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タイトル:
Todos os dias que vivemos, exercemos impacto no planeta
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概説:
A lendária primatóloga Jane Goodall diz que a sobrevivência da Humanidade depende da conservação do mundo natural. Em conversa com o presidente da TED Chris Anderson, ela conta a história dos seus dias de formação a trabalhar com chimpanzés, como é que a respeitada naturalista se transformou numa ativista dedicada, e como é que ela está a fortalecer comunidades ao redor do mundo para salvar "habitats" naturais.
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話者:
Jane Goodall, Chris Anderson
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Chris Anderson:
Dra. Jane Goodall, seja bem-vinda.
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Jane Goodall: Obrigada.
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Acho que não poderíamos
ter uma entrevista completa
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sem que as pessoas saibam
que o Sr. H está aqui comigo,
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porque toda a gente conhece o Sr. H.
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Na sua palestra TED de há 17 anos,
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a Dra. Jane alertou-nos para os perigos
da aglomeração humana no mundo natural.
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De alguma forma sente
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que a atual pandemia
é a Natureza a vingar-se?
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JG: É muito, muito claro
que estas doenças zoonóticas,
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como o coronavírus e o VIH/SIDA
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e todos os outros tipos de doenças
que nós apanhamos através dos animais,
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em parte, têm a ver
com a destruição do meio ambiente,
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pois, ao perderem o "habitat",
os animais ficam demasiado juntos,
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e às vezes, o que acontece é que
um vírus no reservatório de uma espécie,
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onde tem vivido harmoniosamente
durante talvez centenas de anos,
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passa para outras novas espécies,
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que depois entram em contato
mais próximo com as pessoas.
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E, às vezes, um desses animais
que tenha apanhado um vírus
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pode fornecer a oportunidade
para que o vírus entre nas pessoas
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e crie uma nova doença, como a COVID-19.
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E somado a isso,
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nós estamos a desrespeitar
muito os animais.
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Nós caçamo-los,
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nós matamo-los, nós comemo-los,
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nós traficamo-los,
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nós enviamo-los para
os mercados de animais selvagens
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na Ásia,
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onde eles vivem em péssimo estado,
apertados em gaiolas minúsculas,
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com pessoas a serem contaminadas
com sangue, urina e fezes,
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as condições ideias para um vírus
se espalhar de um animal para outro,
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ou de um animal para uma pessoa.
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CA: Eu gostaria de voltar atrás
no tempo só um pouco,
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porque a sua história é tão
extraordinária...
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Apesar de todas as possíveis
atitudes mais sexistas dos anos 60,
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de alguma forma a Jane foi capaz de inovar
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e de se tornar uma das cientistas
pioneiras no mundo,
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descobrindo essa espantosa
série de factos sobre os chimpanzés,
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como o uso de ferramentas, e muito mais.
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O que é que, na sua opinião, havia em si
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que lhe permitiu fazer
um avanço tão grande?
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JG: Bem, o facto é que eu nasci
a amar os animais,
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e a coisa mais importante foi
ter tido uma mãe muito compreensiva.
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Ela não ficava aborrecida
ao achar minhocas na minha cama,
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ela só dizia que era melhor
elas estarem no jardim.
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E não ficou aborrecida
quando desapareci por quatro horas,
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e, ao chamar a polícia,
encontraram-me sentada num galinheiro,
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porque ninguém me dizia
onde era o buraco por onde o ovo saia.
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Eu não tinha o sonho de ser cientista,
¶
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porque as mulheres
não faziam esse tipo de coisas.
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Na verdade, também não havia
nenhum homem a fazer isso.
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E toda a gente se riu de mim,
menos ela, que disse:
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"Se realmente queres isso,
terás de trabalhar muito,
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"aproveitar cada oportunidade,
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" e se não desistires, talvez
encontres uma maneira."
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CA: E de alguma forma, a Jane
ganhou a confiança dos chimpanzés
¶
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como mais ninguém conseguiu ganhar.
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Olhando para trás, qual foi o momento
mais excitante da sua descoberta
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ou o que é que as pessoas ainda
não entendem sobre os chimpanzés?
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JG: Bem, o ponto é o que diz:
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"Ver coisas que ninguém viu,
e ganhar a confiança deles."
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Ninguém tinha tentado.
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Sinceramente.
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Então, basicamente,
eu usei as mesmas técnicas
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que tinha para estudar os animais
perto da minha casa quando era criança.
