uma máquina chamada a máquina Multiplex de Engenharia Automatizada do Genoma. É como uma máquina da evolução. Experimentamos combinações de genes que escrevemos a nível celular e depois em órgãos, num "chip", e os que vencerem, colocamo-los num organismo vivo. Funciona. A exatidão disto, um dos famosos diapositivos ilegíveis do George, salienta, no entanto, que há um nível de exatidão aqui que chega ao par de bases. O pombo-passageiro tem 1,3 mil milhões de pares de bases no seu genoma. Portanto, o que obtemos agora é a capacidade atual de substituirmos um gene pela variação desse gene. É chamado de alelo. Bem, de qualquer forma, isso é o que acontece na hibridização normal. Esta é a forma da hibridização sintética do genoma de uma espécie extinta com o genoma do seu parente vivo mais próximo. Ao longo do livro, George chama a atenção de que a sua tecnologia, a tecnologia da biologia sintética, está atualmente a acelerar a uma taxa 4 vezes superior à Lei de Moore. Está a fazer isso desde 2005 e é provável que continue. Ok, o parente vivo mais próximo do pombo-passageiro é a pomba-de-coleira-branca. Elas são abundantes. Há algumas por aqui. Geneticamente, a pomba-de-coleira-branca já é na sua maior parte, um pombo-passageiro vivo. Só há alguns pedaços que são de pomba-de-coleira-branca. Se substituirmos esses pedaços por pedaços de pombo-passageiro, temos de volta o pássaro extinto, a arrulhar para nós. Agora, há trabalho a fazer. Temos de calcular exatamente que genes interessam. Há genes para a cauda curta na pomba-de-coleira-branca, genes para a cauda longa no pombo-passageiro, e assim por diante, para os olhos vermelhos, peito cor de pêssego, voar em bando, etc. Somem-nos todos e o resultado não sairá perfeito. Mas será perfeito quanto baste, porque a Natureza também não é perfeita. Então, este encontro em Boston conduziu a três coisas. Primeiro, Ryan e eu decidimos criar uma organização sem fins lucrativos, chamada Revive and Restore para promover a desextinção em geral, e tentar que isso decorra de forma responsável, começando pelo pombo-passageiro. Outro resultado direto foi um jovem estudante universitário, chamado Ben Novak, — que tem andado obcecado por os pombos-passageiros, desde os 14 anos, e que também tinha aprendido a trabalhar com ADN antigo — ter ele próprio sequenciado o pombo-passageiro, usando dinheiro da família e dos amigos. Nós empregámo-lo a tempo inteiro. Nesta fotografia que lhe tirei no ano passado no Smithsonian, ele está a olhar para a Martha, o último pombo-passageiro vivo. Portanto, se ele for bem sucedido, ela não será o último. O terceiro resultado do encontro de Boston foi a compreensão de que há cientistas em todo o mundo a trabalhar em várias formas de desextinção, mas que nunca se encontraram pessoalmente. E a National Geographic ficou interessada porque a National Geographic tem a teoria de que, no século passado, a descoberta era encontrar coisas e neste século, a descoberta é fazer coisas. A desextinção encaixa nesta categoria. Por isso, eles foram os anfitriões e patrocinadores deste encontro. E 35 cientistas, biólogos conservacionistas e biólogos moleculares, vieram ao encontro para ver se tinham trabalho para fazer em conjunto. Alguns destes biólogos conservacionistas são muito radicais. Há três deles que não estão apenas a recriar espécies antigas, estão a recriar ecossistemas extintos, no Norte da Sibéria, na Holanda e no Havaí. Henri, da Holanda, com um apelido holandês que não vou tentar pronunciar, está a trabalhar no auroque. O auroque é o antepassado de todo o gado doméstico, por isso, o seu genoma está vivo, mas está distribuído de forma desigual. Portanto, o que eles estão a fazer é trabalhar com sete raças de gado de aparência primitiva e robusta, como o "Maremmana primitivo", ali em cima, para reproduzirem, com o tempo, pela seleção genética inversa, o auroque. Agora, a reprimitivização está a avançar mais depressa na Coreia do que nos E.U.A., por isso, o plano é, com estas áreas reprimitivizadas por toda a Europa, reintroduzir o auroque para cumprir o seu antigo papel, a sua antiga função ecológica, de limpar a quase estéril floresta cerrada, para que haja ali prados com biodiversidade. Outra espantosa história veio de Alberto Fernández-Arias. Alberto trabalhou com o bucardo na Espanha. O último bucardo foi uma fémea chamada Célia, que ainda estava