A arte deve ser bela. O artista deve ser belo.
A arte deve ser bela... [Murmura]
A arte deve ser bela. O artista deve ser belo...
No anos 70, quando uma artista usava batom vermelho e esmalte, e tinha qualquer tipo de relação com a moda,
Era visto como sendo uma péssima artista, como se você precisasse de aprovação,
Porque você não conseguia fazer isso com o seu trabalho. Não era aceito.
Eu só me apresentava da mesma forma, muito austera, muito monástica.
Sabe, nos velhos tempos, as roupas de show eram sempre as mesmas.
Todas bege, ou preto sujo, ou branco sujo. Era só isso, sabe?
Nunca batom, nunca esmalte, nunca sapatos de salto alto, bem restrito.
Uma visão quase masculina de mim mesma. E quando eu comecei a trabalhar sozinha no começo dos anos 70,
meu trabalho estava indo, expandindo os limites físicos ao ponto
de que eu teria um acidente ou um fim terrível.
[Homem e mulher gritando] Aaa....
Aaa... [Marina começou a colaborar com Ulay Laysiepen em 1976]
Ulay, como vejo agora, ele era realmente uma nova solução que pudemos usar para inventar isso juntos,
Criar algo como uma terceira identidade.
E assim Ulay veio como uma bênção para mim.
E funcionou muito bem.
Aaa...Aaa...Aaa...
E como qualquer relacionamento, um dia acaba, o que foi muito difícil para mim,
porque eu detesto falhar, e não queria admitir de forma alguma que não estava funcionando mais.
Mas, acabou mesmo, e porisso a forma perfeita de terminar foi a muralha da China.
[A Caminhada da Grande Muralha (1988). Começando em lados opostos da Grande Muralha da China, Maria e Ulay se encontraram no meio, depois de andar por 90 dias.]
Eu acabei de andar na muralha da China e falei adeus ao meu parceiro Ulay.
E foi um dos momentos mais dolorosos da minha vida e tudo desabou comigo.
Meu trabalho e minha vida pessoal. Eu estava no fundo do poço.
E quando só queria rir. Eu queria rir, eu queria estar viva de novo. Eu queria ser feliz novamente.
Eu só queria ser uma fêmea novamente.
Quando eu terminei a muralha da China, eu não tinha que provar mais nada para ninguém.
E aquele foi mesmo o ponto da virada para mim,
quando eu disse, "ok, eu acho que sou uma artista boa. Eu posso me divertir e curtir a moda."
E isso foi outra liberação. E eu acho mesmo que tudo bem. Eu não tenho vergonha disso.
Que é vaidade total. E isso mostra a contradição.
Porque, sim, eu posso sentar num museu, no MoMA, por 736 dias em uma apresentação extremamente difícil.
E daí, no dia seguinte Givenchy organizou um jantar de moda, em que eu usei este vestido incrível,
Criado por Riccardo Tisci, e a jaqueta foi feita com 101 peles de cobra.
Pelo menos eu tenho certeza de que elas morreram mortes naturais, mas deixa pra lá.
Sabe, receber toda essa atenção da moda com 65 anos é muito diferente.
Quando você faz isso com 20 anos, é de algum jeito natural.
Mas agora eu tenho 65. E eu estava na capa da revista V, em fashion.
O que é muito mais divertido, porque de alguma forma aumenta a minha confiança em mim mesma.
O que eu nunca tive muito como mulher. Como artista, sim.