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O que é filosofia à maneira clássica? | Profa. Lúcia Helena Galvão Galvão | TEDxFortaleza

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    Boa tarde a todos.
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    Plateia: Boa tarde!
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    Bom, já fui muito bem apresentada.
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    Meu nome é Lúcia Helena Galvão.
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    Sou professora de Filosofia há 30 anos,
  • 0:28 - 0:31
    da Organização Internacional
    Nova Acrópole.
  • 0:31 - 0:33
    Imaginem vocês,
  • 0:33 - 0:38
    o trabalho todo que fazemos
    dessa organização é voluntário.
  • 0:38 - 0:41
    Então, sou voluntária há 30 anos.
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    Muitas vezes, quando me apresento a alguém
  • 0:44 - 0:48
    e digo que faço um trabalho
    voluntário, beneficente,
  • 0:48 - 0:52
    as pessoas perguntam:
    "O que é que você faz?"
  • 0:52 - 0:55
    E eu digo: "Eu ensino filosofia".
  • 0:55 - 0:57
    Aí fica todo mundo assim,
    com aquela cara: "Ahn..."
  • 0:57 - 0:58
    (Risos)
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    "E aí? Ensinar filosofia? Como assim?
    Você acha que ajuda as pessoas com isso?"
  • 1:04 - 1:06
    Eu digo: "Ajuda,
  • 1:06 - 1:08
    e vou mostrar pra vocês
    como é que se faz".
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    Eu inventei há algum tempo...
  • 1:10 - 1:15
    porque, imaginem vocês, 30 anos
    dando aula voluntária de filosofia,
  • 1:15 - 1:18
    quantas vezes eu já tive
    que ouvir essa pergunta?
  • 1:18 - 1:22
    Então, pra encurtar um pouco a história,
    eu criei uma pequena historinha,
  • 1:22 - 1:26
    pra explicar porque fazemos
    voluntariado ensinando filosofia.
  • 1:26 - 1:29
    E é com essa historinha
    que eu queria começar com vocês,
  • 1:29 - 1:31
    que é a história da poça d'água.
  • 1:31 - 1:33
    Vamos lá.
  • 1:33 - 1:36
    Imaginem vocês um fato prosaico:
  • 1:36 - 1:39
    uma poça d'água
    que estivesse aqui no chão.
  • 1:39 - 1:44
    De acordo com o comportamento
    em relação a esse fato,
  • 1:44 - 1:49
    eu poderia classificar, grosso modo,
    a humanidade em três grupos.
  • 1:49 - 1:50
    Primeiro grupo.
  • 1:50 - 1:53
    Me desculpem, não estou
    querendo ser pessimista,
  • 1:53 - 1:55
    mas eu não posso faltar com a verdade.
  • 1:55 - 1:57
    Infelizmente é o majoritário,
  • 1:57 - 2:00
    que é o grupo dos alienados.
  • 2:00 - 2:02
    Quem são os alienados?
  • 2:02 - 2:05
    Passam por essa poça,
    pisoteiam tudo com sapato sujo,
  • 2:05 - 2:08
    fazem uma lama terrível, nem olham.
  • 2:08 - 2:13
    Quando por acaso veem, vão dizer:
    "Bom, problema do dono desse teatro".
  • 2:13 - 2:15
    Se estão no espaço público:
  • 2:15 - 2:17
    "Problema do governo,
    eu pago meus impostos".
  • 2:17 - 2:19
    Nenhum interesse.
  • 2:19 - 2:22
    Esse infelizmente é um grupo majoritário.
  • 2:22 - 2:26
    O segundo grupo, que hoje está
    se tornando cada vez mais numeroso,
  • 2:26 - 2:27
    ainda bem,
  • 2:27 - 2:29
    são as pessoas bem-intencionadas.
  • 2:29 - 2:32
    Chega aqui, olha isso e diz:
    "Que absurdo, gente.
  • 2:32 - 2:34
    Mas vocês não vão fazer
    nada? Eu vou fazer".
  • 2:34 - 2:40
    Vai lá dentro, pega um pano, rodo,
    pega o material de limpeza e limpa.
  • 2:40 - 2:41
    Limpa, que beleza, acabou.
  • 2:41 - 2:46
    Mas acontece que essa poça d'água nasceu
    porque tinha uma goteira lá em cima.
  • 2:46 - 2:52
    Um furinho no teto, na telha,
    seja lá o que for, no forro,
  • 2:52 - 2:54
    e isso está formando
    essa poça d'água.
  • 2:54 - 2:59
    Ele secou o chão, deixou maravilhoso,
    mas, daqui a dois minutos,
  • 2:59 - 3:01
    a poça d'água está lá de novo,
  • 3:01 - 3:04
    porque continua pingando,
    ininterruptamente.
