Vocês estão cheios do seu chefe? (Risos) Cansaram de trabalhar para ganhar dinheiro para os outros? E quem são essas pessoas afinal, essas que ganham dinheiro com o seu trabalho? Bem, elas são os capitalistas. Elas detêm o capital e usam o seu trabalho para ganhar mais capital ainda. Assim, se estiverem cansados de trabalhar e ganhar dinheiro pra outras pessoas, então provavelmente se sentem como eu, simplesmente cansados do capitalismo. O que é irônico, pois sou uma capitalista. (Risos) Sou a dona de um pequeno negócio, a Rco Tires, em Compton, na Califórnia. Há alguns anos, quando li Van Jones, que escreveu: "Vamos criar empregos verdes na vizinhança", levei muito a sério suas palavras. Assim, sou cofundadora, dona e dirigente de uma empresa de reciclagem de pneus, e tenho muito orgulho do que temos feito. Até agora, já reciclamos 45 milhões de quilos de borracha. São 80 milhões de litros de petróleo desviados de aterros sanitários e transformados em novos produtos. (Vivas) Também empregamos 15 caras, a maioria negros, a maioria delinquentes, que recebem acima do salário-mínimo, e agora temos o orgulho de ser membros do sindicato dos trabalhadores do aço. (Aplausos) (Vivas) A Rco não é uma cooperativa. É uma empresa privada com acionistas comunitários, mas eu gostaria que se tornasse uma. Eu gostaria que eles despedissem a chefe, que, no caso, sou eu. (Risos) E vou lhes dizer por que, mas, primeiro, gostaria de contar como começamos. Muita gente me pergunta como a Rco começou. E tenho de ser bem honesta. Usei meu privilégio de branca. Vejam só como o privilégio branco funcionou para mim e a Rco. Minha avó branca nasceu na plantação de sua família, em Arkansas, em 1918. Ela foi com seu pai branco para o Oeste, seguindo a expansão do petróleo. E ele teve muitos empregos sindicalizados na área do petróleo, empregos que nunca teriam sido dados a meu bisavô negro se ele tivesse vivido aqui naquele tempo. Vovó se tornou cabeleireira, e ela e o marido pegaram um empréstimo para construir sua casa em Los Angeles, um empréstimo que nunca teria sido dado a uma família negra naquele tempo. E, depois que meu avô faleceu, minha avó conseguiu quitar a casa porque recebia uma pensão e tinha um plano de saúde de um emprego público que ele teve, o que, novamente, nunca teria sido dado a um homem negro antes da legislação antissegregacionista da década de 1960. Avançando 30 anos, eu me formei e queria abrir meu próprio negócio com uma pilha de cartões de débito e de crédito e nenhuma experiência na indústria de pneus. Mas tive o que a maioria não teve. Eu tinha um lugar limpo, seguro e gratuito para viver. Me mudei para a casa da minha avó e consegui alugar nosso primeiro galpão, comprar nossa primeira caminhonete, pagar os primeiros empregados, pois não tive de me preocupar com meu sustento, nem com minha comida, porque sou uma beneficiária direta de gerações de privilégio branco. Então, contar a história do privilégio branco é importante, porque as pessoas sempre dizem: "Queremos mais empresas como a sua. Queremos mais Rcos, mais empresas de proprietários negros, dirigidas por mulheres, com o tripé da sustentabilidade, sem olhar antecedentes criminais, companhias verdes", certo? Mas a pergunta a ser feita é: onde está a riqueza, onde está o dinheiro, onde está o dinheiro em nossas comunidades para construir o negócio que queremos? E, ao contar a história do lado branco da minha família, mostrei as diversas maneiras como os negros são excluídos da economia, enquanto o lado branco da minha família conseguiu ganhar acesso e terreno, e construir riqueza... Primeiro, porque o racismo e o capitalismo andam de mãos dadas, (Risos) mas isso significa que, quando nos perguntamos: "Por que nossas comunidades estão quebradas?" não estamos quebrados por quebrar; estamos assim por uma razão. O