Sabem o que eu sonhava ser quando era uma garotinha? Eu sonhava em ser policial, e isso se tornou realidade. Passei os primeiros 14 anos da minha carreira profissional como policial. E vocês sabem que os policiais têm as melhores histórias. Mas, antes de contar minhas histórias, quero avisá-los que, em uma delas, há um palavrão. Então, quando eu chegar na parte que tem esse palavrão, vou pausar e fazer isso e vocês vão escolher uma palavra que julguem ser ruim. Mas não falem. Certo? Estamos de acordo? Certo, então... Lá estava eu, realizando o sonho da minha vida, me tornar uma policial. Eu tinha acabado de me graduar na academia de polícia e mal podia esperar para sair e salvar o mundo. Então, claro, minha primeira missão foi me vestir como uma prostituta e esperar que os homens me abordassem. Isso não era exatamente o que eu tinha em mente em termos de salvar o mundo. Lá estava eu, parada na esquina, imaginando que todos viveram a mesma vida que eu vivi, sabe, ter tido um pônei, ter sido membro de uma irmandade, ter se graduado em uma universidade, experiências normais que vivemos, certo? Dizer que eu era ingênua é pouco. Lá estava eu, esperando, quando um cara parou sua caminhonete e acenou para mim. Lá fui eu toda toda, e ele me disse: "Quanto custa pra... você?" E eu disse: "Oh meu Deus!" (Risos) Ele olhou pra mim e disse: "Você é da polícia" e foi embora. Eu disse: "Como ele soube que eu era da polícia?" Meu sargento disse: "Deve ter sido por causa da sua reação". (Risos) Em minha defesa, eu disse: "Você ouviu o que ele me disse? As pessoas falam desse jeito?" Outro dia, estava eu na rua novamente, quando um homem parou o carro, e ele estava completamente nu. Ele não tinha roupa nenhuma, nem mesmo em seu carro. É engraçado quando você está tipo: "Ei, senhor, posso ajudá-lo?" Levamos ele em custódia, e fiquei pensando: "Espero que esse homem tenha uma garagem para guardar esse carro". (Risos) Conforme os anos se passaram no departamento de polícia, percebi que não havia nada de engraçado no que diz respeito à prostituição. Durante minha carreira como policial, vi dez mortos. Quatro eram prostitutas que haviam sido assassinadas, cada uma delas de maneira extremamente violenta: um esfaqueamento muito sangrento, um ferimento de bala, um crânio esmagado. E a mulher que foi estrangulada até a morte não foi encontrada por dias até a vizinhança começar a reclamar do cheiro ruim que vinha de um carro abandonado. Também vi em primeira mão que mulheres envolvidas na prostituição, demograficamente, são as pessoas mais propensas a apanharem, serem esfaqueadas, levarem um tiro, serem estupradas ou assassinadas. E as que sobrevivem a esses ataques dizem que geralmente não chamam a polícia porque têm medo que a polícia não acredite nelas, têm medo de serem presas, mas a maioria diz que não chama a polícia porque acha que ninguém se importa. Existe um grande mito que diz que as mulheres querem ser prostitutas, que gostam disso. Chamo isso de "Síndrome da mulher linda, prostituta e feliz". Ao longo dos últimos 20 anos, conheci centenas de mulheres envolvidas na prostituição, e a história da prostituta feliz não poderia estar mais longe da verdade. Nenhuma garotinha sonha em crescer e se tornar prostituta. A realidade é que mais de 90% das mulheres envolvidas na prostituição foram vítimas de abuso sexual na infância ou foram estupradas por volta dos 18 anos de idade. A idade média em que uma criança se torna prostituta é de 13 anos. E as crianças começam a ser prostituídas, geralmente, por membros da própria família. Elas começam a ser trocadas pelo aluguel, por drogas e até mesmo por dinheiro extra. Conheci uma prostituta que me contou que a mãe dela começou a prostituí-la quando ela tinha apenas seis anos de idade. Por toda a vida essas mulheres escutam que o único valor que elas têm é o valor que o outro vai pagar pelo seu corpo. Outro mito é que as mulheres querem ser prostitutas e o fazem voluntariamente: é consentimento adulto. Não se engane pela mulher sorrindo quando entra com você em um quarto de hotel, em uma casa de massagens ou no seu carro. É uma farsa. Os traficantes e cafetões dessas mulheres sabem como machucá-las