  • 3:04 - 3:06
    Ele vai lá e limpa.
  • 3:06 - 3:09
    Aí, junta novamente a poça
    e, daqui a pouco, quem vem lá?
  • 3:09 - 3:13
    A manada dos alienados:
    pá-pá-pá-pá-pá... pisoteiam tudo.
  • 3:13 - 3:15
    Ele limpa, suja, limpa.
  • 3:15 - 3:17
    Vocês hão de convir, ele não é eterno,
  • 3:17 - 3:20
    o rodo não é eterno, o pano não é eterno.
  • 3:20 - 3:23
    Dali a cinco minutos,
    o problema vai estar ali de novo.
  • 3:24 - 3:28
    Então, eu colocaria diante disso
    uma terceira possibilidade,
  • 3:28 - 3:32
    que são os filósofos práticos,
    da maneira que nós tentamos ser.
  • 3:32 - 3:36
    Bom, o filósofo vai chegar aqui
    e não vai discutir diante da sujeira.
  • 3:36 - 3:39
    Ele vai fazer a mesma coisa
    que o bem-intencionado, vai limpar,
  • 3:39 - 3:42
    mas, logo em seguida,
    ou até ao mesmo tempo,
  • 3:42 - 3:46
    ele vai se perguntar:
    "De onde é que está vindo isso, hein?
  • 3:46 - 3:50
    Ah, olha lá, rapaz! Não é que o forro
    está com uma ranhura?
  • 3:50 - 3:52
    Está com uma fratura, está com um buraco!
  • 3:52 - 3:55
    Está pingando aqui embaixo
    porque tem uma goteira".
  • 3:55 - 3:57
    Aí, o que é que a gente faz?
  • 3:57 - 4:01
    Vai no forro, conserta,
    troca telha se for preciso,
  • 4:01 - 4:03
    calafeta tudo, conserta tudo.
  • 4:03 - 4:06
    Acabou a goteira.
  • 4:06 - 4:08
    Acabou a goteira, acabou a poça.
  • 4:08 - 4:11
    Percebam que ele não foi
    só bem-intencionado,
  • 4:11 - 4:13
    ele foi eficaz.
  • 4:13 - 4:15
    Vocês vão dizer: "E eu com isso?
  • 4:15 - 4:17
    O que tem a ver a goteira
    com a história, afinal de contas?"
  • 4:17 - 4:19
    Gente, esse ato...
  • 4:19 - 4:22
    Aliás, filósofo gosta de analisar
    as coisas simbolicamente.
  • 4:22 - 4:26
    É uma das perícias que a filosofia
    nos ajuda a desenvolver,
  • 4:26 - 4:28
    necessária pra todo mundo.
  • 4:28 - 4:32
    Aliás, eu aposto com vocês, todo mundo
    tem dentro de si o potencial de filósofo.
  • 4:32 - 4:37
    Então, esse ato de olhar pra cima
    é mais do que simbólico,
  • 4:37 - 4:41
    porque é só olhando pra cima
    que você vai ver as causas
  • 4:41 - 4:44
    de todos os males
    que existem aqui embaixo.
  • 4:44 - 4:46
    Existe um filósofo que dizia o seguinte:
  • 4:46 - 4:48
    "Só o tolo acredita
  • 4:48 - 4:52
    que as causas da miséria física
    estão no plano físico".
  • 4:52 - 4:58
    Sempre as causas da miséria física
    estiveram, estão e estarão
  • 4:58 - 5:02
    na miséria psicológica,
    espiritual e moral do homem.
  • 5:02 - 5:07
    Ou vocês acham que a falta de alimento
    é por escassez de comida
  • 5:07 - 5:10
    ou por escassez de solidariedade?
  • 5:10 - 5:14
    Ou vocês acham que a miséria física
    é falta de bens materiais
  • 5:14 - 5:16
    ou é falta de fraternidade?
  • 5:16 - 5:20
    É sempre lá, onde a escassez
    realmente começa.
  • 5:20 - 5:25
    E se você não olha pra cima,
    a sua ação vai ser sempre paliativa,
  • 5:25 - 5:28
    muito bem-intencionada, mas paliativa.
  • 5:28 - 5:31
    Então é uma coisa curiosa
    que eu chamo atenção de vocês.
  • 5:31 - 5:34
    Não é que nós não valorizemos;
    valorizamos e fazemos.
  • 5:34 - 5:36
    Trabalhos sociais, trabalhos ecológicos
  • 5:36 - 5:37
    e tudo mais.
