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Pavadinimas:
Estamos morrendo errado | Ken Hillman |TEDxSydney
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Apibudinimas:
Como líder mundial no gerenciamento de cuidados de pessoas muito doentes, os métodos inovadores de Ken Hillman no tratamento de pacientes críticos tornaram-se padrão de referência na Austrália, EUA e Europa. Seu trabalho é manter as pessoas vivas, mas ele nos pede que questionemos se isso é sempre algo bom.
Ken Hillman é professor de Terapia Intensiva na Universidade de New South Wales. Graduou-se pela Universidade de Sydney e trabalhou no Hospital de St Vincent em Sydney antes de continuar seu treinamento no Hospital St Bartholomew, em Londres. Foi diretor da Unidade de Terapia Intensiva no Hospital Charing Cross em Londres, antes de voltar para a Austrália, onde clinica na UTI do Hospital Liverpool, em Sydney.
Ele publicou mais de 150 artigos revisados por pares, assim como escreveu muitos capítulos e editou vários livros. Ken escreveu o livro "Vital Signs" destinado ao público leigo, que fala sobre o que realmente acontece na terapia intensiva. Ele está prestes a publicar outro livro sobre o processo de envelhecer, morrer e a morte.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
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Esta é uma foto minha com meu avô,
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nos anos 50, andando por Sidney.
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Alguns anos depois, por volta de 1959,
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meu avô morreu em casa confortavelmente,
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sob os cuidados de seu clínico geral.
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Esta palestra é sobre
a morte e sobre morrer,
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e é tarde demais para ir embora,
as portas estão trancadas.
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(Risos)
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Mas é sobre a morte e o morrer
quando se está muito idoso,
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naturalmente e chegando
normalmente ao final da vida.
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Então, por que meu avô
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pôde morrer em casa com muito conforto,
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mas com a minha mãe, 25 anos depois,
a história foi muito diferente?
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Eu vou chegar lá.
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Uma das razões foi que naquele tempo,
na valise do clínico geral,
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não havia nem mais, nem menos do que
o que se podia encontrar nos hospitais.
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Isso não faz muito tempo.
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Hospital era aonde você ia
se estivesse doente,
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mas se fosse pobre também,
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e se sentava na cama
para ser muito bem cuidado,
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e algumas vezes melhorava, e outras não.
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Podemos ver isso nos filmes da época,
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se alguém se ferisse na rua,
se levasse um tiro ou uma facada,
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um espectador gritaria:
"Rápido! Chamem um médico!"
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Alguns anos depois, o espectador diria:
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"Rápido! Chamem uma ambulância!"
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Então, o que estava mudando nos hospitais?
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Foi no início dos anos 60,
e houve uma explosão de tecnologia,
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maneiras maravilhosas de fazer
imagens de cada parte do corpo,
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cirurgias complexas,
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dividimos o corpo em "-ologias":
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neurologia, cardiologia,
gastrenterologia, etc.,
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e os cirurgiões também dividiram o corpo
em partes diferentes para trabalhar
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e deram nomes diferentes a elas.
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E claro, havia a terapia intensiva.
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E 25 anos depois que meu avô morreu,
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me tornei especialista
em terapia intensiva,
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num grande hospital-escola de Londres.
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E achei que poderia manter
as pessoas vivas para sempre.
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Esse foi o início da terapia intensiva.
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Achava que não havia limites
para o que podíamos fazer.
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E de muitas formas, em alguns
casos, não havia mesmo.
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Se havia um cérebro e um fígado
relativamente normais,
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eu conseguia manter o resto funcionando.
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Naquela época eu tinha
seis leitos na terapia intensiva.
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Hoje trabalho numa unidade de terapia
intensiva que tem 40 leitos.
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Quatro mil dólares australianos
por paciente, por dia.
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Mas não foi só o número
de leitos que mudou,
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mudou também o tipo de pacientes
que tratamos hoje na terapia intensiva.
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Muitos têm acima de 60 anos,
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muitos têm 80, 90 anos,
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e muitos deles estão em seus
últimos dias ou semanas de vida.
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Então, como isso aconteceu?
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Bem, é como uma esteira rolante.
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Com meu avô, ele adoeceu na comunidade,
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esperava-se que ele fosse
tratado e cuidado em casa.
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Se ficarmos doentes na comunidade hoje,
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quase sempre chamamos a ambulância.
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É muito assustador quando
alguém fica muito doente.
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A ambulância leva o doente
ao pronto-socorro mais próximo.
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Prontos-socorros são
altamente estressados.
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Eles ressuscitam, estabilizam,
e deixam o doente pronto
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para ser admitido no hospital.
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E então a pessoa fica até
mais doente no hospital.
