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O tratamento para o HIV evoluiu, mas por que o estigma continua o mesmo?

  • 0:01 - 0:05
    Quero começar esta palestra
    mostrando a vocês uma foto,
  • 0:05 - 0:08
    uma foto que muitos de vocês
    provavelmente já viram.
  • 0:08 - 0:11
    Quero que vocês parem um instante,
  • 0:11 - 0:13
    vejam essa foto
  • 0:13 - 0:16
    e reflitam sobre algumas
    das coisas que vêm à mente.
  • 0:16 - 0:18
    Que coisas são essas? Que palavras?
  • 0:20 - 0:23
    Agora, peço que vocês olhem pra mim.
  • 0:24 - 0:27
    Que palavras vêm à mente de vocês
    quando olham pra mim?
  • 0:29 - 0:33
    O que distingue
    aquele homem na foto de mim?
  • 0:35 - 0:36
    O homem na foto é David Kirby.
  • 0:36 - 0:40
    A foto é de 1990, ano em que ele morreu
    em decorrência da AIDS,
  • 0:40 - 0:43
    e foi publicada na revista
    norte-americana "Life".
  • 0:44 - 0:48
    A única coisa que realmente
    me distingue de Kirby
  • 0:48 - 0:53
    são cerca de 30 anos de avanços médicos
    na forma como tratamos o HIV e a AIDS.
  • 0:53 - 0:57
    Então, a minha pergunta
    agora é a seguinte:
  • 0:58 - 1:03
    já que evoluímos tanto no combate ao HIV,
  • 1:03 - 1:07
    por que nossa percepção em relação àqueles
    que carregam o vírus não evoluiu junto?
  • 1:08 - 1:13
    Por que o HIV causa essa reação em nós,
    apesar de ser tão facilmente tratável?
  • 1:14 - 1:17
    Quando foi que surgiu essa estigmatização,
  • 1:17 - 1:19
    e por que ela não retrocedeu?
  • 1:21 - 1:24
    Não são perguntas fáceis de responder.
  • 1:24 - 1:28
    São a consolidação de muitos
    fatores e ideias diferentes.
  • 1:28 - 1:30
    Imagens poderosas, como essa de Kirby,
  • 1:30 - 1:34
    mostravam a cara da epidemia da AIDS
    nas décadas de 1980 e 1990.
  • 1:34 - 1:37
    Na época, a epidemia teve
    um impacto bastante expressivo
  • 1:37 - 1:41
    num grupo de pessoas
    já estigmatizadas: homens gays.
  • 1:41 - 1:45
    Então, o que o público hétero em geral via
    era essa coisa horrorosa
  • 1:45 - 1:50
    acontecendo com um grupo de pessoas
    que já estavam à margem da sociedade.
  • 1:50 - 1:53
    Na época, a mídia passou a usar essas
    palavras quase que como sinônimas,
  • 1:54 - 1:55
    "gay" e "AIDS",
  • 1:55 - 1:58
    e, em 1984, na Convenção
    Nacional Republicana, nos EUA,
  • 1:58 - 2:00
    um dos palestrantes "brincou"
  • 2:00 - 2:03
    dizendo que "gay" significava
    "Got AIDS yet?", "Já Pegou AIDS?".
  • 2:04 - 2:06
    Era essa a mentalidade na época.
  • 2:06 - 2:09
    Mas, conforme fomos
    entendendo melhor o vírus
  • 2:09 - 2:11
    e a forma como ele era transmitido,
  • 2:11 - 2:14
    percebemos que o risco
    havia chegado mais longe.
  • 2:15 - 2:19
    O caso bastante conhecido
    de Ryan White, em 1985,
  • 2:19 - 2:21
    um menino hemofílico de 13 anos de idade
  • 2:21 - 2:25
    que havia contraído HIV numa transfusão
    com sangue contaminado,
  • 2:25 - 2:30
    mudou profundamente a percepção
    dos norte-americanos em relação ao HIV.
  • 2:30 - 2:34
    Ele não se restringia mais
    aos cantos obscuros da sociedade,
  • 2:34 - 2:36
    a homossexuais e usuários de drogas.
