Pensem na última vez em que olharam para o céu noturno. Digo, olharam mesmo. Foi a noite passada? Talvez no mês passado. O céu noturno é repleto de galáxias brilhantes e estrelas cintilantes. que podem parecer próximas, mas na realidade estão a distâncias insondáveis, e acho isso incrivelmente lindo. Desde quando me lembro, gosto de olhar para as estrelas. Isso me dá uma sensação de pertencer ao eterno universo. E posso estar tendo o pior dia de todos, mas quando observo o universo acima de mim, todos os problemas desaparecem, ao menos por um momento. Mas estamos rapidamente perdendo a oportunidade de observarmos as estrelas. Estamos perdendo a escuridão para as luzes dominantes da cidade. Mas imaginem se, em vez de desligarmos todas as luzes da cidade para que vocês pudessem ver as estrelas, abríssemos os olhos para a sua beleza. Hoje quero encorajá-los a compreenderem o céu noturno, e a longa história da astronomia indígena que o acompanha. Tirar um tempo para olhar o céu. Tenho olhado para as estrelas desde criança. Lembro dos meus professores de ciências levarem minha classe em excursão para assistirmos a um documentário sobre o Hubble em uma gigantesca tela de cinema. E me sentei lá, com aqueles grandes óculos 3D deslizando pelo meu rosto, olhando admirada para aquelas fotos magníficas tiradas por esse telescópio fenomenal. E desde então estou ligada à astronomia e ao espaço. Atualmente estou em meu ano de honras na universidade, estudando grandes aglomerados de galáxias no universo próximo. Passei quase quatro anos trabalhando no Observatório de Sydney. Vocês poderiam dizer que passei boa parte do tempo olhando para cima. Quero levá-los em uma jornada de volta ao passado, para uma época na qual o termo "poluição luminosa" não existia. Quero que se imaginem às margens da Baía de Sydney antes da colonização britânica. Em uma noite sem luar, sentindo o vento invernal batendo na água, enquanto os últimos raios de sol tocam o topo das árvores. Conforme o sol se põe, sua luz fica cada vez mais difusa através das partículas na atmosfera, transformando o azul claro do céu em lindos tons de rosa, alaranjado e vermelho antes do cair de um azul profundo conforme a sombra da terra domina o céu. A cada instante, novas luzes cintilantes aparecem sobre você. Algumas são brilhantes, outras fracas, mas todas são lindas. Depois do sol se pôr completamente, você pode enxergar todas elas. No céu limpo, você nota que algumas dessas luzes cintilantes brilham em tons diferentes. A maioria aparenta ser branca, mas algumas brilham em tons de azul ou vermelho, mostrando um pouco mais sobre os seus núcleos. Uma estrela cadente, também conhecida como meteoro, atravessa o deslumbrante carpete de estrelas que se estende por todo o céu noturno. Ele parece leitoso, como um rio, mas também se assemelha a nuvens, nuvens brilhantes. Esta é a Via Láctea. Em direção ao sul, você pode ver outras duas nuvens aglomeradas, uma maior do que a outra. Estas são a pequena e a grande Nuvem de Magalhães, duas galáxias anãs que orbitam a imensa Via Láctea em uma eterna dança romântica coreografada pela gravidade. Eu me lembro perfeitamente da primeira vez em que vi a Via Láctea em toda a sua grandeza. Meus pais e eu estávamos viajando de carro pelo sul da Austrália, e jogando golfe no maior campo de golfe do mundo, o Nullarbor. Esse campo de golfe começa em Ceduna, na Austrália do Sul, e termina em Kalgoorlie, na Austrália Ocidental. Em quase todas as cidadezinhas ao longo do caminho, existe ao menos um buraco de golfe. O quinto buraco fica localizado no chamado Nullarbor Roadhouse. Esse lugar possui cinco coisas: um posto de gasolina, um pequeno pub, muito importante, um motel, uma área para trailers e um buraco de golfe. A noite em que passamos lá, depois de um longo dia dirigindo sob o intenso sol australiano, nós decidimos ficar, e, por alguma razão desconhecida, o gerador principal desligou, e todas as luzes dessa minúscula cidade se apagaram, exceto por um único poste. A vista do céu noturno era tão primitiva e tão incrível. Senti como se estivesse nadando no espaço, ou apenas nadando em suor. Acreditem, é quente na Austrália Central, mas havia tantas estrelas e tantas cores dançando, era tão lindo, que me emocionei. Sem luzes artificiais, podíamos ver isto: cerca de 2,5 mil estrelas. Porém atualmente em Sydney, vocês podem ver, no máximo, lamentáveis 125 estrelas a olho nu. Meros 5% do que poderiam ver sem o resultado da poluição luminosa. Muitas pessoas ao redor do mundo não sabem da beleza do autêntico céu noturno. As pessoas passam a vida inteira acreditando que o céu noturno é composto por menos de centenas de estrelas. Dados coletados do Centro Helmholtz em Potsdam, na