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E se você pudesse ajudar a decidir como o governo gasta o dinheiro público?

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    Meu nome é Shari Davis,
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    e verdade seja dita:
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    fui servidora pública
    e estou em recuperação.
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    Digo isso parabenizando
    o pessoal que trabalha no governo
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    e na mudança de sistemas.
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    É difícil.
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    Pode ser solitário.
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    E o trabalho pode parecer impossível.
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    Mas o governo é feito
    pelas pessoas que se envolvem,
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    por aqueles que podem participar
  • 0:26 - 0:29
    e se comprometem com as promessas
    feitas pelo serviço público, que são:
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    serviço ao povo, democracia
    e solução aos problemas da comunidade.
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    Dezessete anos atrás,
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    entrei pela primeira vez
    numa prefeitura como funcionária.
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    Naquele momento, tive uma revelação:
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    eu era um unicórnio.
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    Não havia muita gente parecida comigo
    trabalhando naquele prédio.
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    Mesmo assim, havia pessoas
    comprometidas a lutar
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    contra a desigualdade sistêmica
    que, por centenas de anos,
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    deixou alguns para trás e ignorou muitos.
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    Naquilo em que havia promessa,
    havia um problema enorme,
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    pois a democracia, originalmente,
    foi desenhada com um defeito fatal.
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    Ela só abria caminho
    para homens brancos ricos progredirem.
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    Se você for um homem
    branco rico inteligente,
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    você entende por que isso é um problema.
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    Uma imensa quantidade
    de talento foi deixada de fora.
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    Nossa imaginação moral ficou anêmica.
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    Nossas principais autoridades
    estão tomadas pela corrupção.
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    Estamos à beira
    de um apocalipse de apatia.
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    Isso não está certo.
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    As portas das prefeituras e das escolas
    precisam ser abertas de forma tão ampla
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    que as pessoas não possam
    deixar de entrar.
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    Precisamos jogar fora
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    os antigos processos "top-down"
    que nos colocaram nessa bagunça
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    e recomeçar,
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    com novos rostos ao redor da mesa
    e novas vozes no coro,
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    acolhendo novas perspectivas
    durante todo o processo,
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    não por ser a coisa certa
    a fazer, embora seja,
  • 2:08 - 2:12
    mas por ser a única forma
    de todos termos sucesso juntos.
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    E eis a melhor notícia:
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    eu sei como fazer isso.
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    A resposta, ou melhor, uma resposta,
    é o orçamento participativo.
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    Isso mesmo.
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    Orçamento participativo, ou OP,
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    é um processo que une
    a comunidade e o governo
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    para formar ideias,
    desenvolver propostas concretas
  • 2:35 - 2:39
    e votar em projetos que resolvam
    problemas reais em comunidade.
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    Sei que as pessoas não saem
    pulando de animação
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    quando falo de orçamentos públicos.
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    Mas o orçamento participativo
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    é sobre imaginação coletiva
    e revolucionária.
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    Todos têm um papel a cumprir no OP,
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    e ele dá certo, porque permite
    a membros da comunidade
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    elaborar soluções reais
    para problemas reais,
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    e providencia a infraestrutura
    para ser cumprida a promessa de governo.
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    Foi assim que vi a democracia
    funcionar de verdade pela primeira vez.
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    Lembro como se fosse ontem:
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    em 2014, na cidade de Boston,
    o prefeito Menino me pediu
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    para dar início ao primeiro OP do país
    direcionado à juventude,
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    com uma verba pública de US$ 1 milhão.
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    Não começamos com rubricas e limites,
    nem com planilhas e fórmulas.
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    Começamos pelas pessoas.
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    Queríamos garantir
    que todos fossem ouvidos.
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    Convidamos jovens
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    de vizinhanças historicamente
    e tradicionalmente marginalizadas,
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    jovens da comunidade LGBTQ
    e jovens ex-detentos.
