Eles queriam-na fragmentada,
em papel machê,
praticamente destroçada,
murcha e sem amor,
uma ladaínha do exagero.
Queriam-na em baixo.
E no alto.
Rasa e larga.
Preenchida com todo o vazio deles.
Queriam que ela fosse mais como eles.
Não sabiam que a sua conceção
fora imaculada.
Que ela tinha nascido
na água de um rio com aroma a sândalo,
com uma língua de mel de uva safira doce,
ela era demais para os gananciosos.
Uma pequena porção dela
era mais do que eles conseguiam aguentar.
Oh, eles queriam-na insípida.
E estéril.
Sem alma, sem raízes africanas, inculta,
sob cerco nas ruas.
Queriam-na cabisbaixa, de rabo empinado,
mãos algemadas e tornozelos atados.
Queriam-na, sabendo que ela
não os podia querer de volta.
Oh, queriam-na sagrada,
batizada no seu divino,
queriam os seus segredos,
pérolas a porcos.
Queriam desvendar
o mistério do seu "design".
Fascinados pela sua glória,
hipnotizados pela sua natureza.
Oh, queriam-na completa.
Queriam-na inteira,
embora eles viessem fracionados,
com o coração a metade,
com a alma a metade,
sem consideração e conhecimento
sobre quem ela realmente era.
Oh, mas se eles soubessem...
Se eles a conhecessem,
choveriam cânticos de louvor
das nuvens dos seus olhos,
limpando a visão,
banhando o coração.
Curvar-se-iam de cada vez que a vissem.
Seriam a melhor versão de si mesmos
quando ela estivesse por perto.
Se eles a conhecessem,
saberiam que ela era a cola
da revolução deles,
o fluxo de vida do sangue
nas veias deles.
Se eles a conhecessem,
ela saberia,
ela sentiria
que o seu corpo é mais
do que um campo de batalha.
Mais do que uma fratura óssea
e um sectarismo sangrento.
Mais do que uma ponte
sobre a vossa consciência perturbada.
Mais do que usada, pisada,
trespassada, fuzilada.
Mais do que o vosso "Selma, Lord, Selma"
na ponte Edmund Pettus.
Mais do que os vossos assassinos
na ponte Danzinger, pós-Katrina.
Mais do que a desapropriação de Baltimore
para a "Estrada para lugar nenhum".
Se eles a conhecessem,
ela saberia.
(Canto)
As mulheres selvagens,
as mulheres selvagens
caminham com os búfalos.
Têm relâmpagos nas suas línguas,
enxota-moscas como armas.
As mulheres selvages
caminham com machetes.
Com sabedoria, com graça,
com facilidade.
As mulheres selvagens têm furacões
nos seus ventres,
libertando em dilúvio a sua lição.
Oh, as mulheres selvagens
voam livres.
Vejam só os seus costumes,
como elas rasgam e retalham.
Oh, quem a pode compreender,
o rio sinuoso Níger
que é esta mulher,
que não tem receio de se afastar
para apenas deambular
e, depois, tornar-se vento.
Ela, que só fala em rajadas
e em ciclones,
empurrando-nos para uma elevação,
uma consciência elevada,
ela gira e o mundo gira também.
Sintam-na girar,
tocando em várias vidas.
Ouçam-na falar,
um alarme em faísca.
Vejam-na dançar, convocando os mortos,
ressuscitando uma nova vida.
O paraíso ouve-a a bater à porta,
transportando, em segurança,
aqueles que pedem a sua ajuda.
As mulheres selvagens
abrem portais para novos mundos,
um novo discurso, novos sonhos.
Oh, meus muito amados,
tão afastados
dos caminhos do guardião,
tenham cuidado.
As mulheres selvagens não são
para serem domadas.
Apenas admiradas.
Apenas deixem-na entrar e vejam
como ela incendeia os vossos dias.
(Aplausos)
Obrigada.
(Aplausos)