Alemanha, revelam que a Via Láctea fica oculta para um terço da população global. E 80% da população mundial vive sob céus com poluição luminosa. Mas não estamos apenas perdendo a oportunidade de apreciar e explorar esse deslumbrante céu noturno, também estamos perdendo uma rica história cultural oculta em cada estrela. Minha relação com a astronomia aborígene começou no primeiro ano da faculdade. No mesmo período em que comecei a trabalhar no Observatório de Sydney. Aprendi sobre grandiosos corpos celestes da minha herança Wiradjuri, e descobri uma nova perspectiva de universo. Para os desinformados, as terras dos Wiradjuri estão localizadas no que agora é mais conhecido como Nova Gales do Sul. Assim que abri meus olhos para essa nova perspectiva de universo, mergulhei em pesquisas para aprender mais. Existem centenas, se não milhares, de culturas espalhadas pelo mundo e cada uma possui uma história rica e conectada às estrelas. Somente na Austrália, existem mais de 250 grupos indígenas que têm usado as estrelas nos últimos 65 mil anos, e seus conhecimentos continuam sendo usados até hoje. Quando você olha para a Via Láctea mais atentamente e nota todos os pequenos detalhes, você verá que ela não é apenas um carpete uniforme de estrelas. Existe luz e escuridão na Via Láctea, e essa escuridão, esse gás e poeira que naturalmente bloqueiam a luz das estrelas distantes possuem uma das minhas constelações favoritas da minha herança Wiradjuri: Gugurmin, o Emu Celestial. Uma vez observado, jamais esquecido. É incrível! Sua cabeça começa aqui em cima, abaixo do Cruzeiro do Sul. Esta sombra é uma nebulosa escura, conhecida como Saco de Carvão na astronomia ocidental. Ela está conectada ao pescoço, que desce em direção ao leste, e este arco aqui é o corpo do Gugurmin, e o centro da Via Láctea. Na cultura Wiradjuri, assim como em outras nações indígenas, a posição do emu no céu indica qual é a melhor época do ano para se procurar ovos de emu. Quando o Gugurmin está no horizonte oriental, parece que ele está correndo através do horizonte. Isso nos indica que os emus estão correndo por aí procurando por um parceiro. Com o passar do ano, quando a Terra está mais distante do Sol, o corpo do Gugurmin vai subindo cada vez mais, ao ponto de estar completamente sobre você logo após o pôr do sol. Agora, não o vemos mais como um emu, mas como um ovo de emu em um ninho, e isso mostra que é o momento ideal para procurarmos ovos de emu. Sabendo que é o momento certo para procurar os ovos de emu, você e um amigo caminharão até um arbusto com algo deste tipo, um "chamador de emu", e encontrarão um emu sentado em um ninho. Geralmente são os machos que ficam no ninho. Então, para atrair o macho, seu amigo ficará escondido no arbusto, fazendo o som do emu macho. (Som de baixa frequência) Quando o emu ouvir esse som, ele se tornará muito territorial e irá procurar pelo impostor. Enquanto o emu persegue o seu amigo, você poderá retirar, em segurança, um ou dois ovos do ninho. Agora uma pergunta importante. Vocês retiram todos os ovos de emu? Plateia: Não. Kirsten Banks: Claro que não, precisamos deixar alguns ovos para que mais emus se desenvolvam e haja novos ovos na próxima temporada. Essa coisa fantástica é chamada de sustentabilidade. (Risos) Essa técnica de usar as estrelas para encontrar ovos de emu tem funcionado por mais de 65 mil anos. Não apenas como um mapa sazonal, mas também como uma ferramenta para várias lições. Você pode aprender muito sobre o que está acontecendo na terra apenas olhando para as estrelas. Em muitas culturas indígenas, o céu noturno pode ser usado como um mapa ou pode ser usado para prever mudanças no clima. Você também pode aprender sobre a lei aborígene e ela pode te ensinar sobre os funcionamentos fundamentais do universo. Mas estamos perdendo esse conhecimento porque estamos perdendo a escuridão. O currículo australiano já inclui disciplinas como astronomia aborígene e outras ciências indígenas. Esse é um grande avanço de nossa nação para fechar essa lacuna e obter um entendimento mútuo entre indígenas e não indígenas australianos. Mas ainda há um problema: muitos australianos ainda não conseguem ver a Via Láctea ou suas constelações mais escuras. Então, na próxima vez em que você olhar para o céu noturno, pense sobre qual conhecimento grandioso está oculto em cada estrela e ao redor delas, e pense sobre o que você pode fazer para ajudar a preservar e apreciar nosso maravilhoso céu noturno. Faça um tour em um observatório, ou tire um momento do seu dia para explorar o mundo da astronomia indígena em casa. E se você estiver no Outback australiano, tire um tempo para olhar o céu e encontrar o Emu Celestial. (Som de baixa frequência) Obrigada. (Aplausos)