Boa tarde. Vamos fazer uma pequena viragem e vamos olhar para a memória das plantas. Todos conhecemos bem as nossas memórias e como documentamos as nossas memórias através de fotos, através de livros, através de obras criativas, de pinturas artísticas. Mas as plantas também documentam a sua época e a sua vida e o que é notável nas plantas é que têm uma memória muito mais longa do que nós. Nós estamos limitados, de muitas formas, pela nossa longevidade. As plantas podem viver milhares de anos e, como veem, esta planta está ativamente — como disse a minha aluna Shannon, que me ajudou na investigação — esta planta está a introduzir-se nesta foto. (Risos) Penso que o meu comando está avariado. Obrigada. Cá vamos. O espantoso no mundo em que vivemos é que, quando fazemos uma fotografia, estamos a congelar o tempo. Mas o tempo não é estático e as plantas registam a natureza dinâmica do mundo em que vivemos. Esta é Altgeld Hall ao longo das suas muitas estações. Quando levo alunos aos bosques aqui no "campus", digo-lhes: "Olhem à vossa volta. "Vocês estão a ver o dia de hoje. "Amanhã será diferente. "No próximo ano será diferente. "Há 20 anos era diferente". As plantas não se mantêm imóveis. Crescem e movimentam-se mas fazem-no a um ritmo tão lento que não damos por isso. Não vemos as ervas a crescer. Mas se passearem num bosque, vemos que há rebentos, que há adultos, que há plantas e heras a trepar. As coisas são dinâmicas e estão sempre a mover-se e a mudar. Temos as nossas fotografias, e estes são muitos dos instantâneos do meu álbum de fotografias. Esta sou eu e esta sou eu hoje. Esta é a minha mãe e eu. Mudamos e podemos documentar essa mudança. Esta é Shannon, a minha aluna doutoranda com a minha filha, quando ela era mais pequena. A minha filha agora é mais alta. Mudamos. Esta é a minha família. Podemos ir ao mesmo local à superfície da Terra e recriar uma memória. Podemos recriar o tempo. As plantas não têm a mesma mobilidade, estão presas. Assim, embora estejamos limitados pela nossa longevidade, não estamos limitados pela nossa mobilidade. Podemos levar as nossas memórias connosco. Podemos criar novas memórias em espaços novos. As plantas, durante a sua vida, estão estáticas num local, mas não no tempo. A única vez que as plantas se movem é quando lançam as sementes e já voltaremos a isso. As plantas documentam a sua vida mas nós também documentamos a vida das plantas. A foto da esquerda é uma pintura de um artista italiana chamado Arcimboldo. Pintou isto no início do século XVI. É um deus mítico das colheitas. Se olharmos para esta pintura e pensarmos na Itália, especialmente em Milão, no início do século XVI, isto dá-nos uma imagem muito boa das plantas que havia ali porque devia ser aquilo que ele estava a pintar. Mas falta qualquer coisa nesta pintura se pensarmos na comida italiana atual — pensem nas massas, pensem nas "pizzas" — o ingrediente principal para fazer uma refeição italiana seria o tomate. Mas não há tomates nesta pintura, porque os tomates foram introduzidos na Europa por volta da época em que Arcimboldo pintou esta pintura. Vieram dos Andes, na América do Sul. O tomate só foi cultivado na Europa no início do século XIX. Assim, a memória que temos se formos de viagem à Europa, se formos de viagem à Itália, temos memórias muito vivas, muito tácteis, dessa experiência. E para voltar a um dos oradores anteriores, é uma memória falsa. É uma coisa que lá colocámos. O tomate não é nativo na Itália. Fomos nós que o levámos para lá. É aquilo a que chamamos, no mundo das plantas, uma planta exótica invasiva. Nós ajudámo-la a invadir. Esta imagem é de uma vivenda de há 2000 anos, em Itália. É a sala de jantar dessa vivenda e tem frescos pintados nas paredes — são quatro paredes, 360º. Há 24 espécies de plantas cuja existência há 2000 anos conseguimos documentar graças a estas pinturas. Assim, pudemos reconstituir a memória da região mediterrânica daquela época. Mas as plantas também deixam memórias. Estes pólens aqui — todos conhecemos bem o pólen porque gostamos muito dele, fazem-nos espirrar — estes pólens são "migalhas de pão" que as