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Title:
O programa espacial da Índia vale o dinheiro?
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Description:
A missão para Marte da Índia é uma tentativa de se tornar a quarta nação e o primeiro país asiático a chegar ao planeta vermelho e um estágio de grande orgulho nacional. Ela será completada por pouco mais de 70 mil dólares, uma fração minúscula da quantia gasta pela NASA em programas semelhantes. No entanto, é sensato gastar qualquer recurso em uma missão para Marte enquanto centenas de milhões de indianos lutam para conseguir as necessidades básicas?
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Um, dois, três, quatro:
decolar.
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No início de novembro, a Índia
lançou um foguete de 320t
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em uma missão
para Marte.
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Se correr como planejado,
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a espaçonave viajará
780 milhões de km
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em mais de dez meses e entrará
em órbita ao redor de Marte
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em setembro.
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Os Estados Unidos,
a antiga União Soviética
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e a Agência Espacial Europeia
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são os únicos a realizar
tal feito.
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É uma tarefa desafiadora e complexa.
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O dr. K. Radhakrishnan
é o diretor
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da Organização de Pesquisa
Espacial da Índia.
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Ele foi um dos engenheiros
que observou
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quando o Mangalyaan, ou
"nave de Marte" em hindi,
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foi lançada.
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A sonda estudará
atmosfera de Marte
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e buscará por vestígios
de metano,
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que poderia ser um sinal
de vida prévia.
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Sabe-se muito sobre Marte,
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mas há muitas questões a serem
entendidas e com precisão.
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A missão a Marte é fonte
de imenso orgulho nacional,
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mas pode sinalizar uma nova
corrida espacial asiática,
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e levantou debate
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sobre os benefícios
de explorar outro planeta,
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quando muitos indianos lutam
por necessidades básicas.
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Embora exista
a quase 50 anos,
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o fato de a Índia ter
um programa espacial
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é desconhecido pela maior
parte do mundo.
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Mas desde o começo, a Índia
não só lançou missão a Marte,
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como mandou uma sonda à Lua,
construiu e lançou 70 satélites
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que fazem tudo, desde medir
os recursos de água
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até habilitar comunicação
móvel no interior da Índia.
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Radhakrishnan diz que,
a princípio,
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o programa espacial da Índia
serve para melhorar a vida
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de 1,2 bilhões de indianos.
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Uma missão difícil
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é prever onde e quando
a tempestade atingirá a terra
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para que o povo em risco
possa ser protegido.
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Em 1999, quando uma forte
tempestade atingiu
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o litoral leste, mais
de 10 mil pessoas morreram.
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Mas há alguns meses,
quando outra tempestade
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atingiu a mesma área,
apenas 21 morreram.
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Quase um milhão
havia sido evacuada
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após o aviso prévio
dos satélites indianos.
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Parte desse uso de satélites
de observação
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é para fornecer serviços
ao pescador, fazendeiro
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e administrador
da agricultura.
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Como entender a atmosfera
de Marte ou se há metano
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ajuda os empreendedores
na Índia?
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Não é diretamente;
entender a atmosfera de Marte
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não os ajudará
de forma imediata e direta.
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Mas diz que a tecnologia
da missão de Marte ajudará
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a melhorar os satélites
que o país ainda lançará,
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que beneficiarão diretamente
cidadãos comuns.
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Além dos benefícios
científicos tangíveis,
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o feito de enviar
um foguete a Marte
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tem sido um grande
orgulho para o país.
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Enquanto a espaçonave
deixava a órbita da Terra,
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os indianos foram ao Twitter
expressar a animação,
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uma questão repetida
pelo dr. Radhakrishnan,
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que diz que a missão
inspirou a nação.
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As pessoas ficam acordadas
à noite para ver
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o progresso das operações
da nave.
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Se você pode transformar
tantas mentes jovens,
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e eles dizem “precisamos
trabalhar com ciência”,
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é uma grande transformação
para o país e para o futuro.
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Trabalhar para a agência
espacial é prestigioso.
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Centenas de milhares
de engenheiros
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se inscreveram para poucas
centenas de vagas.
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O orgulho também é,
em parte, pelo pouco
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que a Índia gasta
para explorar o espaço.
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A missão de Marte custa
4,5 bilhões de rupias,
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ou pouco mais
de 700 milhões de dólares.
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Compare à missão Maven,
uma sonda da NASA similar
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que está atualmente
em direção a Marte.
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Custa quase
10 vezes mais.
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Alcançam essas economias,
em parte, porque
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o trabalho é mais barato.