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Sentando-me, pacientemente,
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sem tentar chegar muito perto
demasiado depressa,
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mas foi horrível, porque o dinheiro
só dava para seis meses.
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Ou seja, o Chris pode imaginar
como é difícil conseguir dinheiro
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para uma jovem sem formação
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ir fazer algo tão bizarro
como ficar sentada numa floresta.
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E, finalmente,
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nós conseguimos dinheiro para seis meses
de um filantropo norte-americano,
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e eu sabia que, com tempo,
eu ganharia a confiança dos chimpanzés,
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mas será que eu tinha tempo?
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As semanas viraram meses
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e, finalmente, ao fim
de cerca de quatro meses,
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um chimpanzé começou a perder o medo,
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e foi o que eu vi numa ocasião...
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Eu ainda não estava muito perto,
mas eu tinha binóculos...
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e eu vi-o usar e fazer ferramentas
para pescar térmitas.
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Embora eu não ficasse
assim tão surpreendida,
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por já ter lido o que os chimpanzés
em cativeiro conseguiam fazer,
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eu sabia que a ciência acreditava
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que os humanos, e apenas os humanos,
usavam e faziam ferramentas.
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E eu sabia o quão entusiasmado ficaria
o Dr. Louis Leakey.
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E foi essa observação
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que lhe permitiu ir à National Geographic,
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e eles disseram: "OK, nós continuaremos
a dar apoio a essa pesquisa,"
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e enviaram Hugo van Lawick,
o fotógrafo cineasta,
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para gravar o que eu estava a ver.
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Só que muitos cientistas não queriam
acreditar no uso de ferramentas.
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Na verdade, um deles disse que
eu devia ter ensinado os chimpanzés.
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Como eu não conseguia chegar perto deles,
isso teria sido um milagre.
¶
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Mas, enfim, assim que eles viram
o filme feito pelo Hugo,
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com todas as minhas descrições
dos comportamentos deles,
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os cientistas tiveram de começar
a mudar de opinião.
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CA: E desde então,
inúmeras outras descobertas
¶
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mostram os chimpanzés muito mais próximos
dos humanos do que eles queriam acreditar.
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Eu acho que a vi dizer certa vez
que eles têm sentido de humor.
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Como é que já viu a expressão disso?
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JG: Bem, isso vê-se
quando eles estão a brincar,
¶
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e há um maior a brincar com um pequeno
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que está a seguir uma videira
ao redor de uma árvore.
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De cada vez que o pequeno
está prestes a pegar-lhe,
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o maior empurra-o para longe,
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o pequeno começa a chorar
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e o maior começa a rir.
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Então, sabemos.
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CA: Mas, Jane, você observou
algo muito mais preocupante,
¶
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que foram os bandos de chimpanzés,
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tribos, grupos, a serem brutalmente
violentos uns com os outros.
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Eu estou curioso em saber
como é que a Jane processa isso.
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E se isso a deixou,
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não sei, um pouco deprimida connosco,
nós, que estamos tão próximo deles.
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Isso fê-la sentir que a violência
faz parte irremediavelmente
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de todos os primatas, de alguma forma?
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JG: Bem, é óbvio que sim.
¶
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O meu primeiro contacto com humanos,
a que eu chamo maus,
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foi no fim da guerra
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com as cenas do Holocausto.
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Isso realmente chocou-me.
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Isso mudou quem eu era.
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Eu tinha 10 anos, nessa época.
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E quando os chimpanzés,
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quando percebi que eles têm
esse lado negro e brutal...
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eu pensava que eram como nós,
só que mais amáveis.
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Foi então que percebi
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que eles ainda eram mais parecidos
connosco do que eu pensara.
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E naquela época, no início dos anos 70,
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era muito estranho,
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havia um grande debate sobre a agressão:
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era inata ou aprendida?
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E tornou-se uma questão política.
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Foi uma época muito estranha,
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e eu estava a aparecer, dizendo:
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"Não, eu acho que a agressão
faz, de facto, parte
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"do nosso repertório
de comportamentos herdados."
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E perguntei a um cientista
muito respeitado
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o que ele realmente pensava,
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porque ele afirmava perentoriamente
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que a agressão era aprendida
e ele disse:
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"Jane, eu prefiro não falar
sobre o que realmente penso."
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Aquilo foi um grande choque para mim,
no que diz respeito à ciência.
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CA: Eu fui educado a acreditar num mundo
de coisas brilhantes e bonitas.
