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O futuro da criação de histórias

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    Cyndi Stivers: O futuro das narrativas.
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    Antes de traçarmos o futuro,
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    vamos falar sobre o que nunca
    vai mudar na criação das histórias.
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    Shonda Rhimes: O que nunca vai mudar.
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    Obviamente, acredito
    que boas histórias nunca vão mudar,
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    a necessidade de as pessoas
    se juntarem para trocar histórias
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    e conversar sobre as coisas universais,
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    a nossa necessidade
    irresistível de assistir histórias,
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    contar e compartilhar histórias...
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    como se fosse ao redor de uma fogueira
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    para discutir as questões que nos mostram
    que não estamos sozinhos no mundo.
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    Para mim, essas coisas nunca vão mudar.
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    A essência das narrativas nunca vai mudar.
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    CS: Ao me preparar para esta conversa,
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    chequei com Susan Lyne,
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    que dirigia a ABC Entertainment
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    quando você estava trabalhando
    em "Grey's Anatomy",
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    e ela disse se lembrar claramente
    de seu processo de escolha do elenco,
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    no qual você, sem discutir
    com qualquer dos executivos,
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    punha pessoas para ler seus roteiros,
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    e cada personagem era
    a gama completa da humanidade,
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    pois você não descrevia
    ninguém em nenhum aspecto,
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    e que isso foi muito surpreendente.
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    Então ela falou que, além de reeducar
    os executivos dos estúdios,
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    ela acha que você também,
    no que concordo com ela,
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    reeducou as expectativas
    do público da TV norte-americana.
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    Então, o que mais o público
    ainda precisa perceber?
  • 1:30 - 1:32
    SR: O que mais não perceberam?
  • 1:32 - 1:35
    Bom, não acredito que estejamos
    nem perto disso ainda.
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    Digo, ainda estamos num ponto
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    muito aquém do que o mundo real
    apresenta na atualidade.
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    Eu não trazia um monte de atores
    que pareciam tão diferentes entre si
  • 1:51 - 1:53
    simplesmente para tentar
    provar alguma coisa,
  • 1:53 - 1:55
    e eu não estava tentando
    fazer nada de especial.
  • 1:55 - 1:59
    Nunca me ocorreu que isso seria
    novidade, diferente ou estranho.
  • 1:59 - 2:02
    Eu simplesmente trouxe atores
    que considerava interessantes.
  • 2:02 - 2:06
    E, pra mim, a ideia de isso ser
    tão surpreendente pra todo mundo
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    me passou despercebida por um bom tempo.
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    Só pensava que queria ver
    aqueles atores naqueles papéis,
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    queria vê-los lendo e ver o que acontecia.
  • 2:14 - 2:21
    O interessante é que, quando
    olhamos o mundo com outras lentes,
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    quando você não está normalmente
    no comando das coisas,
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    simplesmente elas acontecem
    de um jeito diferente.
  • 2:28 - 2:33
    CS: Então você controla
    essa máquina imensa
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    como uma titânide.. ano passado
    ela deu sua palestra TED...
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    ela é uma titânide.
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    Então o que você acha
    que vai acontecer daqui pra frente?
  • 2:41 - 2:46
    Há muito dinheiro envolvido
    na produção dessas séries.
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    Enquanto as ferramentas para criar
    histórias se democratizaram,
  • 2:52 - 2:55
    a distribuição ainda é algo grande:
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    pessoas que alugam redes,
    que alugam o público para anunciantes
  • 3:00 - 3:02
    e que se paga.
  • 3:02 - 3:03
    Como você vê
  • 3:03 - 3:07
    essa mudança no modelo do negócio,
    em que qualquer um pode criar histórias?
  • 3:07 - 3:09
    SR: Penso que muda todo dia.
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    A mudança super-rápida
    que está acontecendo é incrível.
  • 3:12 - 3:17
    E sinto que o pânico é palpável,
    e não digo isso no sentido negativo.
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    Penso que é meio empolgante.
  • 3:19 - 3:23
    A ideia que há um tipo
    de equalizador acontecendo,
  • 3:23 - 3:27
    os meios para qualquer um poder
    fazer coisas, é maravilhosa.
  • 3:27 - 3:33
    Há um certo receio de não
    se encontrarem bons trabalhos.
  • 3:33 - 3:34
    Há tanto trabalho por aí.
  • 3:34 - 3:39
    Deve haver uns 417 dramas na TV
    neste momento, a qualquer tempo e lugar.