  • 5:37 - 5:40
    Mas a primeira coisa
    que a gente teria que considerar
  • 5:40 - 5:42
    pra que tenhamos uma ação eficaz,
  • 5:42 - 5:46
    é perceber que o ser que está
    em maior perigo de extinção no planeta,
  • 5:46 - 5:49
    é o ser humano na plena
    condição da palavra!
  • 5:49 - 5:51
    Aposto com vocês.
  • 5:51 - 5:56
    Eu vou buscar um mico-leão dourado
    e você me traz um ser humano completo,
  • 5:56 - 5:58
    na plena acepção
    da condição da humanidade.
  • 5:58 - 6:00
    Vai lá.
  • 6:00 - 6:03
    Eu volto pra você com três
    micos-leões-dourados daqui a pouco,
  • 6:03 - 6:05
    e você vai ter dificuldade
    de achar um ser humano assim.
  • 6:05 - 6:10
    Ou seja, a escassez grande
    é de seres humanos.
  • 6:10 - 6:14
    E se eles são preservados,
    como diz a frase bíblica:
  • 6:14 - 6:17
    "Tudo mais será preservado por acréscimo".
  • 6:17 - 6:18
    Isso é óbvio.
  • 6:18 - 6:22
    O ser humano na plenitude
    da condição humana cuida de tudo,
  • 6:22 - 6:24
    inclusive da própria humanidade.
  • 6:24 - 6:26
    Então, o que nós fazemos
  • 6:27 - 6:30
    em Nova Acrópole é isso:
  • 6:30 - 6:33
    filosofia e remendo de tetos.
  • 6:33 - 6:35
    Trabalhamos para remendar tetos,
  • 6:35 - 6:39
    em primeiro lugar em nós
    mesmos, ou seja, as causas.
  • 6:39 - 6:41
    Porque senão a gente fica numa contradição
  • 6:41 - 6:46
    muitas vezes, para não assustar vocês,
    dizendo que são quase todas as vezes.
  • 6:46 - 6:50
    Muitas vezes nós estamos no terreno
    das causas, provocando problemas,
  • 6:50 - 6:54
    e no terreno das consequências sofrendo
    as consequências desses problemas
  • 6:54 - 6:57
    e não temos consciência disso.
  • 6:57 - 7:01
    É como se você imaginasse uma bola de gelo
    que está rolando montanha abaixo.
  • 7:01 - 7:03
    Ela está soterrando a sua casa.
  • 7:03 - 7:06
    Mas você lá em cima é um dos que estão
    jogando uma bolinha de gelo,
  • 7:06 - 7:09
    sem saber as consequências
    disso em última instância.
  • 7:09 - 7:13
    Então, tomar consciência
    das goteiras dentro de nós,
  • 7:13 - 7:17
    pra depois, como já é meio
    lugar comum, mas é verdadeiro,
  • 7:17 - 7:20
    através do exemplo,
    podemos ensinar aos demais
  • 7:20 - 7:23
    a perceberem também as goteiras
    que existem dentro de si.
  • 7:23 - 7:25
    Ou seja, resumindo a ópera:
  • 7:25 - 7:28
    filosofia da maneira como fazemos,
  • 7:28 - 7:32
    é filosofia como formação em valores.
  • 7:32 - 7:35
    E filosofia é sim, assistência social.
  • 7:35 - 7:38
    Filosofia é sim, voluntariado,
  • 7:38 - 7:43
    é sim, uma forma de resgatar a humanidade
    dos problemas que ele vive.
  • 7:43 - 7:46
    Inclusive, porque
    se vocês forem considerar
  • 7:46 - 7:49
    uma das coisas que a gente
    estuda também é a filosofia oriental.
  • 7:49 - 7:52
    Existe um livro tibetano que diz
  • 7:52 - 7:55
    que a origem de todos os problemas
    da humanidade está no egoísmo.
  • 7:55 - 7:57
    Será que é verdade?
  • 7:57 - 7:58
    Tem uns 20 anos que eu li isso
  • 7:58 - 8:02
    e até hoje estou tentando desmentir
    esse livro e não consegui.
  • 8:02 - 8:05
    Pega um problema social, um problema
    financeiro, um problema seu pessoal,
  • 8:05 - 8:10
    ou coletivo, da humanidade,
    e veja se lá no fundo não tem egoísmo.
  • 8:10 - 8:11
    Com certeza!
  • 8:11 - 8:14
    Por trás de tudo está o egoísmo.
  • 8:14 - 8:16
    Se você não trabalha
    para tampar essa goteira,
  • 8:16 - 8:19
    qualquer outra ação será paliativa.
  • 8:19 - 8:23
    Começando por si próprio, evidente,
    pra mostrar que isso é possível.