¶
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A Jane sabe, inúmeros filmes bonitos
com borboletas e abelhas e flores,
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e a Natureza como paisagem deslumbrante.
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Muitos ambientalistas, muitas vezes,
parecem tomar essa posição
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— "Sim, a Natureza é pura, é bela,
os humanos é que são maus" —
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mas depois, temos
outro tipo de observações
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em que realmente olhamos ao pormenor
para qualquer parte da Natureza,
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e vemos coisas que nos aterrorizam,
honestamente.
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O que é que a Jane acha da Natureza,
o que pensa sobre isso?
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Como deveríamos pensar sobre isso?
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Quero dizer, pensamos no inteiro
espetro da evolução,
-
e torna-se emocionante
ir para um lugar primitivo,
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e a África era muito primitiva
quando eu era jovem.
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Havia animais em toda parte.
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Eu nunca gostei do facto
de os leões matarem,
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eles têm que... quero dizer,
é o que eles fazem,
-
e se eles não matassem animais,
morreriam.
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Acho que a grande diferença
entre eles e nós,
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é que eles fazem o que fazem
porque é o que têm de fazer.
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E nós podemos planear fazer as coisas.
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Os nossos planos são muito diferentes.
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Podemos planear o corte
de uma floresta inteira,
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porque queremos vender a madeira,
-
ou porque queremos construir
outro centro comercial,
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ou algo assim.
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Então, na nossa destruição da Natureza
e na nossa guerra,
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nós somos capazes de fazer mal
porque nos podemos sentar confortavelmente
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e planear a tortura de alguém distante.
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Isso é maldade.
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Os chimpanzés têm uma espécie
de guerra primitiva,
-
e eles podem ser muito agressivos,
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mas é no momento.
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É como eles se sentem.
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É a resposta a uma emoção.
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CA: Então a sua observação
da sofisticação dos chimpanzés
¶
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não vai tão longe quanto
algumas pessoas gostariam de dizer
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que é tipo um superpoder humano,
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sermos capazes de simular o futuro
nas nossas mentes em grande detalhe
-
e de fazer planos a longo prazo.
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E agir, incentivando-nos uns aos outros
para alcançar esses planos de longo prazo.
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Que isso parece, mesmo para alguém
que passou tanto tempo com chimpanzés,
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parece um conjunto
de diferentes competências
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pelas quais temos que nos responsabilizar
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e usar mais sabiamente do que fazemos.
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JG: Sim, e eu acho, pessoalmente,
¶
-
que há muita discussão sobre isso,
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mas eu acho que é um facto que
desenvolvemos a forma da comunicação
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que você e eu estamos a usar.
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E porque temos palavras,
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quero dizer, a comunicação animal
é muito mais sofisticada
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do que costumamos pensar.
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E chimpanzés, gorilas, orangotangos
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podem aprender a linguagem gestual
humana dos surdos.
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Mas nós crescemos
a falar qualquer que seja o idioma.
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Então eu posso falar-lhe sobre coisas
que você nunca ouviu falar.
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E um chimpanzé não pode fazer isso.
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Nós podemos ensinar
coisas abstratas aos nossos filhos.
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E os chimpanzés não podem fazer isso.
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Mas os chimpanzés podem fazer
todo o tipo de coisas inteligentes,
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assim como os elefantes, os corvos
e os polvos também podem,
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mas nós projetamos foguetes
que vão para outro planeta
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e pequenos robôs para tirar fotografias,
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e nós projetámos esta maneira
extraordinária de podermos conversar
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nas nossas diferentes partes do mundo.
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Quando eu era jovem, quando cresci,
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não existia TV, não existiam telemóveis,
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não existiam computadores.
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Era um mundo muito diferente,
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Eu tinha apenas um lápis,
uma caneta e um caderno.
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CA: Então, voltando à questão
sobre a natureza,
¶
-
porque penso muito nisso,
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e debato-me com isso, honestamente.
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Tanto do seu trabalho,
tantas das muitas pessoas que eu respeito
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falam dessa paixão de tentar
não estragar o mundo natural.
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Então é possível, é saudável,
é essencial, talvez,
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aceitar simultaneamente
que muitos aspetos da Natureza
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são aterrorizantes,
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mas também que é fantástico,
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e que algumas das maravilhas
vêm do potencial de ser aterrorizante
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e que é também somente
uma beleza de tirar o fôlego,
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e que não podemos ser nós mesmos,
porque fazemos parte da Natureza,
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não podemos ser um todo
-
a menos que, de alguma forma, aceitemos
fazer parte disso?
