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A ciência fascinante das bolhas, do sabão ao champanhe

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    Há uns anos, eu estava de visita a Paris
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    a passear ao longo do rio Sena,
    numa bela tarde de verão.
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    Vi bolhas gigantescas
    a flutuar na margem do rio,
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    como esta.
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    Logo a seguir, ela rebentou e desapareceu.
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    A fazê-las estavam dois artistas de rua
    rodeados por uma multidão.
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    Ganhavam a vida a pedir donativos
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    e a vender pares de pauzinhos
    ligados por um cordel.
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    Enquanto eu estava ali, um homem
    comprou um par de pauzinhos por 10 euros,
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    o que me surpreendeu.
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    Sou uma cientista apaixonada por bolhas.
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    Sei qual é o truque para fazer
    as bolhas gigantescas.
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    É a água com sabão, nas quantidades certas
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    — não são os pauzinhos
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    que podem ser necessários
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    mas que podem ser feitos
    facilmente em casa.
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    Se nos concentrarmos nos pauzinhos,
    não vemos que o importante é a bolha.
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    As bolhas podem parecer uma coisa
    que só as crianças fazem para brincar
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    mas, por vezes, podem ser espantosas.
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    Porém, há uma ciência
    mais fascinante nas bolhas,
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    como instrumentos para resolver problemas.
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    Vou contar-vos algumas histórias
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    sobre a ciência de criar bolhas
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    e a ciência de eliminar
    as bolhas microscópicas.
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    Como é o que já está no ecrã,
    vamos começar pela bolha de sabão.
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    É feita de substâncias muito vulgares:
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    ar, água, sabão, numa mistura correta.
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    Vemos que as bolhas de sabão
    estão sempre a mudar de cor.
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    Isso deve-se à interação com a luz
    em várias direções
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    e as mudanças da sua espessura.
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    Uma das substâncias vulgares,
    as moléculas da água,
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    são formadas por dois átomos de hidrogénio
    e um átomo de oxigénio — H2O.
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    Na maior parte das superfícies,
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    as gotas de água têm tendência
    para se curvarem para dentro,
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    assumindo uma forma semiesférica.
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    Isso acontece porque a superfície
    das gotas de água
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    é como uma folha elástica.
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    As moléculas da água à superfície
    estão sempre a ser puxadas para dentro
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    pela molécula no centro.
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    A qualidade da elasticidade é aquilo
    a que chamamos "tensão superficial".
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    Se acrescentarmos sabão,
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    o que acontece é que as moléculas de sabão
    reduzem a tensão superficial da água,
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    tornando-a mais elástica
    e mais fácil de formar bolhas.
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    Podem pensar numa bolha
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    como uma solucionadora
    de problemas de matemática.
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    Vemo-la, incansável, a tentar
    conseguir uma perfeição geométrica.
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    Por exemplo, uma esfera é a forma
    que tem a menor área de superfície
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    para um determinado volume.
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    É por isso que uma simples bolha
    tem sempre a forma de uma esfera.
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    Vou mostrar. Reparem.
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    Isto é uma simples bolha.
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    Quando duas bolhas tocam uma na outra...
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    podem poupar material
    se partilharem uma parede comum.
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    Quando se juntam cada vez mais bolhas,
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    a geometria delas vai mudando.
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    Estas quatro bolhas juntaram-se.
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    Encontram-se num mesmo ponto no centro.
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    Quando se juntam seis bolhas,
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    aparece um cubo mágico no centro.
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    (Aplausos)
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    É a tensão superficial a funcionar,
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    a tentar encontrar a organização
    geométrica mais eficaz.
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    Vou dar outro exemplo.
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    É um objeto muito simples.
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    É feito de duas camadas de plástico
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    com quatro pinos que as ligam uma à outra.
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    Imaginem que estes quatro pinos
    representam quatro cidades
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    que estão todas à mesma distância
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    e nós queríamos fazer estradas
    para ligar estas quatro cidades.
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    A minha pergunta é:
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    Qual é o comprimento mais curto
    para ligar estas quatro cidades?
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    Vamos procurar a resposta
    mergulhando-o em água com sabão.
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    Não se esqueçam, a bolha de sabão
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    vai sempre tentar minimizar
    a sua área superficial
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    com uma forma geométrica perfeita.
