Por que é tão difícil falar sobre "a palavra com N"
-
0:01 - 0:03Quando ela mencionou a palavra,
-
0:03 - 0:06o silêncio na sala de aula
foi ensurdecedor. -
0:07 - 0:11Normalmente meus alunos
ficam supervidrados em mim, -
0:11 - 0:14mas se viraram e olharam pro outro lado.
-
0:15 - 0:17Eu sou negra
-
0:17 - 0:21e dou aulas sobre o racismo
e a escravidão nos EUA. -
0:22 - 0:26Sei que minha identidade social
está sempre em evidência. -
0:26 - 0:29Meu alunos também são vulneráveis,
então sou cautelosa. -
0:30 - 0:34Tento prever que parte da minha aula
pode acabar sendo problemática. -
0:34 - 0:37Mas, sinceramente,
essa eu não pude prever. -
0:38 - 0:41Minha pós-graduação
não me preparou pra saber o que fazer -
0:41 - 0:43quando essa palavra surgisse
em minha aula. -
0:44 - 0:46Era meu primeiro ano dando aula
-
0:46 - 0:49quando a aluna disse
essa palavra durante a aula. -
0:50 - 0:52Ela não estava xingando ninguém.
-
0:53 - 0:55Estava empolgada e com brilho nos olhos.
-
0:56 - 0:58Ela vinha para as aulas
com suas leituras feitas, -
0:58 - 1:00sentava-se na primeira fileira
-
1:00 - 1:02e sempre estava no meu grupo.
-
1:04 - 1:05Quando disse a palavra,
-
1:05 - 1:07ela estava fazendo um comentário
sobre minha aula, -
1:07 - 1:12usando uma citação
de um filme de comédia dos anos 1970 -
1:12 - 1:13que tinha dois xingamentos racistas:
-
1:14 - 1:16um sobre pessoas de descendência chinesa
-
1:16 - 1:18e outro com a palavra com N.
-
1:19 - 1:23Assim que ela disse aquilo,
levantei as mãos e disse: "Epa, epa". -
1:23 - 1:27Mas ela me garantiu:
"É uma piada do filme 'Banzé no Oeste'", -
1:27 - 1:29e repetiu a piada.
-
1:30 - 1:32Isso aconteceu dez anos atrás,
-
1:32 - 1:35e a forma como lidei com isso
me incomodou por muito tempo. -
1:36 - 1:39Não era a primeira vez
que eu pensava sobre a palavra -
1:39 - 1:40num ambiente acadêmico.
-
1:40 - 1:43Sou professora de história dos EUA.
-
1:43 - 1:46Ela está em muitos dos textos que ensino.
-
1:46 - 1:47Então, tive que fazer uma escolha.
-
1:49 - 1:50Depois de falar com alguém de confiança,
-
1:50 - 1:52decidi nunca repeti-la,
-
1:52 - 1:54nem mesmo em citações.
-
1:54 - 1:58Em vez disso, decidi usar
o eufemismo "a palavra com N". -
1:59 - 2:02Até mesmo essa decisão foi complicada.
-
2:02 - 2:04Eu ainda não tinha estabilidade
-
2:04 - 2:07e temia que colegas mais antigos pensassem
-
2:07 - 2:10que, por usar o eufemismo,
eu não fosse uma professora séria. -
2:11 - 2:14Mas dizer a palavra de fato
me parecia ainda pior. -
2:15 - 2:19O incidente em minha aula me forçou
a publicamente lidar com a palavra, -
2:20 - 2:22a história, a violência,
-
2:22 - 2:24mas também...
-
2:25 - 2:30a história, a violência, mas também
sempre que a direcionaram a mim, -
2:30 - 2:32ou a falaram na minha presença,
-
2:32 - 2:35ou sempre que ela parou
na ponta da língua de alguém, -
2:35 - 2:38eu voltava imediatamente àquele dia,
-
2:38 - 2:40bem diante dos meus alunos,
-
2:40 - 2:42e não sabia o que fazer.
