Os Cinco Dedos da Evolução. Uma boa compreensão da biologia exige uma boa compreensão do processo da evolução. Muita gente conhece o processo da seleção natural. Mas esse é apenas um dos cinco processos que podem dar origem à evolução. Antes de analisarmos esses cinco processos, temos que definir evolução. A evolução é apenas uma mudança na bolsa genética, ao longo do tempo. E o que é uma bolsa genética? Já agora, o que é um gene? Antes de perder tempo com a genética, comecemos com uma história. Imaginem que um barco naufraga e 10 sobreviventes nadam até à costa duma ilha deserta. Nunca são salvos e formam uma nova população que existe durante milhares de anos. Curiosamente, cinco dos sobreviventes têm cabelo ruivo. O cabelo ruivo aparece quando há genes ruivos em ambos os pais. Se só houver um gene de cabelo ruivo, o cabelo ruivo desaparece. Para facilitar, partimos do princípio que os cinco que não têm cabelo ruivo, não têm esse gene. A frequência inicial do gene do cabelo ruivo é assim de 50%, ou seja, de 10 num total de 20 genes. Estes genes são a bolsa de genes. Os 20 genes diferentes são como cartas num baralho que vão sendo baralhadas em cada nova geração. O sexo é apenas um embaralhamento do baralho genético. As cartas são baralhadas e passadas para a geração seguinte. O baralho é sempre o mesmo, metade é vermelho. Os genes são baralhados e passados para a geração seguinte. A bolsa genética mantém-se a mesma, 50% vermelha. Mesmo que a população cresça com o tempo, a frequência mantém-se sempre em 50%. Se esta frequência variar, é porque ocorreu uma evolução. A evolução é apenas uma mudança na bolsa genética, ao longo do tempo. Pensem em termos de cartas. Se a frequência das cartas do baralho mudar, ocorreu uma evolução. Há cinco processos que podem provocar a mudança da frequência Para nos lembrarmos destes processos, vamos usar os dedos da mão, começando no dedo mindinho e avançando para o polegar. O mindinho serve para nos lembrar que a população pode diminuir. Se a população diminuir, as probabilidades podem aumentar. Por exemplo, se só quatro indivíduos sobreviverem a uma epidemia, os seus genes vão representar a nova bolsa genética. O dedo a seguir é o anelar e serve para nos lembrar o acasalamento, porque um anel representa um par. Se as pessoas escolherem um par com base na sua aparência ou localização, a frequência pode mudar. Se os ruivos só acasalarem com ruivos, acabam por poder formar uma nova população. Se nunca nenhum acasalar com ruivos, esses genes vão diminuir. O dedo seguinte é o dedo do meio. O M no dedo do meio deve lembrar-nos do M na palavra "mutação". Se for acrescentado um novo gene através duma mutação, pode afetar a frequência. Imaginem que uma mutação de um gene cria uma nova cor de cabelo. Obviamente, isso muda a frequência na bolsa genética. O dedo indicador serve para nos lembrarmos do movimento. Se novos indivíduos afluem a uma área, ou imigram, a frequência muda. Se indivíduos desaparecem duma área, ou emigram, a frequência muda. Na ciência, referimo-nos a este movimento como um fluxo de genes. Todos estes quatro processos representados pelos dedos podem provocar a evolução. A dimensão duma população pequena, um casamento não aleatório, as mutações e o fluxo de genes. Mas nenhum deles leva à adaptação. A seleção natural é o único processo que cria organismos mais bem adaptados ao seu ambiente local. Uso o polegar para me lembrar deste processo. A Natureza vira o polegar para cima, nas adaptações que funcionarão melhor no seu ambiente e vira o polegar para baixo nas adaptações que funcionam mal. Os genes dos indivíduos, que não estão adaptados ao seu ambiente, serão substituídos, pouco a pouco, pelos que estão mais bem adaptados. O cabelo ruivo é um exemplo de uma dessas adaptações. O cabelo ruivo é uma vantagem nos climas nortenhos, porque a pele branca permitia aos nossos antepassados absorver mais luz e sintetizar mais vitamina D. Polegar para cima! Mas era uma desvantagem nos climas mais a sul, onde as radiações mais fortes de UV levam ao cancro e à diminuição da fertilidade. Polegar para baixo! O próprio polegar é uma adaptação que se formou através do processo da seleção natural. A evolução que descrevemos refere-se como "microevolução", porque se refere a uma pequena mudança. Mas esta forma de evolução pode levar à macroevolução, ou especiação. Todos os organismos do planeta partilham a ascendência com um único antepassado comum. Todos os organismos vivos do planeta estão ligados no início dos tempos através do processo da evolução. Olhem para a vossa mão. É uma obra-prima de engenharia que foi criada pelos cinco processos que já descrevi, ao longo de milhões e milhões de anos. Ainda se lembram das principais causas da evolução? Se não se lembram, voltem atrás e vejam essa parte outra vez. Se se lembram, "dá cá mais cinco" ao vosso vizinho.