Olá. Posso estar errado, mas penso que esta palestra pode ter a distinção de ser a única palestra desta série que acaba com um orgasmo. (Risos) Mas não nos precipitemos. (Risos) Já alguma vez pensaram que estamos aqui, vivos neste planeta porque os nossos antepassados se reproduziram? Todos eles, numa cadeia ininterrupta, que remonta ao primeiro sinal de vida neste planeta, há 3500 milhões de anos. É muita reprodução. Durante milhares de milhões no passado, os nossos antepassados reproduziram-se sexualmente. Portanto, o sexo é muito importante. Mas, provavelmente, já sabiam isso. Falemos antes do acasalamento humano. Porque é que ele assume as formas que tem? Porque é que somos atraídos por uma determinada pessoa? Porque é que, às vezes, formamos relações românticas duradouras? Porque é que, às vezes, traímos? Não me refiro à razão por que fazemos estas coisas conscientemente, não me refiro ao que acontece no cérebro para isso acontecer. Mas porque é que evoluímos esses sentimentos, esses comportamentos? Ou seja, como é que as estruturas cerebrais e a química do cérebro contribuíram para o êxito reprodutivo dos nossos antepassados passando essas características para a presente geração e outras não passaram? Responder a questões evolutivas como esta é como ser investigador de um crime. Procuramos provas e tentamos descobrir o que aconteceu. Então, recuemos seis ou sete milhões de anos até aos nossos antepassados primitivos, imediatamente depois da divisão entre a nossa linhagem e da linhagem do que viria a dar origem aos chimpanzés. Eram pequenos primatas com cérebro que andavam sobre duas pernas. Os machos deviam lutar uns com os outros, para acasalarem. Sabemos isso porque os machos lutam pelo acasalamento como os nossos parentes próximos, os chimpanzés, orangotangos e gorilas. E porque os machos são maiores que as fêmeas. O registo fóssil indica que os machos nossos antepassados eram maiores do que as fêmeas. Os machos habitualmente são maiores, mais musculosos, mais fortes, mais agressivos fisicamente, quando lutam para acasalarem. A nossa espécie tem todas as características duma espécie que sofreu uma história evolutiva da luta dos machos para acasalarem. Por exemplo, em média, os homens têm mais 60% de massa muscular e mais 70% de massa muscular na parte superior do tronco e essas diferenças na musculatura traduzem-se em grandes diferenças na força. O homem médio é mais forte do que 99,9% das mulheres. Estes são dados sobre a força das mãos, o que é um bom indicador da força da parte superior do corpo em mais de 600 homens e mulheres. Como vemos, há uma grande diferença entre os sexos. Nenhuma de quase 400 mulheres tinha tanta força manual como o homem médio. É por isso que os homens conseguem abrir boiões. (Risos) E mudar móveis — pelo menos, são duas coisas para que servem. Quem é que lhe dá importância? Na verdade, os homens dão-lhe importância. Os homens, em especial os jovens, preocupam-se muito em saber quem é o mais duro ou o mais forte, ou o que tem o físico mais formidável e, por vezes, arranjam formas elaboradas de determinar isso. Desde muito cedo, os rapazes e os homens são mais agressivos fisicamente do que as raparigas e as mulheres. Essa agressividade por vezes resulta em violência. Os homens têm um monopólio virtual nos homicídios do mesmo sexo. Os homens são mais propensos a matarem-se uns aos outros do que as mulheres a matarem-se umas às outras. Estes são dados de todas as sociedades de todos os períodos da História em que há dados disponíveis, quando foram compilados, sobre a proporção de homicídios de homens a matarem homens. Como vemos, a proporção está sempre perto dos 100%. Em média, são 95% dos homicídios do mesmo sexo e, atenção, isto não inclui as mortes em guerras. o que elevaria ainda mais a percentagem. Pelas provas de que dispomos, o predomínio dos homens traduz-se em oportunidades de acasalamento e reprodutivas Somos uma espécie que sofreu uma história evolutiva em que os antepassados machos conquistarem oportunidades de acasalar através do uso ou da ameaça da força. Nesse aspeto, a nossa maçã não caiu longe da árvore evolutiva. Mas, noutros aspetos, o acasalamento e a reprodução humana são muito diferentes do que vemos nos nossos parentes mais próximos e mudaram muito desde os nossos antepassados primitivos. Por exemplo, os chimpanzés, os orangotangos e os gorilas gastam tempo e forças competindo pelas parceiras, mas não gastam muito tempo com fêmeas individuais e não lhes fornecem recursos, não fornecem recursos à sua descendência. Aqui há uma grande mudança. Embora a maioria das sociedades humanas permitam o casamento polígamo, ou seja, um homem casado com mais de uma mulher, mesmo nas sociedades polígamas, a maioria dos casamentos é monógamo. Na sociedade vulgar dos caçadores-recoletores, quase 80% das mulheres casadas são monógamas, por isso é diferente dos outros primatas. Mais importante, os homens proporcionam recursos às parceiras e aos filhos. Como é que