As pessoas usam a internet por várias razões. Uma das categorias mais populares de sites é aquela em que as pessoas acessam reservadamente. Ela envolve curiosidade, níveis significativos de autoindulgência e registra atividades reprodutivas de outras pessoas. (Risos) Claro que estou falando sobre genealogia, (Risos) o estudo da história das famílias. Quando se trata de história familiar, sempre temos, em todas as famílias, uma pessoa obcecada por genealogia. Vamos chamá-la de tio Bernie. Tio Bernie é aquela pessoa que ninguém quer se sentar ao lado, no jantar de Ação de Graças, porque ele vai atormentar com detalhes específicos de alguns parentes mais velhos. Como se sabe, existe um lado científico para tudo, e descobrimos que as histórias do tio Bernie têm um imenso potencial para a pesquisa biomédica. Deixamos o tio Bernie e os genealogistas documentarem suas árvores genealógicas usando um site chamado geni.com. Quando se enviam as árvores para o site, ele verifica os parentes, e, se encontrar correspondências, mescla a árvore já existente com a nova. Com isso, são criadas grandes árvores genealógicas, muito além do nível individual de cada genealogista. Repetindo esse processo com milhões de pessoas, no mundo todo, podemos contribuir para a construção de uma árvore de toda a humanidade. Usando este site, conseguimos conectar 125 milhões de pessoas em uma única árvore genealógica. Não é possível desenhar a árvore nessas telas, porque elas têm menos pixels do que o número de pessoas na árvore. Vejam um exemplo de 6 mil indivíduos, que é apenas uma parte da árvore. Cada nó verde representa uma pessoa. Os nós vermelhos representam casamentos e as conexões representam a paternidade. No meio da árvore, veem-se os ancestrais. A parte externa mostra os descendentes. Esta árvore mostra sete gerações, aproximadamente. Vejam o que acontece quando aumentamos o número de indivíduos para 70 mil pessoas, que ainda é uma pequena parte do total de dados. Apesar disso, pode-se ver a formação de árvores genealógicas gigantescas com vários parentes muito distantes. Graças ao trabalho árduo dos genealogistas, podemos voltar centenas de anos. Por exemplo, vejam aqui Alexander Hamilton, que nasceu em 1755. Ele foi o primeiro secretário do Tesouro dos EUA, mas hoje é conhecido, principalmente, devido a um musical da Broadway. Descobrimos que Alexander tem conexões profundas na indústria do showbiz. Ele é um parente de sangue de ... Kevin Bacon! (Risos) Ambos são descendentes de uma escocesa que viveu no século 13. Pode-se dizer, então, que Alexander Hamilton tem um parentesco de 35 graus com Kevin Bacon. (Risos) Essa árvore tem milhões de histórias assim. Investimos muito empenho para validar a qualidade dos nossos dados. Usando o DNA, descobrimos que 0,3% dos dados das conexões mãe-filho estão errados, o que coincidiria com as adoções nos EUA antes da Segunda Guerra Mundial. Do lado dos pais, a notícia não é tão boa: 1,9% das conexões pai-filho nos dados estão erradas. Vejo algumas pessoas sorrindo. Estão pensando: existem muitos leiteiros por aí. (Risos) No entanto, essa taxa de erro de 1,9% nas conexões patriarcais não é exclusiva dos nossos dados. Estudos anteriores encontraram uma taxa de erro similar usando classificação genealógica clínica. Portanto, a qualidade dos nossos dados é boa e não deveria ser uma surpresa. Nossos genealogistas têm um profundo interesse em documentar corretamente a história familiar. Podemos usar esses dados para aprender quantitativamente sobre a humanidade, por exemplo, sobre demografia. Vejam todos os nossos perfis no mapa-múndi. Cada pixel é uma pessoa que viveu em algum momento. Como temos muitos dados, pode-se ver os contornos de muitos países, especialmente no mundo Ocidental. Neste videoclipe, estratificamos o mapa que acabei de mostrar, baseado nas datas de nascimentos das pessoas entre os anos de 1400 a 1900, e as comparamos com eventos de migração conhecidos. O videoclipe mostra que as linhagens mais profundas dos dados apontam para o Reino Unido, onde tinham um registro melhor e eles se expandiram pelas rotas do colonialismo ocidental. Vamos assistir. (Vídeo) (Música) [Ano de nascimento:] [1492 - Colombo navega pelo oceano] [1620 - Mayflower chega a Massachusetts] [1652 - Colonização holandesa na África do Sul] [1788 - Transferência de presos da Grã-Bretanha para a Austrália] [1836 - Primeiros migrantes usam a trilha do Oregon] [Atividade