  • 3:40 - 3:43
    Mas não conseguimos encontrar
    os realmente bons.
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    Então, há muita porcaria por aí,
    já que todos podem criar algo.
  • 3:46 - 3:51
    É como se todo mundo pintasse quadros,
    e não há tantos pintores tão bons assim.
  • 3:51 - 3:56
    Mas achar boas histórias, séries boas,
    está cada vez mais difícil.
  • 3:56 - 3:58
    Porque, se você tiver uma série
    pequenininha no AMC,
  • 3:58 - 4:00
    e outra pequenininha ali,
  • 4:00 - 4:03
    fica mais difícil
    descobrir onde elas estão.
  • 4:03 - 4:04
    Assim, penso que encontrar as pérolas
  • 4:04 - 4:08
    e descobrir quem fez o grande
    "webisódio" e fez aquilo outro é...
  • 4:08 - 4:10
    Pense nos coitados dos críticos
  • 4:10 - 4:14
    que agora têm de passar 24 horas por dia
    presos em casa para assistir a tudo.
  • 4:14 - 4:16
    Não é uma tarefa fácil hoje em dia.
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    Assim, os mecanismos de distribuição
    estão ficando cada vez mais vastos,
  • 4:19 - 4:22
    mas achar o programa certo
    para todos da audiência
  • 4:22 - 4:23
    está ficando mais difícil.
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    E, diferente das notícias, em que tudo
    está se resumindo a quem você é,
  • 4:29 - 4:30
    a TV parece estar conseguindo,
  • 4:30 - 4:34
    e por televisão quero dizer
    qualquer meio em que se assista à TV,
  • 4:34 - 4:37
    parece estar se tornando
    cada vez mais vasta.
  • 4:37 - 4:39
    Assim, todo mundo está criando histórias,
  • 4:39 - 4:42
    e os gênios estão escondidos por aí.
  • 4:42 - 4:44
    Mas vai ficar mais difícil encontrar.
  • 4:44 - 4:46
    E, num dado momento, isso vai desmoronar.
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    Fala-se ainda no pico da TV.
  • 4:48 - 4:53
    Não sei o que vai acontecer, mas,
    num dado momento, vai cair um pouco,
  • 4:53 - 4:55
    e nós vamos meio que voltar juntos.
  • 4:55 - 4:57
    Eu não sei se vai ser rede de televisão.
  • 4:57 - 4:59
    Não sei qual modelo vai ser sustentável.
  • 4:59 - 5:01
    CS: E que tal o modelo
  • 5:01 - 5:07
    no qual a Amazon e a Netflix
    estão investindo montes de dinheiro agora?
  • 5:08 - 5:09
    SR: É verdade.
  • 5:10 - 5:14
    Acho esse modelo interessante,
    há algo de estimulante nele.
  • 5:14 - 5:17
    Acho estimulante
    para os criadores de conteúdo.
  • 5:17 - 5:19
    Acho estimulante para o mundo.
  • 5:19 - 5:23
    A ideia de que há séries agora
    em diversas línguas,
  • 5:23 - 5:25
    com personagens do mundo todo,
  • 5:25 - 5:29
    que são atraentes e podem ser assistidos
    por todos ao mesmo tempo é empolgante.
  • 5:29 - 5:34
    Acho que o lado internacional
    que a televisão pode assumir agora,
  • 5:34 - 5:36
    assim como sua programação,
    faz sentido pra mim.
  • 5:36 - 5:40
    A televisão é muito feita levando
    em consideração o público norte-americano.
  • 5:40 - 5:43
    Fazemos essas séries,
    e as distribuímos pelo mundo agora,
  • 5:43 - 5:45
    e rezamos para que dê certo,
  • 5:45 - 5:48
    em vez de realmente pensarmos
    de que isso não se resume aos EUA.
  • 5:49 - 5:51
    Quero dizer, nós nos amamos
    e tudo mais, mas não é tudo.
  • 5:51 - 5:54
    E deveríamos levar em conta o fato
  • 5:54 - 5:57
    de que existem tantos lugares no mundo
  • 5:57 - 6:00
    que deveríamos ter em mente
    quando criamos nossas histórias.
  • 6:00 - 6:02
    Isso aproxima o mundo.
  • 6:04 - 6:10
    Acho que passa a ideia
    de que o mundo é um lugar universal,
  • 6:10 - 6:13
    e de que nossas histórias se tornam
    universais; deixamos de ser os outros.
