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O que as empresas de tecnologia sabem sobre seus filhos

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    Todo dia, toda semana, concordamos
    com os termos e condições.
  • 0:05 - 0:09
    Quando fazemos isso, fornecemos
    às empresas o direito legal
  • 0:09 - 0:13
    de fazerem o que quiserem
    com nossos dados
  • 0:13 - 0:16
    e com os dados de nossos filhos.
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    O que nos faz questionar:
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    quantos dados sobre crianças nós damos,
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    e quais são as consequências?
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    Eu sou antropóloga
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    e mãe de duas garotinhas.
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    Passei a ter interesse nisso em 2015
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    quando subitamente percebi que existem
    quantidades de dados enormes,
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    quase inimagináveis,
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    sendo produzidas
    e coletadas sobre crianças.
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    E então, comecei um projeto de pesquisa,
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    chamado Child Data Citizen,
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    que almeja preencher essa lacuna.
  • 0:53 - 0:56
    Talvez, pensem que estou
    aqui para culpar vocês
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    por postar fotos
    de seus filhos nas redes sociais,
  • 0:58 - 1:01
    mas esse não é o ponto.
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    O problema é bem maior
    que o assim chamado "sharenting".
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    É sobre sistemas, não indivíduos.
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    A culpa não é dos seus hábitos.
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    Pela primeira vez na história,
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    estamos rastreando os dados
    individuais das crianças
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    bem antes de elas nascerem,
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    às vezes, do momento da concepção
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    e depois ao longo da vida delas.
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    Quando os pais decidem conceber,
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    buscam on-line por "formas de engravidar",
  • 1:31 - 1:35
    ou fazem download de aplicativos
    que rastreiam a ovulação.
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    Quando a mulher consegue engravidar,
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    eles postam fotos do ultrassom
    do bebê nas redes sociais,
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    baixam aplicativos de gravidez
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    ou consultam o Dr. Google
    para saber sobre tudo,
  • 1:47 - 1:48
    por exemplo,
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    "risco de aborto involuntário
    ao pegar um avião"
  • 1:51 - 1:54
    ou "cãibras abdominais
    no início da gravidez".
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    Eu sei porque já fiz isso, muitas vezes.
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    E então, quando o bebê nasce,
    monitoram cada cochilo, cada refeição,
  • 2:03 - 2:06
    cada evento da vida dele
    em uma tecnologia diferente.
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    E todas essas tecnologias
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    transformam os dados mais íntimos
    do comportamento e saúde do bebê em lucro
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    através do compartilhamento.
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    Explicando basicamente como isso funciona,
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    em 2019, uma pesquisa publicada
    pelo British Medical Journal mostrou
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    que de 24 aplicativos de saúde,
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    19 compartilharam
    informações com terceiros.
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    E esses terceiros compartilharam
    informações com outras 216 organizações.
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    Dessas 216 organizações,
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    somente três pertenciam ao setor da saúde.
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    As outras eram grandes
    empresas de tecnologia
  • 2:50 - 2:54
    como Google, Facebook ou Oracle,
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    que estavam fazendo publicidade digital,
  • 2:56 - 3:00
    e havia também uma agência
    de relatório do crédito ao consumidor.
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    Vocês entenderam corretamente:
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    empresas e agências de publicidade
    já devem ter dados sobre bebês.
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    Só que aplicativos, pesquisas
    na web e redes sociais
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    são apenas a ponta do iceberg,
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    porque as crianças são rastreadas
    por diversas tecnologias
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    em seus cotidianos:
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    tecnologias da casa, assistentes virtuais,
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    plataformas educacionais e tecnologias
    educacionais nas escolas,
  • 3:28 - 3:33
    registros on-line e portais
    de seus consultórios médicos,
  • 3:33 - 3:36
    brinquedos conectados
    à internet, jogos on-line
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    e muitas outras tecnologias.
  • 3:40 - 3:42
    Ao longo de minha pesquisa,
  • 3:42 - 3:45
    muitos pais me perguntaram: "E daí?
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    Importa se meus filhos forem rastreados?
  • 3:50 - 3:52
    Não temos nada a esconder".
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    Bem, importa sim.
  • 3:55 - 4:00
    Importa porque os indivíduos
    não são apenas rastreados,
  • 4:01 - 4:05
    mas também são perfilados
    de acordo com seus dados.