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Ajude-me com a linguagem, Jane,
diga como essa relação deveria ser.
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JG: Bem, acho que é um dos problemas,
à medida que desenvolvemos o intelecto,
¶
-
e nos tornámos cada vez melhores
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na modificação do ambiente
para nosso próprio uso,
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e criámos campos e terrenos de cultivo
-
onde costumava haver
uma floresta ou um bosque,
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mas não vamos entrar nisso agora,
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mas temos a capacidade
de mudar a Natureza.
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E à medida que nos mudámos mais
para vilas e cidades,
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e confiámos mais na tecnologia,
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muitas pessoas sentiram-se
separadas do mundo natural.
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E há centenas, milhares de crianças
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a crescer dentro dessas cidades,
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onde, basicamente, não existe
nenhuma Natureza,
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e é por isso que o movimento atual
para tornar as cidades verdes
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é tão importante.
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Eles fizeram experiências,
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— acho que foi em Chicago,
não tenho a certeza —
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e havia diversos lotes vazios
-
numa parte muito violenta da cidade.
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Então, tornaram verdes
algumas dessas áreas,
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colocaram árvores, flores e coisas,
e arbustos, nesses lotes vazios.
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E a taxa de criminalidade começou a cair.
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Por isso, claro, eles colocaram
árvores na outra metade.
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Isso só mostra, também,
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que foram feitos estudos
mostrando que as crianças
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precisam da Natureza verde para
um bom desenvolvimento psicológico.
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Mas, como o Chris diz,
nós fazemos parte da Natureza
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mas desrespeitamo-la, por sermos assim,
¶
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e isso é terrível
para os nossos filhos e netos,
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porque confiamos na Natureza
para termos ar limpo, água limpa,
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para regular o clima e a pluviosidade.
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Veja o que nós fizemos,
veja as crises climáticas.
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Fomos nós que fizemos isso.
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CA: Há pouco mais de 30 anos,
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a Jane fez a mudança de cientista
para ativista, creio eu.
¶
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Porquê?
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JG: A conferência científica, em 1986,
-
— na altura, eu já tinha o doutoramento —
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era para descobrir como o comportamento
dos chimpanzés diferia, e se diferia,
¶
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de um ambiente para outro.
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Havia seis locais de estudos
em toda a África.
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Nós pensámos: "Vamos colocar
estes cientistas juntos
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"e explorar isso",
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o que foi fascinante.
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Mas também tivemos uma sessão
sobre conservação
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e uma sessão sobre condições
em situações de cativeiro,
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como pesquisa médica.
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Aquelas duas sessões foram
muito chocantes para mim.
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Eu fui para a conferência como cientista,
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e saí como ativista.
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Eu não tomei uma decisão,
alguma coisa aconteceu dentro de mim.
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CA: Então, a Jane passou
os últimos 34 anos
-
a fazer campanha, incansavelmente,
por uma relação melhor
¶
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entre as pessoas e a Natureza.
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Como deveria ser essa relação?
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JG: Bem, mais uma vez o Chris
levanta todos estes problemas.
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As pessoas têm de ter espaço para viver.
¶
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Mas eu acho que o problema
-
é que nos tornámos,
nas sociedades abastadas,
-
demasiado gananciosos.
-
Quero dizer, honestamente, quem precisa
de quatro casas com terrenos enormes?
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E porque é que precisamos
de mais um centro comercial?
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E assim por diante.
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Andamos atrás de um benefício
económico de curto prazo,
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o dinheiro tornou-se
uma espécie de deus para adorar,
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porque perdemos a ligação espiritual
com o mundo natural.
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Por isso, andamos à procura
de um curto ganho monetário, ou poder,
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ao invés da saúde do planeta
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e do futuro dos nossos filhos.
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Parece que já não nos importamos com isso.
-
É por isso que eu nunca
vou parar de lutar.
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CA: No seu trabalho, especificamente,
na preservação do chimpanzé,
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a Jane criou como prática
colocar as pessoas no centro disso,
¶
-
as pessoais locais, para as envolver.
-
Como é que isso tem funcionado?
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Acha que essa é uma ideia essencial,
-
se quisermos ter sucesso
na proteção do planeta?
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JG: Depois daquela famosa conferência,
-
achei que precisava de saber
¶
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porque é que os chimpanzés
estavam a desaparecer em África,
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e o que estava a acontecer nas florestas.