  • 6:14 - 6:17
    CS: Pelo que sei, você é pioneira
  • 6:17 - 6:20
    em lançar séries
    de um jeito interessante também.
  • 6:20 - 6:23
    Por exemplo, quando
    você lançou "Scandal", em 2012,
  • 6:23 - 6:27
    houve uma incrível onda
    de apoio no Twitter
  • 6:27 - 6:30
    como ninguém tinha visto antes.
  • 6:30 - 6:34
    Você tem outros truques na manga
    para lançar a próxima série?
  • 6:34 - 6:37
    O que acha que vai ser?
  • 6:37 - 6:39
    SR: Temos algumas ideias interessantes.
  • 6:39 - 6:42
    Vamos lançar uma série chamada
    "Still Star-Crossed" no meio do ano.
  • 6:42 - 6:45
    Temos algumas ideias, mas não sei
    se vamos conseguir fazer a tempo.
  • 6:45 - 6:48
    Algumas são bem divertidas e engraçadas.
  • 6:48 - 6:52
    Mas a ideia da série ao vivo no Twitter
    foi porque achamos que seria divertido.
  • 6:52 - 6:55
    Não achamos que os críticos
    iam começar a tuitar ao vivo também.
  • 6:55 - 7:00
    Mas fazer os fãs participarem,
    como se estivéssemos ao redor da fogueira,
  • 7:00 - 7:05
    com todos juntos no Twitter conversando,
    cria uma experiência mais compartilhada.
  • 7:05 - 7:07
    E encontrar maneiras
    de tornar isso possível
  • 7:07 - 7:11
    e fazer as pessoas
    participarem é importante.
  • 7:12 - 7:16
    CS: Mas, quando há
    tanta gente criando histórias
  • 7:17 - 7:21
    apenas algumas vão dar certo
    e atrair a audiência,
  • 7:21 - 7:24
    como acha que os bons criadores
    de histórias vão ser pagos?
  • 7:24 - 7:27
    SR: Na verdade, tenho pensado
    muito nisso também.
  • 7:27 - 7:29
    Vai ser um modelo de assinatura?
  • 7:29 - 7:34
    As pessoas vão dizer: "Vou assistir
    aos programas dessa pessoa"...
  • 7:34 - 7:35
    É assim que vai ser?
  • 7:35 - 7:39
    CS: Acho que deveríamos comprar
    um passaporte para Shondalândia, certo?
  • 7:39 - 7:42
    SR: Isso eu não sei, mas traria
    bem mais trabalho pra mim.
  • 7:42 - 7:46
    Acho que vai haver
    diversas maneiras, mas não sei...
  • 7:46 - 7:49
    Vou ser bem honesta: há muitos
    criadores de conteúdo
  • 7:49 - 7:52
    que não estão necessariamente
    interessados em serem distribuidores,
  • 7:52 - 7:57
    principalmente porque meu sonho
    é criar conteúdo.
  • 7:57 - 8:00
    Adoro criar conteúdo
    e quero ser paga pra isso,
  • 8:00 - 8:02
    com o valor que mereço receber para tanto.
  • 8:02 - 8:05
    E é difícil encontrar isso.
  • 8:05 - 8:08
    Mas também quero tornar possível
  • 8:08 - 8:12
    para as pessoas que trabalham
    comigo e pra mim,
  • 8:12 - 8:15
    que todos possam viver disso.
  • 8:15 - 8:19
    A forma de distribuição
    está ficando cada vez mais difícil.
  • 8:20 - 8:25
    CS: E que tal as várias ferramentas,
    como as realidades virtual e aumentada?
  • 8:26 - 8:30
    Acho fascinante não podermos
    fazer uma maratona para assistir,
  • 8:30 - 8:33
    não se pode adiantar
    o vídeo nessas coisas.
  • 8:33 - 8:36
    Como você acha que vai ser no futuro
    para a criação de histórias?
  • 8:36 - 8:41
    SR: Passei muito tempo
    ano passado explorando isso,
  • 8:41 - 8:43
    vendo muitas demonstrações
    e prestando atenção.
