Por que a humanidade está em crise? Se somos circundados de tanta beleza, de tanta força? Afinal, nós também somos natureza, certo? Esse questionamento me levou, nos últimos dez anos da minha vida, a estudar, em diferentes universidades e países do mundo, a relação entre ser humano e sustentabilidade. E percebi, em toda essa trajetória, que o problema está justamente naquilo que mais nos orgulha e que nos diferencia enquanto espécie: a nossa racionalidade. René Descartes, no século 17: "Penso, logo existo". Ele traz a razão como centro da existência humana e, a partir disso, tudo que é possível mensurar é o que é real. E essa visão de mundo foi importantíssima pra nossa humanidade. Trouxe desenvolvimento científico, tecnológico, cura de doenças, especialização científica. Porém essa visão também mostra seus limites. Vou trazer alguns exemplos. Sistema educacional formal. Nossa inteligência, como ela é mensurada? Quantitativamente, por notas. Estão vendo como esse paradigma permeia a nossa civilização até hoje. Porém grandes gênios da humanidade não se adequaram a essa forma de educação. Vou dar um exemplo. Já ouviram falar do Einstein? Pois é. O jovem pequenininho Einstein detestava decoreba: decorar geografia, francês, grego. Ele gostava de montar estruturas complexas com cartas de baralho de 14 andares. E os pais achavam que ele tinha problema. Então aqui a gente vê como essa forma de visão permeia a educação até hoje. Mas não está só nisso, está no nosso dia a dia. A beleza. A beleza é também mensurada: 90, 60, 90. Isso é ser belo. Critérios de mensuração, racionalidade pura. Porém, se a gente retomar uma das principais obras da humanidade, como a Mona Lisa, a gente vê uma outra forma, uma outra proporção. A graça existe nessa obra de arte. Então, eu não posso me considerar a partir de medidas. Então, o que eu percebi? Essa crise está muito relacionada a ver o homem a partir de uma única perspectiva. E nós precisamos resgatar o homem como um todo. Será que só a minha razão está correta? E todas as outras formas de conhecimento que eu tenho? Como a intuição, por exemplo. Eu não sei se vocês sabem. A intuição é real, ela existe. É uma forma de conhecimento humano. Os sonhos... aquele sonho, sonhado à noite, é uma das formas da intuição se manifestar. Nossa, mas nem sabia que isso servia pra alguma coisa. Pasmem, senhoras e senhores, que os sonhos contribuíram com grandes descobertas científicas. Então, o que eu venho trazer pra vocês? Como resgatar esse conhecimento? Paracelso foi um médico alquimista do Renascimento, e ele já dizia que o sonho é uma sabedoria humana de que a gente não se lembra enquanto está acordado. Inclusive, a gente ouve, no nosso dia a dia, mulheres que estão grávidas e sonham com o sexo de seus filhos e depois vão fazer o exame. Faz parte do dia a dia da humanidade. Mas, na Antiguidade, o sonho servia, inclusive, pra tomada de decisão. Generais, romanos, gregos e assim por diante. No século 2 d.C.... faz bastante tempo isso, gente... Artemidoro de Daldis escreve o primeiro livro de interpretação dos sonhos. Trazendo mais pra nossa época contemporânea, nós temos a psicologia, a psicanálise, a própria neurociência, com Freud e Jung, que resgatam esse conhecimento humano. Que pesquisas científicas se valeram desse conhecimento? Já ouviram? Já estudaram essa tabela, certo? Na escola. Pois é. Esse é um pesquisador russo: o Mendeleev. Era químico russo. E ele queria colocar os elementos químicos dentro de... categorizá-los. E ele, uma noite, sonhou com a tabela periódica. Quando ele acorda, ele formaliza. Sabiam disso? Outra descoberta: Niels Bohr foi um físico dinamarquês. Ele sonhou com a estrutura do átomo, e isso depois lhe trouxe o Prêmio Nobel de Física. E, senhoras e senhores, pasmem, o próprio René Decartes sonha com o seu método da racionalidade. Depois de três sonhos, ele descreve a sua obra, que, até hoje, permeia a nossa ciência. Ah, mas isso é só pra cientistas, só pra mentes privilegiadas. Não! Vou trazer um exemplo da minha terra, Rio Grande do Sul. Essa é a dona Paulina, essa senhora aqui. Dona Paulina era uma grande doceira. Adorava fazer doces. Uma noite, ela sonha com uma torta inusitada. Ela acorda, vai pra cozinha e faz essa receita. Isso foi na década de 80. Montou o negócio, a filha dela ajudou. Até hoje, esse negócio existe e se chama torta de sorvete autêntica. Quem já foi pro Sul conhece essa delícia. E faz muita gente feliz. O que eu estou querendo trazer com isso? É um conhecimento universal. Ele não depende