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A reimaginação subversiva de um arquiteto sobre o muro da fronteira EUA-México

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    Não é fascinante como o simples ato
    de desenhar uma linha no mapa
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    pode transformar nossa maneira
    de ver e sentir o mundo?
  • 0:10 - 0:13
    E como os espaços
    entre linhas e fronteiras
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    transformam-se em lugares.
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    Tornam-se lugares onde a língua,
    a comida, a música
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    e as pessoas de culturas diferentes
    se misturam umas com as outras
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    de maneiras belas e, às vezes,
    violentas e muito ridículas.
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    Essas linhas traçadas em um mapa
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    podem, na verdade,
    criar cicatrizes na paisagem
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    e em nossa memória.
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    Meu interesse pelas fronteiras surgiu
  • 0:39 - 0:43
    quando eu estava pesquisando
    uma arquitetura das regiões fronteiriças.
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    Eu estava trabalhando em vários projetos
    ao longo da fronteira EUA-México,
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    projetando edifícios feitos de lama
    retirada diretamente do solo.
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    Também trabalho em projetos que parecem
    ter imigrado para essa paisagem.
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    "Prada Marfa", uma escultura de "land art"
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    que cruza a fronteira
    entre a arte e a arquitetura
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    e que demonstrou para mim
    que a arquitetura pode comunicar ideias
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    muito mais complexas
    política e culturalmente,
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    que a arquitetura pode ser
    satírica e séria ao mesmo tempo
  • 1:12 - 1:15
    e pode mostrar as desigualdades
    entre riqueza e pobreza
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    e o que é local e o que é estrangeiro.
  • 1:19 - 1:22
    Em minha pesquisa de uma arquitetura
    das regiões fronteiriças,
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    comecei a me perguntar:
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    "O muro é arquitetura?"
  • 1:27 - 1:33
    Comecei a documentar meus pensamentos
    e minhas visitas ao muro
  • 1:33 - 1:36
    criando uma série de recordações
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    para nos lembrar da época
    em que construímos um muro
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    e de que aquela era uma ideia maluca.
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    Criei jogos da fronteira,
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    (Risos)
  • 1:47 - 1:49
    postais,
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    globos de neve com pequenos
    modelos arquiteturais dentro deles
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    e mapas que contavam a história
    da resistência ao muro,
  • 1:59 - 2:04
    e busquei maneiras pelas quais o design
    pudesse esclarecer os problemas
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    que o muro da fronteira estava criando.
  • 2:07 - 2:09
    Então, o muro é arquitetura?
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    Bem, é certamente uma estrutura de design
  • 2:12 - 2:15
    projetada numa instalação
    de pesquisa chamada FenceLab,
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    em que veículos de quase
    cinco toneladas eram carregados
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    e atirados contra o muro a 60 km/h
    para testar a resistência dele.
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    Mas também havia
    uma contrapesquisa do outro lado:
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    o projeto de pontes levadiças portáteis
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    que poderíamos levar até ao muro
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    e permitir que os veículos
    passassem por cima.
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    (Risos)
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    Como em todos os projetos de pesquisa,
    há sucessos e fracassos.
  • 2:39 - 2:40
    (Risos)
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    Mas essas reações medievais ao muro -
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    pontes levadiças, por exemplo -
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    existem porque o muro em si é uma forma
    de arquitetura misteriosa e medieval.
  • 2:52 - 2:57
    É uma resposta simplista demais
    a um conjunto complexo de assuntos.
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    E várias tecnologias medievais
    surgiram ao longo do muro:
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    catapultas que lançam fardos
    de marijuana por cima dele,
  • 3:05 - 3:06
    (Risos)
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    ou canhões que disparam pacotes
    de cocaína e heroína por cima do muro.
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    Durante a época medieval,
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    corpos doentes, cadáveres,
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    eram, às vezes, catapultados
    por cima das muralhas
  • 3:17 - 3:19
    como uma forma primitiva
    de guerra biológica,
  • 3:20 - 3:22
    e especula-se que hoje
  • 3:23 - 3:26
    os seres humanos estão sendo
    lançados por cima do muro
  • 3:26 - 3:29
    como uma forma de imigração.
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    Uma ideia ridícula.