-
2:44 - 2:49Então, passei a chamar histórias
como a minha de "experiências". -
2:50 - 2:52Uma experiência descreve o momento
-
2:52 - 2:55em que você teve que encarar
a palavra com N. -
2:56 - 3:00Se você já se sentiu perplexo
ou provocado pela palavra, -
3:00 - 3:03seja como resultado
de uma situação social embaraçosa, -
3:03 - 3:06uma conversa acadêmica desconfortável,
-
3:06 - 3:08algo que tenha ouvido na cultura popular,
-
3:08 - 3:11ou se você já foi chamado disso
-
3:11 - 3:13ou presenciou alguém ser chamado disso,
-
3:13 - 3:16você teve uma experiência.
-
3:16 - 3:19Dependendo de quem você seja
e como esse momento acontece, -
3:19 - 3:22você pode ter uma série
de reações diferentes. -
3:22 - 3:24Você pode ficar um pouco confuso,
-
3:24 - 3:27ou se sentir incrivelmente
magoado e humilhado. -
3:28 - 3:32Já tive várias dessas
experiências em minha vida, -
3:32 - 3:34mas uma coisa é verdade:
-
3:34 - 3:37não há muito espaço
para se falar sobre eles. -
3:40 - 3:44Aquele dia na minha aula
foi bem parecido com todas as vezes -
3:44 - 3:47em que tive uma discussão indesejada
com a palavra com N: -
3:47 - 3:48eu congelei.
-
3:49 - 3:51É difícil falar sobre a palavra com N.
-
3:53 - 3:56Uma das razões de ser tão difícil
falar sobre a palavra com N -
3:56 - 3:59é que normalmente só se fala
sobre ela de uma forma, -
3:59 - 4:00como figura de linguagem.
-
4:00 - 4:04Ouvimos isso o tempo todo, não?
"É só uma palavra". -
4:04 - 4:07A grande pergunta
que circula pelas redes sociais -
4:07 - 4:10é quem pode ou não pode dizê-la.
-
4:11 - 4:15O intelectual negro Ta-Nehisi Coates
faz um trabalho inovador -
4:15 - 4:17na defesa do uso da palavra
pelos afro-estadunidenses. -
4:17 - 4:19Por outro lado, Wendy Kaminer,
-
4:19 - 4:22defensor da liberdade
de expressão dos brancos, -
4:22 - 4:24afirma que, se todos
simplesmente não a dissermos, -
4:24 - 4:26estaremos dando poder à palavra.
-
4:26 - 4:28E muita gente acha o mesmo.
-
4:29 - 4:31O Pew Center recentemente
entrou nesse debate. -
4:32 - 4:37Numa pesquisa chamada
"Racismo nos EUA 2019", -
4:37 - 4:40os pesquisadores perguntaram
a adultos estadunidenses se achavam normal -
4:41 - 4:43uma pessoa branca dizer a palavra com N.
-
4:43 - 4:47Setenta por cento de todos
os adultos disse: "Jamais". -
4:48 - 4:50Esses debates são importantes,
-
4:51 - 4:53mas eles na verdade ofuscam outra coisa:
-
4:53 - 4:57eles nos impedem de chegarmos
ao cerne da questão, -
4:58 - 5:00que é o fato de que a palavra
com N não é só uma palavra. -
5:01 - 5:06Ela não deriva exatamente
de um passado racista, -
5:06 - 5:08como uma lembrança da escravidão.
-
5:09 - 5:15Na realidade, a palavra com N
é uma ideia disfarçada de palavra: -
5:16 - 5:19a de que os negros são intelectualmente,
-
5:19 - 5:20biologicamente
-
5:20 - 5:24e imutavelmente inferiores aos brancos.
-
5:25 - 5:28Eu acredito - e essa é
a parte mais importante - -
5:29 - 5:33que essa inferioridade significa dizer
que a injustiça que sofremos -
5:33 - 5:34e a desigualdade que vivemos
-
5:34 - 5:36seria basicamente culpa nossa.
-
5:39 - 5:42Então, pois é...
-
5:49 - 5:52Falar da palavra apenas
como um xingamento racista -
5:52 - 5:56ou como algo obsceno no hip hop
-
5:56 - 5:59faz parecer como se fosse uma doença
-
5:59 - 6:01nas cordas vocais estadunidenses
-
6:01 - 6:03que pode ser simplesmente arrancada.
-
6:03 - 6:06Não é, não pode ser.
-
6:07 - 6:09Aprendi isso falando com meus alunos.