chegámos aqui? Nas espécies em que os machos lutam pelas parceiras os machos dominantes indicados por estes símbolos masculinos maiores têm mais oportunidades de acasalamento e, portanto, uma maior prole. Os machos subordinados têm menos oportunidades de acasalamento e talvez nem se consigam reproduzir. Isto constitui uma situação interessante porque, para os machos subordinados, seria vantajoso tentar a monogamia, em vez de conquistar oportunidades de acasalar. Uma parceira é melhor do que nenhuma. O problema é que, em geral, os machos subordinados não podem defender as fêmeas dos machos dominantes e as fêmeas preferem acasalar com os machos dominantes por razões genéticas, produzindo crias mais fortes, mais saudáveis, O que mudou tudo isso foram, provavelmente, várias transições que aconteceram todas por volta da mesma altura. Há dois milhões e meio de anos, sensivelmente, começámos a incorporar mais carne na nossa dieta. Sabemos isso por diversas linhas de indícios, incluindo entalhes feitos por um utensílio de pedra em ossos de animais há dois milhões e meio de anos. É fantástico, adoro isto! Depois, há uns dois milhões de anos, o tamanho do cérebro começou a aumentar. e com isso aumentou o período da idade juvenil. Assim, os miúdos agora são cada vez mais dispendiosos, durante muito mais tempo. Isso tornou possível e necessário o aprovisionamento feito pelos machos. Possível porque é muito mais fácil transportar calorias, proteínas, gordura, sob a forma de carne, do que transportar alimentos vegetais e necessário, porque os miúdos tornaram-se tão custosos em energia que as fêmeas individuais tinham dificuldade em arranjar alimento para si e para os filhos. Quando observamos as atuais sociedades de caçadores-recoletores, vemos isto. Estes são dados compilados em sociedades de caçadores-recoletores sobre as calorias diárias líquidas. Será que se consomem mais calorias do que as que se gastam, quando a alimentação é vegetal? Ou gastam mais do que as que consomem? As barras verdes são o excesso calórico diário. Por outras palavras, consumir mais do que as que gastam. As barras vermelhas são o oposto, um défice. Ou seja, gastamos mais do que consumimos. Reparem que os homens, a partir dos 20 anos, e até aos 60 anos, funcionam com um excedente de calorias diárias. Consomem mais calorias, normalmente através da caça, do que as que gastam e essas calorias estão distribuídas. Quando a peça de caça é grande, a distribuição é igual por toda a gente, seja a aldeia ou no campo. Os bocados mais pequenos são levados para a família. Mas em contraste com o que se passa com as mulheres, nos seus anos reprodutivos, elas funcionam com um défice de calorias diário. A gestação, a amamentação, o transporte das crianças são coisas com elevado custo energético e limita a capacidade de arranjar alimentos eficazmente. Por isso, os machos alimentam-nas através da caça, possível e necessariamente. Esta alteração tem um impacto profundo no acasalamento e reprodução dos seres humanos. Em certo sentido, facilitou as coisas para as fêmeas. A parir daí, valia a pena acasalar com um macho subordinado, mesmo que ele não possuísse os melhores genes, se ele proporcionasse recursos. Isto é pornografia de babuínos. (Risos) Desculpem, devia ter-vos avisado que ia haver pornografia de macacos. Isto é da revista PlayBaboon. OK, vou deixar de dizer piadas. Isto é um babuíno fêmea em cio, por isso os genitais estão inchados. Isto acontece em muitas espécies de primatas. O aspeto das fêmeas altera-se durante o ciclo e torna-se mais atraente. Isso incita a competição dos machos pelas fêmeas, durante a parte fértil do ciclo em que os machos dominantes tentam monopolizar as cópulas, mais perto da ovulação. Nós não somos assim. Todos sabemos isso. Mas o que talvez não saibam é que a atração das mulheres muda com o ciclo. O meu laboratório demonstrou que o rosto, a voz e o odor das mulheres são mais atraentes para os homens durante a parte fértil do ciclo. Mas essas mudanças são extremamente subtis. Em comparação com outros primatas, há indícios que evoluímos para suprimir as pistas para a ovulação. Em certo sentido, a ovulação está oculta nos seres humanos. Mas pensem no impacto que isso teria. Significaria que os machos dominantes não conseguiriam monopolizar as cópulas perto da ovulação Protegeria o laço do casal contra a invasão do macho dominante. Assim, o macho de um casal teria mais confiança de ser o pai dos rebentos. O casal pratica sexo durante todo o ciclo. Isto é uma coisa única no acasalamento humano, não a vemos em muitos outros primatas. Praticamos sexo durante todo o ciclo. Isso aumentaria a confiança do macho na paternidade, porque um macho dominante ou outro qualquer não poderia escolher a fêmea nem copular com ela na altura fértil do ciclo. Isso ia ter implicações importantes para um investimento parental, sobretudo no fornecimento de recursos às suas crias. Porque, em todas as espécies, em que os machos fornecem recursos a