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Uma divertida exploração sobre apresentações artísticas de gênero

  • 0:02 - 0:05
    (Música: "La Vie en Rose")
  • 0:16 - 0:20
    Cecília: Eu me sinto um pouco assustada.
  • 0:20 - 0:22
    Tenho muito medo
    de que ele será como todo mundo.
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    (Algernon coça o nariz)
  • 0:26 - 0:28
    Cecília: Ele é igualzinho.
  • 0:28 - 0:31
    Algernon: Você, certamente,
    é minha pequena prima Cecília.
  • 0:31 - 0:34
    Cecília: Você está muito enganado.
  • 0:34 - 0:35
    Eu não sou pequena.
  • 0:35 - 0:39
    Na verdade, acredito ser bem mais alta
    que o normal para a minha idade.
  • 0:39 - 0:41
    Mas sou sua prima Cecília,
  • 0:41 - 0:44
    e você também está aqui
    para ajudar Jo Michael Rezes
  • 0:44 - 0:46
    com a palestra TEDx dele.
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    E você é meu perverso primo Ernesto.
  • 0:51 - 0:55
    Algernon: Eu não sou perverso
    de forma alguma, prima Cecília.
  • 0:55 - 0:56
    Não deves pensar isso de mim.
  • 0:56 - 0:59
    Cecília: Espero que não esteja
    levando uma vida dupla,
  • 0:59 - 1:02
    fingindo ser bom, mas sendo
    perverso o tempo inteiro.
  • 1:02 - 1:04
    Isso seria hipocrisia.
  • 1:04 - 1:07
    Algernon: Na verdade,
    tenho sido um pouco imprudente.
  • 1:07 - 1:09
    Cecília: Fico feliz em saber.
  • 1:10 - 1:13
    Algernon: Mas o mundo é bom
    o suficiente para mim, prima Cecília.
  • 1:13 - 1:16
    Cecília: Sim, mas você
    é bom o suficiente para ele?
  • 1:16 - 1:18
    Algernon: Receio que nem tanto.
  • 1:18 - 1:20
    Por isso desejo que você me modernize.
  • 1:20 - 1:22
    Cecília: Receio não ter tempo essa tarde.
  • 1:22 - 1:24
    A palestra TED e tudo mais.
  • 1:24 - 1:25
    (Risos)
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    Algernon: Se importaria se eu mesmo
    fizesse isso essa tarde?
  • 1:28 - 1:32
    Cecília: Isso é um tanto quixotesco
    de sua parte, mas deveria tentar.
  • 1:32 - 1:34
    Algernon: Ótimo, já me sinto melhor.
  • 1:34 - 1:36
    Cecília: Você parece pior.
  • 1:36 - 1:39
    Algernon: Poderia me dar aquela rosa?
  • 1:39 - 1:41
    Cecília: Por quê?
  • 1:41 - 1:43
    Algernon: Porque você é
    como uma rosa, prima Cecília.
  • 1:43 - 1:46
    Cecília: Não acho que seja correto
    falar comigo dessa maneira.
  • 1:46 - 1:49
    Algernon: Você é a garota
    mais linda que eu já vi.
  • 1:49 - 1:51
    B: Mas... bem...
  • 1:53 - 1:55
    Algernon: É sim...
  • 1:55 - 1:58
    Cecília: As aparências enganam.
  • 1:58 - 2:01
    Algernon: Bom, é um engano
    que todos os homens sensatos
  • 2:01 - 2:03
    gostariam de cometer, e...
  • 2:03 - 2:04
    Jo Michael Rezes: (Suspiros)
  • 2:07 - 2:09
    Sinto muito, eu...
  • 2:11 - 2:13
    eu não terminei de ensaiar.
  • 2:14 - 2:17
    Não é porque não consigo
    andar de salto alto,
  • 2:17 - 2:19
    na verdade, sou muito bom nisso,
  • 2:19 - 2:21
    e posso provar para vocês,
    mas eu sinto muito.