  • 8:23 - 8:26
    Vejam bem, continuando,
  • 8:26 - 8:29
    filosofia e fixar referenciais,
  • 8:29 - 8:33
    é uma das coisas que fazem parte
    do nosso método de ensinamento.
  • 8:33 - 8:36
    Uma das coisas que a gente tem que saber,
  • 8:36 - 8:38
    ainda pouco uma médica falava sobre isso,
  • 8:38 - 8:43
    achei muito bonito, muito interessante,
    porque tem uma interdisciplinaridade,
  • 8:43 - 8:46
    que todas as coisas, queiramos ou não,
  • 8:46 - 8:50
    têm um objetivo evolutivo,
    isso é a lógica da natureza.
  • 8:50 - 8:55
    Ou seja, a natureza fez os minerais
    para que evoluíssem até um certo ponto.
  • 8:55 - 8:58
    Quando a gente olha, por exemplo,
    a organização molecular de um diamante,
  • 8:58 - 9:02
    imagina que isso seja um referencial,
    alguma coisa equivalente a isso.
  • 9:02 - 9:06
    Os vegetais são organizados em relação
    a um determinado ponto.
  • 9:06 - 9:11
    Sei lá, as angiospermas ou qualquer coisa
    desse tipo evoluem pra esse ponto.
  • 9:11 - 9:16
    Os animais também pra uma condição ótima
    de sobrevivência e perpetuação da espécie.
  • 9:16 - 9:17
    E os homens?
  • 9:17 - 9:20
    Qual será a ponta da pirâmide
    para os homens?
  • 9:20 - 9:24
    O que se diz classicamente, na boca
    de vários filósofos ao longo da história,
  • 9:24 - 9:28
    é que o ápice da pirâmide do homem
    são valores, virtudes e sabedoria.
  • 9:28 - 9:30
    Isso é um ideal.
  • 9:30 - 9:33
    Qualquer outra coisa que você tenha
    no meio do caminho são projetos,
  • 9:33 - 9:38
    que podem ser bons, mas não são
    suficientes para justificar a sua vida.
  • 9:38 - 9:42
    Ou seja, não caiam
    naquela história de pensar:
  • 9:42 - 9:46
    "Bom, eu quero ter um ideal,
    mas não sei qual é meu ideal".
  • 9:46 - 9:48
    Isso é um dos sofismas.
  • 9:48 - 9:51
    Ideal da humanidade é ser humanidade.
  • 9:51 - 9:53
    Ideal do ser humano é ser humano.
  • 9:53 - 9:55
    Não tem muitas opções.
  • 9:55 - 9:58
    Agora, você sobe
    pela face que você quiser.
  • 9:58 - 10:03
    Aqui eu coloquei uma pirâmide de base
    quadrada, mas podem ser infinitas faces.
  • 10:03 - 10:09
    Cada um cresce segundo a sua natureza,
    porém, cresce em direção a esse ponto.
  • 10:09 - 10:13
    O Uno, o ideal humano,
    valores, virtudes e sabedoria.
  • 10:13 - 10:16
    É essa escassez de seres humanos
  • 10:16 - 10:19
    que faz com que a gente tenha tantos
    problemas na nossa sociedade.
  • 10:19 - 10:22
    Perdeu-se o auge, que é a condição humana.
  • 10:22 - 10:26
    Em segundo lugar, aquela história,
    quando eu identifico,
  • 10:26 - 10:30
    porque filósofos costumam identificar
    esse ideal humano com a ideia do bem,
  • 10:30 - 10:32
    as pessoas dizem: "Isso é muito relativo.
  • 10:32 - 10:35
    O que é bom pra mim
    pode não ser bom pra você".
  • 10:35 - 10:37
    Cuidado!
  • 10:37 - 10:41
    Nós não somos tão relativos assim,
    tem coisas que são absolutas.
  • 10:41 - 10:44
    O único ser que poderia chegar
    e dizer: "Tudo é relativo",
  • 10:44 - 10:46
    é aquele que é absoluto.
  • 10:46 - 10:47
    Para nós que somos relativos,
  • 10:47 - 10:52
    coisas de mesmo patamar de relatividade
    que nós, são bem absolutas.
  • 10:52 - 10:55
    Então, você não pode dizer
    que a morte é relativa.
  • 10:55 - 10:57
    Vamos morrer mesmo.
  • 10:57 - 10:58
    Ela é um absoluto.
  • 10:58 - 11:01
    A nossa morte não é relativa,
    nem a nossa vida.
  • 11:01 - 11:03
    Ela tem uma meta humana.
  • 11:03 - 11:05
    Viemos aqui pra nos tornarmos humanos.
