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O nosso tratamento para o VIH progrediu. Porque razão o estigma não mudou?

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    Queria começar esta palestra
    mostrando-vos a todos esta fotografia,
  • 0:05 - 0:08
    que muitos de vocês
    provavelmente já viram antes.
  • 0:08 - 0:11
    Quero que durante um instante
  • 0:11 - 0:13
    olhem para esta fotografia
  • 0:13 - 0:16
    e reflitam sobre algumas
    das coisas que vos vêm à cabeça,
  • 0:16 - 0:19
    e o que são essas coisas,
    essas palavras.
  • 0:20 - 0:23
    Agora vou pedir-vos
    que olhem para mim.
  • 0:24 - 0:28
    Que palavras é que vos vêm à cabeça
    quando olham para mim?
  • 0:29 - 0:31
    O que é que separa
    aquele homem ali em cima
  • 0:31 - 0:33
    de mim?
  • 0:35 - 0:38
    A fotografia é de David Kirby
    e foi tirada em 1990,
  • 0:38 - 0:41
    quando ele estava a morrer de uma doença
    relacionada com a SIDA,
  • 0:41 - 0:44
    e foi subsequentemente
    publicada na revista "Life".
  • 0:44 - 0:47
    A única coisa que me separa do Kirby
  • 0:48 - 0:52
    são cerca de 30 anos de avanços médicos
    no modo como tratamos o VIH e a SIDA.
  • 0:53 - 0:57
    Então, aquilo que eu quero
    perguntar é isto:
  • 0:58 - 1:01
    Se nós fizemos
    um progresso tão exponencial
  • 1:01 - 1:03
    no combate ao VIH
  • 1:03 - 1:07
    por que razão a nossa perceção daqueles
    com o vírus não evoluiu paralelamente?
  • 1:08 - 1:11
    Por que razão o VIH desencadeia
    esta reação em nós,
  • 1:11 - 1:13
    quando é tão facilmente controlado?
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    Quando é que essa estigmatização ocorreu,
  • 1:17 - 1:20
    e por que razão ela não diminuiu?
  • 1:21 - 1:24
    Estas perguntas
    não são fáceis de responder.
  • 1:24 - 1:28
    Elas são a solidificação de uma enorme
    diversidade de fatores e ideias
  • 1:28 - 1:30
    Imagens poderosas, como esta do Kirby.
  • 1:30 - 1:34
    Estes foram os rostos
    da crise da SIDA nos anos 80 e 90,
  • 1:34 - 1:37
    e, nessa altura, a crise
    teve um impacto óbvio
  • 1:37 - 1:39
    num grupo de pessoas já estigmatizado:
  • 1:39 - 1:41
    os homens homossexuais.
  • 1:41 - 1:45
    O que o público heterossexual geral via
    era esta coisa terrível
  • 1:45 - 1:50
    a acontecer a um grupo de pessoas
    que já estava à margem da sociedade.
  • 1:50 - 1:53
    Os "media" da altura começaram a usá-los
    como termos equivalentes
  • 1:54 - 1:55
    — homossexualidade e SIDA —
  • 1:55 - 1:58
    e na Convenção Nacional
    Republicana de 1984,
  • 1:58 - 2:00
    um dos oradores gracejou
  • 2:00 - 2:03
    que a homossexualidade equivalia a:
    "Já tens SIDA?"
  • 2:04 - 2:06
    Era essa a mentalidade da altura.
  • 2:06 - 2:09
    Mas à medida que começámos
    a compreender melhor o vírus
  • 2:09 - 2:11
    e o modo como é transmitido,
  • 2:11 - 2:14
    apercebemo-nos de que esse risco
    tinha aumentado o seu território.
  • 2:15 - 2:19
    O famoso caso de Ryan White em 1985,
  • 2:19 - 2:21
    um hemofílico de 13 anos,
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    que contraiu VIH através
    de um tratamento de sangue contaminado,
  • 2:25 - 2:30
    marcou a mais profunda viragem
    na perceção americana do VIH.
  • 2:30 - 2:34
    Deixou de estar restrito
    aos becos escuros da sociedade,
  • 2:34 - 2:36
    a homossexuais e toxicodependentes.
  • 2:36 - 2:38
    Agora estava a afetar pessoas
  • 2:38 - 2:41
    que a sociedade considerava
    dignas da sua empatia,
  • 2:41 - 2:42
    as crianças.