  • 2:22 - 2:23
    Esperem um pouco.
  • 2:29 - 2:32
    Não importa.
  • 2:33 - 2:34
    Certo.
  • 2:34 - 2:36
    Muito bem, apresentações.
  • 2:36 - 2:38
    É uma palestra TEDx.
  • 2:39 - 2:40
    Olá, pessoal!
  • 2:40 - 2:42
    (Risos)
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    Meu nome é Jo Michael Rezes,
  • 2:44 - 2:48
    sou aluno de PhD em estudos
    de teatro e apresentações artísticas.
  • 2:48 - 2:51
    E me especializei em estudos
    de identidades "queer"
  • 2:51 - 2:54
    à medida que se desenvolvem
    e afetam as percepções de tempo
  • 2:54 - 2:57
    nas apresentações de paródias.
  • 2:57 - 2:59
    Vocês sabem, "afeminado"?
  • 3:00 - 3:03
    O exagero no modo de se vestir?
  • 3:03 - 3:06
    Fazer do cafona algo familiar?
  • 3:06 - 3:07
    Não?
  • 3:07 - 3:08
    O tema do Met Gala de 2019
  • 3:08 - 3:11
    que foi profundamente mal interpretado
    por 95% dos convidados?
  • 3:11 - 3:12
    (Risos)
  • 3:12 - 3:14
    Não? Tudo bem..
  • 3:14 - 3:16
    Também sou diretor,
    ator e professor de teatro
  • 3:16 - 3:18
    na região metropolitana de Boston.
  • 3:18 - 3:20
    Onde estão meus modos?
  • 3:20 - 3:23
    Os amigos que trouxe comigo hoje
    são Algernon e Cecília
  • 3:23 - 3:26
    de uma peça bem conhecida de Oscar Wilde,
  • 3:26 - 3:28
    "A Importância de Ser Prudente".
  • 3:28 - 3:29
    Eles voltarão, não se preocupem.
  • 3:29 - 3:31
    Apenas os assustei por um tempo.
  • 3:31 - 3:33
    E, sejamos sinceros,
  • 3:33 - 3:35
    não seria uma palestra TEDx
  • 3:35 - 3:37
    se as coisas não fizessem
    sentido no final, seria?
  • 3:37 - 3:39
    (Risos)
  • 3:39 - 3:42
    Mas espero que não
    tenha sido muito horrível.
  • 3:42 - 3:45
    Foi estranho, eu sei, me ver fracassar.
  • 3:45 - 3:48
    Mas fracassar no quê, exatamente?
  • 3:48 - 3:52
    Representar um homem
    e uma mulher ao mesmo tempo?
  • 3:52 - 3:55
    Representar um homem e uma mulher
    quando não sou nenhum deles?
  • 3:55 - 3:59
    Por que parece tão estranho quando vemos
    alguém fracassar no seu gênero,
  • 3:59 - 4:01
    e por que nos importamos?
  • 4:01 - 4:04
    Obviamente, fracassar nisso
    foi totalmente proposital.
  • 4:04 - 4:09
    E eu tinha decorado perfeitamente
    e ensaiado tudo isso para hoje, certo?
  • 4:09 - 4:11
    (Risos)
  • 4:11 - 4:14
    Bem, eu estou aqui para falar
    sobre a apresentação artística de gênero
  • 4:14 - 4:17
    e as maneiras como tenho usado
    minhas aulas de teatro
  • 4:17 - 4:21
    como um espaço para quebrar a finalidade
    da apresentação artística de gênero,
  • 4:21 - 4:25
    para abrir caminho para pensarmos
    sobre a identidade de gênero
  • 4:25 - 4:27
    por meio de fracassos solidários,
  • 4:27 - 4:31
    enganos não intencionais
    e comunicação sincera.
  • 4:31 - 4:33
    Todos nós, atores ou não,
  • 4:33 - 4:36
    podemos atuar com gêneros
    no nosso cotidiano.