  • 11:05 - 11:08
    O caminho que cada um vai trilhar
    pra isso é individual,
  • 11:08 - 11:10
    mas a meta tem que estar fixa.
  • 11:10 - 11:13
    Não é à toa que Sócrates costumava dizer:
  • 11:13 - 11:18
    "Olha, um homem bem-intencionado,
    por mais bem-intencionado que seja,
  • 11:18 - 11:19
    ele pode ser manipulado.
  • 11:19 - 11:21
    Um filósofo, não".
  • 11:21 - 11:23
    Sabe por quê?
  • 11:23 - 11:24
    Você chega pra um filósofo e diz:
  • 11:24 - 11:28
    "Olha, vamos lá que a gente
    vai praticar um atentado terrorista,
  • 11:28 - 11:29
    vamos matar várias pessoas,
  • 11:29 - 11:32
    mas isso vai fazer bem pra humanidade".
  • 11:32 - 11:35
    Bom, ele vai olhar pro ideal do bem dele,
  • 11:35 - 11:38
    que é se tornar um ser humano
    com mais valores, virtudes, sabedoria,
  • 11:38 - 11:41
    e vai ver que não leva pra lá
    esse tipo de ação.
  • 11:41 - 11:44
    Portanto, ele não vai entrar por aí.
  • 11:44 - 11:49
    Então, um homem muito bem-intencionado
    pode ser manipulado,
  • 11:49 - 11:51
    um filósofo tem uma referência de direção.
  • 11:51 - 11:54
    Outra coisa que é importante como exemplo:
  • 11:54 - 11:58
    limalhas de ferro em cima
    de uma folha de papel.
  • 11:58 - 12:02
    Imagine que você coloque um monte
    de limalha em cima de uma folha de papel,
  • 12:02 - 12:05
    sacode um pouquinho esse papel
    e coloque um imã embaixo.
  • 12:05 - 12:06
    Um imã retangular.
  • 12:06 - 12:09
    Você vai ver que ela vai formar
    aquela figura ali.
  • 12:09 - 12:12
    Uma figura retangular com linhas
    do campo magnético.
  • 12:12 - 12:17
    Agora imagine que eu tiro esse imã e tento
    com uma pinça, com alguma ferramenta,
  • 12:17 - 12:21
    colocar essas limalhas
    nessa forma, sem imã por baixo.
  • 12:21 - 12:23
    Vocês percebem que é
    uma dificuldade absurda
  • 12:23 - 12:27
    e qualquer vento que passe
    vai destruir a minha obra?
  • 12:27 - 12:31
    Ou seja, não se trata simplesmente
    do que você faz, do que você vive,
  • 12:31 - 12:36
    mas trata-se de ter por trás um imã,
    que é do ideal humano de valores.
  • 12:36 - 12:37
    Os valores são um imã
  • 12:37 - 12:42
    que a gente coloca por trás
    dos nossos pensamentos
  • 12:42 - 12:44
    das nossas ações.
  • 12:44 - 12:46
    Então, por trás de tudo
    aquilo que fazemos,
  • 12:46 - 12:48
    existe um magnetismo
    do nosso ideal humano.
  • 12:48 - 12:51
    Somos homens, somos seres humanos
  • 12:51 - 12:53
    e isso é importantíssimo
    levarmos em consideração sempre.
  • 12:53 - 12:57
    Sem ímã, não vamos poder
    conservar essa forma.
  • 12:57 - 13:02
    Outra coisa interessante, essa é uma
    conversa de Sócrates com Trasímaco,
  • 13:02 - 13:05
    um sofista num livro de Platão
    chamado "A República".
  • 13:06 - 13:08
    Num determinado momento,
    Trasímaco se vê meio assustado,
  • 13:08 - 13:12
    porque Sócrates era um grande filósofo,
    o coloca contra a parede,
  • 13:12 - 13:14
    e Sócrates diz: "Não fuja, Trasímaco,
  • 13:14 - 13:19
    porque o que você está falando
    trata-se do que vamos fazer amanhã!"
  • 13:19 - 13:21
    Eu acho isso lindo demais, gente.
  • 13:21 - 13:23
    Tratar as ideias é sério.
  • 13:23 - 13:26
    As ideias não são simplesmente
    uma ostentação intelectual,
  • 13:26 - 13:29
    trata-se de como vamos viver amanhã!
  • 13:29 - 13:32
    Ou seja, honrai as verdades com a prática.
  • 13:32 - 13:36
    Outro elemento, que é muito importante:
  • 13:37 - 13:39
    filosofia é encontrar um alemão na rua.
  • 13:39 - 13:40
    Parece engraçado, né?