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E cá estou eu, no final
da esteira rolante,
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na UTI, esperando pelo doente.
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Esta é a foto da minha mãe
e de meus irmãos e irmãs.
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Para minha mãe, não foi igual
ao que aconteceu com meu avô.
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Nos seis últimos meses de sua vida,
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ela foi internada 22 vezes em hospitais
de cuidados intensivos.
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Não disseram a ela
exatamente o que ela tinha.
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As pessoas não lhe contaram
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que quando se fica mais velho,
as coisas começam a deteriorar,
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e ficamos mais doentes.
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Não lhe foi dada escolha sobre isso.
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Ela simplesmente ficou doente,
e foi colocada nessa esteira rolante,
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internada no hospital.
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Nessas situações tive de ser
o filho, não o médico,
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por isso não interferi em nenhuma decisão,
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até que, por fim, um médico
muito especial nos reuniu e disse:
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"Sua mãe está idosa, e está morrendo,
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e devemos deixá-la ir em paz".
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Foi um grande alívio para todos nós,
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e claro, foi um alívio para a minha mãe.
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Então, cerca de 48 h depois disso,
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minha mãe faleceu
de forma muito confortável.
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Do que minha mãe morreu?
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Bem, quando eu era residente,
podíamos escrever "velhice,"
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mas não podemos mais fazer isso.
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Temos de inventar um termo médico.
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Por exemplo,
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todos que morrem têm parada cardíaca,
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então escrevemos no prontuário
"doença cardiovascular".
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Por isso doença cardiovascular
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é a morte mais comum
em nossa comunidade.
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(Risos)
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O que mais me perturbava era
que a minha mãe sempre perguntava:
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"O que eu tenho, Ken?
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Se eles encontrassem meu problema,
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podiam tomar alguma providência".
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Isso é muito difícil de explicar
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porque quando ficamos
mais velhos, ficamos doentes,
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e é muito difícil dizer com certeza
o que está acontecendo.
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E também, a medicina
é baseada no diagnóstico.
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É isso que aprendemos por seis anos:
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o diagnóstico.
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Um simples diagnóstico.
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Hospitais são lugares maravilhosos
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se você tiver um problema
simples que pode ser curado.
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Entretanto, quando ficamos velhos,
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a combinação de todas as doenças
crônicas ou comorbidades,
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qualquer que seja a palavra medicalizada,
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acrescenta-se a algo
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para o qual ainda não temos
um nome ou um número.
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Gosto da palavra "debilidade".
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Porque vai ao encontro
do ponto de vista do paciente.
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Não é uma lista de termos medicalizados,
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é debilidade.
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E tenho certeza que muitos de vocês
na plateia conhecem pessoas idosas,
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e sabem o que acontece
quando se tornam ainda mais frágeis,
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Gosto muito dessa escala de debilidade
porque mostra ótimas figuras.
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Começando com o número um,
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estamos muito em forma
nos nossos 60, 70 anos,
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e depois gradualmente
ficamos mais e mais frágeis,
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mais e mais vulneráveis.
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Até que fica difícil nos locomovermos,
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até ficarmos muito mais vulneráveis.
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Então ficamos presos
a uma cadeira de rodas,
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e por fim, sem forças para sair da cama.
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Apesar de todas as especialidades
e todos os remédios
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e todas as coisas maravilhosas
que podemos fazer na medicina,
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a debilidade relacionada
à velhice não é curável.
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As palestras TED não são apenas sobre
o problema, também são sobre a solução.
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O que eu gostaria de falar para vocês
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é o que estamos tentando
fazer sobre isso em meu hospital.
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Não tem a ver com alta tecnologia
ou TI ou qualquer coisa do gênero.
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Não é nada chique,
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mas tenho o privilégio
de trabalhar em uma organização
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que tem a cultura de olhar
para as coisas de uma forma diferente,
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colocando o paciente no centro,
eliminando todas as outras coisas,
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e pensando como podemos
fazer isso da melhor forma.
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Então, acreditem ou não,
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médicos em hospitais acham muito difícil
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identificar pessoas
que estão no fim da vida.
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Eu sei que isso é
muito difícil de acreditar.
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Por isso estamos trabalhando
numa ferramenta que nos dê uma pista
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das pessoas que têm meses
ou talvez um ano de vida.
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Chama-se Crystal Tool.
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É muito simples, pode ser usada
pelas pessoas na cabeceira da cama.
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É só a combinação de coisas lógicas,
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como idade, a escala
de debilidade e coisas desse tipo.
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Com tudo que fazemos na medicina,
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existe uma incerteza.
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A incerteza é inerente à medicina.