  • 2:42 - 2:47
    Mas aquele medo impregnado
    e aquela perceção, ainda perduram.
  • 2:48 - 2:51
    Quero que levantem a mão
    nestas próximas perguntas.
  • 2:51 - 2:54
    Quantos de vocês aqui presentes,
    estavam conscientes de que, com tratamento,
  • 2:55 - 2:58
    aqueles com VIH não só
    se libertam completamente da SIDA,
  • 2:58 - 3:00
    mas também vivem
    uma vida plena e normal?
  • 3:02 - 3:04
    Vocês são todos cultos.
  • 3:04 - 3:05
    (Risos)
  • 3:05 - 3:07
    Quantos de vocês sabiam
    que com tratamento,
  • 3:07 - 3:11
    quem tem VIH pode alcançar
    um estado indetetável,
  • 3:11 - 3:14
    e isso torna-o praticamente
    não contagiosos?
  • 3:15 - 3:17
    Muito menos.
  • 3:17 - 3:18
    Quantos de vós tinham consciência
  • 3:18 - 3:22
    de que há tratamentos
    pré e pós exposição disponíveis
  • 3:22 - 3:25
    que reduzem o risco de transmissão
    em mais de 90%?
  • 3:27 - 3:32
    Como veem, estes são avanços incríveis
    que fizemos no combate ao VIH.
  • 3:32 - 3:35
    Contudo, eles não conseguiram
    mudar a perceção
  • 3:35 - 3:38
    que a maioria dos americanos têm do vírus
    e daqueles que vivem com ele.
  • 3:40 - 3:44
    Eu não quero que vocês pensem
    que estou a subestimar o perigo do vírus,
  • 3:44 - 3:48
    e não ignoro o passado angustiante
    da epidemia de SIDA.
  • 3:49 - 3:52
    Estou a tentar transmitir
    que há esperança para os infetados
  • 3:52 - 3:55
    e que o VIH não é a sentença de morte
    que era nos anos 80.
  • 3:56 - 4:00
    Vocês podem perguntar, e eu fiz
    esta pergunta a mim mesmo inicialmente:
  • 4:00 - 4:01
    Onde estão as histórias?
  • 4:01 - 4:05
    Onde estão essas pessoas a viver com VIH?
    Porque é que não lhes foi dada voz?
  • 4:05 - 4:09
    Como é que eu posso acreditar
    nestes sucessos ou nestas estatísticas,
  • 4:09 - 4:12
    sem ver estes mesmos sucessos?
  • 4:12 - 4:16
    Na verdade, posso responder
    facilmente a essa pergunta.
  • 4:17 - 4:20
    "Medo, estigma e vergonha"
  • 4:20 - 4:24
    é o que mantém aqueles que vivem com VIH
    no armário, por assim dizer.
  • 4:24 - 4:28
    As nossas histórias sexuais são tão
    pessoais para nós como as médicas,
  • 4:28 - 4:30
    e quando as duas se sobrepõem,
  • 4:30 - 4:32
    encontram-se num espaço muito delicado.
  • 4:32 - 4:35
    O medo de como os outros nos encaram,
    quando somos sinceros,
  • 4:35 - 4:38
    impede-nos de fazermos
    diversas coisas na vida,
  • 4:38 - 4:41
    e este é o caso da população seropositiva.
  • 4:41 - 4:44
    Enfrentar o escrutínio
    e a ridicularização social
  • 4:44 - 4:47
    é o preço que pagamos pela transparência.
  • 4:47 - 4:50
    Porquê tornarmo-nos um mártir
  • 4:50 - 4:53
    quando podemos
    passar por alguém sem VIH?
  • 4:53 - 4:57
    Afinal de contas, não há nenhum
    indício físico de que se tem o vírus.
  • 4:57 - 4:59
    Não há nenhuma placa que se use.
  • 5:00 - 5:03
    Há segurança na assimilação,
  • 5:03 - 5:05
    e há segurança na invisibilidade.
  • 5:07 - 5:10
    Estou aqui para levantar esse véu
    e partilhar a minha história.
  • 5:12 - 5:15
    No outono de 2014,
    eu estava no 2.º ano da faculdade
  • 5:15 - 5:19
    e, tal como a maioria dos estudantes,
    eu era sexualmente ativo.