  • 2:36 - 2:42
    Estava infectando pessoas que a sociedade
    julgava serem dignas de empatia: crianças.
  • 2:42 - 2:48
    Mas esse medo coletivo
    e essa percepção ainda perduram.
  • 2:48 - 2:51
    Vou fazer mais perguntas
    e peço que vocês levantem a mão.
  • 2:51 - 2:55
    Quantos aqui sabiam
    que, estando em tratamento,
  • 2:55 - 2:58
    pessoas que vivem com HIV
    não só neutralizam totalmente a AIDS,
  • 2:58 - 3:00
    mas levam uma vida normal e plena?
  • 3:02 - 3:04
    Todos estão bem informados.
  • 3:04 - 3:05
    (Risos)
  • 3:05 - 3:07
    Quantos sabiam que, estando em tratamento,
  • 3:07 - 3:11
    pessoas que vivem com HIV
    podem viver com o vírus indetectável,
  • 3:11 - 3:14
    o que praticamente inviabiliza
    a transmissão do vírus a outras pessoas?
  • 3:15 - 3:16
    Bem menos de vocês.
  • 3:17 - 3:21
    Quantos aqui conheciam os tratamentos
    pré e pós-exposição ao vírus,
  • 3:21 - 3:25
    que reduzem o risco
    de transmissão em mais de 90%?
  • 3:27 - 3:32
    Esses são avanços incríveis
    que alcançamos na luta contra o HIV,
  • 3:32 - 3:35
    mas que ainda não conseguiram
    mudar a percepção
  • 3:35 - 3:38
    que a maioria das pessoas têm
    sobre o vírus e aqueles que o carregam.
  • 3:39 - 3:44
    Não quero que pensem que estou
    minimizando o perigo do vírus.
  • 3:44 - 3:48
    Eu conheço o passado
    angustiante da epidemia de HIV.
  • 3:49 - 3:52
    O que quero é mostrar que há esperança
    pra quem foi infectado
  • 3:52 - 3:55
    e que o HIV não é a sentença de morte
    que foi na década de 1980.
  • 3:56 - 4:00
    Agora talvez vocês se perguntem o mesmo
    que eu me perguntei inicialmente:
  • 4:00 - 4:01
    onde estão as histórias?
  • 4:01 - 4:05
    Onde estão as pessoas que vivem com HIV?
    Por que elas não vieram a público?
  • 4:05 - 4:09
    Como acreditar nesses sucessos,
    ou nessas estatísticas,
  • 4:09 - 4:12
    sem vê-los?
  • 4:12 - 4:16
    Pra mim, essa é uma pergunta
    muito fácil de responder.
  • 4:17 - 4:20
    Medo, estigma e vergonha:
  • 4:20 - 4:24
    essas coisas mantêm no armário as pessoas
    que vivem com HIV, por assim dizer.
  • 4:24 - 4:28
    Nosso histórico sexual é tão pessoal
    pra nós quanto nosso histórico médico
  • 4:28 - 4:30
    e, quando sobrepomos os dois,
  • 4:30 - 4:32
    podemos nos encontrar
    numa situação bem delicada.
  • 4:32 - 4:35
    O medo de como os outros nos julgam
    quando somos sinceros
  • 4:35 - 4:38
    nos impede de fazer muitas coisas na vida,
  • 4:38 - 4:41
    e é o que acontece
    com a população soropositiva.
  • 4:41 - 4:47
    Enfrentar o estigma e a vergonha é o preço
    que pagamos por sermos transparentes,
  • 4:47 - 4:50
    e por que se tornar um mártir
  • 4:50 - 4:53
    se você pode passar despercebido,
    como alguém que não tem HIV?
  • 4:53 - 4:57
    Afinal, não há evidências físicas
    de que você tem o vírus.
  • 4:57 - 4:59
    Ninguém tem isso escrito na testa.
  • 5:00 - 5:03
    É seguro passar despercebido,
  • 5:03 - 5:05
    é seguro ser invisível.
  • 5:07 - 5:10
    Estou aqui pra ser franco
    e compartilhar a minha história.