plantas deixam atrás de si. Ficam presos nos sedimentos. Ficam presos na água. Ficam misturados com sedimentos em ribeiros e rios. São transportados para lagos e zonas húmidas, e ficam ali armazenados. Ficam ali armazenados durante milhares de anos. Podemos recuperá-los e conhecer a sua história. Podemos captar essas memórias. Voltaremos a isso. Somos muito bons a documentar as alterações locais. Somos muito bons a perceber a paisagem no nosso quintal. Esta é uma reserva natural mesmo a oeste de nós aqui, chamada Nachusa Grasslands. É propriedade da Nature Conservancy. A minha aluna doutoranda trabalha ali. Quando vamos para a floresta, embora eu diga aos meus alunos que as florestas estão sempre a mudar e que o que vemos hoje não é o que teríamos visto ontem nem o que podemos ver amanhã, é muito difícil imaginarmos isso. Este é o aspeto do bosque hoje. Bonito e denso, cheio de árvores. Aqui é em 1939. Isto é uma coisa onde vamos todos os dias, mas onde não vemos o passado. Mas o passado está registado. Podemos registá-lo, mas também podemos obter as informações pelas árvores porque podemos descobrir a idade que elas têm, podemos observar o ritmo do crescimento utilizando os anéis. Muita gente conhece os anéis das árvores. Voltaremos a isso. Se passarmos do local para o global, observamos onde vivem as plantas no mundo inteiro e todos conhecemos o verde, ou seja, as florestas tropicais. Se olharmos para onde vivemos, aqui na região dos Grandes Lagos, vivemos na fronteira entre a floresta caduca — as árvores que perdem as folhas, todos os anos — e as ervas altas das pradarias. Vivemos mesmo nesta fronteira. Temos uma linha... aqui, como se pudéssemos estar na floresta um dia e, de um salto, passar para a pradaria. Não é isso que acontece, é mais dinâmico do que isso. As memórias dessas margens e dessas fronteiras estão impressas no solo, estão impressas no pólen que ficou para trás e, por isso, podemos captar essas memórias e documentar a mudança. Mas isto é estático. Vivemos aqui e pensamos que é aqui que está a floresta tropical. Fim da história. Mas a floresta tropical não esteve sempre aqui. As áreas escuras, as pretas, neste mapa representam florestas tropicais há 50 milhões de anos, no Eoceno. O clima do Eoceno é o clima que prevemos vir a ter daqui a 200 anos, dadas as alterações que estão a ocorrer no nosso ambiente. Esta é uma época em que no mundo — tal como o conhecemos — os continentes ainda estavam a separar-se. Reparem na Índia. O que é que a Índia está ali a fazer? Está quase a esmagar a Europa e a formar os Himalaias. Ainda não o conseguiu. Mas, antes disso, as florestas tropicais dominavam o globo. E a Antártida, aqui em baixo, estava coberta daquilo a que chamamos uma Nothofagus, uma floresta de faias. Esta é uma floresta de faias do sul. Este espécimen tem uns milhares de anos cresceu no sul da Austrália. Esta é a floresta da Antártida há 50 milhões de anos. Era este o aspeto que tinha e sabemos que o aspeto hoje não é o mesmo. As nossas memórias são estáticas, as nossas memórias estão limitadas. Mas as plantas podem contar-nos uma história muito mais longa e podemos aprender com elas. É um pouco o que eu quero partilhar convosco hoje. Estes são os pólens a que eu me referi. Se virarmos aquele ao contrário, parece o Rato Mickey. Normalmente, é fácil de reconhecer. Retiramos, no fundo de um lago, um núcleo de sedimento e trazemos para a superfície o sedimento que encontramos e cortamo-lo em lâminas. Depois, agarramos em cada lâmina e extraímos-lhe o pólen. E assim conseguimos reconstruir como terá sido a floresta. Usamos as "migalhas de pão"; usamos as memórias das plantas para reconstruir a floresta ao longo do tempo. Este gráfico, embora pareça complicado, só recua 15 000 anos. Observamos aqui o pólen e depois o pólen muda ao longo do tempo — vamos avançando até ao presente. Passamos duma floresta de coníferas — isto aqui é o Illinois; este é o pântano do Lago Nelson, aqui mesmo. Era uma floresta de coníferas há 15 000 anos. Transforma-se numa floresta de carvalhos e depois, mais recentemente, numa pradaria. Podemos assim