Um, dois, três, quatro: decolar. No início de novembro, a Índia lançou um foguete de 320t em uma missão para Marte. Se correr como planejado, a espaçonave viajará 780 milhões de km em mais de dez meses e entrará em órbita ao redor de Marte em setembro. Os Estados Unidos, a antiga União Soviética e a Agência Espacial Europeia são os únicos a realizar tal feito. É uma tarefa desafiadora e complexa. O dr. K. Radhakrishnan é o diretor da Organização de Pesquisa Espacial da Índia. Ele foi um dos engenheiros que observou quando o Mangalyaan, ou "nave de Marte" em hindi, foi lançada. A sonda estudará atmosfera de Marte e buscará por vestígios de metano, que poderia ser um sinal de vida prévia. Sabe-se muito sobre Marte, mas há muitas questões a serem entendidas e com precisão. A missão a Marte é fonte de imenso orgulho nacional, mas pode sinalizar uma nova corrida espacial asiática, e levantou debate sobre os benefícios de explorar outro planeta, quando muitos indianos lutam por necessidades básicas. Embora exista a quase 50 anos, o fato de a Índia ter um programa espacial é desconhecido pela maior parte do mundo. Mas desde o começo, a Índia não só lançou missão a Marte, como mandou uma sonda à Lua, construiu e lançou 70 satélites que fazem tudo, desde medir os recursos de água até habilitar comunicação móvel no interior da Índia. Radhakrishnan diz que, a princípio, o programa espacial da Índia serve para melhorar a vida de 1,2 bilhões de indianos. Uma missão difícil é prever onde e quando a tempestade atingirá a terra para que o povo em risco possa ser protegido. Em 1999, quando uma forte tempestade atingiu o litoral leste, mais de 10 mil pessoas morreram. Mas há alguns meses, quando outra tempestade atingiu a mesma área, apenas 21 morreram. Quase um milhão havia sido evacuada após o aviso prévio dos satélites indianos. Parte desse uso de satélites de observação é para fornecer serviços ao pescador, fazendeiro e administrador da agricultura. Como entender a atmosfera de Marte ou se há metano ajuda os empreendedores na Índia? Não é diretamente; entender a atmosfera de Marte não os ajudará de forma imediata e direta. Mas diz que a tecnologia da missão de Marte ajudará a melhorar os satélites que o país ainda lançará, que beneficiarão diretamente cidadãos comuns. Além dos benefícios científicos tangíveis, o feito de enviar um foguete a Marte tem sido um grande orgulho para o país. Enquanto a espaçonave deixava a órbita da Terra, os indianos foram ao Twitter expressar a animação, uma questão repetida pelo dr. Radhakrishnan, que diz que a missão inspirou a nação. As pessoas ficam acordadas à noite para ver o progresso das operações da nave. Se você pode transformar tantas mentes jovens, e eles dizem “precisamos trabalhar com ciência”, é uma grande transformação para o país e para o futuro. Trabalhar para a agência espacial é prestigioso. Centenas de milhares de engenheiros se inscreveram para poucas centenas de vagas. O orgulho também é, em parte, pelo pouco que a Índia gasta para explorar o espaço. A missão de Marte custa 4,5 bilhões de rupias, ou pouco mais de 700 milhões de dólares. Compare à missão Maven, uma sonda da NASA similar que está atualmente em direção a Marte. Custa quase 10 vezes mais. Alcançam essas economias, em parte, porque o trabalho é mais barato. O programa da Índia recicla e adapta componentes como veículos de lançamento e constrói menos modelos, contando com ensaio virtual. Mas gastar dinheiro com exploração espacial é polêmico. A Índia ainda é emergente, onde quase 1/3 do povo, cerca de 400 milhões, vive com menos de $1,25 por dia. Brinda Adige dirige uma ONG chamada Global Concerns India, focada em mulheres e crianças da zona pobre de Bangalore, a menos de 16km da agência. Ela diz que ficou triste quando soube da missão. De um lado, muito dinheiro é gasto para mandar um foguete para o espaço, quando sabemos que na Terra, no meu país, há crianças morrendo todos os dias porque não têm comida. Muitos indo embora, passando dia e noite sem eletricidade, sem estradas, educação e proteção para mulheres e meninas nesse país. Crê que, se não gastassem o dinheiro no satélite, o gastariam com os problemas das mulheres e meninas? Não. Eles não gastariam. A prioridade deles não é olhar para crianças, mulheres, seres humanos que precisam de necessidades básicas só para viver. Você não é contra a ciência, apenas contra as prioridades. Isso. Adige juntou um grupo de mulheres da zona pobre que dividem algumas das mesmas preocupações. Perguntei se, com os milhões gastos na missão para Marte, que tipo de impacto o dinheiro teria nessa área. Elas descreveram muitos problemas incluindo estradas ruins, acesso precário a hospitais, alto custo da educação e reclamaram dos problemas sanitários como vazamento de esgoto após as chuvas e falta de água potável. Uma dessas mulheres, Minoja, cozinheira de parte mais rica, nos levou à casa da sogra e mostrou a água contaminada que sai das torneiras. Essa água tem um cheiro horrível. Cheirava a ranço. É a água pela qual as famílias pagam. Elas têm que gastar mais em carros-pipa; dinheiro que não têm. Mas o dr. Radhakrishnan defende a verba do programa. No total, cerca de um bilhão de dólares por ano. A nível global, o programa é incrivelmente barato. A nível local, é difícil para o povo compreender, em Bangalore ou outro lugar, tanto dinheiro indo para um planeta diferente. A questão é discutível quando se fala do um bilhão que gastamos por ano. Oferece benefícios ao povo? O espaço mexe com a vida de cada um desse país. Radhakrishnan aponta que todo o programa responde por 0,3% da verba nacional. Os números podem facilitar justificar o objetivo maior: competir com outro superpoder. Mês passado, a China se tornou o terceiro país depois dos EUA e da antiga União Soviética a pisar na lua e a China concluiu com êxito vôos espaciais tripulados, um feito distante para a Índia. Quanto a Marte, a Índia poderia ser melhor que o vizinho. A competição é um incentivo que a Índia não quer admitir. Em novembro de 2011, uma missão conjunta da China e da Rússia falhou. Tem pressão política para seguir a China? Cada país tem suas prioridades, suas visões para o programa. A Índia tem a dela. A China tem a dela. Estamos indo atrás da nossa. Não importa quando a China faz o que faz? Ela faz o programa dela e nós fazemos o nosso. Mas logo após a falha da China o primeiro ministro disse: “Essa é a nossa prioridade. Vamos para Marte.” Novembro de 2013 é uma época oportuna para uma missão a Marte. Isso só acontece a cada 26 meses. Enquanto a data de lançamento aproveitava quando a distância entre os planetas estivesse menor, para críticos como Brinda Adige, isso é simplesmente uma corrida espacial. Você foi a Marte. Agora eu também tenho que ir. Você foi à Lua? Eu também tenho que ir para ver se tem água na Lua ou não. Se o meu povo desse país tem água potável ou não é uma dúvida. A pergunta surge: “para quê?”. Para administradores como O dr. Radhakrishnan, o sucesso na missão é outro passo para ajudar o mundo a ver o planeta vermelho e a Índia de um novo jeito.