  • 5:11 - 5:15
    No fim de 2014, eu estava
    no segundo ano da faculdade
  • 5:15 - 5:19
    e, como a maioria dos universitários,
    eu era sexualmente ativo
  • 5:19 - 5:23
    e geralmente me precavia
    pra minimizar os riscos do sexo.
  • 5:23 - 5:27
    Digo "geralmente"
    porque nem sempre me precavia.
  • 5:27 - 5:30
    Basta um único deslize
    pra que sejamos derrubados,
  • 5:30 - 5:32
    e o meu deslize foi bem óbvio:
  • 5:32 - 5:35
    fiz sexo sem proteção,
    e não me preocupei muito com isso.
  • 5:36 - 5:38
    Umas três semanas depois,
  • 5:38 - 5:42
    eu me sentia como se tivesse sido
    pisoteado por uma manada.
  • 5:42 - 5:46
    As dores que sentia em meu corpo eram
    como nada que havia sentido até então.
  • 5:47 - 5:50
    Eu tive picos de febre e calafrios.
  • 5:50 - 5:53
    Passei muito mal com náuseas,
    e era difícil caminhar.
  • 5:54 - 5:57
    Como eu estudava biologia,
    já conhecia algumas doenças
  • 5:58 - 6:01
    e, como era um cara gay bem-informado,
    já havia lido um tanto sobre o HIV.
  • 6:01 - 6:05
    Então, me caiu a ficha
    de que aquilo era seroconversão,
  • 6:05 - 6:08
    ou, como às vezes é chamada,
    infecção aguda por HIV.
  • 6:08 - 6:12
    É quando o corpo reage produzindo
    anticorpos para o antígeno do HIV.
  • 6:13 - 6:17
    É importante frisar que nem todo mundo
    se sente mal nessa fase da infecção,
  • 6:17 - 6:19
    mas eu tive essa sorte.
  • 6:19 - 6:24
    E eu tive sorte porque os sintomas
    físicos me serviram de alerta:
  • 6:24 - 6:26
    "Ei, algo está errado",
  • 6:26 - 6:28
    o que me permitiu
    detectar o vírus bem cedo.
  • 6:29 - 6:33
    Então, só pra ter certeza,
    pra não ficar na dúvida,
  • 6:33 - 6:35
    fiz o teste na universidade,
  • 6:36 - 6:40
    e eles me disseram que me ligariam
    na manhã seguinte com o resultado.
  • 6:40 - 6:41
    Eles me ligaram,
  • 6:41 - 6:44
    mas me pediram pra ir pessoalmente
    até lá falar com a médica,
  • 6:44 - 6:49
    e a reação dela não foi a que eu esperava.
  • 6:50 - 6:54
    Ela confirmou o que eu já sabia,
    que não era uma sentença de morte,
  • 6:54 - 6:56
    e inclusive ofereceu me dar
    o contato do irmão dela,
  • 6:56 - 6:59
    que vivia com HIV
    desde o início da década de 1990.
  • 7:00 - 7:03
    Recusei a oferta dela,
    mas fiquei profundamente tocado.
  • 7:03 - 7:08
    Eu esperava ouvir sermões,
    esperava ser tratado com pena e decepção,
  • 7:08 - 7:12
    mas fui tratado com compaixão
    e com calor humano,
  • 7:12 - 7:15
    e serei eternamente grato
    por aquela atitude dela.
  • 7:16 - 7:20
    Obviamente, nas primeiras semanas,
    fiquei muito mal fisicamente.
  • 7:20 - 7:24
    Emocionalmente e mentalmente
    eu estava bem, aceitei bem a notícia,
  • 7:25 - 7:29
    mas meu corpo estava moído,
    e as pessoas próximas a mim perceberam.
  • 7:29 - 7:32
    Então, sentei com meus colegas de quarto
  • 7:32 - 7:35
    e contei a eles que havia sido
    diagnosticado com HIV,
  • 7:35 - 7:39
    que já ia começar o tratamento
    e que não queria que ficassem preocupados.