  • 8:43 - 8:45
    Eu as acho fascinantes,
  • 8:45 - 8:49
    especialmente porque a maioria
    das pessoas pensam nelas para jogos,
  • 8:50 - 8:52
    outras pensam nelas pra coisas como ação,
  • 8:52 - 8:55
    e acho que há uma ideia de intimidade
  • 8:55 - 8:59
    muito presente nessas coisas,
  • 8:59 - 9:01
    a ideia de que, imagine só,
  • 9:01 - 9:05
    você pode sentar lá e conversar com Fitz.
  • 9:05 - 9:09
    Ou sentar enquanto Fitz conversa com você,
    o presidente Fitzgerald Grant III.
  • 9:09 - 9:13
    Ele te explica por que está fazendo
    determinada escolha
  • 9:13 - 9:14
    e é um momento muito emocionante.
  • 9:14 - 9:20
    E, em vez de assistir na tela da TV,
    você se senta perto dele e conversa.
  • 9:20 - 9:24
    Bem, se você se apaixona
    pelo homem assistindo-o pela TV,
  • 9:24 - 9:25
    imagine sentado ao lado dele.
  • 9:25 - 9:29
    Ou com um personagem como Huck,
    que está prestes a executar alguém.
  • 9:29 - 9:31
    E, em vez de ter uma cena
  • 9:31 - 9:35
    em que ele está falando
    de outro personagem bem rápido,
  • 9:35 - 9:39
    ele entra no armário, se vira pra você
    e diz o que vai acontecer,
  • 9:39 - 9:41
    e por que ele está com medo e nervoso.
  • 9:41 - 9:43
    É parecido com teatro,
    e não sei se vai funcionar,
  • 9:43 - 9:47
    mas estou fascinada pelo conceito
    e o que significa para o público.
  • 9:47 - 9:51
    E brincar com essas ideias
    seria interessante,
  • 9:51 - 9:56
    e acho que, para as pessoas
    que assistem às minhas séries,
  • 9:56 - 10:01
    que são mulheres dos 12 aos 75 anos,
    há algo interessante lá para elas.
  • 10:03 - 10:05
    CS: E a contribuição do público?
  • 10:06 - 10:11
    Você se interessa por algo
    em que o público vai até certo ponto
  • 10:11 - 10:14
    e depois decide: "Espere, vou escolher
    minha própria aventura.
  • 10:14 - 10:16
    Vou fugir com Fitz…
  • 10:16 - 10:19
    SR: Escolher a própria aventura...
  • 10:19 - 10:21
    é um pouco complicado pra mim.
  • 10:21 - 10:24
    Não necessariamente
    porque quero controlar tudo,
  • 10:24 - 10:27
    mas porque, quando estou
    assistindo à TV ou a um filme,
  • 10:27 - 10:32
    só tenho certeza
    de que uma história não é tão boa
  • 10:32 - 10:35
    quando controlo exatamente
    o que vai acontecer
  • 10:35 - 10:37
    com o personagem de alguém.
  • 10:37 - 10:41
    Sabe, se eu pudesse dizer exatamente
    o que ia acontecer com Walter White,
  • 10:41 - 10:44
    seria ótimo, mas a história
    não seria a mesma nem tão poderosa.
  • 10:44 - 10:47
    Se eu decidisse o final de "Os Sopranos",
  • 10:47 - 10:50
    seria ótimo e eu teria
    o final que é legal e satisfatório,
  • 10:50 - 10:53
    mas não é a mesma história
    e não tem o mesmo impacto emocional.
  • 10:53 - 10:57
    CS: Não consigo parar
    de pensar em como seria.
  • 10:57 - 10:58
    Desculpe, estou viajando um pouco.
  • 10:58 - 11:01
    SR: Mas não preciso imaginar,
  • 11:01 - 11:03
    porque Vince tem seu próprio final.
  • 11:03 - 11:07
    E é poderoso saber que outro o fez.
  • 11:07 - 11:09
    Se você pudesse decidir isso
  • 11:09 - 11:11
    em "Tubarão", o tubarão
    vencer ou algo assim,
  • 11:11 - 11:14
    a história não faz
    o que precisa fazer por você.
  • 11:14 - 11:20
    Ela é a que é contada, e você pode ficar
    com raiva, discutir, ou brigar,
  • 11:20 - 11:22
    mas é por isso que funciona.
  • 11:22 - 11:24
    É por isso que é arte.
  • 11:24 - 11:25
    Se não fosse assim, seria apenas jogo.
  • 11:25 - 11:28
    E jogos podem ser arte,
    mas de uma forma muito diferente.
