A inteligência artificial ao alcance de todos | Jeni Shih | TEDxLaçador

Jeni acredita que a tecnologia é uma das principais alternativas do nosso planeta em direção a um melhor equilíbrio na vida de todos diante de tantas turbulências, e que a inteligência artificial será protagonista nessa transformação. Numa linguagem clara e acessível, ela explica o que é a Inteligência Artificial, como ela funciona, e como já está sendo usada hoje em benefício de todos.

Executiva de Soluções Cognitivas na IBM para a América Latina, graduada em Ciências da Computação pela PUC-SP, Jeni Shih é geek assumida e superfã de "Star Wars". Jeni adora tudo associado à tecnologia e à inovação, principalmente quando aplicado à evolução do ser humano e de comunidades sociais. Engajada em iniciativas sociais focadas em desenvolvimento humano através da tecnologia, participa de projetos voltados para a educação infantil e de idosos assim como de iniciativas e discussões sobre diversidade e inclusão. Trabalhando na IBM desde 1998, liderou durante seis anos a comunidade LGBT, e mais recentemente está liderando a evolução da Inteligência Artificial com o IBM Watson. Além de executiva da IBM, também é mãe da Aurora, uma shih tzu, e de seus irmãos, os peixes kinguios, um casal de calopsitas e outro de canários.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx.

Toda vez que eu falo
sobre inteligência artificial,

a pergunta que sempre surge é esta:

"Será que as máquinas
vão acabar com os homens?"

E eu fico pensando: "Por que isso
fica na cabeça de todos nós?"

Imagino assim: de repente,
é por causa de tantos filmes

que a gente assiste de batalhas,
as máquinas matando os homens,

filmes intergaláticos em que um robô acaba
com um exército inteiro de seres humanos.

Será que é por isso?

Na verdade eu também
tenho uma outra reflexão

e uma provocação para todos vocês.

Quando a gente ouve tantas notícias
mundo afora do que está acontecendo

na nossa realidade de hoje,

quando a gente ouve
essas experiências incríveis

que a gente ouviu hoje, a pergunta é:
"Quem é o nosso verdadeiro inimigo?

Quem está, hoje, colocando tudo em risco?

Quem está ameaçando a natureza?

Quem está ameaçando o nosso planeta?

Será que realmente são as máquinas?

Ou será que são os próprios humanos?

A nossa raça humana?"

Então, quando eu faço essa reflexão,
e devolvo essa pergunta,

aí vem um pouco de "aterrissagem".

Quando a gente olha tantas notícias,

de fato a gente tem um momento muito único

na história da evolução do ser humano.

Primeiro, a gente tem uma superpopulação,
que nunca existiu [antes].

A gente vê notícias, absurdos
sobre éticas que são violadas.

Quantas histórias a gente ouviu aqui hoje

que a gente não pode acreditar
que, em 2019, acontecem, não é mesmo?

E no mundo da economia?

Quando a gente olha a concentração
das riquezas deste planeta

que a gente tem na mão de tão poucos
e cada vez mais de tão poucos,

sendo que, do outro lado da balança,
a gente vê a pobreza

se espalhando em todos os lugares.

Por isso que eu digo:

"Gente, será que realmente
a grande ameaça é a máquina?"

Bom, eu digo pra vocês,
eu acredito que não.

Eu não acredito, não,

e acho que neste momento é quando
a tecnologia tem um papel fundamental.

Eu digo pra vocês que as pessoas todas
que passaram já neste palco hoje

e que vão passar ainda,

elas estão falando pra todos
que estão aqui nesta sala,

mas é graças à tecnologia que centenas
e até milhares vão ouvir essas histórias,

seja hoje, ou seja depois, [nos vídeos],

e vão ouvir essas histórias

que vão tocar no coração
de tantas outras pessoas,

que vão se identificar e vão chorar,
como muitos de nós choramos hoje.

