Entre 2004 e 2008,
eu tentei sem sucesso entrar
na indústria musical do Quénia.
Mas a resposta recorrente dos produtores
era que eu não era queniana o suficiente.
E isso significava o quê?
Eu não cantava totalmente na gíria
que derivava do suaíli
e não cantava músicas
de festa suficientes,
e diziam que os quenianos não iam ouvir
uma queniana com música como a minha.
Esta ideia do "diferente",
a exclusão de uma pessoa
com base no aparente
desvio às normas,
remete para a raiz
dos problemas no Quénia.
E está muito enraizada.
O Quénia foi inventado
pelos colonialistas em 1895
e, com ele, veio o apagamento
da nossa identidade
e o sistema de classes criado
com base na "diferenciação".
Por isso, em 1963, quando obtivemos
a nossa independência,
estas ideias já se tinham tornado
o novo normal.
Tentámos muitas maneiras diferentes
de seguir em frente desde então.
Temos uma língua comum,
uma divisa, infraestruturas,
basicamente todas as coisas
que fazem de um país um país.
Mas todos estes esforços
para construir uma nação
não vão ao cerne da questão
que é o seguinte:
não podemos construir
o que não amamos de verdade.
E não conseguimos amar
até nos amarmos a nós próprios.
Aquilo que temos que curar,
nós, os quenianos,
é a nossa falta de amor próprio,
o nosso profundo ódio a nós próprios
e a nossa crise existencial de identidade.
Isto é o trabalho de construir nações
que apenas a indústria
criativa consegue fazer.
A ideia de que o Quénia
só consegue incluir alguns de nós
levou-me a fundar um festival de música,
em 2008, chamado Blankest and Wine,
para proporcionar uma plataforma
para todos os que não se encaixavam.
Dez anos depois, trabalhámos
com mais de 200 bandas
e colocámos pelo menos 100 000 dólares
diretamente nas mãos
de artistas e agentes
que, por sua vez, os gastaram
em técnicos, em ensaios,
em vídeos musicais e noutras coisas
da cadeia de valor da indústria musical.
A nossa plataforma permitiu que existissem
múltiplas identidades quenianas,
e, ao mesmo tempo, inspirou
a indústria a descobrir e a abraçar
a grande variedade da música queniana.
Aquilo que fazemos
é necessário, mas insuficiente.
Devemos entrar urgentemente
num circuito de música ao vivo.
Mas existem outras formas
de a música ajudar a curar a nação.
De acordo com um relatório de 2018
sobre o estado dos "media",
a rádio tradicional é ainda, de longe,
a maior distribuidora de ideias no Quénia,
com 47% dos quenianos
a preferirem a rádio em primeiro lugar.
Isto apresenta uma oportunidade.
Usamos a rádio para ajudar os quenianos
a ouvirem a diversidade que é o Quénia.
Podemos reservar 60%
da programação de rádio no Quénia
para a música queniana.
Podemos derrubar barreiras étnicas
ao tocar música queniana
feita em inglês, em suaíli
e outras línguas étnicas,
naquilo que agora é
uma rádio étnica de idioma único.
A rádio pode ajudar a estimular
o interesse e a procura
dos quenianos pela música queniana,
enquanto também proporciona
as receitas tão necessárias
sob a forma de "royalties".
Mas acima de tudo,
a rádio pode ajudar-nos a construir
uma narrativa do Quénia mais inclusiva.
Porque não podemos amar
o que não sabemos que existe.
Outras indústrias criativas
também podem fazer esse trabalho.
Quando consideramos
que 41% dos quenianos
ainda escolhem a TV
como o "media" principal,
é óbvio que os filmes
têm um grande potencial.
Os recursos escassos investidos no setor
já produziram atrizes internacionais
como Lupita Nyong'o e Wanuri Kahiu,
mas vamos precisar
de muito mais incentivos e investimentos
para tornar o cinema no Quénia mais fácil
para que mais histórias quenianas
possam passar na TV queniana
e dar início aos debates
realmente difíceis
que precisamos de ter uns com os outros.
Vamos precisar de desenvolver
mais estrelas nacionais,
para inverter a ideia
de que temos que ter sucesso lá fora
antes de termos a aceitação
e a validação internas.
A moda também pode fazer esse trabalho.
Necessitamos de tornar possível
a produção em massa de roupas quenianas
acessível aos consumidores quenianos,
para não termos que depender
das importações em segunda mão.
O primeiro calçado de corrida
feito no Quénia
tem que ser um sucesso local e global
como uma homenagem
à excelência queniana,
representada pelos corredores quenianos,
que são literalmente de renome mundial.
Para estas ideias ganharem vida,
serão criados empregos,
e as ideias quenianas serão exportadas.
Mas, acima de tudo,
os quenianos podem finalmente
considerar-se dignos
do amor que reservamos para os outros.
A indústria criativa do Quénia é dinâmica,
cosmopolita, inovadora,
e sem dúvida,
uma verdadeira indústria transformadora
do futuro próximo.
Mas o seu verdadeiro poder
está na capacidade
de ajudar a curar a psique do Quénia,
para podermos finalmente construir
uma nação de verdade.
Obrigada.
(Aplausos)
Para esta música, gostava
que todos nós tirássemos um minuto
para pensarmos
nas comunidades de imigrantes,
e especialmente nas comunidades
de imigrantes refugiados,
e na luta diária que têm que enfrentar,
a construir uma vida
com dignidade e significado
longe de tudo
o que amavam e conheciam.