  • 5:19 - 5:23
    Geralmente, tomava precauções para
    minimizar o risco que o sexo implica.
  • 5:23 - 5:27
    Digo geralmente,
    porque nem sempre estava seguro.
  • 5:27 - 5:30
    Basta um único deslize
    para nos deitar por terra,
  • 5:30 - 5:32
    e o meu deslize é mais do que óbvio.
  • 5:32 - 5:36
    Eu tive sexo desprotegido
    e nem pensei muito nisso.
  • 5:36 - 5:38
    Avançando rapidamente umas três semanas,
  • 5:38 - 5:42
    parecia que tinha sido pisado
    por uma manada de gnus.
  • 5:42 - 5:44
    As dores no meu corpo
  • 5:44 - 5:47
    em nada eram comparáveis
    com outras que senti antes ou depois.
  • 5:47 - 5:50
    Eu tinha ataques de febre e gelava.
  • 5:50 - 5:53
    Cambaleava com as náuseas
    e tinha dificuldade em andar.
  • 5:54 - 5:58
    Por ser um estudante de biologia, já
    tivera uma exposição anterior à doença,
  • 5:58 - 6:01
    e sendo um homossexual bem informado,
    já tinha lido um pouco sobre o VIH,
  • 6:01 - 6:05
    por isso ocorreu-me
    que isto era a seroconversão,
  • 6:05 - 6:08
    ou como por vezes é chamada,
    infeção primária de VIH.
  • 6:08 - 6:09
    É esta a reação do corpo
  • 6:09 - 6:12
    ao produzir anticorpos
    para o antígeno do VIH.
  • 6:13 - 6:17
    É importante salientar que nem toda
    a gente passa por esta fase da doença,
  • 6:17 - 6:19
    mas eu fui um dos sortudos que passou.
  • 6:19 - 6:23
    E tive sorte
    porque tive sintomas físicos
  • 6:23 - 6:26
    que me fizeram ver que algo estava errado,
  • 6:26 - 6:29
    o que me permitiu
    detetar o vírus bastante cedo.
  • 6:29 - 6:34
    Apenas para clarificar,
    apenas para pôr tudo em pratos limpos,
  • 6:34 - 6:35
    fiz o teste na faculdade.
  • 6:36 - 6:39
    E disseram-me que me iriam ligar
    na manhã seguinte com os resultados.
  • 6:40 - 6:41
    Ligaram-me,
  • 6:41 - 6:44
    mas pediram-me para ir lá
    e falar com a médica de serviço.
  • 6:45 - 6:49
    A reação dela
    não foi a que eu esperava.
  • 6:50 - 6:53
    Ela confirmou-me aquilo que eu já sabia,
    que aquilo não era uma sentença de morte,
  • 6:53 - 6:56
    e até se ofereceu para
    me pôr em contacto com o irmão dela
  • 6:56 - 6:59
    que vivia com VIH
    desde o início dos anos 90.
  • 7:00 - 7:03
    Eu recusei a sua proposta,
    mas senti-me profundamente tocado.
  • 7:03 - 7:05
    Eu estava à espera de ser repreendido.
  • 7:05 - 7:08
    Estava à espera de pena
    e de desapontamento,
  • 7:08 - 7:12
    e ela mostrou compaixão
    e calor humano.
  • 7:12 - 7:15
    Estou-lhe eternamente grato
    por esse primeiro contacto
  • 7:16 - 7:20
    Obviamente nas semanas seguintes,
    eu estava fisicamente mal
  • 7:20 - 7:23
    Emocional e mentalmente,
    eu estava bem.
  • 7:23 - 7:25
    Estava a lidar bem com a situação.
  • 7:25 - 7:27
    Mas o meu corpo estava devastado,
  • 7:27 - 7:29
    e aqueles mais chegados,
    não estavam desatentos.
  • 7:30 - 7:32
    Então reuni os meus colegas de quarto
  • 7:32 - 7:35
    e contei-lhes que tinha sido
    diagnosticado com VIH,
  • 7:35 - 7:39
    que estava prestes a receber tratamento,
    e que não queria preocupá-los.
  • 7:39 - 7:42
    Lembro-me de olhar para as caras deles.
  • 7:42 - 7:45
    Eles estavam agarrados um ao outro
    no sofá e estavam a chorar.