  • 4:36 - 4:39
    E chamo isso "ensaio de gênero".
  • 4:39 - 4:44
    Antes que os acadêmicos da teoria queer,
    dos estudos das mulheres,
  • 4:44 - 4:46
    e os fanáticos de Judith Butler aqui
  • 4:46 - 4:51
    comecem a arrancar o traje
    ultrabinário do meu corpo,
  • 4:51 - 4:53
    permitam-me explicar
    onde a cultura popular
  • 4:53 - 4:56
    já começou a interpretar mal
    a apresentação artística de gênero,
  • 4:56 - 5:01
    antes que eu fale sobre a questão
    dos ensaios que tanto me agradam.
  • 5:01 - 5:06
    Como professor e jovem trans
    de 20 e poucos anos,
  • 5:06 - 5:10
    constantemente escuto dos meus alunos,
    amigos e colegas da mesma idade,
  • 5:10 - 5:12
    que o gênero em si está "acabado",
  • 5:12 - 5:16
    que o gênero é tão fluido e despreocupado
  • 5:16 - 5:20
    e que pessoas trans são incluídas
    na sociedade, filmes e televisão,
  • 5:20 - 5:22
    que basicamente isso está acabado.
  • 5:22 - 5:27
    Não me assumi como binário,
    pois não sou um.
  • 5:27 - 5:30
    Mas o gênero definitivamente não acabou.
  • 5:30 - 5:33
    Ou, pelo menos acredito que não.
  • 5:33 - 5:38
    E talvez o gênero esteja sempre começando.
  • 5:38 - 5:40
    No último semestre,
  • 5:40 - 5:43
    mais ou menos às 10:23 da manhã,
  • 5:43 - 5:44
    dois dos meus alunos de teatro,
  • 5:44 - 5:48
    enquanto personificavam de forma caricata
    dois companheiros de fraternidade,
  • 5:48 - 5:50
    não consigo me lembrar do nome deles,
  • 5:50 - 5:52
    terminaram a aula,
  • 5:52 - 5:56
    e duas mulheres vestindo
    roupas folgadas e bonés
  • 5:56 - 6:01
    abriram a boca para revelar
    trejeitos e mentalidades relaxados.
  • 6:02 - 6:04
    E, por mais impressionante
    que tenha sido ver isso,
  • 6:05 - 6:11
    essas mulheres oscilaram
    entre ironia e sátira,
  • 6:11 - 6:14
    o estranho e a brutalidade,
    a dor e a alegria,
  • 6:14 - 6:16
    até que, finalmente,
  • 6:16 - 6:20
    elas fracassaram ao representar
    os homens que escolherem personificar.
  • 6:20 - 6:22
    Elas simplesmente pararam de falar.
  • 6:22 - 6:23
    Silêncio.
  • 6:23 - 6:25
    A aula se aquietou,
  • 6:25 - 6:28
    e o tempo pareceu ter sido sugado da sala.
  • 6:28 - 6:31
    E neste momento de silêncio ensurdecedor,
  • 6:31 - 6:32
    uma das mulheres,
  • 6:33 - 6:37
    ainda usando sua voz de "mano",
    mas já fora do personagem,
  • 6:37 - 6:39
    disse, quase que em um sussurro,
  • 6:40 - 6:44
    (Com voz masculina) "Gênero
    é uma elaboração social".
  • 6:44 - 6:45
    (Risos)
  • 6:45 - 6:49
    Admito que ri com meus alunos aquela manhã
  • 6:49 - 6:53
    em partes pelo ritmo cômico
    que minha aluna apresentou,
  • 6:53 - 6:56
    mas também pela forma como a sociedade
  • 6:56 - 7:00
    tornou a apresentação artística de gênero
    em gênero como uma elaboração social.