  • 11:28 - 11:32
    CS: Jogadores na verdade
    vendem o direito de se sentarem ali
  • 11:32 - 11:34
    e comentar o que está acontecendo.
  • 11:34 - 11:37
    Para mim, isso é mais comunitário
    do que contar histórias.
  • 11:37 - 11:39
    SR: É sua própria forma de fogueira.
  • 11:39 - 11:42
    Não descarto isso como
    uma forma de contar histórias,
  • 11:42 - 11:45
    mas é uma forma em grupo, suponho.
  • 11:46 - 11:52
    CS: Tudo bem, que tal o fato de que tudo
    está ficando cada vez mais curto.
  • 11:53 - 11:56
    Por exemplo, o Snapchat
    agora tem algo chamado shows
  • 11:56 - 11:58
    com a duração de um minuto.
  • 11:59 - 12:01
    SR: Isso é interessante.
  • 12:03 - 12:06
    Em parte, considero isso comerciais.
  • 12:06 - 12:09
    E são, pois são patrocinados.
  • 12:09 - 12:12
    Mas, em parte,
    compreendo completamente.
  • 12:12 - 12:14
    Tem algo de maravilhoso nisso.
  • 12:14 - 12:17
    Se pensarmos num mundo
    em que a maioria assiste à TV no celular,
  • 12:17 - 12:21
    se pensarmos num lugar como a Índia,
    de onde a maioria das ideias está vindo
  • 12:21 - 12:25
    e pra onde muitos dos produtos estão indo,
    mais curto faz todo sentido.
  • 12:25 - 12:29
    Se você puder cobrar mais
    por períodos mais curtos de conteúdo,
  • 12:29 - 12:32
    um distribuidor vai descobrir um jeito
    de ganhar muito dinheiro assim.
  • 12:32 - 12:37
    Se você está produzindo conteúdo,
    custa menos dinheiro fazer e lançar.
  • 12:37 - 12:43
    E, aliás, se você tem 14 anos
    e pouca concentração, como minha filha,
  • 12:43 - 12:45
    é isso o que você quer ver e fazer.
  • 12:46 - 12:47
    É assim que funciona.
  • 12:47 - 12:51
    E, se você fizer certo,
    e ficar com cara de narrativa,
  • 12:51 - 12:54
    as pessoas vão assistir.
  • 12:54 - 12:56
    CS: Bom saber sobre suas filhas,
  • 12:56 - 13:01
    porque estou imaginando como elas
    vão consumir entretenimento,
  • 13:01 - 13:05
    e não apenas entretenimento,
    mas notícias também,
  • 13:06 - 13:12
    quando o senhor dos algoritmos
    der a elas o que elas já têm.
  • 13:12 - 13:17
    Como você acha que vamos corrigir isso
    e fazer cidadãos mais complexos?
  • 13:18 - 13:23
    SR: Minha forma de corrigir isso
    pode ser bem diferente da de outra pessoa.
  • 13:23 - 13:25
    CS: Fique à vontade para especular.
  • 13:25 - 13:28
    SR: Realmente não sei
    como vamos fazer isso no futuro.
  • 13:28 - 13:31
    As coitadas das minhas filhas têm sido
    o alvo de todos os meus experimentos.
  • 13:31 - 13:34
    Ainda fazemos o que chamo
    de "férias amish",
  • 13:34 - 13:37
    em que desligo todos os eletrônicos
    e guardo todos os computadores,
  • 13:37 - 13:43
    e as deixo espernear até se acostumarem
    com férias sem eletrônicos.
  • 13:44 - 13:47
    Mas, honestamente,
    é um mundo muito difícil
  • 13:47 - 13:49
    no qual agora, como adultos,
  • 13:49 - 13:52
    estamos tão interessados
    em assistir às nossas próprias coisas,
  • 13:52 - 13:55
    e nem sabemos que estamos
    sendo alimentados, às vezes,
  • 13:55 - 13:57
    apenas com nossas próprias opiniões.
  • 13:57 - 14:00
    A forma como isso funciona
    hoje é que lemos "feeds"
  • 14:00 - 14:03
    que são ajustados para conteúdos
    que reforçam nossas opiniões,
  • 14:03 - 14:05
    e reforçamos nossas certezas.
  • 14:05 - 14:08
    Assim, como começar a discernir?
  • 14:08 - 14:10
    Está ficando preocupante.