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Vejamos por exemplo uma pessoa
de 20 anos com um tumor cerebral terminal:
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fazemos todos os testes,
e descobrimos que é terminal.
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Bem, a primeira coisa
que a pessoa quer saber é:
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"Quanto tempo de vida eu tenho?"
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Então, usando todos os dados coletados
de todos que têm esse tipo de tumor,
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podemos dizer: "Bem, talvez um ano.
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Podem ser seis meses.
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Podem ser dois anos.
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Talvez, em circunstâncias especiais,
podem ser três anos,
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mas a doença é terminal, e não
podemos fazer muito sobre isso".
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É a mesma coisa com os idosos.
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Algumas escalas como essa pelo menos
nos permitem avançar para a próxima fase.
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E a próxima fase não é
nenhum bicho de sete cabeças.
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Mas acreditem ou não,
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os médicos ficam muito desconfortáveis
de falar sobre a morte com os idosos.
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Não tenho muita certeza do porquê disso.
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A próxima etapa depois de identificar
essas pessoas, é iniciar a discussão
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de forma honesta e empática.
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A etapa seguinte também é sensata,
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mas acreditem ou não,
isso também não acontece.
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É empoderar os pacientes
e seus cuidadores com escolhas.
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Sermos honestos sobre a situação deles,
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quanto tempo de vida eles têm, e como
gostariam de viver esse tempo restante.
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Talvez queiram continuar
entrando e saindo de hospitais,
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talvez queiram o tratamento
mais agressivo disponível,
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mas pelo menos estaria
baseado em dados corretos
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e em formas corretas
para tomar uma decisão.
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Entretanto, descobrimos que muitas pessoas
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não querem ficar entrando
e saindo de um hospital
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já que sabem que não têm
muito tempo de vida.
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De fato, cerca de 70% das pessoas,
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neste país, nos EUA e no Reino Unido,
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dizem preferir morrer em casa
quando perguntam a elas.
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Isso contrasta
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com cerca de 70% de vocês
que morrerão na UTI, em hospitais.
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Então existe uma discrepância aqui,
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que meio que reforça o fato
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de que não estamos falando com as pessoas
sobre isso de forma adequada.
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As soluções a longo prazo
não estão nos hospitais.
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As soluções a longo prazo são coisas
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como colocar o médico da família
mais no centro dos cuidados,
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diretivas avançadas de cuidados,
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precisamos considerar isso
enquanto ainda conseguimos,
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falar com nossos familiares
e deixar isso por escrito.
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Mas também precisamos alocar
recursos e apoiar as pessoas,
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se elas forem morrer em casa,
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para que possam ser cuidadas,
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para que tenham assistência domiciliar.
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Gostaria de levantar uma controvérsia
e dizer que eu não acredito
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que os últimos meses ou o ano de vida
de uma pessoa muito idosa
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seja um desafio médico.
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Talvez se estiverem com dor,
ou desconfortáveis, claro.
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Mas muito disso é apoio da comunidade:
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ajudando os cuidadores,
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assegurando a limpeza da casa do idoso,
que tenha boa comida,
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que seja banhado
e todo esse tipo de coisas.
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Não são problemas médicos ou de saúde.
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A morte por velhice foi desvirtuada.
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Os pacientes são divididos
em órgãos individuais
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e tentamos aperfeiçoar e melhorar
esses órgãos individuas.
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É um pouco do que aconteceu
com os partos nos anos 50 e 60,
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que também foi desvirtuado.
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Mulheres em trabalho de parto
eram levadas ao hospital,
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amarradas, pernas abertas,
os bebês nasciam,
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eram colocados juntos com outros bebês,
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os pais não podiam ficar com as esposas,
nem podiam nem segurar o bebê.
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Era como se conduzia
um parto nos anos 50 e 60.
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Isso é similar ao que está acontecendo
com os idosos nesse momento.
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É assim que muitos de vocês morrerão:
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cercados por alta tecnologia,
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cuidados por pessoas bem-intencionadas,
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com muita expertise
em sua respectiva área.
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Também
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ouvimos sobre milagres
médicos quase todos os dias,
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o que é animador.
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Ouvimos sobre o que a saúde
e a medicina moderna podem fazer,
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mas não ouvimos muito sobre
o que a medicina moderna não pode fazer.
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Precisamos ser muito mais
honestos com nossa comunidade
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sobre as limitações da medicina moderna.
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Raramente passa um dia quando
faço a ronda das alas com os colegas
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e um de nós não diz: "Por favor,
nunca deixe isso acontecer comigo!"
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Essa é uma das decisões
mais importantes de sua vida.
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Você precisa ter o controle
sobre o fim de sua própria vida.
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Muito obrigado.
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(Aplausos)