de gênero, de raça, de profissão. É humano. E nós precisamos entender que essa forma de conhecimento existe. E ele é um conhecimento individual, mas ele, ao mesmo tempo, traz contribuição social, como na ciência, ou nessas delícias, que deixam a gente feliz também. Então, é do indivíduo e é da sociedade. E eu também, enquanto eu estudava fora isso, eu tive que me pesquisar. E como é essa realidade dentro de mim? Vou trazer um exemplo. Eu, há pelo menos dez anos, tomo decisões na minha vida baseada na minha intuição, e os sonhos me ajudam muito. Era 2014, eu estava preparando toda a documentação, pra fazer um doutorado sanduíche no exterior. Eu estava muito estressada. Não sabia se ia dar certo organizar toda a documentação. Uma noite, eu sonho que eu estou dentro de uma universidade moderna, cheia de vidros, e converso com uma professora em francês, e ela me entrega a chave do meu dormitório. No dia seguinte, quando eu acordo, eu digo pra mim mesma: "Soraia, vai dar tudo certo. Fica tranquila". O que eu faço? Eu paro de deslocar essa minha energia pro estresse, pra ansiedade, e simplesmente faço o que eu preciso fazer: organizar a documentação. Resultado: algumas semanas depois, o meu professor do Canadá me aceitou. Dois meses depois, estava com tudo aprovado e passei um período incrível de estudos em Montreal, que me ajudou muito, no nível acadêmico, científico, etc. Ou seja, vamos voltar a olhar pra dentro: o nosso mundo interior. A nossa educação é muito permeada na razão. Tem que fazer isto, tem que ser isso tem que ser aquilo, mas quem eu sou? Quando eu falo educação, educação formal, educação dentro de casa, ou nós... quem aqui é empresário? Educação, a pedagogia empresarial. Qual é o talento dessa pessoa? Nata, que, por vezes, ela nem conhece. Então, o que eu estou trazendo aqui? É um novo paradigma de unir razão e intuição. Não estou dizendo: "Sejamos apenas intuitivos". Não, senhores. Estou dizendo que, se aqueles cientistas não tivessem tido toda a bagagem de estudo e pesquisa, eles não teriam formalizado aquele sonho. Se a dona Paulina não soubesse cozinhar, ela não teria feito essa delícia. É necessário técnica, racionalidade, mas aliada àquilo que cada um tem dentro de si. Racionalidade sem intuição: mecanicismo. Intuição sem racionalidade é devaneio. Nós precisamos resgatar o ser humano como um todo. Não é só cabeça que manda, gente. A gente tem tanto conhecimento dentro da gente. Por que eu digo isso? Porque, a partir disso, nós vamos encontrar equilíbrio dentro de nós. Quem está em caos é a humanidade. Como é que um homem pode matar outro homem? Por que tanto caos no planeta? É a humanidade, não é a natureza. Já dizia Eva Sopher. Eva Sopher é um outro mito da cultura. Ela é alemã. Ela veio pro Brasil com dez anos, fugida da Segunda Guerra Mundial, e ela aqui encontrou a sua casa. E ela resgatou, recuperou todo o Teatro São Pedro, que é uma relíquia, uma pérola do Rio Grande do Sul, pra aqueles que conhecem, e hoje é um dos principais centros de cultura da América Latina. Ficou enorme. E ela resgatou, gente, a liderança dela. Ela tem 93 anos. Trabalha todo santo dia. E ela disse: "Sim, a intuição me ajuda muito na tomada de decisão". E nós, mulheres, estamos intrinsicamente ligadas à intuição. Só que a gente precisa ter coragem, coragem de entender esse mundo interno. A gente tem medo ou não acredita. Mas a ciência já demonstra e já pesquisa há séculos. Por que essa fala? Não é uma fala apenas de gênero. Nós, mulheres, somos muito vinculadas à intuição. Precisamos ter coragem de executá-la, porque essa é a nossa força. O empoderamento é interior. Quando a gente entende o nosso poder interno, fora, a gente faz tudo. Sobretudo, esse discurso é um discurso de humanidade. Se a humanidade permanecer apenas na razão, a gente vai encontrar os limites que a gente está encontrando hoje. Nós precisamos resgatar o nosso conhecimento íntimo, interior. É muita sabedoria. E cada um tem o seu. A partir disso, a gente vai encontrar equilíbrio interno e externo, inclusive nas relações de gênero e com o ambiente. A natureza se autossustenta. A natureza é sustentada por si só. E, pra que cada um de nós, enquanto humanos, pra que a gente entre nessa lógica, a gente precisa encontrar o nosso equilíbrio e a nossa natureza interna, a nossa sabedoria interior. Pra quê? Pra humanidade se tornar mais humanidade e entrar nessa lógica incrível de quando a gente está em contato com essa grande mãe chamada Terra. Obrigada, e essa é a minha mensagem de hoje. (Aplausos)