  • 7:39 - 7:42
    Me lembro da expressão no rosto deles.
  • 7:42 - 7:45
    Eles se abraçaram no sofá e choraram,
  • 7:45 - 7:47
    e eu os consolei.
  • 7:47 - 7:50
    Eu os consolei embora
    a notícia ruim fosse sobre mim,
  • 7:50 - 7:53
    mas foi reconfortante ver
    que eles se comoveram por mim.
  • 7:54 - 7:55
    Mas, a partir daquela noite,
  • 7:55 - 7:59
    notei uma diferença
    na forma como me tratavam em casa.
  • 7:59 - 8:04
    Eles não tocavam nada que fosse meu,
    nem comiam nada que eu preparasse.
  • 8:04 - 8:09
    Bem, no sul da Louisiana,
    todos sabemos que ninguém recusa comida.
  • 8:09 - 8:10
    (Risos)
  • 8:11 - 8:14
    E eu sou um cozinheiro de mão cheia,
    então é claro que desconfiei.
  • 8:14 - 8:16
    (Risos)
  • 8:16 - 8:18
    A partir daquelas atitudes sutis,
  • 8:18 - 8:22
    a aversão deles se tornou
    cada vez mais clara e mais ofensiva.
  • 8:22 - 8:26
    Me pediram que eu tirasse
    minha escova de dentes do banheiro,
  • 8:26 - 8:29
    me pediram pra eu não usar
    as mesmas toalhas que eles
  • 8:29 - 8:32
    e me pediram até que eu lavasse
    minhas roupas com água quente.
  • 8:33 - 8:37
    Eu não tinha piolhos, gente,
    nem tinha sarna. Eu tinha HIV.
  • 8:37 - 8:39
    Ele é transmitido através do sangue
  • 8:39 - 8:43
    e através de fluidos corporais, como sêmen
    ou líquido vaginal, e leite materno.
  • 8:43 - 8:46
    Como eu não transava
    com meus colegas de quarto,
  • 8:46 - 8:48
    nem os amamentava...
  • 8:48 - 8:49
    (Risos)
  • 8:49 - 8:51
    e como não estávamos
    filmando "Crepúsculo",
  • 8:51 - 8:56
    eu não oferecia risco algum,
    e expliquei isso a eles.
  • 8:56 - 8:59
    Ainda assim, o desconforto continuou,
  • 8:59 - 9:02
    até que acabaram me pedindo
    pra me mudar de lá.
  • 9:02 - 9:03
    Me pediram pra me mudar
  • 9:03 - 9:07
    porque uma das minhas colegas
    havia contado aos pais dela sobre mim.
  • 9:07 - 9:12
    Ela revelou informações médicas minhas
    a pessoas que não me conheciam.
  • 9:13 - 9:17
    Agora, estou fazendo o mesmo
    nesta sala com 300 pessoas,
  • 9:17 - 9:20
    mas, naquela época,
    eu não me sentia confortável com isso.
  • 9:20 - 9:24
    Os pais dela disseram não se sentirem
    confortáveis por sermos colegas de quarto.
  • 9:25 - 9:29
    Sendo gay, tendo sido criado numa família
    religiosa e por viver no sul dos EUA,
  • 9:29 - 9:31
    ser discriminado
    não era algo novo pra mim.
  • 9:32 - 9:34
    Mas daquele jeito era,
  • 9:34 - 9:39
    e foi tremendamente decepcionante
    porque veio de gente que eu não esperava.
  • 9:40 - 9:44
    Aqueles colegas não só
    eram universitários,
  • 9:44 - 9:47
    não só faziam parte da comunidade LGBT,
  • 9:47 - 9:49
    mas também eram meus amigos.
  • 9:50 - 9:54
    Então, me mudei de lá
    no fim daquele semestre,
  • 9:54 - 9:56
    mas não para satisfazê-los.
  • 9:56 - 9:58
    Me mudei por respeito a mim mesmo.
  • 9:58 - 10:01
    Não me submeteria a pessoas
  • 10:01 - 10:04
    que não estavam dispostas
    a deixarem de ser ignorantes,
  • 10:04 - 10:09
    e jamais permitiria que algo que agora
    fazia parte de mim fosse usado contra mim.