contexto histórico realmente importa. Mas nossa história conta outra coisa também. Há um livro incrível chamado "Collective Courage", que é a história de como milhares de afro-americanos foram capazes de construir negócios, escolas, hospitais, cooperativas agropecuárias, bancos, instituições financeiras, comunidades inteiras e economias soberanas, sem muito capital. E conseguiram isso trabalhando juntos, gerindo os recursos da comunidade, confiando uns nos outros, colocando a solidariedade em primeiro lugar, e não apenas o lucro a qualquer custo. E eles não tiveram que esperar por celebridades e atletas para trazer dinheiro de volta para o bairro. Porém, se você for uma celebridade ou um atleta, e estiver me ouvindo, por favor, sinta-se à vontade para trazer seu dinheiro. (Risos) Mas conseguiram isso com a economia cooperativa, pois sabiam que o capitalismo nunca iria financiar a emancipação dos negros. Esse livro tem tantos exemplos ótimos que sugiro que todos os leiam, pois ele responde à pergunta que fiz mais cedo: "Onde vamos conseguir a riqueza para construir o tipo de negócio que queremos?" E a resposta vai ter de ser economia cooperativa. Há diversas versões de cooperativismo. Hoje estou falando da autogestão. Talvez não tenham ouvido falar da autogestão, mas ela foi uma ferramenta incrível para a emancipação econômica dos negros por um século, e também tem funcionado pelo mundo afora. Devem ter ouvido falar da Black Wall Street ou dos Zapatistas, mas vou dar um exemplo mais próximo. Existe hoje no sul do Bronx a maior empresa de autogestão do país. Chama-se Cooperative Home Care Associates e foi fundada por cuidadoras negras e latinas, que agora conseguem pagar a si mesmas salários dignos, trabalhar em horário integral, e direito a benefícios e aposentadoria através de sua associação ao sindicato da categoria, SEIU. E agora essas mulheres proprietárias recebem dividendos todos anos em que a empresa for lucrativa, o que tem ocorrido na maioria dos anos. Assim, são capazes de aproveitar de fato os frutos de seu trabalho, porque "despediram" o chefe. Elas não têm nenhum grande investidor. Elas não têm CEOs poderosos ou proprietários ausentes sugando o lucro de sua empresa. Todas pagam cerca de US$ 1 mil ao longo do tempo para se tornarem sócias, e agora são donas do próprio emprego. Há centenas de exemplos de empresas assim surgindo nos Estados Unidos. E o que elas fazem é tão inspirador para mim, pois realmente representam uma alternativa para o tipo de economia que temos hoje, que explora todos nós. Ela também representa uma alternativa a essa espera por grandes investidores que tragam grandes cadeias ou grandes varejistas para nossa comunidade, porque, sinceramente, esse tipo de empresa rouba recursos de nossas comunidades. Elas tiram de circulação as lojinhas de esquina, transformam nossos empreendedores em assalariados, e tiram dinheiro do nosso bolso e enviam para seus acionistas. Essas histórias de resistência e resiliência me inspiraram tanto que me juntei a algumas pessoas aqui em Los Angeles para criamos a LUCI. LUCI significa Los Angeles Union Cooperative Initiative, e nosso objetivo é criar mais negócios de autogestão aqui em Los Angeles. Até agora, no ano passado, criamos dois: Pacific Electric, uma companhia elétrica, e Vermont Gage Carwash, que está bem aqui no South-Central, talvez alguns aqui conheçam. Esse antigo lava a jato agora pertence e é operado por 20 trabalhadores, todos eles sindicalizados também. (Aplausos) (Vivas) Vocês devem estar imaginando por que estou focando a autogestão sindicalizada, mas há muitas boas razões para o movimento trabalhador ser um aliado natural do movimento autogestão. Para construir essas empresas em nossa comunidade, precisamos de algumas coisas. Vamos precisar de dinheiro, de pessoas e de treinamento. E os