Feitiços, ameaças e dragões: As mensagens secretas das pedras rúnicas dos Víquingues — Jesse Byock

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Com as suas aptidões de navegação e os compridos barcos sofisticados, os Víquingues mantiveram a sua nação marítima durante mais de 300 anos. Mas, apesar de todo esse poder, deixaram-nos poucos monumentos. Em vez deles, fragmentos de pedras, de casca de árvore e de ossos encontrados nos locais de antigas povoações fornecem-nos as pistas para a sua cultura. Muitos desses objetos têm inscrições em letras rúnicas do antigo norueguês.

Lição de Jesse Byock, realização de Lisa LaBracio.

No século VIII da nossa era,
surgiram Víquingues dos mares enevoados.

Vindos da Escandinávia,
no norte da Europa

percorreram o mundo.

Alguns pilharam as ilhas britânicas
e a França, antes de ali se instalarem.

Outros aventuraram-se
na exploração do Ártico

ou abriram novas rotas comerciais
inteligentes até ao Médio Oriente.

Com excelentes aptidões de navegação,
compridos e sofisticados barcos,

e táticas temíveis,

os Víquingues mantiveram
a sua nação marítima

durante mais de 300 anos.

Mas, apesar de todo esse poder,
deixaram-nos poucos monumentos.

Em vez deles, fragmentos de pedras,
de cascas de árvore e de ossos

fornecem-nos as pistas para a sua cultura.

Encontrados em sepulturas, pântanos
e locais de povoações antigas

muitos destes objetos têm inscrições

com mensagens em antigo norueguês
gravados em letras rúnicas.

Mas os Vikings também fizeram inscrições
rúnicas em objetos caseiros,

joias, armas e até em sapatos.

Decifrar estas mensagens
não é uma tarefa fácil.

As inscrições rúnicas são feitas
em linhas curtas, retas e diagonais

que formam um alfabeto
chamado o "futhark".

Todas as classes de pessoas falavam
e escreviam nesta língua,

em dialetos muito diferentes.

Não havia uma regra de escrita,
escreviam as letras rúnicas individuais

pronunciando os sons
dos seus sotaques regionais.

Algumas dessas inscrições
revelam influência de outras culturas

com quem os Vikings interagiam

— por exemplo, a inscrição rúnica
"o amor vence tudo"

é originária duma frase latina
do poeta Virgílio.

Muitas eram gravadas em verso.
como a enigmática pedra rúnica Rok,

símbolo da tradição
da antiga poesia norueguesa.

Apesar de os runologistas modernos
conseguirem ler as inscrições rúnicas,

o sentido delas nem sempre é claro.

Mas, apesar dos mistérios que se mantêm,

têm sido decifradas muitas das inscrições

que recordam os mortos
e que registam histórias locais,

em conjunto com encantamentos mágicos.

As runas Ramsund em sueco estão gravadas
num afloramento rochoso junto de uma ponte

para os viajantes que atravessam
aquele terreno pantanoso.

Este passadiço foi encomendado

por uma importante mulher local
chamada Sigríðr.

Manifestou a sua importância
e o poder da sua família

gravando os nomes na pedra

e associando-se a si e à sua família
a um heroísmo mítico

gravando ilustrações de Sigurd,
o matador de dragões.

Na cidade de Julling, na Dinamarca,

duas pedras erguidas no século X

recordam diferentes gerações
duma família real.

A primeira foi erigida
pelo Rei Gorm o Velho

em memória da sua Rainha Thyrvi

e a segunda pelo filho deles,
Harald Bluetooth, depois da morte de Gorm.

As pedras anunciam o poder
desta dinastia da Era Viking

e estão entre os documentos
históricos mais antigos da Dinamarca.

Indicam que a Dinamarca
foi o primeiro grande reino da Era Viking,

dizendo-nos que Harold controlava
o sul da Noruega

e que se converteu ao cristianismo.

Hoje, as iniciais de Harold Bluetooth
formam o logotipo Bluetooth.

Egi, o poeta guerreiro do século X,
foi um famoso gravador de runas.

Segundo relatos poéticos,

gravou inscrições rúnicas
num corno cheio de veneno

fazendo estilhaçar o corno.

Noutra história,

Egil salva a vida duma rapariga
colocando um pedaço de osso de baleia

com gravação de runas curativas,
debaixo da almofada dela.

A poesia norueguesa
fala de feitiços rúnicos,

destinados a acalmar o mar, a proteger
os partos e a triunfar nas batalhas.

Mas a natureza exata desses feitiços
não é bem conhecida

— muitas das inscrições sobre espadas,
machados e lanças são indecifráveis.

Outros objetos, como o amuleto Lindholm,

têm inscrições que podem ser
encantamentos, adivinhas,

ou mensagens religiosas.

Embora seja difícil situar
o fim da Era Víquingue,

por volta de 1100, a expansão marítima
dos Víquingues tinha chegado ao fim.

Mas as pessoas continuaram a falar
versões do norueguês antigo

por toda a Escandinávia.

As runas mantiveram-se em uso
nas áreas rurais até ao século XIX.

Hoje, muitas pedras rúnicas continuam
situadas nos seus locais originais.

As inscrições na pedra
dinamarquesa Glavendrup

têm declarado, assustadoramente,
durante mil anos:

"Bruxo seja quem danificar esta pedra
ou a use em memória de outro!"