  • 13:40 - 13:43
    Imaginem vocês, nesse nosso caso,
  • 13:43 - 13:45
    é um alemãozinho procurando a Oktoberfest.
  • 13:45 - 13:49
    A gente chega, encontra ele, só estudamos
    um pouquinho de alemão lá no ensino médio,
  • 13:49 - 13:52
    mas pra falar com ele,
    precisamos falar em alemão.
  • 13:52 - 13:56
    A gente traz à tona aquilo
    que a gente tem de melhor
  • 13:56 - 13:57
    em termos de alemão.
  • 13:57 - 14:00
    Aquele pouquinho que eu estudei
    lá no ensino médio,
  • 14:00 - 14:04
    pra poder me comunicar com ele, porque
    se eu não me comunico, não posso ajudá-lo.
  • 14:04 - 14:05
    Um vez que eu o ajude,
  • 14:05 - 14:09
    ele me deu a única oportunidade
    de praticar alemão na minha vida.
  • 14:09 - 14:13
    Agora imagine o seguinte, você é um pessoa
    que está canalizada com a ideia do bem.
  • 14:13 - 14:15
    Está canalizada com a ideia
    de valores humanos.
  • 14:15 - 14:19
    Para que alguém se comunique com você,
    vai ter que falar a sua língua,
  • 14:19 - 14:23
    vai ter que trazer à tona os valores
    que ele tem lá escondidinhos dentro dele,
  • 14:23 - 14:26
    porque todo mundo tem,
    o universo é todo dual.
  • 14:26 - 14:31
    E talvez tenha sido a única oportunidade
    que ele teve na sua vida de fazer isso.
  • 14:31 - 14:33
    Ou seja, como dizia um dos pitagóricos:
  • 14:33 - 14:36
    "Você vai passar e deixar
    uma trajetória de luz,
  • 14:36 - 14:38
    porque você está fixado numa linguagem,
  • 14:38 - 14:41
    que ao se comunicar
    com as pessoas, as obriga a trazer
  • 14:41 - 14:43
    o que elas têm de melhor à tona.
  • 14:43 - 14:46
    Outro elemento interessante:
  • 14:47 - 14:50
    filosofia e aprender a tomar sopa.
  • 14:50 - 14:52
    Vocês vão dizer: "Ela é doida".
  • 14:52 - 14:54
    Mas isso é muito filosófico, é importante.
  • 14:54 - 14:58
    É uma passagem de um livro budista
    chamado "Dhammapada",
  • 14:58 - 15:00
    se chama Bala Vagga, os tolos.
  • 15:00 - 15:02
    Eles dizem o seguinte:
  • 15:03 - 15:05
    "Um homem perspicaz,
  • 15:05 - 15:08
    quando tem contato com um sábio,
  • 15:08 - 15:11
    ele é como a língua
    que tem contato com a sopa.
  • 15:11 - 15:14
    Um homem tolo, quando
    tem contato com um sábio,
  • 15:14 - 15:17
    ele é como a colher
    que tem contato com a sopa".
  • 15:17 - 15:19
    Ou seja, totalmente insensível.
  • 15:19 - 15:21
    Não registra absolutamente nada.
  • 15:21 - 15:25
    Ter contato com o conhecimento é ser
    como uma língua, e não como uma colher.
  • 15:25 - 15:27
    Então não se mede uma pessoa
  • 15:27 - 15:31
    pela quantidade de conhecimento
    com o qual ela teve contato,
  • 15:31 - 15:34
    mas com a quantidade
    com a qual ela se comprometeu.
  • 15:34 - 15:38
    O homem se alimenta
    não daquilo que ele ingere,
  • 15:38 - 15:42
    daquilo que ele come, mas daquilo
    que ele assimila, não é assim?
  • 15:42 - 15:44
    Aquilo que eliminamos não nos alimenta.
  • 15:44 - 15:48
    O homem vive do que ele assimila
    e não do que ele come.
  • 15:48 - 15:51
    Então, aprender a absorver o conhecimento.
  • 15:51 - 15:54
    Bom, e como começamos
    esse trabalho que fazemos?
  • 15:54 - 15:58
    Hoje somos voluntários
    em mais de 60 países no mundo.
  • 15:58 - 16:01
    Um dia, uma ideia, uma ideia poderosa.
  • 16:01 - 16:04
    Vamos começar a dar
    um sopro de vida à filosofia.
  • 16:04 - 16:08
    Isso foi um homem, um rapaz, num país,
  • 16:08 - 16:11
    que começou a dar aulas
    na sala da sua casa.