-
6:10 - 6:13Então, na aula seguinte,
-
6:13 - 6:14pedi desculpas
-
6:14 - 6:17e fiz um pronunciamento.
-
6:17 - 6:19Eu adotaria uma nova postura.
-
6:20 - 6:24Os alunos veriam a palavra
nos meus eslaides, -
6:24 - 6:27nos filmes, nos textos que lessem,
-
6:27 - 6:32mas jamais diríamos
a palavra na sala de aula. -
6:33 - 6:35Ninguém jamais a pronunciou de novo,
-
6:35 - 6:37mas também não aprenderam muita coisa.
-
6:38 - 6:40Depois, o que mais me incomodava
-
6:40 - 6:43era que eu sequer
havia explicado aos alunos -
6:43 - 6:47por que, de todas as palavras vãs
e problemáticas da língua inglesa, -
6:47 - 6:51essa palavra em particular
tinha tratamento especial, -
6:51 - 6:54o termo substituto "a palavra com N".
-
6:54 - 6:56A maioria dos meus alunos,
-
6:56 - 7:00dos quais a maior parte nascera
a partir do fim da década de 1990, -
7:00 - 7:06sequer sabia que o termo "a palavra com N"
é relativamente recente na língua inglesa. -
7:06 - 7:09Na minha infância, ele não existia.
-
7:10 - 7:14Mas, no fim dos anos 1980,
-
7:14 - 7:18alunos universitários, escritores
e intelectuais negros -
7:18 - 7:24cada vez mais começaram a falar
sobre os ataques racistas que sofriam. -
7:25 - 7:28Conforme falavam dessas histórias,
-
7:28 - 7:31foram cada vez mais
deixando de usar a palavra. -
7:32 - 7:34Passaram a reduzi-la a apenas "N",
-
7:34 - 7:36e passaram a usar o termo
"a palavra com N". -
7:37 - 7:39Sentiam que, sempre
que a palavra era pronunciada, -
7:39 - 7:43abria velhas feridas
e, portanto, se recusavam a dizê-la. -
7:43 - 7:47Sabiam que quem os escutasse
ouviria a palavra real em sua mente. -
7:47 - 7:49Mas a questão não era essa.
-
7:49 - 7:52A questão é que não queriam
a palavra em sua própria boca -
7:52 - 7:54ou ressoando no ar.
-
7:55 - 7:57Fazendo isso,
-
7:57 - 8:01fizeram o país inteiro
começar a hesitar em dizê-la. -
8:03 - 8:06Foi uma decisão tão radical
-
8:07 - 8:09que as pessoas ainda se chateiam com isso.
-
8:11 - 8:15Críticos acusam aqueles que usam
o termo "a palavra com N" -
8:16 - 8:20ou pessoas que ficam indignadas
só por a palavra ser dita -
8:20 - 8:22de serem sistemáticos demais,
-
8:22 - 8:24politicamente corretos
-
8:24 - 8:27ou, como li há algumas semanas
no The New York Times, -
8:27 - 8:29"insuportavelmente conscientes".
-
8:29 - 8:30Pois é.
-
8:30 - 8:33Então, eu também acreditei
um tanto nessa ideia, -
8:33 - 8:37razão pela qual, quando dei
aquela aula novamente, -
8:37 - 8:40propus um debate
sobre liberdade de expressão: -
8:41 - 8:46"Você é a favor ou contra
a palavra com N no meio acadêmico?" -
8:47 - 8:50Eu tinha certeza de que os alunos
se interessariam em debater -
8:50 - 8:53sobre quem pode ou não pode dizê-la.
-
8:54 - 8:55Mas não foi assim.
-
8:57 - 8:58Na verdade,
-
9:00 - 9:03meus alunos começaram a confessar.
-
9:05 - 9:09Uma aluna branca de Nova Jersey
falou sobre não ter feito nada -
9:09 - 9:12enquanto um aluno negro em sua escola
sofria bullying com essa palavra. -
9:12 - 9:15Ela não fez nada e, anos depois,
ainda carregava aquela culpa. -
9:17 - 9:19Outro aluno de Connecticut
-
9:20 - 9:25falou sobre a dor de romper
uma relação muito próxima com um familiar -
9:25 - 9:29porque esse familiar se recusava
a parar de usar essa palavra. -
9:31 - 9:36Uma das históricas mais marcantes
veio de uma aluna negra muito reservada -
9:36 - 9:37da Carolina do Sul.