  • 7:01 - 7:02
    Agora, escutem isso:
  • 7:03 - 7:07
    acho que essa ideia vem da famosa
    acadêmica em estudos homossexuais
  • 7:07 - 7:11
    Judith Butler, cujo trabalho inspirador
    sobre apresentação artística de gênero
  • 7:11 - 7:12
    tem se tornado a base
  • 7:12 - 7:15
    para cursos universitários
    em instituições de artes liberais.
  • 7:15 - 7:18
    Esta versão de "SparkNotes"
    do trabalho de Butler
  • 7:18 - 7:24
    reconhece que o gênero existe
    nas palavras e ações repetidas,
  • 7:24 - 7:27
    e que essas apresentações
    criam e são criadas
  • 7:27 - 7:29
    pelo corpo de reais seres humanos.
  • 7:29 - 7:31
    Agora, escutem isso:
  • 7:31 - 7:33
    "Além disso, numa dissertação de 1988,
  • 7:33 - 7:39
    Butler alega que gênero
    é um ato que foi ensaiado.
  • 7:40 - 7:41
    Desta forma,
  • 7:41 - 7:46
    gênero, através da repetição,
    se torna um roteiro reconhecível,
  • 7:46 - 7:49
    o qual requer um ator para reproduzi-lo".
  • 7:50 - 7:55
    Muito parecido com a minha tentativa
    em "A Importância de Ser Prudente".
  • 7:55 - 7:57
    Ou seja, vejam a minha fantasia.
  • 7:57 - 8:01
    (Voz grave) Por que esta metade
    me faz sentir másculo, viril, suave.
  • 8:01 - 8:05
    (Voz aguda) E esta metade me faz
    sentir mulher, fabulosa e feminina?
  • 8:05 - 8:08
    Alguns de nos até esquece
    que o gênero está lá,
  • 8:08 - 8:11
    porque está muito bem ensaiado
    em nosso corpo.
  • 8:12 - 8:16
    Mas sempre há um ideal de gênero
    que nunca conseguimos alcançar.
  • 8:17 - 8:19
    Então, cabe a nós brincar com ele.
  • 8:19 - 8:23
    Eu já brinquei com gênero
    por toda a minha carreira como ator,
  • 8:23 - 8:25
    e num semestre, como aluno de graduação,
  • 8:25 - 8:28
    fui escolhido para atuar
    em dois papéis simultaneamente:
  • 8:28 - 8:30
    Brad Major em "The Rock Horror Show"
  • 8:30 - 8:34
    e Charlotte Ivanovna
    em "The Cherry Orchard".
  • 8:34 - 8:37
    Um homem, uma mulher e um eu.
  • 8:39 - 8:41
    Eu ia de um ensaio,
  • 8:41 - 8:44
    representando o másculo, agressivo Brad,
  • 8:44 - 8:47
    apenas para, momentos depois,
    ter que usar uma peruca
  • 8:47 - 8:52
    no delicado olhar da Charlotte,
    uma governanta alemã.
  • 8:52 - 8:55
    A troca constante
    entre essas duas identidades
  • 8:55 - 8:58
    não foi somente inestimável
    para o meu trabalho como ator,
  • 8:58 - 9:02
    na tentativa de aumentar o espectro
    do gênero no meu trabalho,
  • 9:02 - 9:04
    mas também me revelou
  • 9:04 - 9:06
    que minhas próprias
    identidades homossexuais
  • 9:06 - 9:10
    deixam a desejar na incorporação
    extrema dos gêneros.
  • 9:11 - 9:15
    Esses personagens mantiveram aspectos
    importantes da minha identidade,
  • 9:15 - 9:16
    do meu corpo,
  • 9:16 - 9:18
    da minha dor diária,
  • 9:18 - 9:21
    das minhas interações sociais e memórias,
  • 9:21 - 9:26
    e ensaiar esses personagens
    me permitiu explorar essas identidades,
  • 9:26 - 9:29
    o que me fez perceber que meu dever
    como professor de teatro
  • 9:29 - 9:33
    era mostrar a importância de brincar
    com o gênero nos ensaios.