Então, a tecnologia
faz parte dessa evolução

e vai ter, realmente,
um papel fundamental,

sendo que, no meio
de tantas opções de tecnologia,

a inteligência artificial, pra mim,

eu acredito que ela realmente
vá ser a grande protagonista.

E por que ela vai ser
a grande protagonista?

Eu preciso explicar um pouco pra vocês
o que é inteligência artificial.

E eu realmente só vou dar
uma pincelada pra vocês

e dizer que inteligência artificial,
primeiro, gente, não é uma mágica,

não é um produto que vocês vão chegar
a uma loja e comprar na prateleira,

nem mesmo em loja virtual, tá?

Não vai estar lá.

O que acontece é que a inteligência
artificial é um sistema.

E, como um sistema, ela é,
pra mim, como se fosse um bebê.

E um bebê que precisa ser ensinado.

Dependendo do que a gente
ensina pra um bebê,

isso vai fazer com que esse bebê
cresça e se torne um ser humano

com diversos valores,
com base nas experiências desse bebê.

Não é assim?

A inteligência artificial não é diferente.

O que acontece é que a gente tem
que ensinar à inteligência artificial.

E ela, hoje, ainda é um bebê.

Ela está começando a engatinhar.

Ela não está nem andando ainda.

E o que acontece é que a gente
tem que ensinar essa inteligência

pra que ela tenha,

dentro de tudo o que eu acredito,

os valores que a gente
acredita que ela tem de ter.

Eu tenho que passar as informações

e ensiná-la a respeitar, a ter ética.

E isso é um desafio.

Bom, e aí eu vou fazer
uma provocação aqui...

outra provocação pra vocês.

Quantos de vocês tiraram foto hoje?

Todo mundo. Alguém não tirou?

Alguém gravou vídeo por aqui?

Todo mundo.

Postaram nas redes sociais?

Sim!

Jogaram nas suas redes, nos grupos, certo?

Bom, vocês têm ideia
de quanto vocês geraram de informação

só nesta manhã?

Têm noção?

Não? Pois é...

Quando eu falei que tenho
de ensinar à inteligência artificial,

como é que eu ensino?

Através de dados.

E eu posso falar dados, o que, dentro
do mundo tecnológico [são] zeros e uns.

Ou eu posso ensinar da forma
como nós, humanos, a gente interage.

Com voz, com imagens, com vídeos...

E é isso que faz com que a gente
tenha um volume tão grande de dados

no mundo inteiro.

Hoje os estudos mostram
que a gente está gerando, por dia,

2,5 quintilhões de bytes, por dia.

Aí vocês vão falar: "Ih! Ela está falando
um monte de 'tecniquês'".

Deixa eu dar uma ideia pra vocês
de quanto isso significa.

A gente está falando de 550 bilhões
de músicas, por dia, gente!

Por dia.

Ou, então, pra quem gosta de filmes...

a gente está falando
de 383 milhões de filmes por dia.

E se a gente for pro mundo das estrelas,

quando a gente olha pro céu,
a gente está falando

de 8 milhões de vezes [o número]
de estrelas gerado por dia [em bytes]

no nosso dia a dia, por cada um de nós.

Gente, até eu, que sou
megafã de "Star Wars",

não consigo imaginar
uma viagem interespacial

conhecendo 8 milhões de vezes
[o número] de estrelas que existem hoje.

É muita coisa.

Esse é o volume de informação
que está disponível hoje nas nossas redes,

nos celulares de vocês.

E o grande desafio é:

quanto disso é verdade?

Quanto disso é "fake news"?

Como é que eu consigo diferenciar
o que é verdade do que não é?

Como é que eu faço pra digerir isso?

Porque tem um monte de lixo
lá dentro, não tem?

E aí, não é?

Então, vou fazer mais
uma brincadeira com vocês.

Quem sabe, aqui, me dar exemplos
de animais artiodácilos,

que sejam diferentes de girafa?

