Front Mission: Gun Hazard é um jogo da Square
lançado em 1996 para o Super Nintendo, apenas no Japão.
O segundo título da série,
Gun Hazard é bastante diferente do seu antecessor,
sendo mais um jogo de tiro ao estilo de Contra e Cybernator,
mas com elementos de RPG, como todo bom jogo da Square.
Apesar de ser um bom título,
algo muito estranho está presente no cartucho:
ao vasculhar os arquivos de áudio da ROM com uma ferramenta específica,
é possível encontrar o seguinte som:
Vamos tacar fogo no seu prédio, seus imbecis.
O C18 está de olho em vocês, seus comunistas que adoram negros, paquistaneses…
Mais uma vez e traduzido.
Esse clipe de áudio pode ser ouvido dentro do jogo,
nesta tela aí que aparece depois dos créditos finais.
Bem abaixo do som do helicóptero,
é possível perceber a voz.
Confere só.
Esse som presente no jogo, na verdade,
é um trecho de uma suposta gravação telefônica de um membro do Combat 18,
uma organização política neo-nazista suspeita de inúmeros assassinatos a imigrantes
e pessoas que eles consideram de outras raças.
O problema é que essa gravação
é a introdução de uma música do grupo britânico de hip hop Fun-Da-Mental.
A banda tinha canções com letras cheias de engajamento político,
e essa faixa em especial, chamada Dog Tribe,
critica as diversas formas de racismo e segregação étnica.
Por isso ela abre com essa mensagem controversa,
com o objetivo de criticar o ódio que os setores mais conservadores e de extrema direita
da nossa sociedade têm sobre as diferentes etnias e culturas.
Em outras versões da música,
essa introdução acabou sendo cortada.
Então porque diabos ela foi parar em Front Mission: Gun Hazard?
Ao que parece, foi simplesmente um acidente:
os músicos responsáveis pelo som do jogo,
incluindo aí Nobuo Uematsu e Yasunori Mitsuda,
ouviram a música do Fun-Da-Mental,
acharam que essa mensagem seria um bom efeito sonoro,
já que eles não entendem bem o inglês,
e colocaram no jogo como se fosse uma voz falando no rádio do helicóptero,
sem ninguém perceber que era uma mensagem de ódio e racismo.
Essa técnica chamada sampling, ou seja,
de retirar sons de músicas e outros trabalhos,
era bem comum antigamente nos games,
mas hoje em dia isso parou um pouco principalmente por causa da Internet,
já que as pessoas descobrem facilmente as semelhanças sonoras
e abre uma brecha para um belo de um processo.
Dois casos desse tipo a gente conhece bem por aqui:
a propaganda gratuita da Kaiser na tela de menu de Capcom vs. SNK…
…e um comercial de TV em Parasite Eve II.
Eu suspeito que seja da C&A.
Essa voz logo depois foi cortada nas versões americana e europeia do jogo.
Então não se preocupe, Front Mission: Gun Hazard não é
um jogo racista com mensagens subliminares.
Ele é sim um ótimo título da Square que infelizmente ficou restrito ao Japão,
mas graças à Internet, um grupo de fãs produziu uma versão traduzida.
Por isso, fica a dica, porque vale a pena conferir.