  • 9:34 - 9:36
    Então, quando apresento a vocês
  • 9:36 - 9:37
    (voz aguda) Cecília
  • 9:37 - 9:39
    e (voz grave) Algernon,
  • 9:39 - 9:43
    há partes que respeito
    nos dois personagens,
  • 9:43 - 9:45
    entendimento implícito,
  • 9:45 - 9:47
    opressões com que me relaciono,
    medos que posso expressar,
  • 9:47 - 9:50
    tendências agressivas que tento esquecer.
  • 9:51 - 9:53
    Mas também existem várias características
  • 9:53 - 9:56
    com as quais não tenho
    experiência pessoal nenhuma,
  • 9:56 - 9:58
    nada com que eu possa me relacionar.
  • 9:58 - 10:02
    E algumas vezes, na agitação do ensaio,
  • 10:02 - 10:03
    lendo um roteiro,
  • 10:03 - 10:05
    criando um personagem,
  • 10:05 - 10:08
    nós cometemos um engano.
  • 10:08 - 10:13
    O flerte agressivo de Algernon com Cecília
    não me parece correto no meu corpo,
  • 10:13 - 10:16
    ou a conduta calma de Cecília
    como descrita por Oscar Wilde
  • 10:16 - 10:18
    não parece natural,
  • 10:18 - 10:20
    e eu literalmente viajo com isso.
  • 10:21 - 10:23
    Essa palestra TEDx é uma atuação
  • 10:23 - 10:26
    em frente a tantas pessoas,
  • 10:27 - 10:30
    e muito diferente das minhas aulas.
  • 10:30 - 10:34
    Mas existe uma pressão muito
    reconhecida no nosso cotidiano
  • 10:34 - 10:36
    de atuar com o nosso gênero,
  • 10:36 - 10:37
    nós mesmos,
  • 10:38 - 10:40
    num palco como esse.
  • 10:41 - 10:42
    E sendo muito honesto,
  • 10:42 - 10:46
    falhar ao passar como homem ou mulher
  • 10:46 - 10:49
    ainda é perigoso para pessoas trans
    e aquelas que não se adaptam.
  • 10:49 - 10:51
    E escutem isso:
  • 10:51 - 10:54
    de acordo com a pesquisa feita nos EUA
    sobre transgêneros em 2015,
  • 10:54 - 10:58
    quase metade dos entrevistados alegam
    ter sido verbalmente agredidos
  • 10:58 - 11:01
    no último ano devido a sua identidade
    de gênero ou expressão.
  • 11:01 - 11:05
    E este número parece crescer
    nas comunidades negras.
  • 11:06 - 11:09
    Muitos de nós alega ver o gênero
    como um espectro,
  • 11:09 - 11:11
    e isso é ótimo,
  • 11:11 - 11:14
    incluindo 60% de indivíduos da geração Z
  • 11:14 - 11:17
    que relataram no Centro
    de Pesquisa de Pew em 2019
  • 11:17 - 11:20
    que eles acreditam que formulários
    com opções "masculino" ou "feminino"
  • 11:20 - 11:23
    deveriam incluir mais opções de gênero.
  • 11:23 - 11:24
    Mas independentemente disso,
  • 11:24 - 11:29
    ainda há um medo intrínseco
    em cometer enganos com gêneros
  • 11:29 - 11:31
    em escritórios, em salas de aulas,
  • 11:31 - 11:33
    aos olhos do governo,
  • 11:33 - 11:34
    em situações românticas,
  • 11:34 - 11:36
    e para alguns de nós,
  • 11:36 - 11:39
    até em frente ao espelho
    quando acordamos pela manhã.
  • 11:40 - 11:44
    Mas nossos enganos sobre gênero
    têm o potencial para algo bom.
  • 11:45 - 11:46
    Até mesmo o binário,
  • 11:46 - 11:48
    abordar a vida no palco
    como homem ou mulher,
  • 11:48 - 11:51
    podemos apoiar uns aos outros
    na experimentação,
  • 11:51 - 11:55
    tropeços e cambaleios,
    duas longas horas de meditação,
  • 11:55 - 11:57
    ou cinco segundos de troca
    de roupa com gênero específico.
