Há uns meses, fui a uma festa.
Era na casa de um garoto da escola,
e fui com um grupo de amigos,
para ver se era legal.
A festa estava boa.
Havia boa música, não havia muita luz,
e conheci muita gente;
era um lugar bonito.
Um tempo depois, fomos conversar
com uns conhecidos dos meus amigos
e vi alguém de quem gostei.
Não tinha prestado
muita atenção no princípio,
mas depois me aproximei para conversar,
porque era a única pessoa
que não conhecia ninguém.
Sua simpatia e a facilidade de encontrar
assuntos para conversar me atraíram,
e passamos o resto da festa juntos.
A pessoa que conheci era o Juan.
Naquela noite, enquanto voltava para casa,
havia uma confusão na minha cabeça,
porque antes nunca tinha pensado
em me relacionar com um garoto.
Quando vou a uma festa, não vou
pensando com quem vou me relacionar,
mas procuro aproveitar e me divertir.
Entretanto, não pensei
que poderia chegar a gostar,
porque não era comum para mim,
ia contra o que acontecia naturalmente.
Naquela noite, também havia várias
perguntas na minha cabeça.
Por exemplo, qual são os critérios
que levamos em conta
no momento de determinar
se gostamos ou não de alguém?
Seu físico? Seu gênero? Sua personalidade?
Uma combinação de características?
Nem entendia por que estava
me fazendo essas perguntas.
Se com coisas bem comuns
essas dúvidas não existiam,
era porque não havia resposta para elas.
Por exemplo, por que gosto
tanto de bife à milanesa?
(Risos)
Não sei! Gosto e pronto!
A situação toda,
as perguntas, as respostas
me levaram a pensar em duas coisas.
A primeira: por que temos a necessidade
de classificar as pessoas
quanto a seu físico,
seu gênero, sua personalidade
e sua inteligência?
A segunda: como gostamos de alguém
por essas qualidades?
Não entendo direito.
Mas acho que funcionamos
como uma espécie de filtros
que marcam o que é bom
e ruim em uma pessoa,
de acordo com o nosso critério.
Depois de muito tempo,
concluí que esse critério, para mim,
era simplesmente se eu gostava da pessoa
e se me sentia confortável do lado dela.
Não me importava quem ela era.
nem do que gostava,
se era homem ou mulher,
ou o que fosse.
Se essa pessoa gostava de mim
e eu gostava dela,
não havia mais razão para me preocupar.
Vejo a orientação sexual
não como um gênero de preferência,
mas como um conjunto de filtros
com o qual cada um escolhe.
Para mim, não existe isso de ser "gay",
heterossexual, pansexual, bissexual,
porque não entendo o conceito de gênero.
Não entendo o que nos faz homem
ou o que nos faz mulher.
Por isso, não consigo entender
a sexualidade segundo os costumes.
Mesmo assim, continua sendo difícil
determinar nossos gostos, certo?
Por que é assim?
Porque a ideia de amor
nesse sistema social
no qual vivemos e nos relacionamos
é a de nos casarmos lá pelos 30,
ter uma relação monogâmica,
com alguém do sexo oposto,
com 2 filhos, primeiro um menino,
depois uma menina.
Isso é o que nos falam para fazer,
consciente e inconscientemente
a cada um de nós,
e não seguir o que, no fundo,
cada um gosta.
Esses filtros foram trocados,
modificados e até flexibilizados
graças ao fato de serem repensados
ao longo da história.
Acho que vivemos
em um momento muito particular,
no qual não só há uma nova abordagem
mas também profunda desses filtros.
E também há a diminuição daqueles
que foram impostos por alguém
além de vocês mesmos.
Vejo isso todos os dias.
Na rua, nos protestos, na escola,
e é algo muito bom!
Porque cada vez mais pessoas pensam assim.
Isso é a continuação da luta
pelo livre direito da expressão sexual.
O que acontece comigo
é que não tenho mais o filtro "gênero".
E talvez muitas outras pessoas
não o tenham daqui a 5, 10, 20 anos.
Se esse filtro não existisse
na cabeça de ninguém mais,
então problemas atuais
graves não existiriam,
como a discriminação, a desigualdade
e o não exercício de direitos
por ser quem é.
Muito obrigado.
(Aplausos) (Vivas)