Se sentirem alguma empatia por esta ideia,
peço que ergam o punho comigo.
(Música)
"Um milhão de vozes."
♪ O povo faz barulho
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Todos fazem barulho
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Não posso parar, não vou parar
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Não posso parar, não vou parar
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Esta é dedicada ao meu povo
que está a construir algo
♪ A trabalhar no duro para garantir
que não falte nada aos filhos
♪ Quando as pessoas chegam
e os tratam como se fossem simples
♪ Eu só quero rir bem alto e dizer-lhes
para considerarem todas as opções
♪ Cautela, distorção natural
♪ Nem sequer conseguem matar-nos,
sobrevivemos até ao aborto
♪ Dizem que não conseguimos,
vejam como conseguimos
♪ Vejam-nos num minuto
a chegar, a correr e a ultrapassar
TED, batam palmas!
♪ Não me canso disto
♪ Este nosso único modo de vida
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ TED, batam palmas assim.
♪ Não me canso disto
♪ Este nosso único modo de vida
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ O povo faz barulho
♪ Como um milhão, um milhão de vozes
♪ Todos fazem barulho
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Não posso parar, não vou parar
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Não posso parar, não vou parar
♪ Com um milhão, um milhão de vozes
♪ Posso ser a vossa líder?
♪ Posso ser o vosso César?
♪ Se vos mostrar como fazer mais
vão jurar lealdade?
♪ É sempre um ou outro
♪ Eu, ou tu, ou nenhum de nós
♪ Se vos mostrar de onde venho,
vão fazer uma pausa?
♪ Porque o que vão encontrar,
o que vão encontrar
♪ O que vão encontrar
é garantido que vos vai maravilhar!
♪ Vou surpreender-vos
vou surpreender-vos
♪ E aí vão ver o porquê
de eu continuar na minha labuta
♪ Batam palmas!
♪ Não me canso disto
♪ É o nosso único modo de vida
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ Não me canso disto
♪ É o nosso único modo de vida
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ Sempre, sempre na labuta
♪ O povo faz barulho
(Vivas)
(Aplausos)
Parte da próxima música está em suaíli,
que é a língua que falamos no Quénia.
É sobre a amizade entre mulheres
e o poder feminino.
É sobre as jovens a unirem-se
para construírem algo que permaneça,
um verdadeiro legado
e valor intergeracional.
"Suzie Noma."
(Bateria)
♪ Sentadas ao canto
♪ Eu e a Suzie Noma
♪ Não temos preocupações
parecemos as donas
♪ A beber Coronas
♪ A olhar para o telemóvel
♪ Todos os rapazes giros
nos vêm dizer o quanto nos querem
♪ Mambo ni kungoja, aki mtangoja
♪ Sinaga matime za kuwaste na vioja
♪ A planear como queremos
dominar o mundo em breve
♪ A curtir a bateria
e a bater palmas ao ritmo do baixo
♪ Ei! Balancem, balancem
♪ Esperem até, esperem até verem
♪ Ei! Balancem, balancem
♪ Esperem até, esperem até ver o meu
♪ Se sabem mesmo
e querem mesmo mostrar
♪ Sejam o exemplo a seguir.
♪ Vão e agarrem alguém
mexam o corpo, mostrem a alguém
♪ Sejam o exemplo a seguir
♪ Sobre isto eu sei,
tudo isto eu sei, tudo isto eu sei
♪ Sobre isto eu sei,
tudo isto eu sei, tudo isto eu sei
♪ lôooo!
♪ A conspirar ao canto
♪ Eu e a Suzie Noma
♪ Não temos dinheiro
mas fazemos o que queremos
♪ A pintar as unhas,
a ver as nossas mensagens
♪ Todos os rapazes giros
querem ter-nos mas não conseguem
♪ Aki mtangoja, leo mtangoja
♪ Saa hii tukoworks hakunaga za vioja
♪ A planear como queremos
dominar o mundo em breve
♪ A curtir a bateria
e a bater palmas ao ritmo do baixo
♪ Balancem, balancem
♪ Esperem até, esperem até verem
♪ Ei! Balancem, balancem
♪ Esperem até, esperem até verem
♪ Se sabem mesmo
e querem mesmo mostrar
♪ Sejam o exemplo a seguir
♪ Vão e agarrem alguém
mexam o corpo, mostrem a alguém
♪ Sejam o exemplo a seguir
♪ Sobre isto eu sei,
tudo isto eu sei, tudo isto eu sei
♪ Sobre isto eu sei,
tudo isto eu sei, tudo isto eu sei
♪ E agora queixam-se da cintura
♪ E agora estragam a cara
♪ Exagerem a cintura
♪ Ressuscitem o lugar
♪ Na wale wako fifty fifty comsi
♪ Na wale wako fiti pia sisi
♪ Tuko tu sawa mdogo mdogo yaani
♪ Hallelu-yawa tumeiva design
♪ Se sabem mesmo
e querem mesmo mostrar
♪ Sejam o exemplo a seguir
♪ Vão e agarrem alguém
mexam o corpo, mostrem a alguém
♪ Sejam o exemplo a seguir
♪ Sobre isto eu sei,
tudo isto eu sei, tudo isto eu sei
♪ Sobre isto eu sei,
tudo isto eu sei, tudo isto eu sei
♪ Iôooo!
(Aplausos)