documentar as memórias e usar essas memórias para perceber como as coisas mudaram ao longo do tempo e como as plantas reagem ao seu ambiente. Podemos agarrar nestes núcleos de pólen que estão isolados no espaço. Temos um núcleo proveniente de um pântano e o que é que ele nos diz sobre todo o globo ou todo o continente? Muito pouco. Mas, quando obtemos um núcleo de todos os pântanos e zonas húmidas e lagos de todo o país, e os juntamos, como num "puzzle", começamos a ver que, quando estávamos cobertos de gelo, a comunidade de vegetação — esta área escura aqui é uma floresta de abetos, estas áreas escuras aqui são florestas de carvalhos, representados pelo pólen — e podemos observar estas comunidades de vegetação a avançar pela América do Norte à medida que o gelo derrete. Podemos usar este rasto de "migalhas de pão". Podemos passar dos glaciares maciços e pela floresta limitada para aquilo que é hoje a Flórida para aquilo que esperamos ver hoje. Podemos obter esse conhecimento, podemos usar esses núcleos de pólen e podemos criar a nossa memória de como teria sido há 16 000 anos em LaSalle County, aqui no Illinois e este seria exatamente o aspeto que teria. Coníferas, zonas húmidas, animais estranhos que já não existem, e estes são quase todos de fósseis. Com efeito, antigamente aqui, este é um enorme castor gigante que já não existe. Mas conhecemos todas estas plantas. Sabemos que elas existiram. Sabemos a proporção em que existiam na paisagem graças às informações que obtemos do pólen que subsistiu — os instantâneos no tempo, o álbum de fotos de família, sobretudo. Podemos agarrar nesses núcleos de pólen e podemos fazer um mapa — isto é nogueira. Quando é que a nogueira chegou a este ponto nos núcleos de pólen? Quando é que chegou ali? Quando é que chegou ali? Podemos calcular não só onde estavam e quando estavam mas com que rapidez lá chegaram — quanto tempo demoraram a viajar, quanto tempo levaram a migrar. Quantos milhares de anos levou a nogueira a passar daqui para ali. Podemos ver: levou cerca de 6000 anos a avançar pela América do Norte. As plantas não agarram nas raízes e andam. Não se trata duma verdadeira migração. O que acontece é que lançam sementes e essas sementes são apanhadas por um esquilo e escondidas algures: depois ficam esquecidas e depois germinam, não é? Mas para ser deste tamanho, ou deste tamanho primeiro temos de ser deste tamanho. Temos de sobreviver enquanto rebento antes de podermos ser uma árvore. Isto é um processo muito lento, um processo muito lento de mudança. Isto equivale a cerca de 20 quilómetros por século. Vou repetir — 20 km por século. É mesmo. Não se movem muito depressa. O que sabemos de todos os dados que reunimos e estes são os dados mais recentes do Painel Intergovernamental para a Alteração Climática. Isto são 60 a 70 mil artigos com informações. Sabemos que o clima está a mudar. Sabemos que os últimos 30 anos que terminam em 2012, foram os 30 anos mais quentes dos últimos 1400 anos. Ok, alteração climática. O que significa isto para a comunidade das plantas? Significa que o que vemos hoje na floresta não vai ser o que vamos ver quando formos para a floresta em 2080. Não vai ser o que vamos ver na floresta em 2200, não é? Está a mudar. Ótimo. O problema é quando muda o ritmo de mudança. Está a mudar muito mais depressa do que mudou no passado. Pensem nisso. Estou a dizer que o clima terá mudado drasticamente quando chegarmos a 2080 — o que não chega a 100 anos — e as plantas só se movimentam 20 km num século, não vão conseguir movimentar-se tão depressa como a mudança do clima. Mas isso é tema para outra palestra noutra altura. Para podermos avaliar isto — é o que eu estou a fazer, não penso que estou no fim da minha existência mas mesmo que eu viva muito tempo, provavelmente não estarei cá em 2080. Por isso, para criar 2080, para sabermos o que os rebentos estarão a fazer arranjámos financiamento da Fundação de Ciências Naturais para transportar a floresta até 2080. É o que estão a ver aqui. O meu colaborador de investigação e eu levámos aquecedores — estávamos na margem oriental do Lago Superior — levámos