  • 11:57 - 12:02
    E fracassar é a parte crucial na teoria de
    apresentação artística de Judith Butler.
  • 12:02 - 12:05
    Mas acredito que muitos,
    como todos vocês por aí,
  • 12:05 - 12:10
    podem escutar "apresentação artística"
    e escutar "interpretação".
  • 12:10 - 12:12
    Ou seja, apresentação pronta
  • 12:12 - 12:18
    ou se não for, talvez a apresentação,
    no geral, nos faz sentir ansiedade.
  • 12:18 - 12:22
    Ou medo de palco como sinto até hoje.
  • 12:23 - 12:26
    Precisamos entender
    que fracassar no gênero
  • 12:26 - 12:30
    pode e deve ser um processo
    generativo positivo.
  • 12:31 - 12:34
    Os enganos que cometemos com gênero
    podem nos ajudar a crescer
  • 12:34 - 12:38
    e entender melhor as várias atitudes
    dos gêneros ao nosso redor.
  • 12:38 - 12:40
    Mas precisamos abrir espaços
    para esses enganos.
  • 12:41 - 12:43
    Precisamos ter espaço
    para esses fracassos.
  • 12:44 - 12:47
    É nessa hora que o ensaio vem para ajudar.
  • 12:48 - 12:51
    Um dos principais pontos que gosto
    de ressaltar aos meus alunos
  • 12:51 - 12:55
    quando sentem pânico nos últimos minutos
    antes de um monólogo ou uma cena,
  • 12:55 - 12:58
    é que ninguém está realmente pronto.
  • 12:59 - 13:02
    Nunca acabamos de ensaiar;
  • 13:02 - 13:05
    apenas nos colocamos
    em frente a uma plateia.
  • 13:06 - 13:09
    No último verão, lecionei
    uma oficina de flexão de gênero
  • 13:09 - 13:11
    na escola Somerville Arts for Youth,
  • 13:11 - 13:14
    e deixei bem claro para um grupo
    de alunos do ensino médio
  • 13:14 - 13:18
    que não se pode ser um valentão
    e um bom ator ao mesmo tempo.
  • 13:18 - 13:19
    É impossível.
  • 13:20 - 13:25
    Há algo no ato de personificação
    que requer empatia para sobreviver.
  • 13:26 - 13:30
    Intimidação impede o processo criativo.
  • 13:30 - 13:33
    Enquanto esses alunos
    se movimentavam ao redor da sala,
  • 13:33 - 13:37
    tentando ao máximo apresentar
    os extremos do gênero binário,
  • 13:38 - 13:41
    isso resultou em movimentos desajeitados,
  • 13:42 - 13:43
    risos,
  • 13:43 - 13:48
    paródias de estereótipos
    que vemos em filmes e na televisão,
  • 13:48 - 13:52
    alegria no fracasso de entender o gênero.
  • 13:53 - 13:56
    Até meus alunos universitários
    de introdução à dramaturgia,
  • 13:56 - 13:59
    aproveitaram a oportunidade
    de brincar com gênero
  • 13:59 - 14:01
    quando restringi o tempo de pensar deles.
  • 14:01 - 14:02
    No Halloween passado,
  • 14:02 - 14:05
    pedi aos meus alunos para irem fantasiados
  • 14:05 - 14:09
    e para jogar seus chapéus
    no meio de um círculo,
  • 14:09 - 14:11
    metaforicamente e literalmente,
  • 14:11 - 14:16
    e a única regra do jogo
    era ir ao centro do círculo
  • 14:16 - 14:19
    pegar um chapéu, escolher
    um personagem e depois trocar.
  • 14:19 - 14:22
    Sem tempo para pensar.