Alguém?

Não?

Poxa vida, gente!

Bom, vamos lá!

Não façam isso agora,
mas, se vocês forem na internet agora

e forem buscar e colocar lá
"artiodácilos, não girafas",

qual é o animal que vocês
acham que vai aparecer mais vezes

na sua tela?

Girafas.

Mas, espera aí, eu não falei que eu quero
qualquer exemplo diferente de girafas?

E por que isso?

Porque hoje os sistemas tradicionais
vão buscar e, olha que interessante,

primeira coisa: "A Jeni errou
o slide aqui, porque não é artiodácilos,

é artiodáctilos", não é?

E ele vai dizer isso pra mim, certo?

Quando eu faço a busca, vai dizer:
"Você não buscou a palavra certa, não.

A palavra está errada,
está errado o que você digitou".

Mas vai me trazer girafa.

Por quê? Porque é a palavra-chave.

Num sistema de inteligência artificial,

no momento em que eu ensino
o que é um animal artiodáctilo,

ele vai trazer uma lista, por exemplo,

que vai conter bois, porcos, lhamas...

E aí vocês vão me perguntar: "E o que é?"

Vocês procurem depois, tá?

Não agora.

Então, esse é um exemplo
de como o sistema funciona.

Nesse exemplo simples,
a inteligência artificial pensa,

ela raciocina.

Assim como um bebê.

Eu ensino pra ela, ela fala.

Ela tem uma capacidade
enorme de aprender.

Ela ouve e ela pensa.

Então, essa é a diferença.

Nesse exemplo bobinho da girafa,
ela entende o contexto

e entende que eu estou buscando
qualquer outro exemplo

diferente de girafa.

Então, o resultado é diferente.

Ficou um pouco claro?

Bom, vou falar de alguns exemplos também,

outros exemplos de projetos
com que eu trabalhei pessoalmente,

que foram muito interessantes.

Dentro desses sistemas
de inteligência artificial,

o reconhecimento de imagem
é uma dessas funções.

Tem uma caixinha de ferramentas
que a gente utiliza

nesses sistemas de inteligência artificial
e, reconhecimento de imagem é uma delas.

Há três anos, eu participei de um projeto,

o maior evento de cultura pop
que a gente tem aqui no Brasil,

e a gente fez o sistema
ajudar os jurados a validar,

num concurso de "cosplay",

quem era o grande vencedor,
quem estava pontuando mais.

E a gente fez isso como?

A gente alimentou, ensinou
o sistema de inteligência artificial

a entender os personagens.

A gente carregou [o sistema]
com aproximadamente

500 imagens de todos os participantes,

e a gente foi lá e carregou a foto,

foi tirando foto dos participantes,

e foi ensinando a fazer essa comparação
e ter ali uma pontuação.

Porque aí eu tenho uma base
de conhecimento, que eu ensinei,

pega uma informação e compara.

Esse é um exemplo.

Agora, o mais legal mesmo, gente,

é que pegamos isso, essa mesma tecnologia,

e utilizamos em projetos
de tratamento de câncer.

É exatamente a mesma tecnologia.

Só que, agora, a gente está falando
de profissionais de saúde,

e que essa tecnologia
ajuda os médicos, oncologistas,

a fazer análises de imagens
e radiografias pra identificar

possíveis células malignas

dentro dos resultados
de um exame de um paciente.

Agora, além disso, o que acontece também?

Vocês sabiam que, se a gente pegar
toda a literatura médica que existe,

ela dobra a cada 73 dias?

É muita informação.

É muita pesquisa que existe
hoje no mundo todo.

É muito medicamento
e tratamento que existe.

E é praticamente impossível pra um médico

saber tudo o que existe o tempo todo.

Então, esse é um dos projetos
em que a gente coloca

na mão do profissional uma ferramenta
que vai ajudar a identificar

qual é o melhor tratamento
para aquele paciente,

com base naqueles resultados de exame.