-
9:37 - 9:39Ela não entendia por que tanta polêmica.
-
9:40 - 9:43Ela contou que todos
em sua escola diziam a palavra. -
9:44 - 9:48Ela não se referia a alunos xingando
uns aos outros nos corredores. -
9:49 - 9:53Ela explicou que, em sua escola,
-
9:53 - 9:59quando professores e diretores
se aborreciam com um aluno negro, -
9:59 - 10:02eles chamavam esse aluno
usando a palavra com N. -
10:03 - 10:06Ele disse que isso
não a incomodava nem um pouco. -
10:06 - 10:08Mas, alguns dias depois,
-
10:08 - 10:12ela me procurou
durante o intervalo e chorou. -
10:14 - 10:15Ela achava que estava imune.
-
10:16 - 10:18Mas percebeu que não estava.
-
10:20 - 10:22Nos últimos dez anos,
-
10:22 - 10:26ouvi literalmente centenas
de histórias como essas -
10:26 - 10:29de todos os tipos de pessoas,
de todas as idades; -
10:29 - 10:33pessoas na casa dos 50 se lembrando
de histórias da segunda série -
10:33 - 10:34e, quando tinham 6 anos,
-
10:34 - 10:38ou chamavam ou eram chamados
pela palavra com N, -
10:38 - 10:43mas carregavam isso
por todos esses anos, sabe. -
10:43 - 10:48Enquanto eu ouvia pessoas
falarem sobre suas experiências, -
10:48 - 10:52o padrão que percebi como professora
e que achei mais perturbador -
10:52 - 10:57é que o lugar mais complicado
para essas experiências -
10:57 - 10:59é a sala de aula.
-
11:00 - 11:05A maioria dos jovens estadunidenses
ouvir a palavra com N em sala. -
11:06 - 11:10Um dos livros mais utilizados
nas escolas secundárias nos EUA -
11:10 - 11:12é o de Mark Twain,
"As Aventuras de Huckleberry Finn", -
11:12 - 11:16no qual a palavra aparece
mais de 200 vezes. -
11:16 - 11:19E isso não é uma denúncia
contra "Huck Finn", especificamente. -
11:19 - 11:23A palavra aparece em muito
da literatura e da história estadunidense. -
11:23 - 11:26Está em toda a literatura
afro-estadunidense. -
11:26 - 11:29Mas eu ouço alunos dizerem
-
11:29 - 11:33que, quando a palavra
é dita durante uma aula -
11:33 - 11:36sem um debate e sem contexto,
-
11:36 - 11:41ela envenena todo
o ambiente da sala de aula, -
11:41 - 11:45e a confiança entre professor
e alunos se quebra. -
11:47 - 11:48Mesmo assim,
-
11:49 - 11:53muitos professores,
geralmente com a melhor das intenções, -
11:53 - 11:55ainda dizem a palavra com N em sala.
-
11:57 - 12:02Eles querem mostrar e enfatizar
os horrores do racismo nos EUA, -
12:02 - 12:05e usam a palavra para causar impacto,
-
12:06 - 12:12pois mencioná-la escancara o horror
do passado da nossa nação. -
12:12 - 12:14Mas eles se esquecem
-
12:14 - 12:18de que as ideias continuam latentes
em nosso tecido cultural. -
12:25 - 12:31A palavra de seis letras
é como uma cápsula de dor acumulada. -
12:33 - 12:35Toda vez em que ela é dita, sempre,
-
12:35 - 12:39libera-se no ambiente a ideia odiosa
-
12:39 - 12:42de que os negros são inferiores.
-
12:44 - 12:45Meus alunos negros me dizem
-
12:45 - 12:48que, quando a palavra é citada
ou dita em sala, -
12:48 - 12:52eles sentem como se estivessem
sob um enorme holofote. -
12:53 - 12:54Um dos meus alunos me contou
-
12:54 - 12:57que seus colegas eram como
ventiladores de pé, -
12:57 - 12:59virando-se pra avaliar a reação dele.