  • 7:45 - 7:47
    Eu consolei-os.
  • 7:47 - 7:50
    Consolei-os sobre
    as minhas próprias más notícias,
  • 7:50 - 7:53
    mas fiquei de coração cheio
    por ver que eles se importavam.
  • 7:54 - 7:57
    Mas a partir dessa noite,
    reparei que houve uma mudança
  • 7:57 - 7:59
    no modo como eu era tratado em casa.
  • 7:59 - 8:01
    Eles não tocavam
    em nada que fosse meu
  • 8:01 - 8:04
    e não comiam nada
    que eu tivesse cozinhado.
  • 8:04 - 8:07
    Agora, na Luisiana do Sul,
  • 8:07 - 8:09
    todos nós sabemos
    que não se recusa comida.
  • 8:09 - 8:10
    (Risos)
  • 8:11 - 8:14
    E sou um cozinheiro mesmo bom,
    não pensem que isso me passou ao lado.
  • 8:14 - 8:16
    (Risos)
  • 8:16 - 8:18
    Mas desde as primeiras
    insinuações silenciosas,
  • 8:18 - 8:20
    a aversão foi ficando
    gradualmente mais óbvia
  • 8:21 - 8:22
    e mais ofensiva.
  • 8:22 - 8:26
    Pediram-me para tirar a minha
    escova de dentes da casa de banho,
  • 8:26 - 8:29
    pediram-me para não partilharmos toalhas,
  • 8:29 - 8:32
    e até me pediram para lavar as minhas
    roupas num programa mais quente.
  • 8:33 - 8:34
    Isto não eram piolhos.
  • 8:34 - 8:37
    Isto não era sarna. Isto era VIH.
  • 8:37 - 8:39
    Pode ser transmitido pelo sangue,
  • 8:39 - 8:42
    por fluidos sexuais como
    o sémen ou fluidos vaginais
  • 8:42 - 8:43
    e leite materno.
  • 8:43 - 8:46
    Como eu não estava a dormir
    com os meus colegas de quarto,
  • 8:46 - 8:48
    não os estava a amamentar
  • 8:48 - 8:49
    (Risos)
  • 8:49 - 8:52
    e não estávamos
    a reencenar o "Crepúsculo".
  • 8:52 - 8:54
    Eu não representava um risco para eles
  • 8:54 - 8:56
    e eu expliquei-lhes isso,
  • 8:56 - 8:59
    mas, apesar disso, este
    desconforto continuou,
  • 8:59 - 9:02
    até que finalmente me pediram
    para me ir embora.
  • 9:02 - 9:03
    Pediram-me para sair
  • 9:03 - 9:07
    porque uma das minhas colegas de quarto
    contou aos pais a minha situação.
  • 9:07 - 9:12
    Ela partilhou a minha informação
    médica pessoal com estranhos.
  • 9:13 - 9:17
    E agora eu estou a fazer o mesmo
    numa sala cheia com 300 pessoas,
  • 9:17 - 9:20
    mas nessa altura, isto não era algo
    com que eu estivesse confortável.
  • 9:20 - 9:24
    Eles expressaram o seu desconforto
    por a filha deles viver comigo.
  • 9:25 - 9:28
    Por ser homossexual,
    criado numa família religiosa
  • 9:28 - 9:29
    e viver no Sul,
  • 9:29 - 9:31
    a discriminação não era nova para mim.
  • 9:32 - 9:34
    Mas esta forma era,
  • 9:34 - 9:36
    e era tremendamente desapontante
  • 9:36 - 9:39
    porque vinha de uma fonte inesperada.
  • 9:40 - 9:43
    Não só eles eram pessoas
    educadas na faculdade,
  • 9:44 - 9:47
    não só eram outros
    membros da comunidade LGBT,
  • 9:47 - 9:50
    mas também eram meus amigos.
  • 9:50 - 9:54
    Então fi-lo. Fui-me embora
    no final do semestre.
  • 9:54 - 9:56
    Mas não foi para lhes agradar.
  • 9:56 - 9:58
    Seria uma falta de respeito para comigo.
  • 9:58 - 10:01
    Eu não me ia sujeitar a pessoas
  • 10:01 - 10:04
    que não queriam remediar a sua ignorância,
  • 10:04 - 10:07
    e não ia deixar que algo
    que agora fazia parte de mim
  • 10:07 - 10:09
    alguma vez fosse usado contra mim.