total] Yaniv Erlich: Adoro este filme. Como esses eventos de migração estão num contexto das famílias, podemos fazer perguntas como: "Qual é a distância típica entre os locais de nascimento de maridos e esposas?" Essa distância desempenha um papel fundamental na demografia, porque os padrões nos quais as pessoas migram para formar famílias determinam como os genes se propagam pelas áreas geográficas. Analisamos essa distância usando os dados e descobrimos que, antigamente, era tudo muito fácil. As pessoas se casavam com outras de aldeias próximas. Mas a Revolução Industrial complicou essa vida amorosa. Hoje, com voos acessíveis e com as mídias sociais, as pessoas normalmente migram mais de 100 quilômetros de onde nasceram para encontrar sua alma gêmea. Pode-se perguntar: "Quem trabalha duro pra migrar de um lugar a outro pra formar família?" Os machos ou as fêmeas? Usamos nossos dados para resolver isso e, pelo menos nos últimos 300 anos, descobrimos que as mulheres fazem esse trabalho difícil de migrar de um lugar a outro para formar uma família. Esses resultados são estatisticamente significativos para considerar como fato científico que os homens são preguiçosos. (Risos) Podemos passar de perguntas sobre demografia para perguntas sobre a saúde humana. Por exemplo, como as variações genéticas influenciam as diferenças no tempo de vida das pessoas. Estudos analisaram a correlação da longevidade entre gêmeos para resolver esta questão. Estimou-se que as variações genéticas respondem por cerca de um quarto das diferenças no tempo de vida das pessoas. Gêmeos podem se correlacionar por várias razões, incluindo diferentes efeitos ambientais, ou por viverem na mesma casa. Grandes árvores genealógicas nos permitem analisar parentes próximos, como gêmeos, ou parentes distantes, como primos de quarto grau. Desta forma, podemos construir modelos consistentes que podem diferenciar a contribuição das variações genéticas daquela de fatores ambientais. Realizamos essa análise usando nossos dados, e descobrimos que variações genéticas explicam apenas 15% das diferenças na expectativa de vida entre indivíduos. São cinco anos, em média. Portanto, os genes influenciam menos do que pensávamos antes. São notícias ótimas, porque significa que nossas ações são mais importantes. Fumar, por exemplo, determina dez anos da nossa expectativa de vida; o dobro da influência genética. Podemos descobrir coisas mais surpreendentes quando saímos dessas árvores e deixamos os genealogistas reunirem e documentarem informações sobre o DNA. Os resultados podem ser surpreendentes. Pode ser difícil de acreditar, mas o tio Bernie e seus amigos podem criar competências forenses de DNA maiores até o que o FBI, atualmente. Quando se coloca o DNA numa grande árvore, cria-se um farol que ilumina centenas de parentes distantes que estão todos conectados à pessoa que originou o DNA. Ao se colocar vários faróis numa grande árvore genealógica, pode-se triangular o DNA de uma pessoa desconhecida, da mesma forma que o sistema GPS usa vários satélites para encontrar um local. O principal exemplo do poder dessa técnica foi a captura do assassino do Golden State, na Califórnia, um dos criminosos mais notórios da história dos EUA. O FBI procurava por essa pessoa há mais de 40 anos. Tinham o DNA dele, mas ele nunca apareceu nos bancos de dados da polícia. Há cerca de um ano, o FBI consultou uma genealogista genética e ela sugeriu que submetessem o DNA dele a um serviço de genealogia, que pode localizar parentes distantes. Fizeram isso e encontraram um primo de terceiro grau do assassino. Construíram uma grande árvore genealógica, examinaram suas diferentes ramificações, até encontrar um perfil que correspondesse exatamente ao do assassino do Golden State. Conseguiram o DNA dessa pessoa e encontraram uma combinação perfeita para o DNA que eles tinham. Ele foi preso e levado à justiça depois de todos esses anos. Desde então, os genealogistas genéticos começaram a trabalhar com forças policiais locais e a usar essa técnica para capturar criminosos. Somente nos últimos seis meses, com esta técnica, conseguiram resolver mais de 20 casos arquivados. Felizmente, existem muitos "tios Bernie" e seus colegas genealogistas. Não são amadores com um hobby limitado. São cidadãos cientistas com uma profunda paixão para investigar quem somos. Eles sabem que o passado pode ser a chave para o futuro. Muito obrigado. (Aplausos)