crias, dirigem esses recursos para as suas crias biológicas e evitam investir nas crias de outros machos. Assim, a evolução dos cuidados dos machos para com as crias, o investimento em recursos e nos laços dos casais e a ovulação oculta andaram a par ao longo da evolução. Também evoluímos uma psicologia avançada para formar relações românticas de longa duração com a possibilidade de investir nas crias, em conjunto. Apaixonamo-nos. Por todo o mundo, as pessoas preferem parceiros gentis e generosos, capazes e dispostos a cuidar das companheiras e dos filhos. Num dos maiores estudos transculturais das preferências de acasalamento humano abrangendo os 33 países mostrados aqui a vermelho, o critério mais importante escolhido tanto por homens como por mulheres, foi o amor e a atração mútua. Mas, como todos sabemos, as pessoas nem sempre são totalmente fiéis aos companheiros. Em especial, as mulheres enfrentam por vezes um dilema entre bons genes e investimento. As mulheres, por vezes, encontram-se numa relação com homens que podem ser bons contribuidores mas não possuem as melhores qualidades para a descendência, que a tornem forte e saudável. Segundo parece, diversas características da psicologia nas mulheres evoluíram, em parte, para resolver este dilema. Ou seja, recrutar genes fora da relação a longo prazo. Por exemplo, as mulheres têm mais fantasias sexuais sobre homens diferentes do seu parceiro de longa duração, durante a parte fértil do ciclo. Isso é especialmente verdade se o parceiro de longa duração tem sinais físicos de uma qualidade genética inferior, ao ser menos atraente fisicamente. Acho isto muito interessante. (Risos) É por isso que falo nisto, espero que vocês também falem. As preferências de acasalamento das mulheres mudam igualmente com o ciclo, por isso preferem machos dominantes, machos mais masculinos, durante a parte fértil do ciclo. Estes são os resultados de um estudo que realizei sobre as preferências das mulheres quanto à voz dos homens. Usei um "software" informático para manipular os registos de voz, de modo a torná-las mais masculinas, mais dominantes ou mais subordinadas, mais femininas, E pedi a mulheres para as classificarem quanto à atração que aquele homem teria numa relação puramente sexual, a curto prazo, e numa relação prolongada, a longo prazo. Também obtive informações sobre o ponto em que estava o ciclo das mulheres. Se estavam na parte fértil ou não fértil do ciclo. Eram todas mulheres que não usavam contraceção hormonal. Descobri que as mulheres que preferiam uma voz mais masculina, mais dominante estavam no ponto fértil do ciclo e apenas para uma relação sexual em vez de uma relação a longo prazo. Isto parece ficção científica, mas, na verdade, é ciência. Porque este resultado apareceu imensas vezes, numa série de áreas das preferências das mulheres pelas vozes dos homens em que este resultado se repetiu noutro laboratório. As preferências das mulheres pela cara, pelo corpo dos homens, pelo seu odor e até pelo seu comportamento. Eu disse que íamos chegar ao orgasmo. (Risos) Cá estamos. Só quero dizer que sou a favor disso. (Risos) Sou a favor do orgasmo. Penso que devia haver mais gente com mais orgasmos. Mas, numa perspetiva científica, o orgasmo das mulheres é especialmente fascinante porque há indícios que mostram que aumenta a probabilidade de uma conceção resultar dum ato sexual. Há indícios de que estimula o esperma a subir pelo trato reprodutivo feminino e chegar ao ovo. Pensem nas implicações que isso pode ter. Se as mulheres têm mais propensão para terem orgasmos com certos homens, isso pode ser um mecanismo que as leva a escolher, inconscientemente, serem fertilizadas por certos homens, em vez de outros. Será que isso implica que as mulheres são mais propensas a terem orgasmos com homens de qualidade genética superior? Um estudo do meu laboratório, publicado há uns anos, descobriu que as mulheres relataram mais orgasmos, orgasmos mais regulares, ou seja, mais fáceis de atingir, mais rápidos de atingir, quando tinham relações sexuais, quando o companheiro era mais masculino, mais dominante. O interessante é que isso só acontecia com os orgasmos de relações sexuais, mas não com outros comportamentos dos parceiros sexuais. Vou deixar à vossa imaginação o que é que eles seriam. Vimos que pensar nisto como evolucionista pode permitir-nos prever coisas sobre nós mesmos que ainda não sabíamos e nunca teríamos imaginado durante muito tempo. Não sabíamos que as preferências de acasalamento das mulheres mudavam ao longo do ciclo. Só quando o pensamento evolutivo nos levou a esta descoberta. Este é um ponto que quero referir. Mas também vimos como o pensamento evolutivo pode esclarecer e unir partes diversas da experiência humana, e ajudar-nos a compreender o melhor e o pior de nós mesmos, da violência, da agressão e da infidelidade, ao cuidado masculino pelos filhos à atração sexual, ao prazer sexual e até à força e fragilidade do amor romântico Obrigado. (Aplausos)