  • 14:22 - 14:27
    E apenas dois homens na aula perceberam
    que ninguém estava indo até o círculo,
  • 14:27 - 14:30
    então, eles pularam no centro,
    e um deles se tornou
  • 14:30 - 14:32
    (Voz grave) um machista britânico,
  • 14:32 - 14:35
    (Voz aguda) e o outro,
    uma recatada moça britânica.
  • 14:38 - 14:41
    O tempo parou.
  • 14:41 - 14:43
    Risos,
  • 14:43 - 14:44
    mimetismo,
  • 14:44 - 14:46
    alegria, novamente,
  • 14:46 - 14:49
    no fracasso de entender o gênero.
  • 14:50 - 14:53
    Este é o potencial do ensaio de gênero.
  • 14:55 - 14:57
    E desafio todos vocês
  • 14:57 - 15:00
    a pensarem nos seus dias como miniensaios.
  • 15:00 - 15:05
    Cultivem espaço na vida de vocês
    para explorar o gênero.
  • 15:06 - 15:09
    E permitam que outras pessoas
    explorarem o gênero delas,
  • 15:09 - 15:11
    que fracassem no gênero.
  • 15:12 - 15:15
    Gostaria de oferecer maneiras
    mais tangíveis para fazerem isso.
  • 15:16 - 15:19
    Mas gênero é engraçado assim.
  • 15:21 - 15:25
    Gênero é um ato que já foi ensaiado.
  • 15:26 - 15:30
    Alguns atos mais ensaiados que outros.
  • 15:32 - 15:34
    Mas gênero está longe de ser perfeito.
  • 15:35 - 15:36
    E algumas vezes,
  • 15:37 - 15:40
    como em um ensaio,
  • 15:40 - 15:44
    quando apoiamos uns aos outros
    na hora de nos apresentarmos,
  • 15:44 - 15:46
    na alegria e na tristeza,
  • 15:48 - 15:53
    acabamos ganhando mais do que
    se não tivéssemos tentado ou fracassado.
  • 15:54 - 15:58
    Algernon: Bem, acho que foi
    um grande sucesso.
  • 15:58 - 16:01
    Estou apaixonado por Cecília
    e isso é tudo.
  • 16:01 - 16:04
    Mas preciso vê-la antes de ir.
  • 16:05 - 16:08
    Oh, aí esta ela.
  • 16:08 - 16:11
    Cecília: Voltei só para regar as rosas.
  • 16:11 - 16:14
    Pensei que estávamos
    em uma palestra TEDx com o Jo.
  • 16:15 - 16:18
    Algernon: Eles foram pedir
    a charrete para mim.
  • 16:20 - 16:22
    Cecília: Irão levar você
    para um bom passeio?
  • 16:22 - 16:25
    Algernon: Eles irão me enviar para longe.
  • 16:26 - 16:27
    Cecília: Então devemos nos despedir.
  • 16:28 - 16:29
    Algernon: Eu temo que sim.
  • 16:29 - 16:31
    É uma despedida muito dolorosa.
  • 16:32 - 16:38
    Cecília: Na ausência de amigos,
    alguém pode suportar com serenidade.
  • 16:38 - 16:41
    Mas mesmo uma separação momentânea
  • 16:41 - 16:44
    de alguém que acabei de conhecer
  • 16:46 - 16:48
    é quase insuportável.
  • 16:52 - 16:53
    JMR: Obrigado.
  • 16:55 - 16:57
    (Aplausos)
Title:
Uma divertida exploração sobre apresentações artísticas de gênero
Speaker:
Jo Michel Rezes
Description:

Do palco para o cotidiano, o professor de teatro Jo Michel Rezes estuda as identidades homossexuais e o espectro das apresentações artísticas gênero, no seu sucesso e fracasso. Auxiliado por uma introdução com um charme cativante, Rezes explora o potencial libertador de brincar com gêneros para melhor entender eles mesmos, uns aos outros e os espaços que habitamos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:12

Portuguese, Brazilian subtitles

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