  • 10:09 - 10:13
    Optei então por ser franco
    a respeito do meu diagnóstico,
  • 10:13 - 10:15
    deixando tudo sempre às claras.
  • 10:16 - 10:19
    É o que eu costumo chamar
    de "ativista do dia a dia".
  • 10:19 - 10:23
    O intuito de ser franco,
    o intuito desse ativismo diário,
  • 10:23 - 10:25
    era dissipar a ignorância.
  • 10:25 - 10:28
    "Ignorância" é uma palavra assustadora.
  • 10:28 - 10:31
    Não queremos ser vistos como ignorantes,
  • 10:31 - 10:33
    e com certeza não queremos
    ser chamados de ignorantes.
  • 10:34 - 10:37
    Mas "ignorante"
    não é sinônimo de "idiota".
  • 10:37 - 10:39
    Não é ser incapaz de aprender.
  • 10:39 - 10:42
    É o estado pré-aprendizado.
  • 10:42 - 10:45
    Quando eu via alguém numa situação
    de evidente ignorância,
  • 10:45 - 10:49
    via uma oportunidade de a pessoa aprender.
  • 10:49 - 10:52
    Com sorte, se eu conseguisse
    passar a elas alguma informação,
  • 10:52 - 10:54
    poderia mitigar
    o constrangimento de outros,
  • 10:54 - 10:56
    como o que eu havia sofrido
    com meus colegas,
  • 10:56 - 10:59
    e evitar que outra pessoa
    passasse por aquela humilhação.
  • 11:01 - 11:04
    As reação que recebi
    não foram 100% positivas.
  • 11:05 - 11:07
    Aqui no sul dos EUA,
  • 11:07 - 11:10
    há muito estigma devido
    à pressão religiosa,
  • 11:10 - 11:13
    à falta de uma abrangente educação sexual
  • 11:13 - 11:17
    e à nossa visão em geral conservadora
    no que se refere a questões sexuais.
  • 11:17 - 11:19
    Vemos o HIV como uma doença gay.
  • 11:20 - 11:24
    No mundo, a maioria das novas infecções
    por HIV ocorrem entre heterossexuais
  • 11:24 - 11:27
    e, aqui nos EUA, são as mulheres,
    principalmente mulheres negras,
  • 11:27 - 11:29
    que correm o maior risco.
  • 11:29 - 11:32
    Essa não é uma doença gay.
    Nunca foi uma doença gay.
  • 11:32 - 11:34
    Qualquer pessoa pode ser
    infectada por ela.
  • 11:35 - 11:39
    Inicialmente, me senti limitado.
  • 11:39 - 11:43
    Eu queria expandir minha visão
    e ir além daquela minha realidade.
  • 11:44 - 11:46
    Naturalmente,
  • 11:46 - 11:50
    recorri ao mundo "sombrio"
    dos aplicativos de encontros,
  • 11:50 - 11:52
    aplicativos como o Grindr.
  • 11:52 - 11:56
    Pra quem não conhece, são aplicativos
    voltados ao público gay masculino.
  • 11:56 - 11:58
    Você cria um perfil, coloca uma foto
  • 11:58 - 12:01
    e o aplicativo mostra homens
    disponíveis perto de você.
  • 12:01 - 12:03
    Provavelmente todos
    já ouviram falar do Tinder.
  • 12:03 - 12:05
    O Grindr existe há muito mais tempo,
  • 12:05 - 12:08
    desde a época em que era bem mais difícil
    encontrar um marido gay
  • 12:08 - 12:12
    na igreja, na mercearia,
    ou seja lá onde os héteros fossem
  • 12:12 - 12:15
    até descobrirem que podiam
    conhecer pessoas em aplicativos.
  • 12:15 - 12:16
    (Risos)
  • 12:16 - 12:19
    No Grindr, se você gostasse
    do que viu ou leu,
  • 12:19 - 12:23
    poderia mandar uma mensagem,
    encontrar a pessoa, fazer outras coisas.