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    Mas a única pessoa
    conhecida e documentada
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    lançada por cima do muro
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    do México para os EUA
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    foi, de fato, um cidadão norte-americano
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    a quem autorizaram ser lançado como bala
    de canhão humana por cima do muro,
  • 3:46 - 3:47
    a 60 metros,
  • 3:47 - 3:49
    contanto que levasse
    o passaporte dele na mão.
  • 3:49 - 3:51
    (Risos)
  • 3:51 - 3:55
    Ele aterrissou com segurança
    em uma rede do outro lado.
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    Meus pensamentos são inspirados
    numa citação do arquiteto Hassan Fathy,
  • 4:00 - 4:01
    que disse:
  • 4:01 - 4:04
    "Os arquitetos não projetam muros,
  • 4:04 - 4:06
    mas os espaços entre eles".
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    Embora eu ache que os arquitetos
    não devam projetar muros,
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    considero importante e urgente
    que eles prestem atenção
  • 4:13 - 4:15
    aos espaços entre os muros.
  • 4:15 - 4:19
    Eles devem projetar,
    para os locais e as pessoas,
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    as paisagens que o muro põe em perigo.
  • 4:23 - 4:25
    As pessoas já estão se levantando
    para essa ocasião
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    e, embora o objetivo do muro
    seja manter as pessoas afastadas e longe,
  • 4:30 - 4:34
    ele, na verdade, reúne as pessoas
    de maneiras extraordinárias,
  • 4:34 - 4:38
    com eventos sociais como aulas de ioga
    binacionais ao longo da fronteira,
  • 4:38 - 4:40
    para unir as pessoas
    dos dois lados da divisória.
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    Chamo isso de "pose do monumento".
  • 4:42 - 4:44
    (Risos)
  • 4:44 - 4:48
    Já ouviram falar do "murobol"?
  • 4:48 - 4:49
    (Risos)
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    É uma versão fronteiriça do voleibol,
    praticada desde 1979,
  • 4:55 - 4:56
    (Risos)
  • 4:56 - 4:58
    ao longo da fronteira EUA-México,
  • 4:58 - 5:00
    para comemorar o patrimônio binacional.
  • 5:00 - 5:03
    Isso levanta algumas
    perguntas interessantes:
  • 5:03 - 5:06
    "Tal jogo é mesmo legal?
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    Será que bater uma bola
    de um lado para o outro do muro
  • 5:09 - 5:10
    constitui um comércio ilegal?"
  • 5:10 - 5:12
    (Risos)
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    A beleza do voleibol
    é que ele transforma o muro
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    em nada mais do que uma linha na areia
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    negociada pela mente, pelo corpo
    e espírito de jogadores dos dois lados.
  • 5:24 - 5:29
    Acho que é exatamente desse tipo
    de negociação bilateral
  • 5:29 - 5:32
    que precisamos para derrubar
    os muros que dividem.
  • 5:34 - 5:36
    Arremessar a bola
    por cima do muro é uma coisa,
  • 5:36 - 5:38
    mas atirar pedras por cima dele
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    tem causado danos aos veículos
    da patrulha da fronteira
  • 5:41 - 5:44
    e ferido os agentes dela.
  • 5:45 - 5:47
    A reação do lado dos EUA foi drástica.
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    Os agentes da patrulha da fronteira
    dispararam pelo muro
  • 5:51 - 5:54
    e mataram pessoas que atiraram
    pedras do lado mexicano.
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    Outra reação dos agentes da patrulha
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    foi erguer proteções de basebol
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    para protegerem a si mesmos
    e a seus veículos.
  • 6:02 - 6:05
    Essas proteções se tornaram
    uma característica permanente
  • 6:05 - 6:07
    na construção de novos muros.
  • 6:07 - 6:10
    Comecei a pensar se, como o voleibol,
  • 6:10 - 6:12
    talvez o beisebol deveria ser
  • 6:12 - 6:14
    uma característica
    permanente na fronteira,
  • 6:15 - 6:17
    e os muros poderiam começar a se abrir
  • 6:17 - 6:20
    permitindo que as comunidades
    se encontrassem e jogassem.
  • 6:20 - 6:22
    e, se elas rebatessem a bola pra fora,
  • 6:22 - 6:24
    talvez um agente da patrulha
    pegaria a bola
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    e a arremessaria de volta
    para o outro lado.