  • 10:09 - 10:13
    Por isso, optei por ser transparente
    quanto à minha condição,
  • 10:13 - 10:15
    ser sempre visível.
  • 10:16 - 10:19
    Fui aquilo a que gosto de chamar
    "ser um advogado diário".
  • 10:19 - 10:23
    O propósito desta transparência,
    o propósito desta advocacia diária,
  • 10:23 - 10:25
    era dissipar a ignorância,
  • 10:26 - 10:28
    e a ignorância é uma palavra
    deveras assustadora.
  • 10:28 - 10:31
    Não queremos
    ser vistos como ignorantes,
  • 10:31 - 10:33
    e definitivamente não queremos
    que nos chamem isso.
  • 10:34 - 10:36
    Mas a ignorância não é
    sinónimo de estupidez.
  • 10:37 - 10:39
    Não é a incapacidade de aprender.
  • 10:39 - 10:42
    É o estado em que nos encontramos
    antes de aprendermos.
  • 10:42 - 10:45
    Por isso quando eu via alguém
    que vinha de um estado ignorante,
  • 10:45 - 10:48
    via uma oportunidade
    para eles aprenderem.
  • 10:49 - 10:52
    E esperançosamente, se eu pudesse
    expandir alguma educação,
  • 10:52 - 10:54
    poderia suavizar situações para outros
  • 10:54 - 10:57
    como a que experienciara
    com os meus colegas de quarto
  • 10:57 - 11:00
    e poupar alguém a essa
    humilhação mais tarde.
  • 11:01 - 11:04
    As reações que eu recebi
    não foram todas positivas.
  • 11:05 - 11:07
    Aqui no Sul,
  • 11:07 - 11:10
    temos um enorme estigma
    devido a pressões religiosas,
  • 11:10 - 11:13
    à nossa falta de uma
    educação sexual exaustiva
  • 11:13 - 11:17
    e à nossa visão geralmente conservadora
    relativamente a qualquer coisa sexual.
  • 11:17 - 11:19
    Vemos isto como
    uma doença de homossexuais.
  • 11:19 - 11:22
    Globalmente, a maioria
    das novas infeções por HIV
  • 11:22 - 11:24
    ocorrem entre
    parceiros heterossexuais,
  • 11:24 - 11:27
    e aqui nos EUA, as mulheres,
    especialmente mulheres de cor,
  • 11:27 - 11:29
    correm um risco maior.
  • 11:29 - 11:32
    Esta não é uma doença de homossexuais.
    Nunca foi.
  • 11:32 - 11:35
    É uma doença que nos deveria
    preocupar a todos.
  • 11:35 - 11:38
    Inicialmente, senti-me limitado.
  • 11:39 - 11:43
    Queria expandir o meu alcance e chegar
    além daquilo que estava à minha volta.
  • 11:44 - 11:46
    Então, naturalmente,
  • 11:46 - 11:50
    entrei no mundo obscuro
    das aplicações de encontros online,
  • 11:50 - 11:52
    aplicações como a Grindr.
  • 11:52 - 11:54
    Para quem não está familiarizado,
  • 11:54 - 11:56
    são aplicações de encontros
    para homossexuais.
  • 11:56 - 11:58
    Podemos criar um perfil
    com fotografia
  • 11:58 - 12:01
    e ela mostra-nos quem está disponível
    dentro de um raio.
  • 12:01 - 12:03
    Provavelmente todos vós já
    ouviram falar do Tinder.
  • 12:03 - 12:05
    A Grindr já existe há mais tempo,
  • 12:05 - 12:08
    pois era muito mais difícil conhecer
    o vosso futuro marido homossexual
  • 12:08 - 12:12
    na igreja ou na mercearia, ou seja, o que
    for que as pessoas heterossexuais faziam
  • 12:12 - 12:15
    antes de descobrirem que podiam
    usar os telemóveis para encontros.
  • 12:15 - 12:17
    (Risos)
  • 12:17 - 12:19
    Na Grindr, se gostassem daquilo
    que viam ou liam,
  • 12:19 - 12:22
    podiam enviar uma mensagem a alguém,
    podiam encontrar-se,
  • 12:22 - 12:23
    podiam fazer outras coisas.