também a nossa eletricidade, — o que é uma outra história — para a floresta. Instalámos estes aquecedores; ligámo-los; regámos os rebentos; mantivemo-los quentes durante três anos e depois observámos os monitores para ver o que eles faziam. Este é o tipo de estudos que se realizam para captar as memórias das plantas do passado, usar as informações que podemos obter delas, criar o futuro e ver como eles reagiriam. Esta é a área de que eu estava a falar, onde nós estávamos. Este é o ponto em que esperávamos ver essa mudança. Se passarmos de uma comunidade para a outra, esta é a floresta de folha caduca, esta é a floresta de coníferas. Estas aqui são as que estão a migrar e a avançar, certo? É aqui que devemos ver a mudança. Com efeito, nesta área aqui, na margem oriental do Lago Superior, podemos abraçar um bordo-açucareiro, dar-lhe um beijo, e continuar para norte sabendo que era o último que íamos ver. Mas isso é hoje. Amanhã a história será diferente. Usámos três anéis para nos ajudar a criar essas memórias porque os anéis das árvores registam o ambiente. Registam como uma árvore foi feliz num dado ano. Muita água, muito sol, bons nutrientes — vou crescer rapidamente e vou arranjar um anel muito grande. Assim, podemos registar como as nossas árvores são felizes. Este é o interior de uma árvore perto de Fermilab, que está a registar a história da física de partículas, em três anéis. Aqui temos a descoberta do eletrão, em 1897 e a descoberta do protão em 1911. Podemos criar, sobrepor as nossas memórias às memórias das árvores. Se ligarmos todas estas informações a alguns modelos, tudo o que sabemos das memórias das árvores — tudo aquilo que podemos reunir — e sabemos para onde vamos em termos da alteração ambiental, podemos recriar hoje — estes são bordos-açucareiros, os bordos-açucareiros crescem na América do Norte — e depois, colocá-los em 2080. Em 2080, Vermont já não será o rei do xarope de bordo. Os bordos-açucareiros já não crescerão em Vermont. E isso, pelo menos, será durante a vida dos nossos filhos e, esperemos, durante a nossa vida. Talvez? Não sei. Mas para muitos de vocês, deve ser. Portanto, já não há bordos-açucareiros a regenerar. Eles ainda estarão ali. O problema é esse: eles vivem 400 anos. Continuarão ali, com a sua canópia. Pensamos que não há problema. Eles estão ali. Reparem bem nestes tipos. Se não virem estes tipos, eles não vão estar ali; a próxima geração não vai aparecer. Aqui, a árvore estatal do Illinois é o carvalho-branco. O carvalho-branco é belo e é dominante no Illinois. Coloquem-no no modelo futuro. Oh-oh. Vamos ter de ter uma nova árvore estatal. As árvores também estão a sussurrar-nos numa escala de tempo mais curta. Quando pensamos nas estações e pensamos nos rebentos e nas flores da primavera, pensamos nas vindimas — se gostarem tanto de vinho como eu — elas dizem-nos qual a duração da estação. Sabemos se ela vai ser mais comprida. Sabemos quando a primavera ocorre mais cedo. Sabemos quando o outono ocorre mais tarde. Elas estão a sussurrar-nos e a dizer-nos coisas. Podemos monitorar um campo durante as estações e esse é o fim da estação. Podem voltar ao diapositivo anterior? Não? O que vemos, se observarmos esta floresta ao longo das estações, vemos que fica rosada na primavera, fica totalmente verde no verão e depois vemos as folhas a cair. A altura em que estes acontecimentos ocorrem é fundamental para o futuro. É o sussurrar, é o que as árvores nos estão a segredar. É o que elas nos estão a dizer, se nos pudessem contar uma história. Temos de as escutar. Esta árvore é uma árvore em Inglaterra. É um carvalho num campo perto da casa da minha mãe. Esta árvore tem mais de 100 anos. Se recuarmos 100 anos, estamos na véspera da I Guerra Mundial. Quem passa perto desta árvore e que histórias estão a contar? Eles têm as suas memórias nos álbuns de fotos de família. Ao mesmo tempo, esta árvore guarda as suas memórias. Está a vigiar o seu mundo e a criar as suas imagens e instantâneos. Se estivermos dispostos a escutar o que as plantas nos dizem, elas podem dar uma reviravolta ao nosso mundo. Obrigada. (Aplausos)