  • 6:28 - 6:32
    Um agente da patrulha da fronteira
    compra uma raspadinha gelada
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    de um vendedor, apenas a alguns metros.
  • 6:35 - 6:37
    Troca-se comida e dinheiro pelo muro,
  • 6:37 - 6:44
    um evento totamente normal torna-se ilegal
    pela linha traçada em um mapa
  • 6:44 - 6:46
    e por alguns milímetros de aço.
  • 6:47 - 6:50
    Essa cena me fez lembrar de um ditado:
  • 6:50 - 6:53
    "Se você tem mais do que necessita,
    deve fabricar mesas maiores
  • 6:53 - 6:54
    e não muros mais altos".
  • 6:55 - 6:58
    Então, criei este suvenir
    para me lembrar do momento
  • 6:58 - 7:01
    em que pudemos compartilhar
    comida e conversas por toda a divisória.
  • 7:02 - 7:05
    Um balanço permite que uma pessoa
    entre e salte para o outro lado,
  • 7:05 - 7:08
    até que a gravidade a deporte
    de volta ao próprio país.
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    A fronteira e o muro dela
  • 7:11 - 7:16
    são hoje considerados
    uma espécie de teatro político.
  • 7:17 - 7:21
    Por isso, talvez devêssemos convidar
    um público para esse teatro binacional,
  • 7:21 - 7:23
    onde as pessoas podem se reunir
  • 7:24 - 7:26
    com artistas, músicos.
  • 7:27 - 7:30
    Talvez o muro não passe
    de um enorme instrumento,
  • 7:30 - 7:34
    o maior xilofone do mundo,
    que poderíamos tocar ao longo do muro
  • 7:34 - 7:36
    com armas de percussão em massa.
  • 7:36 - 7:37
    (Risos)
  • 7:38 - 7:41
    Quando previ essa biblioteca binacional,
  • 7:41 - 7:44
    eu queria imaginar um espaço
    em que fosse possível compartilhar
  • 7:44 - 7:49
    livros, informação e conhecimento
    por toda a divisória,
  • 7:49 - 7:52
    e o muro não passasse
    de uma estante de livros.
  • 7:52 - 7:54
    Talvez a melhor maneira de ilustrar
  • 7:54 - 7:58
    a relação mútua que temos
    com o México e os EUA,
  • 7:58 - 8:01
    seja imaginando uma gangorra
  • 8:01 - 8:05
    em que as ações de um lado
    têm consequência direta
  • 8:05 - 8:07
    no que acontece do outro,
  • 8:07 - 8:09
    porque a fronteira em si
  • 8:09 - 8:13
    é um ponto de apoio simbólico e literal
    para as relações EUA-México
  • 8:13 - 8:17
    e construir muros entre vizinhos
    rompe essas relações.
  • 8:18 - 8:22
    Talvez se lembrem desta citação:
    "Boas cercas fazem bons vizinhos".
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    Ela é frequentemente considerada a moral
    do poema de Robert Frost, "Mending Wall".
  • 8:27 - 8:32
    Mas o poema questiona
    a necessidade de construir muros.
  • 8:32 - 8:35
    Trata-se de um poema sobre melhorar
    as relações humanas.
  • 8:36 - 8:38
    Meu verso preferido é o primeiro:
  • 8:38 - 8:40
    "Algo existe que não adora um muro".
  • 8:41 - 8:43
    Porque uma coisa é clara para mim:
  • 8:43 - 8:46
    não há dois lados definidos por um muro.
  • 8:46 - 8:49
    Isso é uma paisagem dividida.
  • 8:49 - 8:51
    De um lado, pode ser assim:
  • 8:51 - 8:55
    um homem que corta a grama
    enquanto o muro surge no quintal dele.
  • 8:55 - 8:58
    Do outro lado, pode ser assim:
  • 8:58 - 9:01
    o muro é a quarta parede
    da casa de alguém.
  • 9:01 - 9:05
    Mas a realidade é que o muro
    está separando a vida das pessoas.