  • 12:25 - 12:28
    No meu perfil, eu obviamente
    indiquei que tinha VIH,
  • 12:28 - 12:29
    que era indetetável,
  • 12:29 - 12:32
    e disponibilizei-me para responder
    a questões sobre a minha condição.
  • 12:32 - 12:34
    E recebi uma data de perguntas
  • 12:34 - 12:37
    e uma data de comentários,
    tanto positivos como negativos.
  • 12:37 - 12:40
    Vou começar com os negativos,
  • 12:40 - 12:44
    apenas para enquadrar alguma
    da ignorância que antes mencionei.
  • 12:44 - 12:48
    A maioria dos comentários negativos eram
    mais do que observações ou suposições.
  • 12:49 - 12:52
    Eles assumiam coisas sobre a minha vida
    sexual ou os meus hábitos sexuais.
  • 12:52 - 12:55
    Assumiam que me tinha colocado
    a mim e aos outros em risco.
  • 12:55 - 12:59
    Mas eu levava frequentemente apenas
    com observações ignorantes passageiras.
  • 13:00 - 13:04
    Na comunidade homossexual,
    é comum ouvir-se a palavra "limpo"
  • 13:04 - 13:06
    quando nos referimos a alguém
    que não tem VIH.
  • 13:07 - 13:10
    Claro que o problema é que o inverso
    é estar imundo ou sujo,
  • 13:10 - 13:12
    quanto se tem VIH.
  • 13:12 - 13:14
    Agora, eu não sou sensível
  • 13:14 - 13:17
    e só estou verdadeiramente sujo
    depois de um dia no campo,
  • 13:17 - 13:19
    mas esta é uma linguagem degradante.
  • 13:19 - 13:21
    Este é um estigma proveniente
    da comunidade
  • 13:22 - 13:25
    que impede os homossexuais
    de revelarem a sua condição,
  • 13:25 - 13:26
    e impede os recém-diagnosticados
  • 13:26 - 13:29
    de procurar apoio dentro
    da sua própria comunidade,
  • 13:29 - 13:31
    e eu acho isso mesmo angustiante.
  • 13:31 - 13:35
    Mas felizmente, o número de respostas
    positivas foi muito maior,
  • 13:35 - 13:37
    e vieram de pessoas que estavam curiosas.
  • 13:38 - 13:40
    Elas estavam curiosas sobre
    os riscos da transmissão,
  • 13:41 - 13:43
    ou sobre o que significava
    exatamente "indetetável",
  • 13:43 - 13:45
    ou onde é que podiam fazer o teste,
  • 13:45 - 13:47
    ou perguntavam-me
    sobre as minhas experiências,
  • 13:47 - 13:50
    e eu podia partilhar
    a minha história com eles.
  • 13:50 - 13:52
    Mas o mais importante,
  • 13:52 - 13:56
    eu era abordado por rapazes que tinham
    sido recentemente diagnosticados com VIH
  • 13:56 - 13:59
    que estavam assustados,
    estavam sozinhos,
  • 13:59 - 14:01
    e não sabiam qual
    o passo seguinte a dar.
  • 14:02 - 14:04
    Eles não queriam contar à família.
  • 14:04 - 14:05
    não queriam contar aos amigos,
  • 14:05 - 14:08
    sentiam-se danificados,
    sentiam-se sujos.
  • 14:09 - 14:13
    Eu fiz aquilo que consegui
    para acalmá-los imediatamente,
  • 14:13 - 14:15
    e depois pu-los em contacto
    com a Acadiana Cares,
  • 14:15 - 14:19
    que é um maravilhoso recurso
    que temos na nossa comunidade
  • 14:19 - 14:20
    para quem tem VIH.
  • 14:20 - 14:23
    Pu-los em contacto com
    pessoas que conhecia pessoalmente
  • 14:23 - 14:27
    não só para que eles tivessem este espaço
    seguro para se sentirem humanos outra vez,
  • 14:27 - 14:30
    mas também para poderem ter
    os recursos de que precisavam
  • 14:30 - 14:32
    para pagarem os tratamentos.
  • 14:32 - 14:35
    Este foi de longe o aspeto mais modesto
  • 14:36 - 14:37
    da minha transparência,
  • 14:37 - 14:41
    poder ter algum impacto positivo
  • 14:41 - 14:43
    naqueles que estavam a sofrer
    como eu sofrera,
  • 14:43 - 14:45
    poder ajudar os
    que estavam na escuridão,
  • 14:45 - 14:49
    porque eu já lá tinha estado,
    e não foi um bom sítio para estar.