-
Juntei algum dinheiro
e percorri um conjunto de seis países.
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E aprendi muito sobre os problemas
enfrentados pelos chimpanzés,
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como a caça por carne
de animais selvagens
-
e o comércio de animais vivos
apanhados em armadilhas
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e a população humana a aumentar
e a precisar de mais terra
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para o seu cultivo,
o seu gado, e as suas aldeias.
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Mas eu também estava a descobrir
a situação que muitas pessoas enfrentavam.
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A pobreza absoluta,
a falta de saúde e educação,
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a degradação da terra.
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Eu percebi, quando sobrevoei
o minúsculo Parque Nacional Gombe.
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Fizera parte da cintura equatorial
florestal de toda a África
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até à Costa Oeste,
-
e em 1990,
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havia só um pedacinho de floresta,
só um pequeno parque nacional.
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Por toda parte, as colinas estavam nuas.
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E foi então que me apercebi.
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Se não fizermos alguma coisa
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para ajudar as pessoas
a encontrar maneiras de viver
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sem destruir o seu ambiente,
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não podemos nem sequer tentar
salvar os chimpanzés.
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Assim, o Instituto Jane Goodall começou
esse programa "Take Care",
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nós chamamos de "TACARE."
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E é nosso método de conservação
baseado na comunidade,
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totalmente holístico.
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E agora colocamos as ferramentas
de conservação
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nas mãos dos aldeões,
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porque a maioria dos chimpanzés
selvagens tanzanianos
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não estão em áreas protegidas,
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estão nas reservas florestais
nas aldeias.
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Assim, eles agora medem
a saúde da sua floresta.
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Eles entenderam agora
-
que proteger a floresta
não é só para a vida selvagem,
-
é para o seu próprio futuro.
-
Que eles precisam da floresta.
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E eles orgulham-se muito disso.
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Os voluntários vão a "workshops",
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aprendem a usar "smartphones",
-
aprendem a fazer carregamentos
na plataforma e na nuvem.
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E assim é tudo transparente.
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E as árvores voltaram,
-
já não há colinas nuas.
-
Eles concordaram em fazer uma zona
de tampão em volta do Gombe,
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para que os chimpanzés tenham mais
floresta do que tinham em 1990.
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Eles estão a abrir corredores florestais
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para ligar grupos de chimpanzés dispersos,
para que não haja muita consanguinidade.
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Sim, funcionou, e está agora
em seis outros países
-
a mesma coisa.
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CA: A Jane tem sido uma extraordinária
e incansável voz, em todo o mundo,
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falando em todos os lugares, inspirando
pessoas em todos os lugares.
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Como é que a Jane encontra a energia,
-
o alento, para fazer isso,
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porque isso é esgotante,
-
tantos encontros com tantas pessoas,
-
é fisicamente esgotante,
-
e no entanto,
ainda aqui está a fazer isso.
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Como é que faz isso, Jane?
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JG: Bem, suponho que sou
muito obstinada, não gosto de desistir,
-
E eu não vou deixar os CEOs
das grandes empresas
¶
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que estão a destruir as florestas,
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ou os políticos que estão a abolir
as proteções postas em prática
-
pelos presidentes anteriores,
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e o Chris sabe de quem
é que eu estou a falar.
-
E como sabe, eu continuarei a lutar.
-
Eu importo-me,
sou apaixonada pela vida selvagem.
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Sou apaixonada pelo mundo natural.
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Eu adoro as florestas,
magoa-me vê-las destruídas.
-
Eu preocupo-me apaixonadamente
com as crianças.
-
E nós estamos a roubar o futuro delas.
-
Eu não vou desistir.
-
Acho que sou abençoada
com bons genes, isso é um dom,
-
e o outro dom, que eu
descobri que tinha,
-
era a comunicação,
-
quer seja escrita ou oral.
-
O Chris sabe,
-
se andar assim por aí não funcionasse...
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Mas sempre que eu faço uma palestra,
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as pessoas vem ter comigo e dizem:
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"Bem, eu tinha desistido,
mas você inspirou-me,
-
"prometo fazer a minha parte."
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E temos o nosso programa juvenil
"Roots and Shoots" agora em 65 países
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e está a crescer depressa,
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todas as idades, todos a escolher projetos
-
para ajudar as pessoas,
os animais, o meio ambiente,
-
arregaçando as mangas,
e fazendo acontecer.