  • 9:06 - 9:09
    Está separando nossa propriedade privada,
  • 9:09 - 9:13
    as terras públicas, nossas terras
    norte-americanas nativas, nossas cidades,
  • 9:13 - 9:15
    uma universidade,
  • 9:15 - 9:17
    nossos bairros.
  • 9:17 - 9:19
    E não consigo deixar de pensar
  • 9:19 - 9:22
    no que seria se o muro dividisse uma casa.
  • 9:23 - 9:25
    Lembram-se das desigualdades
    entre riqueza e pobreza?
  • 9:25 - 9:28
    À direita, está o tamanho médio
    de uma casa em El Paso, Texas;
  • 9:28 - 9:31
    à esquerda, o tamanho médio
    de uma casa em Juarez.
  • 9:32 - 9:35
    Aqui o muro passa diretamente
    pela mesa da cozinha.
  • 9:36 - 9:39
    E aqui ele passa pela cama do quarto.
  • 9:40 - 9:43
    Porque eu queria comunicar que o muro
    não está dividindo apenas os lugares,
  • 9:43 - 9:46
    mas também pessoas e famílias.
  • 9:46 - 9:52
    A política infeliz do muro está
    separando hoje crianças de seus pais.
  • 9:53 - 9:55
    Vocês devem conhecer
    esta famosa placa de trânsito.
  • 9:55 - 9:59
    Foi desenhado pelo
    designer gráfico John Hood,
  • 9:59 - 10:01
    veterano de guerra norte-americano nativo,
  • 10:01 - 10:04
    que trabalha para o Departamento
    de Transportes da Califórnia.
  • 10:04 - 10:07
    Foi encarregado de criar uma placa
    para avisar os motoristas
  • 10:08 - 10:11
    sobre imigrantes abandonados
    ao longo da rodovia
  • 10:11 - 10:13
    que podem tentar atravessar a estrada.
  • 10:14 - 10:18
    Hood relacionou a situação
    deplorável dos imigrantes de hoje
  • 10:18 - 10:21
    com a dos navajos,
    durante a Grande Caminhada.
  • 10:22 - 10:25
    Essa é realmente uma peça brilhante
    de ativismo no design.
  • 10:26 - 10:27
    Ele foi muito cauteloso
  • 10:27 - 10:31
    ao pensar no uso de uma menininha
    com tranças, por exemplo,
  • 10:31 - 10:34
    porque achou que os motoristas
    poderiam se identificar mais com isso,
  • 10:35 - 10:39
    e usou a silhueta de Cesar Chavez,
    líder dos direitos civis,
  • 10:39 - 10:41
    para criar a cabeça do pai.
  • 10:42 - 10:45
    Eu queria me basear
    na genialidade dessa placa
  • 10:46 - 10:49
    para chamar a atenção para o problema
    da separação das crianças na fronteira,
  • 10:49 - 10:51
    e fiz uma mudança muito simples:
  • 10:51 - 10:53
    virei a família para que pudessem se ver.
  • 10:54 - 10:55
    Nas últimas semanas,
  • 10:55 - 10:58
    tive a oportunidade de trazer
    de volta essa placa para a rodovia
  • 10:58 - 10:59
    para contar uma história:
  • 11:00 - 11:03
    a história das relações
    que deveríamos estar melhorando
  • 11:04 - 11:08
    e um lembrete de que deveríamos
    estar projetando estados reunidos
  • 11:08 - 11:09
    e não estados divididos.
  • 11:10 - 11:11
    Obrigado.
  • 11:11 - 11:13
    (Aplausos)
Title:
A reimaginação subversiva de um arquiteto sobre o muro da fronteira EUA-México
Speaker:
Ronald Rael
Description:

O que é uma fronteira? É uma linha em um mapa, um local onde as culturas se misturam e se unem de maneiras belas, às vezes violentas e ridículas. E um muro de fronteira? "Uma resposta simplista demais para essa complexidade", diz o arquiteto Ronald Rael. Em uma palestra instigante e visual, Rael reimagina a barreira física que divide os EUA e o México, compartilhando obras de arte satíricas e sérias, inspiradas pelas regiões fronteiriças e nos mostrando a fronteira que não vemos nos noticiários. "Não há dois lados definidos por um muro. Isso é uma paisagem dividida", diz Rael.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:28

Portuguese, Brazilian subtitles

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