sindicatos têm tudo isso. A classe trabalhadora dos EUA tem pago sindicatos por décadas e, assim, nossos sindicatos têm construído ambientes de trabalho dignos, decentes e democráticos. No entanto, os empregos sindicalizados estão caindo, e já é hora de convocarmos nossos sindicatos a trazerem de fato todo seu capital financeiro e político para fomentar a criação de novos empregos sindicalizados e de salário digno em nossas comunidades. Além disso, os sindicatos estão cheios de membros que entendem a importância da solidariedade e o poder das ações coletivas. E esse tipo de gente quer que mais negócios sindicalizados existam, então, vamos construí-los com eles. Aprender com nossos sindicatos, com nosso passado e com nossos colegas, tudo isso é muito importante para nosso sucesso, razão pela qual gostaria de lhes deixar com um último exemplo e uma visão para o futuro... e essa visão é Mondragon, na Espanha. Mondragon é uma comunidade constituída por cooperativas de trabalhadores. Há mais de 260 negócios lá, manufaturando tudo, de bicicletas e máquinas de lavar a transformadores. E esse grupo de negócios agora emprega 80 mil pessoas e lucra mais de 12 bilhões de euros todo ano. E todas as empresas lá pertencem às pessoas que trabalham nelas. Elas também construíram universidades, hospitais e instituições financeiras. Quer dizer, imaginem se pudéssemos construir algo como isso em South-Central. O falecido prefeito de Jackson tinha uma ideia semelhante. Ele queria transformar a cidade inteira numa economia cooperativa como Mondragon, chamando seu ambicioso projeto de "Jackson Rising". E, na esteira de Mondragon, vejo o que nós, trabalhadores, podemos fazer por nós mesmos quando trabalhamos juntos e tomamos decisões para nós mesmos, os outros e nossas comunidades. E o realmente incrível sobre Mondragon é que, enquanto sonhamos com eles, eles sonham conosco. Essa comunidade espanhola decidiu lançar uma iniciativa internacional para criar mais comunidades como essa pelo mundo, se unindo a sindicatos, apoiando organizações como LUCI e educando as pessoas sobre o modelo de autogestão. E eis como vocês podem participar. Se for membro de um sindicato, participe das reuniões, certifique-se de que seu sindicato tem uma iniciativa de autogestão e faça parte dela. Se for um empreendedor, se tiver um pequeno negócio, ou se estiver interessado em começar um, então se associe à LUCI ou outra organização semelhante que o ajude a começar um modelo cooperativo. Se você for um político, ou trabalha para algum, ou gosta de conversar com eles, por favor aprove a legislação municipal, estadual ou federal de que precisamos para financiar e apoiar negócios de autogestão. Quanto aos demais, conheçam nossa história, nossos modelos e nos procurem para nos apoiar, para comprar da gente, investir em nós, se conectar conosco ou se juntar a nós, porque vamos precisar de todos para construir a economia mais sustentável e resiliente que queremos para nós e nossos filhos. E, com isso, quero lhes deixar com as palavras de Arundhati Roy, que escreveu: "Nossa estratégia deveria ser não apenas confrontar o império, mas sitiá-lo, cortar seu oxigênio, ridicularizá-lo, envergonhá-lo, com nossa arte, nossa literatura, nossa música, nossa inteligência, nossa alegria, nossa incansável teimosia... (Risos) e nossa capacidade de contar nossas próprias histórias. Não a lavagem cerebral que nos foi imposta. A revolução corporativa vai desmoronar se nos recusarmos a comprar seus produtos, suas ideias, sua versão da história, suas guerras, suas armas, sua noção de inevitabilidade. Porque, saibam de uma coisa: eles são poucos, e nós somos muitos. Eles precisam mais de nós do que nós deles. Um outro mundo não só é possível, mas já está a caminho. E, num dia tranquilo, consigo ouvi-lo respirar". Obrigada. (Aplausos) (Vivas)