  • 14:11 - 14:13
    Talvez vá ser hipercorrigido,
    ou talvez vá explodir,
  • 14:13 - 14:15
    ou talvez todos vamos ficar...
  • 14:16 - 14:18
    odeio ser negativa sobre isso,
  • 14:18 - 14:22
    mas talvez nós todos
    vamos ficar mais idiotas.
  • 14:22 - 14:23
    (Risos)
  • 14:23 - 14:27
    CS: Sim, você consegue pensar
    numa forma de corrigir isso
  • 14:27 - 14:30
    com trabalho ficcional, roteiros?
  • 14:30 - 14:33
    SR: Penso muito no fato
    de que a televisão tem o poder
  • 14:33 - 14:36
    de educar as pessoas
    de uma forma poderosa.
  • 14:36 - 14:39
    E, em estudos feitos
    sobre programas médicos na TV,
  • 14:39 - 14:46
    87% das pessoas obtêm a maioria de seu
    conhecimento sobre medicina e saúde
  • 14:46 - 14:47
    nos programas de televisão.
  • 14:47 - 14:51
    Muito mais do que de seus
    próprios médicos ou de artigos.
  • 14:51 - 14:54
    Assim tentamos ser bastante precisos.
  • 14:54 - 14:57
    Toda vez que erramos, me sinto culpada,
    como se tivesse feito algo ruim.
  • 14:57 - 15:00
    Mas também damos muitas informações boas.
  • 15:00 - 15:03
    Existem tantas maneiras
    de dar informação nesses programas.
  • 15:03 - 15:06
    As pessoas estão sendo entretidas
    e talvez não queiram ler as notícias,
  • 15:06 - 15:10
    mas há muitas maneiras
    de dar boa informação nessas séries.
  • 15:10 - 15:14
    Não de uma forma bizarra,
    tipo vamos controlar a mente das pessoas,
  • 15:15 - 15:17
    mas de uma maneira
    muito interessante e inteligente,
  • 15:17 - 15:21
    sem forçar uma versão ou outra,
  • 15:21 - 15:22
    mas transmitindo a verdade.
  • 15:22 - 15:24
    Seria estranho, no entanto,
  • 15:24 - 15:28
    se o drama televisivo
    virasse um telejornal.
  • 15:28 - 15:33
    CS: E Isso seria estranho, mas li
    que muito do que você escreveu como ficção
  • 15:33 - 15:35
    se tornou realidade nesta temporada.
  • 15:36 - 15:39
    SR: Sabe,"Scandal" ficou
    bem perturbador por causa disso.
  • 15:39 - 15:42
    Temos essa série mostrando
    como a política enlouqueceu,
  • 15:42 - 15:45
    e basicamente a forma
    que sempre fizemos a série...
  • 15:45 - 15:49
    todo mundo fica atento às notícias,
    lemos e falamos sobre tudo,
  • 15:49 - 15:54
    temos muitos amigos em Washington,
    e sempre fizemos a série como especulação.
  • 15:54 - 15:56
    Sentamos na nossa sala e pensamos:
  • 15:56 - 15:59
    "O que aconteceria se algo
    desse errado e tudo ficasse louco?
  • 15:59 - 16:01
    E isso sempre foi funcionou,
  • 16:01 - 16:06
    exceto agora, quando parece que as coisas
    estão dando errado, uma loucura.
  • 16:06 - 16:09
    Assim, nossas especulações
    estão se tornando realidade.
  • 16:09 - 16:14
    A temporada este ano ia terminar com
    os russos controlando as eleições nos EUA.
  • 16:14 - 16:18
    Tínhamos escrito, estava
    tudo planejado, estava tudo lá.
  • 16:18 - 16:22
    E aí os russos são suspeitos de estar
    envolvidos na eleição norte-americana,
  • 16:22 - 16:25
    e de repente tivemos de mudar
    nossa temporada.
  • 16:25 - 16:29
    Eu falei: "Aquela cena em que
    nossa mulher misteriosa fala russo?
  • 16:29 - 16:32
    Temos de mudar aquilo
    e pensar no que vamos fazer".
  • 16:32 - 16:36
    Isso veio de extrapolar o que tínhamos
    pensado que iria acontecer,
  • 16:36 - 16:38
    ou o que achamos que ia ser louco.
  • 16:39 - 16:40
    CS: Que ótimo.
  • 16:40 - 16:45
    Que outro lugar no mundo
    ou nos EUA você acha
  • 16:45 - 16:47
    que se criam histórias
    interessantes hoje em dia?