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O programa da Índia
recicla e adapta componentes
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como veículos de lançamento
e constrói menos modelos,
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contando com ensaio virtual.
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Mas gastar dinheiro
com exploração espacial
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é polêmico.
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A Índia ainda é emergente,
onde quase 1/3 do povo,
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cerca de 400 milhões, vive
com menos de $1,25 por dia.
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Brinda Adige
dirige uma ONG
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chamada Global Concerns India,
focada em mulheres e crianças
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da zona pobre de Bangalore,
a menos de 16km da agência.
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Ela diz que ficou triste
quando soube da missão.
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De um lado,
muito dinheiro é gasto
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para mandar um foguete
para o espaço,
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quando sabemos que na Terra,
no meu país, há crianças
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morrendo todos os dias
porque não têm comida.
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Muitos indo embora,
passando dia e noite
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sem eletricidade,
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sem estradas, educação
e proteção para mulheres
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e meninas nesse país.
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Crê que, se não gastassem
o dinheiro no satélite,
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o gastariam com os problemas
das mulheres e meninas?
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Não. Eles não gastariam.
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A prioridade deles não é
olhar para crianças,
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mulheres, seres humanos
que precisam de necessidades
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básicas só para viver.
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Você não é contra a ciência,
apenas contra as prioridades.
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Isso.
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Adige juntou um grupo
de mulheres da zona pobre
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que dividem algumas
das mesmas preocupações.
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Perguntei se, com os milhões
gastos na missão para Marte,
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que tipo de impacto
o dinheiro teria nessa área.
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Elas descreveram muitos problemas
incluindo estradas ruins,
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acesso precário a hospitais,
alto custo da educação
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e reclamaram
dos problemas sanitários
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como vazamento de esgoto
após as chuvas
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e falta de água potável.
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Uma dessas mulheres, Minoja,
cozinheira de parte mais rica,
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nos levou à casa da sogra
e mostrou
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a água contaminada
que sai das torneiras.
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Essa água tem um cheiro
horrível.
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Cheirava a ranço.
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É a água pela qual
as famílias pagam.
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Elas têm que gastar mais
em carros-pipa;
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dinheiro que não têm.
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Mas o dr. Radhakrishnan
defende a verba do programa.
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No total, cerca de um bilhão
de dólares por ano.
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A nível global, o programa
é incrivelmente barato.
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A nível local, é difícil
para o povo compreender,
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em Bangalore ou outro lugar,
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tanto dinheiro indo
para um planeta diferente.
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A questão é discutível
quando se fala do um bilhão
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que gastamos por ano.
Oferece benefícios ao povo?
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O espaço mexe com a vida
de cada um desse país.
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Radhakrishnan aponta
que todo o programa
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responde por 0,3%
da verba nacional.
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Os números podem facilitar
justificar o objetivo maior:
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competir
com outro superpoder.
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Mês passado, a China se tornou
o terceiro país depois dos EUA
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e da antiga União Soviética
a pisar na lua
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e a China concluiu com êxito
vôos espaciais tripulados,
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um feito distante
para a Índia.
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Quanto a Marte, a Índia poderia
ser melhor que o vizinho.
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A competição é um incentivo
que a Índia não quer admitir.
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Em novembro de 2011,
uma missão conjunta
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da China e da Rússia falhou.
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Tem pressão política
para seguir a China?
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Cada país tem suas prioridades,
suas visões para o programa.
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A Índia tem a dela.
A China tem a dela.
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Estamos indo atrás da nossa.
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Não importa quando a China
faz o que faz?
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Ela faz o programa dela
e nós fazemos o nosso.
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Mas logo após a falha da China
o primeiro ministro disse:
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“Essa é a nossa prioridade.
Vamos para Marte.”
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Novembro de 2013
é uma época oportuna
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para uma missão a Marte. Isso
só acontece a cada 26 meses.
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Enquanto a data de lançamento
aproveitava quando a distância
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entre os planetas estivesse menor,
para críticos como Brinda Adige,
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isso é simplesmente
uma corrida espacial.
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Você foi a Marte.
Agora eu também tenho que ir.
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Você foi à Lua? Eu também
tenho que ir para ver
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se tem água na Lua ou não.
Se o meu povo desse país
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tem água potável ou não
é uma dúvida.
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A pergunta surge:
“para quê?”.
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Para administradores como
O dr. Radhakrishnan, o sucesso
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na missão é outro passo
para ajudar o mundo a ver
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o planeta vermelho
e a Índia de um novo jeito.