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    Juntos, muitas vezes comendo pizza
    e bebendo algo sem açúcar,
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    falamos sobre como melhorar Boston.
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    Elaboramos um processo
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    chamado "Youth Lead the Change",
    a juventude conduz a mudança.
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    Imaginamos uma Boston
  • 3:59 - 4:04
    onde os jovens têm acesso às informações
    que precisam para prosperar,
  • 4:04 - 4:08
    onde podem se sentir
    seguros em suas comunidades
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    e podem transformar áreas públicas
    em verdadeiros centros de vida
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    para todas as pessoas.
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    E foi exatamente isso que fizeram.
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    No primeiro ano, destinaram US$ 90 mil
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    para aumentar o acesso à tecnologia
    a alunos de escola pública em Boston,
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    distribuindo notebooks às escolas,
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    para que os estudantes pudessem
    progredir dentro e fora da sala de aula.
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    Destinaram US$ 60 mil
    à criação de arte urbana,
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    que, de forma literal e figurada,
    iluminou espaços públicos.
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    E resolveram um problema mais importante.
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    Jovens estavam sendo criminalizados
    e jogados no sistema prisional
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    por colocarem sua arte em paredes.
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    Esse projeto deu a eles um espaço seguro
    para desenvolver seu talento.
  • 4:56 - 5:00
    Destinaram US$ 400 mil
    para renovar parques
  • 5:00 - 5:05
    e torná-los acessíveis
    a pessoas de todos os tipos físicos.
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    Confesso que as coisas não fluíram
    exatamente como planejávamos.
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    Quando estávamos prestes a iniciar a obra,
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    descobrimos que o parque ficava
    em cima de um sítio arqueológico
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    e tivemos de interromper a construção.
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    Pensei que eu havia arruinado o OP,
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    mas, graças ao comprometimento
    da cidade com o projeto,
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    isso não aconteceu.
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    Convidaram a comunidade
    para uma escavação,
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    protegeram o sítio, encontraram artefatos,
    contribuíram com a história de Boston
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    e depois retomaram a reforma.
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    Se isso não for um reflexo
    de imaginação revolucionária no governo,
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    não sei o que é.
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    O que parece simples
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    é, na verdade, transformador
    para as pessoas e comunidades envolvidas.
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    Vejo membros da comunidade
    moldando o acesso ao transporte,
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    melhorando suas escolas
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    e transformando prédios públicos
    para que tenham espaço para todos.
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    Quando não tínhamos o OP,
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    eu via pessoas parecidas comigo,
    que vieram de onde vim,
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    entrando em prédios públicos
  • 6:11 - 6:15
    para participar de alguma iniciativa
    ou grupo de trabalho novo
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    e indo embora logo em seguida.
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    Às vezes, eu nunca mais as via.
  • 6:20 - 6:24
    Porque a habilidade delas
    era desvalorizada.
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    Elas não eram incluídas
    de verdade no processo.
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    Mas o OP é diferente.
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    Quando começamos, conheci
    jovens líderes incríveis em toda a cidade.
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    Um deles em particular, muito popular,
    chamado Malachi Hernandez,
  • 6:40 - 6:43
    participou, aos 15 anos,
    de uma reunião comunitária,
  • 6:43 - 6:46
    tímido, curioso, meio quieto...
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    Continuou participando
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    e se tornou um dos jovens
    que esperavam liderar o projeto.
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    Alguns anos depois,
  • 6:54 - 6:58
    Malachi foi o primeiro em sua família
    a entrar na faculdade.
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    Há poucas semanas,
    foi o primeiro da família a se formar.
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    Esteve na Casa Branca
    no governo de Obama várias vezes,
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    como participante da iniciativa
    "My Brother's Keeper".
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    O ex-presidente Obama
    até cita Malachi em entrevistas.
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    É verdade. Pode pesquisar.
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    Malachi se engajou, continuou engajado
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    e está mudando nossas ideias
    sobre liderança comunitária
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    e sobre o potencial das pessoas.