  • 16:47 - 16:50
    SR: Não sei bem, há muita coisa
    interessante por aí.
  • 16:50 - 16:56
    Obviamente a televisão britânica sempre
    é incrível e faz coisas interessantes.
  • 16:56 - 17:01
    Eu não assisto muito à TV,
    principalmente por estar trabalhando.
  • 17:01 - 17:05
    E tento não assistir muita TV em geral,
    mesmo a norte-americana,
  • 17:05 - 17:07
    até terminar uma temporada,
  • 17:07 - 17:10
    porque senão as coisas tomam
    conta da minha cabeça
  • 17:10 - 17:12
    e começo a pensar
  • 17:12 - 17:15
    por que nossos personagens não usam
    coroas e e tentam tomar o trono.
  • 17:15 - 17:17
    Vira uma loucura.
  • 17:17 - 17:21
    Assim, tento não assistir muito
    até que as temporadas terminem.
  • 17:21 - 17:24
    Mas penso que há muita TV
    europeia interessante por aí.
  • 17:24 - 17:27
    Eu estava nos Emmy internacionais
    e dei uma olhada,
  • 17:27 - 17:30
    vi alguns trabalhos europeus
    e fiquei fascinada.
  • 17:30 - 17:33
    Há algumas coisas que quero assistir.
  • 17:34 - 17:38
    CS: Sei que você não passa muito tempo
    pensando em coisas técnicas,
  • 17:38 - 17:41
    mas há alguns anos
    tivemos uma palestra TED
  • 17:41 - 17:49
    com alguém falando sobre usar Google Glass
    e assistir a programas de TV nos olhos?
  • 17:49 - 17:52
    Você alguma vez fantasiou,
  • 17:52 - 17:56
    quando menina, sentada no chão
    da casa dos seus pais,
  • 17:56 - 17:59
    alguma vez você imaginou
    algum outro meio?
  • 18:00 - 18:02
    Ou imaginaria agora?
  • 18:02 - 18:05
    SR: Outro meio... pra contar
    histórias, além dos livros?
  • 18:05 - 18:08
    Quer dizer, cresci querendo ser
    Toni Morrison, então, não.
  • 18:08 - 18:10
    Nem imaginava escrever para TV.
  • 18:10 - 18:13
    A ideia de poder haver um mundo maior,
  • 18:13 - 18:16
    alguma forma mais mágica
    de fazer as coisas,
  • 18:16 - 18:18
    sempre fico empolgada
    com novas tecnologias
  • 18:18 - 18:20
    e sou sempre a primeira
    a querer experimentá-las.
  • 18:21 - 18:25
    As possibilidades parecem
    infinitas e animadoras agora,
  • 18:25 - 18:27
    que é o que me deixa animada.
  • 18:27 - 18:32
    Parece que estamos no tempo do faroeste,
    porque ninguém sabe onde vamos parar.
  • 18:32 - 18:36
    Podemos colocar histórias em qualquer
    lugar agora, e tudo bem pra mim.
  • 18:36 - 18:40
    E acho que, quando descobrirmos
    como juntar a tecnologia
  • 18:40 - 18:46
    e a criatividade de criar histórias,
    as possibilidades são infinitas.
  • 18:46 - 18:51
    CS: A tecnologia também permitiu
    algo que mencionei antes:
  • 18:51 - 18:54
    assistir aos episódios em maratonas,
    que é um fenômeno recente,
  • 18:54 - 18:56
    desde que você faz séries, certo?
  • 18:56 - 19:01
    Como você acha que isso muda
    o processo de criação de histórias?
  • 19:01 - 19:05
    Sempre havia um planejamento
    para temporada inteira, certo?
  • 19:05 - 19:08
    SR: Não, eu só sabia como íamos terminar.
  • 19:08 - 19:12
    Para mim, a única forma de comentar isso
  • 19:13 - 19:17
    é que eu tenho uma série
    que já tem 14 temporadas,
  • 19:17 - 19:21
    então há pessoas que
    acompanharam as 14 temporadas,
  • 19:21 - 19:24
    e há meninas de 12 anos de idade
    que encontro no supermercado
  • 19:24 - 19:27
    que tinham assistido
    a 297 episódios em 3 semanas.