  • 4:05 - 4:09
    A inteligência artificial
    e a análise preditiva são usadas
  • 4:09 - 4:13
    para alcançar o máximo de dados
    possível de um indivíduo
  • 4:13 - 4:15
    através de fontes diferentes:
  • 4:15 - 4:19
    histórico familiar, hábitos de compra,
    comentários em rede sociais.
  • 4:19 - 4:21
    E então, esses dados são coletados
  • 4:21 - 4:24
    para orientar escolhas
    a respeito do indivíduo.
  • 4:25 - 4:28
    E essas tecnologias
    são usadas em toda parte.
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    Bancos as usam para decidir empréstimos.
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    Seguradoras as usam para decidir
    valores de contratação.
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    Recrutadoras e empregadores as usam
  • 4:37 - 4:40
    para decidir se a pessoa
    se encaixa ou não num emprego.
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    A polícia e os tribunais também as usam
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    para determinar se alguém
    é um criminoso em potencial
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    ou é propenso a voltar a cometer um crime.
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    Nós não temos conhecimento ou controle
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    sobre as formas em que aqueles
    que compram e vendem nossos dados
  • 5:00 - 5:04
    profilam a nós e nossos filhos.
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    Mas esses perfis podem impactar
    nossos direitos de forma significativa.
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    Por exemplo,
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    em 2018, o New York Times publicou
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    que os dados que foram coletados
  • 5:20 - 5:23
    pelos serviços de planejamento
    de faculdade on-line,
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    que são usados por milhões de alunos
    do ensino médio nos EUA
  • 5:28 - 5:31
    que procuram por programas
    ou bolsas de estudos para a faculdade,
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    haviam sido vendidos para corretores
    de dados educacionais.
  • 5:36 - 5:41
    Pesquisadores da Universidade Fordham
    que estudaram esse tipo de corretor
  • 5:41 - 5:46
    revelaram que essas empresas perfilam
    crianças acima de dois anos de idade
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    com base em categorias diferentes:
  • 5:50 - 5:54
    etnia, religião, riqueza,
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    inépcia social
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    e muitas outras categorias aleatórias.
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    Depois, elas vendem os perfis,
    juntamente com o nome das crianças,
  • 6:04 - 6:07
    o endereço delas e informações de contato
  • 6:07 - 6:09
    para empresas diferentes,
  • 6:09 - 6:12
    incluindo instituições
    de carreira, comércio,
  • 6:12 - 6:16
    e empresas de empréstimos
    e cartões de crédito estudantis.
  • 6:17 - 6:18
    Para ampliar os limites,
  • 6:18 - 6:22
    os pesquisadores pediram
    a um corretor de dados educacionais
  • 6:22 - 6:28
    para providenciar uma lista com o nome
    de garotas de 14 e 15 anos de idade
  • 6:28 - 6:31
    que estivessem interessadas
    em serviços de planejamento familiar.
  • 6:32 - 6:35
    O corretor de dados aceitou o pedido.
  • 6:35 - 6:40
    Imaginem o quanto isso é íntimo
    e intrusivo para nossas crianças.
  • 6:41 - 6:45
    Mas esse é só um exemplo.
  • 6:45 - 6:50
    A verdade é que nossos filhos estão
    sendo perfilados de formas incontroláveis
  • 6:50 - 6:53
    que podem impactar significativamente
    suas oportunidades na vida.
  • 6:54 - 6:58
    Então, precisamos nos perguntar:
  • 6:58 - 7:02
    podemos confiar nessas tecnologias
    que perfilam nossos filhos?
  • 7:02 - 7:04
    Será que podemos?
  • 7:06 - 7:08
    Minha resposta é não.
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    Como antropóloga,
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    acredito que a inteligência artificial
    e a análise preditiva possam ser úteis
  • 7:13 - 7:15
    para prever o curso de uma doença
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    ou lutar contra a mudança climática.
  • 7:18 - 7:20
    Mas precisamos abandonar a crença
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    de que essas tecnologias podem perfilar
    seres humanos objetivamente
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    e que podemos confiar nelas
    para tomar decisões sobre indivíduos
  • 7:27 - 7:28
    baseadas em bancos de dados,
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    porque eles não conseguem
    perfilar seres humanos.
  • 7:31 - 7:34
    Dados não são um reflexo de quem somos.
  • 7:34 - 7:37
    Humanos pensam uma coisa e dizem outra,
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    sentem e agem de formas diferentes.
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    Predições algorítmicas
    ou nossas práticas digitais
  • 7:42 - 7:47
    não podem explicar a imprevisibilidade
    e a complexidade da vivência humana.
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    Mas acima de tudo isso,
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    essas tecnologias são sempre,
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    de uma forma ou outra, tendenciosas.