viva quando a capturaram, e eles retiraram-lhe um pouco de tecido de uma orelha, criopreservaram-no em nitrogénio líquido, soltaram-na de novo na Natureza, mas, alguns meses mais tarde, foi encontrada morta debaixo de uma árvore. Eles extraíram ADN daquela orelha, inseriram-no num óvulo e colocaram-no numa cabra, a gravidez chegou ao seu termo e um bebé bucardo vivo nasceu. Foi a primeira desextinção da História. (Aplausos) Viveu pouco tempo. Por vezes, os clones interespécies têm problemas respiratórios. Este tinha um pulmão malformado e morreu dez minutos depois, mas o Alberto estava confiante de que a clonagem já tem avançado bastante desde então, e isto vai avançar e, eventualmente, vai haver uma população de bucardos de volta às montanhas do Norte da Espanha. O pioneiro da criopreservação a altas temperaturas negativas é Oliver Ryder. No Zoológico de San Diego, o seu zoológico congelado recolheu tecidos de mais de 1000 espécies nos últimos 35 anos. Quando se congela a temperaturas negativas tão altas, a - 196º Celsius, as células estão intactas e o ADN está intacto. Elas são, basicamente, células viáveis, portanto, alguém como Bob Lanza, em Tecnologia Celular Avançada, retirou um pouco do tecido de um animal em perigo de extinção, chamado "Javan banteng", inseriu-o numa vaca, a gravidez chegou ao seu termo, e o que nasceu, foi um "Javan banteng" bebé, vivo e saudável, que prosperou e ainda está vivo. O mais excitante para Bob Lanza, é a capacidade atual de se pegar em qualquer tipo de célula com células estaminais pluripotentes induzidas e torná-la uma célula germinativa, como o esperma e os óvulos. Agora vamos ao Mike McGrew, que é cientista no Rosling Institute na Escócia, e o Mike está a fazer milagres com pássaros. Ele pega, digamos, em células de pele de falcão, fibroblastos, torna-as em células estaminais pluripotentes induzidas. Como são tão pluripotentes, podem tornar-se plasma germinativo. Depois, ele tem uma forma de introduzir o plasma germinativo no embrião de um ovo de galinha, de forma que aquele frango vai ter, basicamente, as gónadas de um falcão. Obtemos um macho e uma fêmea de cada uma delas, e deles saem falcões. (Risos) Falcões verdadeiros a partir de galinhas ligeiramente adulteradas. Ben Novak era o cientista mais jovem no encontro. Ele mostrou como tudo isto pode ser construído. A sequência dos acontecimentos: ele vai juntar os genomas da pomba-de-coleira-branca e do pombo-passageiro, com as técnicas de George Church, e obtém ADN de pombo-passageiro, com as técnicas de Robert Lanza e de Mike McGrew, introduz o ADN nas gónadas de uma galinha, e das gónadas de uma galinha saem ovos de pombo-passageiro, borrachos, e então começamos a obter uma população de pombos-passageiros. Isto suscita o problema de eles não irem ter pais pombos-passageiros para os ensinarem a ser pombos-passageiros. Então, o que fazer quanto a isso? Bem, acontece que as aves são muito bem projetadas, portanto, a maior parte disso já está no seu ADN, mas, para completar isso, parte da ideia do Ben é usar pombos domésticos para ajudarem os jovens pombos-passageiros a saber voar em bando, e como descobrirem o caminho de volta aos seus locais de nidificação, e de alimentação. Houve alguns conservacionistas, conservacionistas mesmo famosos como o Stanley Temple, que é um dos fundadores da biologia conservacionista, e Kate Jones, do IUCN, que elabora a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas Eles estão entusiasmados com tudo isto, mas estão igualmente preocupados por isto poder competir com os esforços extremamente importantes para se proteger espécies ameaçadas que ainda estão vivas, que ainda não se extinguiram. Queremos trabalhar na proteção dos animais na Natureza. Queremos acabar com o mercado asiático de marfim para não se usarem 25 000 elefantes por ano. Mas, ao mesmo tempo, os biólogos conservacionistas estão a aperceber-se de que as más notícias afastam as pessoas. E, portanto, a Lista Vermelha é muito importante para nos manter a par do que está ameaçado e criticamente ameaçado, etc. Mas eles estão prestes a criar o que chamam de Lista Verde, e a Lista Verde vai conter espécies que estão bem, muito obrigado, espécies que estavam ameaçadas, como a águia americana, mas que agora estão muito melhor, graças ao bom trabalho de todos, e áreas protegidas à volta do mundo, que são muito, muito bem