  • 14:49 - 14:52
    Estas pessoas vinham de diversos meios,
  • 14:52 - 14:54
    muitos deles não estavam
    tão informados como eu estivera
  • 14:54 - 14:57
    e partiam ao meu encontro
    vindos de um lugar de medo.
  • 14:58 - 15:00
    Eu conhecia pessoalmente algumas delas
  • 15:00 - 15:01
    ou elas conheciam-me,
  • 15:01 - 15:03
    mas a maioria eram anónimos.
  • 15:04 - 15:07
    Eram perfis vazios que estavam
    demasiado assustados para mostrar a cara
  • 15:07 - 15:09
    depois daquilo que me diziam.
  • 15:10 - 15:12
    Sobre a temática da transparência,
  • 15:12 - 15:14
    quero deixar-vos alguns pensamentos.
  • 15:15 - 15:18
    Eu descobri que, independentemente
    do risco que corria,
  • 15:18 - 15:20
    ao expor a minha cara a toda a gente,
  • 15:20 - 15:23
    compensava qualquer comentário negativo,
  • 15:23 - 15:24
    qualquer crítica recebida,
  • 15:25 - 15:29
    porque sentia que podia tornar isto real
    e causar um impacto tangível.
  • 15:29 - 15:32
    Isso mostrou-me que
    o nosso esforço ressoa,
  • 15:33 - 15:36
    que nós podemos mudar para melhor
    a vida dos que encontramos,
  • 15:36 - 15:40
    e eles, por sua vez, podem pegar
    nesse impulso e levá-lo mais longe.
  • 15:41 - 15:44
    Se algum de vocês ou alguém que
    conheçam esteja a lidar com o VIH,
  • 15:44 - 15:47
    ou se quiserem ver que recursos têm
    na vossa comunidade,
  • 15:47 - 15:50
    ou apenas para se informarem melhor
    sobre a doença,
  • 15:51 - 15:54
    aqui estão alguns sites nacionais
    maravilhosos a que podem aceder
  • 15:54 - 15:57
    e são mais do que bem-vindos
    para virem ter comigo a seguir
  • 15:57 - 15:59
    e perguntarem-me o que quiserem.
  • 15:59 - 16:03
    Já todos ouvimos a frase
    "ver a floresta além das árvores",
  • 16:04 - 16:08
    por isso imploro a todos os presentes
    que vejam mesmo a pessoa além da doença.
  • 16:09 - 16:13
    É muito fácil ver números e estatísticas
  • 16:13 - 16:16
    e apenas ver os perigos percebidos.
  • 16:16 - 16:21
    É muito mais difícil ver todas as caras
    por detrás desses números.
  • 16:22 - 16:25
    Quando derem por vós a pensar
    nessas coisas, nessas palavras,
  • 16:26 - 16:28
    aquilo que devem ter pensado
    quando viram o David Kirby,
  • 16:29 - 16:31
    peço-vos, em vez disso,
  • 16:31 - 16:33
    pensem num filho,
  • 16:33 - 16:35
    ou pensem num irmão,
  • 16:35 - 16:37
    pensem num amigo
  • 16:37 - 16:40
    e o mais importante,
    pensem num ser humano.
  • 16:41 - 16:44
    Procurem educação quando forem
    confrontados com ignorância,
  • 16:44 - 16:46
    e estejam sempre atentos,
  • 16:46 - 16:48
    e tenham sempre compaixão.
  • 16:49 - 16:50
    Obrigado.
  • 16:50 - 16:53
    (Aplausos)
Title:
O nosso tratamento para o VIH progrediu. Porque razão o estigma não mudou?
Speaker:
Arik Hartmann
Description:

O tratamento para o VIH progrediu significativamente nas últimas três décadas — por que razão a nossa perceção das pessoas com a doença não avançou paralelamente? Depois de ter sido diagnosticado com VIH, Arik Hartmann escolheu ter uma vida transparente, ser aberto relativamente à sua condição, com o objetivo de educar as pessoas. Nesta palestra sincera e pessoal, ele partilha como é viver com VIH — e alerta-nos para repudiarmos os nossos preconceitos sobre a doença.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:06

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