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    A solução nem sempre será
    aquilo que esperamos.
  • 5:50 - 5:54
    O comprimento mais curto
    para ligar estas quatro cidades
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    é 2,73 vezes a distância
    entre estas duas cidades.
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    (Aplausos)
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    Penso que já apanharam a ideia.
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    A bolha de sabão forma-se sempre
    tentando minimizar a sua área superficial
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    com uma forma geométrica perfeita.
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    Vamos olhar agora para bolhas
    sob outra perspetiva.
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    A minha filha, Zoe, adora ir
    ao jardim zoológico.
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    O sítio que prefere é Penguin Cove
    no Zoo Marwell, no sul de Inglaterra,
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    onde ela pode ver os pinguins
    a nadar velozmente debaixo de água.
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    Um dia, reparou que o corpo dos pinguins
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    deixa um rasto de bolhas quando nada
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    e perguntou: "Porquê?"
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    Os animais e aves como os pinguins
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    que passam muito tempo debaixo de água
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    desenvolveram uma forma engenhosa
    de utilizar a capacidade das bolhas
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    para reduzir a densidade da água.
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    Pensa-se que os pinguins-imperadores
    conseguem mergulhar centenas de metros
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    abaixo da superfície do mar.
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    Pensa-se que armazenam o ar
    debaixo das penas
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    antes de mergulharem
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    e depois, libertam-no pouco a pouco
    numa nuvem de bolhas.
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    Isso reduz a densidade
    da água que os rodeia,
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    tornando mais fácil eles avançarem
  • 7:30 - 7:35
    e aumentando a sua velocidade
    em, pelo menos, 40%.
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    Esta característica foi observada
    pelos fabricantes de navios.
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    Estou a falar dos grandes navios,
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    aqueles que são utilizados
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    para transportar milhares de contentores,
    através do oceano.
  • 7:50 - 7:55
    Recentemente, desenvolveram um sistema
    chamado "sistema de lubrificação por ar",
  • 7:55 - 7:57
    inspirado nos pinguins.
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    Neste sistema, eles produzem
    uma grande quantidade de bolhas de ar
  • 8:02 - 8:06
    e redistribuem-nas por todo o navio,
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    como uma carpete de ar
    que reduz a resistência da água
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    quando o navio está em movimento.
  • 8:14 - 8:18
    Esta característica reduz o consumo
    de energia do navio
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    até 15%.
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    As bolhas também podem ser
    usadas em medicamentos.
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    Também desempenham um papel
    nos medicamentos.
  • 8:31 - 8:35
    Por exemplo, como um método
    para sistemas não invasivos
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    de administração
    de medicamentos e de genes
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    numa parte específica do corpo.
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    Imaginem uma microbolha
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    cheia com uma mistura de drogas
    e de agentes magnéticos
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    que é injetada na corrente sanguínea.
  • 8:50 - 8:54
    As bolhas avançarão
    para as áreas do destino.
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    Mas, como é que elas sabem
    para onde devem ir?
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    Porque colocamos lá um íman.
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    Por exemplo, esta parte da minha mão.
  • 9:01 - 9:05
    Quando as microbolhas
    avançam para esta parte da minha mão,
  • 9:05 - 9:09
    podemos rebentá-la através de ultrassons
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    e libertar a droga exatamente
    onde ela é necessária.
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    Tenho referido a ciência de criar bolhas
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    mas, por vezes, também
    precisamos de as eliminar.
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    Isso faz parte do meu trabalho.
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    O título do meu trabalho é:
    "cientista de formulação de tinta".
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    Mas não trabalho na tinta
    que usamos para as canetas.
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    Trabalho em aplicações muito interessantes
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    como energia fotovoltaica orgânica,
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    e díodos orgânicos emissores de luz, OLED,
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    Uma parte do meu trabalho é descobrir
    como e porquê queremos eliminar as bolhas
  • 9:52 - 9:54
    da tinta que a minha empresa produz.
  • 9:55 - 9:58
    Durante o processo de mistura da fórmula,
  • 9:58 - 10:00
    ou seja, do processo de preparação,
  • 10:00 - 10:06
    misturamos ingredientes ativos,
    solventes e aditivos
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    para conseguir as fórmulas
    com as propriedades que queremos
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    quando a tinta é usada.