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    Outra jovem é minha amiga Maria Hadden,
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    que esteve envolvida no primeiro
    processo de OP de Chicago.
  • 7:32 - 7:36
    Se tornou membra fundadora do conselho
    do projeto de orçamento participativo
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    e, mais tarde, membra da equipe.
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    Depois derrotou um candidato
    que era vereador há 28 anos,
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    se tornando a primeira vereadora
    negra e "queer" na história de Chicago.
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    Isso é engajamento de verdade.
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    Isso é ser levado a sério.
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    Isso é expandir e desenvolver
    a liderança comunitária.
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    Isso é mudar o sistema.
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    E não acontece apenas nos EUA.
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    O OP começou há 30 anos no Brasil
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    e se espalhou pelo mundo
    por mais de 7 mil cidades.
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    Em Paris, a prefeita disponibiliza
    5% de seu orçamento,
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    mais de 100 milhões de euros,
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    para membros da comunidade
    decidirem como moldar a cidade.
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    Globalmente, o OP tem melhorado
    a saúde pública, reduzido a corrupção
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    e elevado a confiança pública no governo.
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    Sabemos os desafios
    que enfrentamos na sociedade.
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    Como podemos esperar que as pessoas
    se sintam motivadas a votar
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    quando não podem confiar que o governo
    é feito pelo povo e para o povo?
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    Eu diria que nunca tivemos
  • 8:46 - 8:52
    uma verdadeira democracia participativa
    nos Estudos Unidos, por enquanto.
  • 8:52 - 8:55
    Mas a democracia
    é um ser vivo, que respira.
  • 8:55 - 8:58
    E ela ainda é nosso direito de nascença.
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    É tempo de renovar a confiança,
    e isso não vai ser fácil.
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    Devemos construir novas formas de pensar,
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    de falar, de trabalhar,
    de sonhar, de planejar...
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    no lugar dela.
  • 9:10 - 9:15
    Como seria os EUA se todos pudessem
    participar da discussão?
  • 9:15 - 9:19
    E se nos dedicássemos
    a reimaginar as possibilidades
  • 9:19 - 9:22
    e pensássemos em como alcançá-las juntos?
  • 9:23 - 9:27
    Minha autora favorita,
    Octavia Butler, diz isso melhor.
  • 9:27 - 9:31
    No livro "A Parábola do Semeador",
    que é praticamente minha bíblia, ela diz:
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    "Tudo o que você toca
    Você Muda.
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    Tudo o que você Muda
    Muda você.
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    A única verdade perene
    é a Mudança.
  • 9:42 - 9:44
    Deus é Mudança".
  • 9:44 - 9:49
    É hora deste país mudar.
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    Aquilo que nos trouxe até aqui
    não vai nos levar adiante.
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    Devemos derrubar os muros do poder
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    e plantar, no lugar deles,
    jardins de uma democracia genuína.
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    É assim que mudamos os sistemas,
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    abrindo portas tão amplas
    que as pessoas não resistam a entrar.
  • 10:08 - 10:10
    Então o que você está esperando
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    para trazer à sua comunidade
    o orçamento participativo?
Title:
E se você pudesse ajudar a decidir como o governo gasta o dinheiro público?
Speaker:
Shari Davis
Description:

E se você pudesse ajudar a decidir como o governo gasta o dinheiro público na sua comunidade? Essa é a ideia do orçamento participativo, um processo que une moradores e o governo municipal para desenvolver soluções concretas para problemas reais e locais. Nesta palestra inspiradora, a líder comunitária Shari Davis nos convida a agir e conta como o orçamento participativo pode fortalecer a democracia, transformar bairros e cidades e dar voz a todos. "As portas das prefeituras e das escolas precisam ser abertas de forma tão ampla que as pessoas não possam deixar de entrar", ela diz.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:28

Portuguese, Brazilian subtitles

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