-
E sabe, eles olham para nós
com os olhos brilhantes,
-
querendo dizer à Dra. Jane
o que eles têm feito
-
para fazer do mundo um lugar melhor.
-
Como posso dececioná-los?
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CA: Como é que vê o futuro do planeta?
-
O que mais a preocupa, na verdade,
-
o que mais a assusta sobre o ponto
em que nos encontramos?
¶
-
JG: Bem, o facto de termos uma
pequena janela de tempo, creio eu,
-
em que podemos ao menos começar
a reparar alguns dos danos
-
e desacelerar as mudanças climáticas.
¶
-
Mas está a fechar-se,
-
e já vimos o que acontece
com o confinamento ao redor do mundo,
-
por causa da COVID-19:
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céu limpo sobre as cidades,
-
algumas pessoas a respirar ar puro,
que nunca tinham respirado antes,
-
e a olhar para cima,
para os céus noturnos brilhantes,
-
coisa que nunca tinham visto antes.
-
E... sabe,
-
o que me preocupa mais
-
é como conseguir pessoas suficientes
-
— as pessoas entendem,
mas não estão a tomar medidas —
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como conseguir pessoas
suficientes para agir?
-
CA: A National Geographic acaba de lançar
um filme extraordinário sobre si,
-
destacando o seu trabalho
ao longo de seis décadas.
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O título é "Jane Goodall: A Esperança."
¶
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Qual é a esperança, Jane?
-
JG: Bem, a esperança,
-
a minha maior esperança
são todos os jovens.
-
Na China, as pessoas vão aparecer e dizer:
¶
-
"Claro que me importo
com o meio ambiente,
-
"eu estive no 'Roots and Shoots'
na escola primária."
-
Nós temos "Roots and Shoots"
agarrando-se aos valores
-
e eles são tão entusiastas,
assim que conhecem os problemas
-
e se capacitam para agir,
-
eles estão a limpar as correntes,
a remover espécies invasivas,
-
humanamente.
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E eles têm tantas ideias.
-
E depois existe
este nosso extraordinário intelecto.
-
Estamos a começar a usá-lo
para criar a tecnologia
-
que realmente nos ajude
a viver em maior harmonia,
-
e nas nossas vidas individuais,
-
vamos pensar sobre as consequências
do que nós fazemos cada dia.
-
O que compramos, de onde veio,
-
como foi feito?
-
Prejudicou o meio ambiente,
foi cruel para os animais?
-
É barato por causa do trabalho
escravo infantil?
-
Façam escolhas éticas.
-
O que vocês não podem fazer se,
por acaso, estiverem a viver na pobreza.
-
E então, finalmente,
esse espírito indomável
-
das pessoas que lidam
com o que parece impossível
-
e não vão desistir.
-
Não se pode desistir
quando se tem aqueles...
-
Mas há lutas que eu não posso lutar.
-
Eu não posso combater a corrupção.
-
Eu não posso lutar contra
regimes militares e ditadores.
-
Eu só posso fazer
o que eu posso fazer,
-
e se todos nós fizermos a parte
que podemos fazer,
-
certamente fará um todo
que acabará por ganhar.
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CA: Última pergunta, Jane.
-
Se houvesse uma ideia, um pensamento,
-
uma semente que pudesse plantar
na mente de todos os que estão a assistir,
¶
-
qual seria?
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JG: Basta lembrar que a cada dia
que vivemos,
-
fazemos impacto no planeta.
-
Não podemos deixar de causar impacto.
¶
-
E a menos que estejamos
a viver em extrema pobreza,
-
temos uma escolha quando ao tipo
de impacto que fazemos.
-
Até mesmo na pobreza temos escolha,
-
mas quando somos mais prósperos,
temos uma escolha maior.
-
E se todos fizermos escolhas éticas,
-
então começamos a caminhar
em direção a um mundo
-
que não será tão desesperado
para deixar para nossos bisnetos.
-
Acho que isso é alguma coisa para todos.
-
Porque muitas pessoas
entendem o que está a acontecer,
-
mas sentem-se desamparadas
e sem esperança,
-
sobre o que podem fazer,
-
então, eles não fazem nada
e tornam-se apáticos.
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E isso é um enorme perigo, a apatia.
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CA: Dra. Jane Goodall, uau!
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Eu quero agradecer-lhe
pela sua vida extraordinária,
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por tudo o que tem feito
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e por passar este tempo connosco, agora.
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Obrigado.
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JG: Obrigada.