e usam o medo para controlá-las. Eles dizem coisas do tipo: "É melhor você sorrir e fazer direito ou eu te arrebento". Outro mito é que todas essas mulheres são estrangeiras ou que isso acontece apenas no exterior. Sabe de onde são todas as mulheres que estou falando? São todas americanas. Tráfico sexual e prostituição acontecem na maioria das cidades dos Estados Unidos. Então, como se parece uma prostituta? Ela pode parecer assim ou assim ou de qualquer maneira entre esses dois exemplos. Eu as conheci pessoalmente como mães, filhas, irmãs, avós. Raça não é um fator. Idade não é um fator. A prostituta mais velha que conheci era uma avó de 64 anos. Algumas são prostitutas porque têm um vício terrível em drogas e se prostituem para sustentar o vício. Outras foram vítimas de abuso sexual na infância e por conta disso pensam que esse é seu único valor. Algumas são fugitivas ou sem teto e têm que se prostituir só para ter o que comer ou algum lugar para ficar. Há também as mães solteiras, que estão apavoradas, se sentem encurraladas e desesperadas. Mas sabem que podem fazer dinheiro suficiente em um fim de semana e então serão capazes de sustentar a família pelo resto do mês. Parece-lhes que essas mulheres querem se prostituir? Quando você conversa com elas, todas dizem a mesma coisa. Como odeiam o que estão fazendo. Como não têm esperança. Como precisam cheirar uma carreira de cocaína para poderem colocar um sorriso no rosto e fazer o que tem que ser feito. Como cada dia na prostituição leva um pouco mais de sua alma. Como não têm esperança. Como se sentem completamente sem valor. Isso soa como se quisessem estar fazendo o que fazem? Ou soa como se elas estivessem sendo forçadas, seja pelo cafetão, pelo traficante, pelos vícios, por seu estado mental ou pelo mero desespero de sobreviver? Há oito anos, deixei o departamento de polícia e me tornei promotora pelo estado do Tennessee. E foi trabalhando no sistema judicial, que vi que muitas mulheres começaram a ser presas por prostituição, foi uma explosão. Foi na mesma época em que sites como "Backpage" começaram a postar anúncios de prostituição. Ali percebi que todas essas mulheres sendo presas por prostituição, muitas delas não faziam ideia da reação social que uma condenação por prostituição traria. Mas o mais importante é que muitas delas não percebiam o perigo que corriam de serem estupradas, cruelmente atacadas ou até mesmo assassinadas. Também comecei a suspeitar fortemente que muitas dessas mulheres sendo presas por prostituição eram, na verdade, vítimas de tráfico sexual. Estas vítimas não gostam de contar à polícia o que está acontecendo, pois colocaram em suas cabeças que a polícia não ajudará, ou que, se contarem e o cafetão ou o traficante as encontrar depois, eles se certificarão de que elas se arrependam. Para sempre. As consequências de uma condenação por prostituição vão afetá-las pelo resto de suas vidas. Nós, como sociedade, achamos que está tudo bem desprezar uma mulher envolvida em tráfico sexual. Nós até fazemos piadas. Ninguém parece realmente se importar. Mas acredito que, na verdade, se cada um de nós olhasse para si mesmo, nós veríamos que julgamos. Podemos até dizer: "Não, eu não julgo". Mas e se descobríssemos que alguém importante para nós, uma pessoa da família, uma colega de trabalho, ou uma amiga foi condenada por prostituição? Creio que você mudaria sua opinião sobre essa pessoa pelo resto de sua vida. Se tiver uma condenação por prostituição, você pode ser inelegível para alugar um apartamento por até cinco anos. Empregadores não querem contratar alguém com histórico de crimes sexuais. Então, o que resta para essas mulheres? Nenhum lugar para viver, nenhum lugar para ganhar a vida, estamos basicamente forçando-as a voltar para a prostituição, apenas para sobreviver. Agora, compare isso com os homens que são presos por usarem prostitutas. É mais aceitável. Nós rapidamente os perdoamos, você sabe, homens têm necessidades. Não usamos isso contra eles eternamente. E por quê? É porque meninos são meninos? Então percebi que precisávamos fazer algo, que a sociedade precisava perceber as ramificações desse processo de pensamento e fazer