  • 12:23 - 12:28
    Então, no meu perfil,
    deixei claro que eu tinha HIV,
  • 12:28 - 12:32
    que era indetectável e que estava
    disposto a esclarecer qualquer dúvida.
  • 12:32 - 12:35
    Recebi várias perguntas
    e muitos comentários,
  • 12:35 - 12:37
    positivos e negativos.
  • 12:37 - 12:40
    Quero começar pelos negativos,
  • 12:40 - 12:43
    só pra mostrar parte da ignorância
    que mencionei antes.
  • 12:44 - 12:49
    A maioria desses comentários negativos
    são opiniões ou suposições superficiais.
  • 12:49 - 12:52
    São de pessoas especulando
    sobre minha vida ou hábitos sexuais,
  • 12:52 - 12:55
    supondo que eu coloco a mim
    e a outras pessoas em risco.
  • 12:55 - 12:59
    Mas com frequência eu encontrava
    opiniões superficiais e ignorantes.
  • 13:00 - 13:04
    Na comunidade gay,
    é comum usar a palavra "limpo"
  • 13:04 - 13:07
    pra se referir a alguém
    que não é soropositivo.
  • 13:07 - 13:10
    Claro que o oposto é "sujo",
  • 13:10 - 13:12
    quando se tem HIV.
  • 13:12 - 13:16
    Bem, eu não sou uma pessoa sensível,
    e sujo só fico após um dia de pesquisa,
  • 13:17 - 13:19
    mas trata-se de um linguajar pejorativo.
  • 13:19 - 13:21
    É um estigma perpetuado pela comunidade,
  • 13:22 - 13:25
    que faz com que muitos gays
    não revelem seu status sorológico
  • 13:25 - 13:27
    e faz com que os recém-diagnosticados
  • 13:27 - 13:29
    não busquem apoio
    dentro da própria comunidade,
  • 13:29 - 13:31
    e eu acho isso realmente perturbador.
  • 13:31 - 13:35
    Felizmente, as reações positivas
    foram bem mais numerosas
  • 13:35 - 13:38
    e vieram de homens que tinham curiosidade.
  • 13:38 - 13:41
    A curiosidade deles era
    sobre os riscos de transmissão
  • 13:41 - 13:43
    ou sobre o que significava
    exatamente "indetectável",
  • 13:43 - 13:45
    ou onde podiam fazer o teste,
  • 13:45 - 13:47
    e alguns perguntavam
    sobre minhas experiências
  • 13:47 - 13:49
    e eu contava a eles minha história.
  • 13:50 - 13:52
    Mas, principalmente,
  • 13:52 - 13:56
    eu recebia mensagem de homens
    recém-diagnosticados como soropositivos,
  • 13:56 - 13:59
    que estavam com medo,
    se sentindo sozinhos,
  • 13:59 - 14:01
    que não sabiam que o fazer.
  • 14:02 - 14:05
    Eles não queriam contar à família,
    não queriam contar aos amigos
  • 14:05 - 14:08
    e se sentiam corrompidos, sujos.
  • 14:09 - 14:13
    Eu fazia o que podia pra acalmá-los
  • 14:13 - 14:15
    e os colocava em contato
    com a AcadianaCares,
  • 14:15 - 14:19
    um recurso maravilhoso
    que temos em nossa comunidade
  • 14:19 - 14:20
    para pessoas com HIV.
  • 14:20 - 14:23
    Eu os colocava em contato
    com pessoas que eu conhecia
  • 14:23 - 14:28
    para que não só tivessem um espaço seguro
    para se sentirem humanos novamente,
  • 14:28 - 14:30
    mas também pra que tivessem
    os recursos de que precisavam
  • 14:30 - 14:32
    para conseguirem os medicamentos.
  • 14:32 - 14:35
    Esse foi com certeza o aspecto
    de maior aprendizado pra mim
  • 14:35 - 14:37
    por ter sido franco,
  • 14:37 - 14:43
    o fato de eu poder causar um impacto
    positivo naqueles que sofriam como eu,
  • 14:43 - 14:45
    de eu poder ajudar aqueles
    que estavam nas sombras,
  • 14:45 - 14:49
    porque eu estive nelas,
    e não era um bom lugar pra se estar.