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    Algoritmos são, por definição,
    um conjunto de regras ou passos
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    projetado para alcançar
    um resultado específico, certo?
  • 8:07 - 8:10
    Mas esses conjuntos
    não podem ser objetivos
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    porque são projetados por seres humanos
  • 8:12 - 8:13
    num contexto cultural específico
  • 8:14 - 8:16
    e são modelados por valores
    culturais específicos.
  • 8:17 - 8:18
    Quando as máquinas aprendem,
  • 8:18 - 8:21
    é através de algoritmos tendenciosos
  • 8:22 - 8:26
    e, com frequência, através de bases
    de dados também tendenciosas.
  • 8:26 - 8:30
    No momento, vemos os primeiros
    exemplos de viés algorítmico.
  • 8:30 - 8:33
    E alguns desses exemplos são terríveis.
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    Neste ano, o AI Now Institute
    en Nova York publicou um relatório
  • 8:39 - 8:41
    que revelou que as tecnologias IA
  • 8:41 - 8:44
    que estão sendo utilizadas
    para o policiamento preditivo
  • 8:44 - 8:48
    foram treinadas com "dados sujos".
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    Esses são dados que foram coletados
  • 8:51 - 8:55
    durante períodos históricos
    de preconceito racial explícito
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    e práticas policiais não transparentes.
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    Por essas tecnologias serem
    treinadas com dados sujos,
  • 9:03 - 9:04
    elas não são objetivas,
  • 9:04 - 9:09
    e seus resultados estão
    ampliando e perpetuando
  • 9:09 - 9:11
    os erros e o preconceito policial.
  • 9:13 - 9:16
    Aqui, nós enfrentamos
    um problema fundamental
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    em nossa sociedade.
  • 9:18 - 9:23
    Estamos confiando em tecnologias
    para perfilar seres humanos,
  • 9:24 - 9:26
    mas sabemos que ao fazermos isso,
  • 9:26 - 9:29
    essas tecnologias sempre
    serão tendenciosas
  • 9:29 - 9:32
    e jamais realmente precisas.
  • 9:32 - 9:35
    Precisamos de uma solução política.
  • 9:35 - 9:40
    Que os governos reconheçam que direitos
    sobre dados são direitos humanos.
  • 9:40 - 9:42
    (Aplausos)
  • 9:48 - 9:53
    Até que isso aconteça, não podemos
    esperar por um futuro mais justo.
  • 9:53 - 9:58
    Preocupa-me que minhas filhas serão
    expostas a toda forma de discriminação
  • 9:58 - 9:59
    e erro dos algoritmos.
  • 9:59 - 10:02
    A diferença entre mim e minhas filhas
  • 10:02 - 10:05
    é que não existe um registro
    público da minha infância.
  • 10:05 - 10:09
    Certamente não existe base de dados
    sobre todas as coisas estúpidas que fiz
  • 10:09 - 10:11
    e pensei quando era adolescente.
  • 10:11 - 10:13
    (Risos)
  • 10:14 - 10:17
    Mas, para elas, pode ser diferente.
  • 10:17 - 10:20
    Os dados coletados sobre elas atualmente
  • 10:20 - 10:24
    podem ser usados para julgá-las no futuro
  • 10:24 - 10:28
    e impedir os sonhos e esperanças delas.
  • 10:29 - 10:32
    Acho que chegou o momento
    de nos posicionarmos.
  • 10:32 - 10:34
    De começarmos a trabalhar juntos
  • 10:34 - 10:36
    como indivíduos,
  • 10:36 - 10:38
    organizações e instituições,
  • 10:38 - 10:43
    e exigir uma justiça de dados
    maior para nós e para nossas crianças
  • 10:43 - 10:44
    antes que seja tarde demais.
  • 10:44 - 10:45
    Obrigada.
  • 10:45 - 10:47
    (Aplausos)
Title:
O que as empresas de tecnologia sabem sobre seus filhos
Speaker:
Veronica Barassi
Description:

As plataformas digitais que você e sua família usam todos os dias, de jogos on-line a aplicativos educacionais e portais médicos, podem estar coletando e vendendo os dados de seus filhos, diz a antropologista Veronica Barassi. Ao compartilhar sua pesquisa reveladora, Barassi encoraja pais a verificar duas vezes os termos e condições ao invés de aceitá-los cegamente, e demandar proteções que garantam que os dados de suas crianças não comprometam o futuro delas.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:01

Portuguese, Brazilian subtitles

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