-
13:01 - 13:04Um aluno branco me disse
que, na oitava série, -
13:04 - 13:07quando a turma estava estudando
"O Sol é para Todos" -
13:09 - 13:10e lendo-o em voz alta na aula,
-
13:10 - 13:15ele ficou tão estressado
com o fato de ter que ler a palavra, -
13:16 - 13:19já que o professor insistia
que todos os alunos o fizessem, -
13:19 - 13:23que ele acabou passando
a maior parte da aula -
13:23 - 13:25se escondendo no banheiro.
-
13:26 - 13:27Isso é grave.
-
13:27 - 13:30Alunos em todo o país
-
13:30 - 13:33pensam em mudar de curso
ou abandonar disciplinas -
13:33 - 13:36por causa de abordagens equivocadas
em torno da palavra com N. -
13:36 - 13:40O problema de professores
falarem a palavra indiscriminadamente -
13:40 - 13:43chegou a um ponto tão crítico
-
13:43 - 13:47que levou a protestos em Princeton, Emory,
-
13:47 - 13:48na The New School,
-
13:48 - 13:51na Smith College, onde leciono,
-
13:51 - 13:53e na Williams College,
-
13:53 - 13:58onde recentemente alunos boicotaram
todo o Departamento de Língua Inglesa -
13:58 - 14:01por causa desse e de outros problemas.
-
14:01 - 14:04E esses são apenas os exemplos
que viraram notícia. -
14:05 - 14:07Trata-se de uma crise.
-
14:07 - 14:12Embora a reação estudantil
pareça um ataque à liberdade de expressão, -
14:12 - 14:15garanto a vocês que se trata
de um problema no ensino. -
14:16 - 14:21Meus alunos não têm medo
de materiais que contenham a palavra. -
14:21 - 14:23Eles querem estudar James Baldwin,
-
14:24 - 14:25William Faulkner
-
14:25 - 14:27e sobre o movimento dos direitos civis.
-
14:29 - 14:32Na verdade, suas histórias mostram
-
14:33 - 14:40que essa palavra é um elemento central
de suas vidas enquanto jovens nos EUA. -
14:41 - 14:42Está na música que curtem,
-
14:43 - 14:45na cultura popular que reproduzem,
-
14:45 - 14:47na comédia a que assistem,
-
14:47 - 14:50na TV e nos filmes,
-
14:50 - 14:52eternizada nos museus.
-
14:53 - 14:54Eles a ouvem nos vestiários da escola,
-
14:55 - 14:56no Instagram,
-
14:56 - 14:58nos corredores da escola,
-
14:58 - 15:01nas salas de bate-papo de jogos online.
-
15:01 - 15:04Está em toda parte de suas vidas.
-
15:04 - 15:09Mas eles não sabem refletir sobre ela,
nem sequer o que ela significa. -
15:10 - 15:14Nem eu entendia o significado da palavra,
até pesquisar sobre ela. -
15:15 - 15:17Fiquei chocada ao descobrir
-
15:17 - 15:21que a palavra foi incorporada
ao vocabulário pelos negros -
15:21 - 15:23como forma de protesto político
-
15:23 - 15:26não na década de 1970 ou 1980,
-
15:26 - 15:29mas já nos anos 1770.
-
15:29 - 15:32E eu gostaria de ter mais tempo pra falar
-
15:32 - 15:37sobre a longa e subversiva história
do uso da palavra por parte dos negros. -
15:37 - 15:38Mas vou dizer o seguinte:
-
15:39 - 15:41muitas vezes, meus alunos
me procuram e dizem: -
15:42 - 15:46"Entendo a origem horrenda
dessa palavra, e é a escravidão". -
15:47 - 15:49Eles estão certos, em parte.
-
15:50 - 15:54Essa palavra já existia
antes de ser usada como xingamento, -
15:54 - 16:00mas se tornou xingamento num momento
bem distinto da história dos EUA, -
16:00 - 16:05quando muitos negros
começaram a se tornar livres, -
16:05 - 16:08começando pelo norte dos EUA,
na década de 1820. -
16:08 - 16:10Em outras palavras,
-
16:10 - 16:15essa palavra é basicamente
uma agressão à liberdade negra, -
16:15 - 16:17à mobilidade negra
-
16:17 - 16:19e à aspiração negra.