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    Mas, tal como quando fazemos bebidas
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    ou fazemos bolos,
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    é inevitável que algumas bolhas de ar
    fiquem presas dentro dessa tinta.
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    Estamos aqui a falar
    de um espaço diferente
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    das bolhas que eu vi em Paris.
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    O tamanho das bolhas que ficam presas
    dentro dessas tintas
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    pode ser de alguns milímetros
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    de alguns micrómetros,
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    ou mesmo de alguns nanómetros.
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    A nossa preocupação
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    é o oxigénio e a humidade
    que ficam presos lá dentro.
  • 10:47 - 10:52
    A esta escala, não é fácil eliminá-las,
  • 10:52 - 10:54
    mas é importante,
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    por exemplo, para as tintas com díodos
    orgânicos que emitem luz,
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    que usamos, por exemplo, nos ecrãs
    dos telemóveis inteligentes.
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    Devem durar muitos anos
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    mas, se a tinta que usarmos,
    for absorvida pelo oxigénio e humidade,
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    que não forem eliminados,
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    vemos aparecer, rapidamente,
    manchas negras no meio dos píxeis.
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    Um problema que enfrentamos
    para eliminar as microbolhas
  • 11:30 - 11:33
    é que elas não são muito cooperantes.
  • 11:33 - 11:35
    Gostam de estar lá,
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    a tomar banho na tinta,
    sem se mexerem muito.
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    Como é que as expulsamos?
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    Uma tecnologia que usamos
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    é forçar a tinta a passar
    por um tubo delgado, longo e minúsculo
  • 11:50 - 11:52
    com uma parede porosa.
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    Colocamos os tubos dentro
    de uma câmara de vácuo,
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    para as bolhas serem espremidas
    para fora da tinta
  • 12:00 - 12:02
    e serem eliminadas.
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    Depois de conseguirmos
    eliminar as bolhas da tinta que fabricamos
  • 12:09 - 12:12
    chega a altura de festejar.
  • 12:14 - 12:17
    Vamos abrir uma garrafa de espumante.
  • 12:24 - 12:26
    Oh, isto vai ser divertido!
  • 12:26 - 12:29
    (Risos)
  • 12:31 - 12:32
    Uau!
  • 12:33 - 12:36
    (Aplausos)
  • 12:40 - 12:46
    Vemos imensas bolhas
    a sair da garrafa de champanhe.
  • 12:47 - 12:51
    São as bolhas cheias
    de dióxido de carbono,
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    um gás que é produzido durante
    o processo de fermentação do vinho.
  • 12:57 - 12:59
    Vou deitar um pouco.
  • 13:01 - 13:03
    Não posso perder a ocasião.
  • 13:10 - 13:12
    Penso que chega.
  • 13:17 - 13:22
    Vejo aqui muitas microbolhas,
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    a passar do fundo do copo
    para a parte de cima do champanhe.
  • 13:28 - 13:30
    Antes de elas rebentarem,
  • 13:31 - 13:36
    vou deitar pequenas gotas
    de moléculas aromáticas
  • 13:36 - 13:40
    e intensificar o perfume do espumante,
  • 13:40 - 13:43
    o que nos faz apreciar ainda mais
    o perfume do espumante.
  • 13:44 - 13:48
    Como sou uma cientista que tem
    uma paixão por bolhas,
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    adoro vê-las,
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    adoro brincar com elas,
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    e adoro estudá-las.
  • 13:55 - 13:57
    E também adoro bebê-las.
  • 13:57 - 13:58
    Obrigada.
  • 13:58 - 14:02
    (Aplausos)
Title:
A ciência fascinante das bolhas, do sabão ao champanhe
Speaker:
Li Wei Tan
Description:

Nesta curiosa palestra e demonstração ao vivo, Li Wei Tan revela os segredos das bolhas — desde a sua procura incansável da perfeição geométrica, às suas aplicações na medicina e na navegação, em que os "designers" criam navios mais eficazes, imitando as bolhas criadas pelos pinguins, quando nadam. Saibam mais sobre estas maravilhas matemáticas e descubram a magia oculta no mundo quotidiano.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:17

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