  • 14:49 - 14:52
    Esses homens eram dos mais variados tipos
  • 14:52 - 14:54
    e muitos deles não tinham
    a mesma informação que eu,
  • 14:54 - 14:57
    e me procuravam porque tinham medo.
  • 14:58 - 15:01
    Alguns deles eu conhecia pessoalmente,
    ou eles sabiam sobre mim,
  • 15:01 - 15:04
    mas muitos outros eram anônimos,
  • 15:04 - 15:07
    com foto de perfil em branco
    por medo de mostrarem o rosto
  • 15:07 - 15:09
    depois do que me contaram.
  • 15:09 - 15:12
    Sobre a questão de ser franco,
  • 15:12 - 15:14
    quero deixar alguns pensamentos pra vocês.
  • 15:15 - 15:18
    Descobri que, independentemente
    do risco que eu assumi
  • 15:18 - 15:20
    me expondo daquela maneira,
  • 15:20 - 15:24
    valeu a pena qualquer
    comentário negativo, qualquer crítica,
  • 15:25 - 15:28
    porque senti que conseguia causar
    um impacto real e tangível.
  • 15:29 - 15:33
    Isso me mostrou que nossos
    esforços se propagam,
  • 15:33 - 15:36
    que podemos mudar pra melhor
    a vida das pessoas que encontramos
  • 15:36 - 15:40
    e elas por sua vez podem levar
    esse impacto adiante.
  • 15:40 - 15:44
    Se algum de vocês ou alguém
    que vocês conhecem vive com HIV,
  • 15:44 - 15:47
    ou se quiserem ver quais recursos
    vocês têm em suas comunidades
  • 15:47 - 15:50
    ou simplesmente se informarem
    mais sobre a doença,
  • 15:51 - 15:54
    tenho alguns sites norte-americanos
    maravilhosos pra indicar a vocês
  • 15:54 - 15:57
    e será um prazer falar com vocês
    depois da palestra
  • 15:57 - 15:58
    e esclarecer suas dúvidas.
  • 15:59 - 16:03
    Todos já ouvimos a frase
    "julgar um livro pela capa".
  • 16:04 - 16:08
    Então, imploro a todos aqui pra que vejam
    o humano por trás da doença.
  • 16:09 - 16:13
    É bem fácil ver números e estatísticas
  • 16:13 - 16:16
    e enxergar apenas os possíveis riscos.
  • 16:16 - 16:21
    É bem mais difícil ver todos os rostos
    por trás desses números.
  • 16:22 - 16:25
    Quando vocês se pegarem pensando
    nessas coisas, nessas palavras,
  • 16:25 - 16:28
    que vocês talvez tenham pensado
    quando viram David Kirby,
  • 16:29 - 16:33
    peço que, em vez disso, pensem em "filho",
  • 16:33 - 16:35
    ou pensem em "irmão",
  • 16:35 - 16:37
    pensem em "amigo"
  • 16:37 - 16:40
    e principalmente pensem em "humano".
  • 16:41 - 16:44
    Busquem informação
    ao se depararem com a ignorância,
  • 16:44 - 16:48
    tenham sempre consciência
    e tenham sempre compaixão.
  • 16:48 - 16:50
    Obrigado.
  • 16:50 - 16:52
    (Aplausos)
Title:
O tratamento para o HIV evoluiu, mas por que o estigma continua o mesmo?
Speaker:
Arik Hartmann
Description:

O tratamento para o HIV teve avanços significativos ao longo das últimas três décadas, mas por que nossa percepção em relação às pessoas que o carregam não evoluiu junto? Após ser diagnosticado com HIV, Arik Hartmann escolheu ser franco, tornado público seu status sorológico, numa tentativa de levar informação às pessoas. Nesta palestra sincera e particular, ele conta como é viver com HIV, e nos convida a abandonarmos as ideias equivocadas que temos a respeito da doença.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:06

Portuguese, Brazilian subtitles

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