-
16:20 - 16:21Até hoje,
-
16:21 - 16:25nada desencadeia tão rapidamente
o discurso da palavra com N -
16:25 - 16:28quanto uma pessoa negra
que afirma seus direitos, -
16:28 - 16:31ou que tem liberdade de ir e vir
ou de ser próspera. -
16:31 - 16:35Pensem nos ataques contra
Colin Kaepernick, quando ele se ajoelhou, -
16:35 - 16:38ou contra Barack Obama,
quando se tornou presidente. -
16:39 - 16:42Meus alunos querem conhecer essa história.
-
16:43 - 16:47Mas, quando fazem perguntas,
são repreendidos e aviltados. -
16:48 - 16:52Ao evitarmos falar sobre a palavra com N
-
16:52 - 16:56tornamos essa palavra um grande tabu,
-
16:56 - 16:59transformando-a em algo tão atormentante
-
16:59 - 17:04que, para todos os jovens estadunidenses,
seja qual for sua origem racial, -
17:05 - 17:09parte de se tornarem adultos tem a ver
com como lidar com essa palavra. -
17:09 - 17:12Tratamos conversas sobre ela
como o sexo antes da educação sexual. -
17:13 - 17:16Somos melindrosos, nós os silenciamos.
-
17:16 - 17:21Então, eles aprendem sobre ela
com amigos desinformados e boatos. -
17:22 - 17:24Queria pode voltar àquela aula aquele dia,
-
17:24 - 17:26enfrentar meu medo
-
17:26 - 17:30e falar sobre o fato
de que algo realmente aconteceu, -
17:30 - 17:32não só comigo e meus alunos negros,
-
17:32 - 17:34mas com todos nós.
-
17:35 - 17:37Sabe, eu acho
-
17:37 - 17:42que estamos todos conectados por nossa
incapacidade de falar sobre a palavra, -
17:42 - 17:45mas e se explorássemos nossas experiências
-
17:45 - 17:48e realmente começássemos
a falar sobre ela? -
17:49 - 17:52Hoje, tento criar condições
em minhas aulas -
17:52 - 17:55para que ocorram debates
abertos e francos sobre ela. -
17:55 - 17:58Uma dessas condições
é não mencionar a palavra. -
17:59 - 18:02Conseguimos falar sobre ela justamente
porque ela não é mencionada em sala. -
18:03 - 18:04Outra condição importante
-
18:04 - 18:07é que não transfiro aos meus alunos negros
-
18:07 - 18:10a responsabilidade de ensinar
a seus colegas sobre ela. -
18:10 - 18:11Essa função é minha.
-
18:11 - 18:13Então, eu vou preparada para a aula,
-
18:13 - 18:16mantenho o debate sob rédeas curtas,
-
18:17 - 18:20e vou armada com
o conhecimento da história. -
18:20 - 18:24Sempre faço a mesma pergunta aos alunos:
-
18:24 - 18:28"Por que é difícil falar
sobre a palavra com N?" -
18:28 - 18:31As respostas são impressionantes.
-
18:31 - 18:33Impressionantes.
-
18:34 - 18:36Porém, mais do que qualquer outra coisa,
-
18:36 - 18:42passei a ser profundamente consciente
das minhas próprias experiências, -
18:42 - 18:45da minha história pessoal
com essa palavra, -
18:45 - 18:48porque, quando a palavra
com N entra na escola, -
18:48 - 18:51ou em qualquer outro lugar,
-
18:51 - 18:56ela traz consigo toda a complexidade
da história do racismo nos EUA. -
18:57 - 18:58A história da nação
-
18:59 - 19:00e a minha própria história,
-
19:00 - 19:03aqui, agora,
-
19:04 - 19:05não há como ignorá-las.
-
19:06 - 19:08(Aplausos)
- Title:
- Por que é tão difícil falar sobre "a palavra com N"
- Speaker:
- Elizabeth Stordeur Pryor
- Description:
-
A professora universitária Elizabeth Stordeur Pryor faz uma análise séria e histórica de uma das palavras mais controversas da língua inglesa: a palavra com N. A partir de sua experiência pessoal, ela explica como a reflexão sobre nossos experiências com a palavra pode ajudar na promoção de debates construtivos e, principalmente, criar espaço para reformulação do ensino em torno da complexidade da história do racismo nos Estados Unidos da América.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:21
Leonardo Silva approved Portuguese, Brazilian subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Claudia Sander accepted Portuguese, Brazilian subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
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