  • 19:27 - 19:28
    (Risos)
  • 19:28 - 19:31
    Sério, e essa é uma experiência
    bem diferente para elas,
  • 19:31 - 19:33
    porque elas imergiram em algo
  • 19:33 - 19:38
    bastante intenso por um período
    muito curto de tempo.
  • 19:38 - 19:41
    E para elas a história tem um arco
    completamente diferente,
  • 19:41 - 19:44
    um significado completamente diferente,
    porque não teve pausas.
  • 19:44 - 19:47
    CS: É como visitar um país
    e depois partir. É estranho…
  • 19:47 - 19:51
    SR: É como ler um romance
    incrível e depois largá-lo.
  • 19:51 - 19:54
    Acho que aí está a beleza da experiência.
  • 19:54 - 19:57
    Você não precisa assistir algo
    durante as 14 temporadas.
  • 19:57 - 20:00
    Não é assim necessariamente
    a forma como tudo tem de ser.
  • 20:00 - 20:04
    CS: Você acha que existe algum tópico
    que não deveria ser abordado nas séries?
  • 20:05 - 20:07
    SR: Não penso na história desse jeito.
  • 20:07 - 20:11
    Penso em termos do que os personagens
    fariam ou precisam fazer
  • 20:11 - 20:13
    para avançarem.
  • 20:13 - 20:16
    Assim nunca penso na história
    apenas em termos do enredo.
  • 20:16 - 20:19
    E quando roteiristas vêm
    a minha sala apresentar um roteiro,
  • 20:19 - 20:21
    eu falo: "Você não está falando inglês".
  • 20:22 - 20:26
    É isto o que digo: "Não estamos falando
    inglês. Preciso de algo que real".
  • 20:26 - 20:30
    Como não penso nisso dessa forma,
    não sei pensar em termos do que não faria,
  • 20:30 - 20:34
    porque isso parece que estou tirando
    peças do enredo de uma parede.
  • 20:34 - 20:37
    CS: Ótimo. Até que ponto
    você acha que vai usar…
  • 20:38 - 20:41
    recentemente você fez parte
    do conselho de paternidade planejada
  • 20:41 - 20:43
    e se envolveu na campanha
    da Hillary Clinton...
  • 20:43 - 20:47
    Em que medida você acha
    que vai usar sua criação de histórias
  • 20:47 - 20:49
    no mundo real
  • 20:49 - 20:50
    para efetuar mudanças?
  • 20:52 - 20:54
    SR: Bem, existe...
  • 20:55 - 21:00
    Esse é um assunto intenso pra mim,
    pois acho que essa falta de narrativa
  • 21:00 - 21:06
    que muitas pessoas têm é difícil.
  • 21:06 - 21:08
    Existem muitas organizações
  • 21:08 - 21:12
    que não têm uma narrativa positiva
    criadas por elas mesmas
  • 21:12 - 21:14
    que poderia ajudá-las.
  • 21:14 - 21:17
    Existem muitas campanhas
    que poderiam ser ajudadas
  • 21:17 - 21:19
    por uma narrativa melhor.
  • 21:19 - 21:24
    Os democratas poderiam fazer muito
    com uma narrativa forte para si mesmos.
  • 21:24 - 21:28
    Há várias coisas possíveis em termos
    de usar a voz da criação de histórias.
  • 21:28 - 21:34
    E não digo no sentido fictício,
    mas no sentido de um redator de discursos.
  • 21:34 - 21:40
    Enxergo isso, mas não sei
    se caberia a mim fazê-lo.
  • 21:40 - 21:41
    CS: Tudo bem.
  • 21:41 - 21:43
    Por favor, me ajudem a agradecer Shonda.
  • 21:43 - 21:44
    (Aplausos)
  • 21:44 - 21:45
    SR: Obrigada.
Title:
O futuro da criação de histórias
Speaker:
Shonda Rhimes e Cyndi Stivers
Description:

"Todos sentimos uma necessidade irresistível de assistir a histórias, de contar histórias… de discutir as coisas que dizem a cada um de nós que não estamos sozinhos no mundo", diz a titânide da TV Shonda Rhimes. Uma força dominante na TV desde que "Grey's Anatomy" entrou no ar, Rhimes discute o futuro das redes de mídia, como ela está usando suas habilidades de construir narrativas como uma força para o bem, assim como um conceito intrigante conhecido como "férias amish" e muito mais, numa conversa com Cyndi Stivers, diretora da Residência TED.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
21:58

Portuguese, Brazilian subtitles

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