geridas. Então, eles estão a aprender a construir sobre boas notícias. E eles veem o reviver de espécies extintas como o tipo de boas notícias sobre as quais se pode construir. Eis alguns exemplos relacionados. A reprodução em cativeiro vai contribuir na maior parte para trazer essas espécies de volta. O condor da Califórnia estava reduzido a 22 aves em 1987. Toda a gente pensava que era o seu fim. Graças à reprodução em cativeiro no Zoológico de San Diego, há hoje 405 condores, dos quais 226 soltos na Natureza. Essa tecnologia vai ser usada em animais desextintos. Outra história de sucesso é o gorila-das-montanhas na África Central. Em 1981, Dian Fossey tinha a certeza de que eles se iriam extinguir. Só restavam 254. Agora são 880. Estão a aumentar em população 3% por ano. O segredo é eles terem um programa de ecoturismo que é absolutamente brilhante. Esta fotografia foi tirada no mês passado pela Ryan com um iPhone. Vejam como estes gorilas selvagens estão à vontade com os visitantes. Outro projeto interessante, embora vá precisar de alguma ajuda, é o rinoceronte branco do Norte. Não restam pares para a reprodução. Mas este é o tipo de coisa que... Uma grande variedade de ADN deste animal encontra-se disponível no Zoológico congelado. Com um pouco de clonagem e temo-los de volta. Para onde vamos a partir daqui? Estes encontros têm sido privados até agora. Acho que está na hora do assunto vir a público. O que é que as pessoas pensam disto? Então, querem ter as espécies extintas de volta? Querem ter as espécies extintas de volta? (Aplausos) A Sininho vai descer a esvoaçar. É o momento da Sininho, porque, o que é que faz com que as pessoas se entusiasmem com isto? Com o que é que elas se preocupam? Vamos também avançar com o pombo-passageiro. Então, Ben Novak está agora mesmo a juntar-se ao grupo que a Beth Shapiro tem, na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. Eles vão trabalhar nos genomas do pombo-passageiro e da pomba-de-coleira-branca. À medida que os dados amadurecerem, vão enviá-los para George Church, que vai fazer a sua magia, extraindo deles o ADN de pombo-passageiro. Vamos ter a ajuda de Bob Lanza e de Mike McGrew, para o introduzir em plasma germinativo e introduzir este em galinhas para que possam produzir borrachos de pombos-passageiros, para que sejam criados por pais pombas-de-coleira-branca, e daí em diante, são pombos-passageiros de cabo a rabo, talvez para os próximos seis milhões de anos. Vocês podem fazer o mesmo, à medida que baixarem os custos, para o periquito-da-Carolina, para o arau-gigante, para a galinha-das-pradarias, para o pica-pau-bico-de-marfim, para o maçarico-esquimó, para a foca-monge-das-Caraíbas, para o mamute-lanoso. Porque, o facto é que os humanos fizeram um buraco enorme na Natureza, nos últimos 10 000 anos. Temos agora a capacidade e, talvez, a obrigação moral de reparar parte dos estragos. A maior parte disso far-se-á através da expansão e proteção de terras selvagens, através da expansão e proteção das populações de espécies ameaçadas. Mas algumas espécies que aniquilámos totalmente, podemos considerar em fazê-las voltar para um mundo que sente a falta delas. Obrigado. (Aplausos) Chris Anderson: Obrigado. Tenho uma pergunta. Este é um tema emotivo. Algumas pessoas estão de pé. Suspeito que há por aí algumas pessoas sentadas a fazer perguntas atormentadas quase, acerca de, "Bem, esperem, esperem, esperem, esperem um instante, "há qualquer coisa de errado com a Humanidade "a interferir com a Natureza desta forma. "Vai haver consequências indesejadas. "O Stewart vai abrir uma espécie de caixa de Pandora "de quem-sabe-o quê." Eles têm razão? Stewart Brand: Bem, a questão anterior é que interferimos massivamente ao levar estes animais à extinção, e muitos deles eram espécies fundamentais e alterámos todo o ecossistema em que eles se encontravam ao deixá-los desaparecer. Há o problema de base da alteração, quando elas voltarem, podem substituir alguns pássaros que existem que as pessoas realmente conhecem e amam. Sabe, penso que isso é parte da forma como vai funcionar. Este é um longo e demorado processo... Uma das coisas de que gosto nisso é a multigeração. Vamos ter os mamutes-lanosos de volta. CA: Bem, parece que tanto a conversa como o potencial aqui são bastante empolgantes. Muito obrigado pela apresentação. SB: Obrigado. CA: Obrigado. (Aplausos)