  • 16:11 - 16:15
    E logo depois, vieram algumas
    outras pessoas interessadas,
  • 16:15 - 16:17
    e depois daquela cidade
    pra uma outra cidade,
  • 16:17 - 16:21
    e boa vontade, e perseverança,
    e constância, sem pressa, sem pausa,
  • 16:21 - 16:23
    acreditando nos seus sonhos.
  • 16:23 - 16:26
    E aos poucos, estamos
    em mais de 60 países!
  • 16:26 - 16:29
    Só no Brasil são 80 sedes.
  • 16:29 - 16:33
    Por quê? Porque era uma ideia
    que estava latente em todo o ser humano.
  • 16:33 - 16:36
    A necessidade de honrar
    as verdades com a prática.
  • 16:36 - 16:41
    Necessidade de ter referenciais humanos
    e colocá-los em prática na sua vida.
  • 16:41 - 16:45
    E isso é o trabalho que fazemos,
    olhem que interessante.
  • 16:45 - 16:48
    Vocês podem dizer:
    "Ah, mas é uma ideia, viver a filosofia,
  • 16:48 - 16:51
    viver as boas ideias
    que a humanidade teve,
  • 16:51 - 16:55
    estabelecer referenciais,
    ser fiel a isso na sua vida.
  • 16:55 - 16:57
    Isso é comum, já houve em muitos lugares".
  • 16:57 - 16:59
    É verdade, mas cuidado
    com essa visão pessimista.
  • 16:59 - 17:02
    Já houve em vários lugares
    e não deu certo,
  • 17:02 - 17:04
    mas já houve em vários lugares e deu.
  • 17:04 - 17:08
    Assim como a Academia de Platão,
    assim foi o Eliseu,
  • 17:08 - 17:12
    assim foram estruturas que entraram
    pra história da humanidade.
  • 17:12 - 17:14
    Uma ideia, uma ideia humana,
  • 17:14 - 17:17
    vivida com compromisso,
    com perseverança e constância.
  • 17:17 - 17:21
    Hoje, o número que me interessa
    passar pra vocês é aquele ali:
  • 17:21 - 17:27
    48.584 voluntários pelo mundo afora.
  • 17:27 - 17:31
    Entendam, uma coisa é você
    comandar 48 mil pessoas,
  • 17:31 - 17:34
    outra é comandar 48 mil voluntários,
  • 17:34 - 17:37
    empenhados numa mesma ideia há 62 anos.
  • 17:37 - 17:39
    E nós fazemos isso.
  • 17:39 - 17:42
    Eu faço isso há 30 anos,
    todos os dias da minha vida.
  • 17:42 - 17:45
    Aulas voluntárias de filosofia
  • 17:45 - 17:49
    pra ensinar a honrar a vida com valores.
  • 17:49 - 17:53
    Essas frases eu trouxe
    apenas como um lembrete final:
  • 17:53 - 17:56
    "O conhecimento é o ato
    de entender a vida".
  • 17:56 - 17:59
    E também, essa frase é de Aristóteles,
    não só de entender a vida,
  • 17:59 - 18:02
    mas de responder à vida de maneira humana.
  • 18:02 - 18:05
    "Pelas vossas obras vos conhecerei".
  • 18:05 - 18:07
    Vejam como as pessoas respondem à vida,
  • 18:07 - 18:10
    e aí você vai ver o conhecimento
    que elas realmente têm.
  • 18:10 - 18:14
    Não adianta uma pessoa estar fazendo
    uma palestra brilhante sobre o medo,
  • 18:14 - 18:15
    e entra um camundongo na sala
  • 18:15 - 18:19
    e ela é a primeira que pula
    em cima do escudo do TEDx.
  • 18:19 - 18:21
    Honrai as verdades com a prática.
  • 18:21 - 18:24
    Ou seja, o conhecimento
    é o ato de entender a vida
  • 18:24 - 18:28
    e responder à vida de acordo
    com esse conhecimento.
  • 18:28 - 18:31
    Ou seja, uma filosofia prática, vivencial.
  • 18:31 - 18:36
    "Se puderes olhar, vê!
    Se puderes ver, repara!"
  • 18:36 - 18:37
    Saramago.
  • 18:37 - 18:39
    Ou seja, olhe mais
    em profundidade à sua volta,
  • 18:39 - 18:44
    porque a vida é toda simbólica
    e tem muitas coisas a te ensinar.
  • 18:44 - 18:48
    Ou seja, a vida é inteiramente
    pedagógica e dotada de sentido.
  • 18:48 - 18:51
    E uma das coisas fundamentais
    é aprender a aprender da vida,
  • 18:52 - 18:55
    que é um livro aberto e constante.