algo para quebrar o ciclo da prostituição e identificar as vítimas de tráfico sexual. Essas mulheres precisavam de uma segunda chance. Elas precisavam de uma boa experiência com o sistema judicial. Mas, acima de tudo, precisavam saber que têm valor, que são dignas de amor e apoio. Então Deus colocou algo em meu coração e criei o projeto Hannah. Hannah, do antigo testamento, foi julgada mal por seu tipo de vida. Mas, quando disseram a ela que ela tinha valor e que era digna de amor e respeito, isso mudou toda sua vida. O projeto Hannah é único e funciona junto ao sistema judiciário. Quando uma mulher é presa por prostituição, ela tem a oportunidade de participar do projeto Hannah. Quando participam do projeto Hannah, o juiz concorda em retirar a acusação contra elas e expurgá-la. Isso é muito importante, é um recomeço para essas mulheres. E o que acontece no projeto Hannah? Bem, é um programa de um dia organizado pelo tribunal onde essas mulheres recebem teste gratuito de HIV e DST e uma aula sobre DST; também recebem informações sobre como obter aconselhamento por agressão sexual e trauma; elas também escutam de um representante do sistema judicial histórias sobre casos locais de mulheres envolvidas na prostituição que foram assassinadas ou gravemente feridas. Não fazemos isso para assustá-las, fazemos isso para mostrar a realidade que acontece até mesmo aqui, não importando o tamanho da cidade. E, por fim, temos uma palestrante que é ex-vítima de tráfico sexual e prostituição. Ela pode falar com essas mulheres em um nível muito pessoal e dizer a elas que é possível escapar e se recuperar. Temos organizações trabalhando conosco que podem ajudar essas mulheres imediatamente, seja para sair dessa vida, conseguir um emprego, obter moradia, ajudá-las com a dependência de drogas. Mas o que mais me surpreendeu no projeto Hannah foi que o maior efeito veio do tratamento de amor e respeito com essas mulheres. No final do dia, as mulheres preenchem uma pesquisa, e há uma sessão para comentários. E uma mulher escreveu: "Nesta aula, eu era como todos os outros, e fui tratada como tal desde o início. Isso significou mais do que qualquer coisa". Que triste, o simples fato de tratar alguém como uma pessoa fazer tanta diferença. Como mostramos a elas amor e respeito? Por afirmação verbal e atos de serviço. O projeto Hannah tem voluntários que não fazem nada além de amar e servir a todas essas mulheres. Servimos café da manhã, almoço e, no fim do dia, damos a elas uma sacolinha de brindes. É incrível ver um grupo de mulheres que chegam pela manhã muito tristes, quebradas e na defensiva, mas, conforme o dia vai passando, podemos ver que há esperança, que elas começam a perceber que as pessoas se importam com elas, que elas podem ser amadas. No fim do dia, nós nos abraçamos, choramos e amamos juntas. É incrível. E como eu sei que é o amor e respeito que fazem tanta diferença? Porque elas me dizem e escrevem a respeito. Tantas mulheres escreveram a mesma coisa que aquela mulher escreveu: "Obrigada por se importar". O projeto Hannah está funcionando? Sim, está. Mulheres me ligam, mandam e-mails e me visitam para me contar como sua vida mudou desde que participaram do projeto Hannah. Estamos começando novas edições do projeto em outras cidades do estado do Tennesse e do estado da Georgia. Mais de mil pessoas participaram do projeto Hannah desde 2011. Um terço delas foram identificadas como vítimas de tráfico sexual. Se não fosse pelo projeto Hannah, o sistema judicial teria inadvertidamente condenado todas essas vítimas por um crime. Em nossa cultura, por conta da nossa atitude cultural, impedimos essas mulheres de procurarem ajuda, marcando-as para sempre com uma marca de vergonha e julgamento. Nós, como sociedade, precisamos mudar nosso ponto de vista sobre a prostituição e ensinar aqueles à nossa volta que prostituição não é um crime sem vítimas. Então, qual é a verdade por trás do sorriso de uma profissional do sexo? O sorriso é uma máscara escondendo o medo, a força, as ameaças, o abuso sexual na infância, o estupro, o vício e a vergonha. Isso me faz pensar o que essas garotas sonhavam em ser quando crescessem. Obrigada. (Aplausos)