  • 18:55 - 18:58
    "Os que velam possuem um mundo em comum,
  • 18:58 - 19:02
    e os que dormem voltam
    aos seus mundos particulares".
  • 19:02 - 19:04
    Isso é lindo, isso é Heráclito antigo.
  • 19:05 - 19:07
    Vejam só,
  • 19:07 - 19:10
    a solidão é estar desacompanhado
    de nós mesmos,
  • 19:10 - 19:13
    e a solidão é também consequência
    de estarmos dormindo demais
  • 19:13 - 19:14
    pela vida afora.
  • 19:14 - 19:17
    Quando despertamos
    e nos comprometemos com a vida,
  • 19:17 - 19:21
    aí nos encontramos com todos
    aqueles que estão despertos
  • 19:21 - 19:24
    e que se empenham em trabalhar
    pela vida junto conosco.
  • 19:24 - 19:27
    E por fim, gostaria de mostrar pra vocês,
  • 19:27 - 19:29
    o nosso trabalho.
  • 19:30 - 19:32
    Um pouco dele.
  • 19:33 - 19:36
    Ideias mudam o mundo, lembrem disso.
  • 19:36 - 19:38
    Uma pequena história que gostaria
    de contar pra vocês
  • 19:38 - 19:40
    que pra mim ilustra muito
    aquilo que eu faço
  • 19:40 - 19:43
    e que fazemos em Nova Acrópole.
  • 19:43 - 19:47
    No livro das cartas que Gandhi
    escreveu a seu neto,
  • 19:47 - 19:50
    ele conta em uma passagem
    que ele recebeu a visita de uma mãe
  • 19:50 - 19:53
    que pedia que ele
    conversasse com o filho dela,
  • 19:53 - 19:54
    pra que ele comesse menos açúcar.
  • 19:54 - 19:58
    O menino estava muito descontrolado,
    engordando demais, era uma criança.
  • 19:58 - 20:02
    E Gandhi diz a ela: "Está bem,
    traga seu filho daqui a uma semana".
  • 20:02 - 20:06
    Ela pensa: "Ele deve estar preparando
    um discurso maravilhoso".
  • 20:06 - 20:09
    Dali uma semana ela volta com a criança,
  • 20:09 - 20:13
    ele pega o menino e diz:
    "Meu filho, não coma tantos doces".
  • 20:13 - 20:15
    Só isso!
  • 20:15 - 20:17
    Ela fica surpresa:
    "Está bom, muito obrigada,
  • 20:17 - 20:20
    mas o senhor precisou
    de uma semana pra falar só isso?"
  • 20:20 - 20:24
    "É, porque essa semana eu não comi doces".
  • 20:24 - 20:29
    Ou seja, só é útil o conhecimento
    que nos torna melhores,
  • 20:29 - 20:32
    e que testado na nossa vida,
    nos fez crescer.
  • 20:32 - 20:35
    Comprometimento
  • 20:35 - 20:37
    em honrar as ideias com a nossa vida.
  • 20:37 - 20:39
    Um referencial humano,
  • 20:39 - 20:44
    e saber utilizar as ferramentas humanas
    pra caminhar na direção dele.
  • 20:44 - 20:48
    E o nosso referencial humano
    sempre será sermos mais humanos:
  • 20:48 - 20:50
    valores, virtudes e sabedoria.
  • 20:50 - 20:54
    Isso é formação em valores,
    isso nós fazemos em Nova Acrópole.
  • 20:55 - 20:56
    Muito obrigada.
  • 20:56 - 20:58
    (Aplausos)
Title:
O que é filosofia à maneira clássica? | Profa. Lúcia Helena Galvão Galvão | TEDxFortaleza
Description:

Lúcia Helena Galvão conta sua trajetória como voluntária há 30 anos ensinando filosofia. Além do voluntariado e assistência social, a filosofia praticada por Lúcia é uma verdadeira formação em valores. Lúcia Helena Galvão Maya é professora de Filosofia na organização Nova Acrópole do Brasil. Há 30 anos na instituição, é uma das palestrantes mais antigas e ativas.

Nascida no Rio de Janeiro, reside hoje em Brasília, onde ministra aulas sobre os mais variados temas: ética, sociopolítica, simbologia, história da filosofia, entre outros. Poetisa, já publicou quatro livros, além de produzir artigos e crônicas frequentemente publicados pela imprensa de todo o país.

Profere ainda palestras e conferências regularmente para grandes públicos no Brasil e em outros países. Na internet é um fenômeno nas redes sociais e YouTube, onde possui milhares de seguidores e acumula mais de 16 milhões de visualizações em suas palestras.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
21:07

Portuguese, Brazilian subtitles

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