Agora, ajuda a dar informação,

porque a decisão final
é a decisão do próprio médico.

É ele que vai decidir
qual é o melhor tratamento.

Outro exemplo de tecnologias
que estão dentro do guarda-chuva

de sistema de inteligência artificial
tem um nome diferente,

chama Internet das Coisas,
ou a IoT, pro mundo "geek" que fala

e também o mundo de tecnologia.

IoT é Internet of Things.

E esse projeto foi na área
de seguradoras de carros.

Então, a gente colocou
um pequeno dispositivo ali no carro,

onde a gente pluga o acendedor de cigarro.

Então, a gente colocou um pequeno
dispositivo que tem um sensor

que mede a velocidade do carro.

Aí, na central dessa seguradora
tem um grande painel de controle.

No momento em que um carro
assegurado está em uma velocidade,

por exemplo, de 60 km/h
e em 2 segundos vira 0,

é porque teve uma batida.

Em dois segundos, teve uma batida.

E, aí, a central recebe um alerta

e manda um guincho, alguma coisa
pra localidade da pessoa,

antes mesmo de a pessoa
acionar a seguradora.

Agora, esse mesmo sensor
também tem um dispositivo

que controla o eixo do carro
e, se eventualmente descobre que tem

uma movimentação nesse eixo,
e que pode ter sido um capotamento,

aciona uma ambulância também,

porque eventualmente o motorista
pode estar inconsciente.

Então, são sistemas e exemplos
que existem já, hoje.

Não é amanhã, e não é
futurismo isso, gente.

Isso é hoje.

E a inteligência artificial,
de fato, está aqui pra ajudar a gente.

E é o que eu acredito.

Com tantos desafios que a gente tem,
ela está aí pra ajudar a gente,

só que vai depender de cada um de nós.

O que nós estamos ensinando
para os nossos filhos?

O que nós estamos ensinando
pros sistemas de inteligência artificial?

O que eu acredito é que ela
está aí pra ajudar a gente,

nesses exemplos que eu dei pra vocês,

como modelos e exemplos reais
de integração e ajuda um do outro.

Agora, pra finalizar, alguém já conheceu
um sistema de inteligência artificial?

Não?

Ah, tem uma mãozinha...
duas mãozinhas!

Que bom! Vocês querem ver?

Plateia: Sim! Yes!

Jeni Shih: Então, vamos lá.

E vamos ver se a internet ajuda,
porque a gente já viu aqui

que toda tecnologia carrega junto
algo chamado Murphy

e, se a rede também ajudar...

Aqui, neste meu celular -

e o objetivo é que esteja realmente
na mão de vocês tudo isso -

eu tenho...

Aliás, eu não vou falar...
deixa ela falar.

Primeiro, eu vou testar
o som pra ver se está o.k.

Teste de som.

IA: Acho que está muito barulho.

Poderia repetir, por favor?

JS: Olha, ela está ouvindo,
e está saindo lá.

Quem é você?

IA: Olá, eu sou Watson,
uma plataforma de inteligência artificial.

É um grande prazer estar
aqui no TEDx em Porto Alegre.

JS: Olha, ela sabe que a gente
está em Porto Alegre, gente.

Gente, eu fiz o check-in lá no Facebook.

[A IA] sabe que eu estou aqui.

E o que você sabe fazer?

IA: Eu consigo entender
diversos formatos de dados,

por exemplo, textos, imagens e voz.

Posso aprender, raciocinar e interagir
em linguagem natural com todos vocês.

JS: Olha só!

E, olha só, eu não falei dos carros?

Vamos ver.

Você sabe fazer reconhecimento
de imagem, é isso?

IA: É isso mesmo.

Se uma luz de alerta
acender no painel do carro,

o motorista pode tirar
uma foto com o celular

e eu vou explicar o que ela significa,

pesquisando na minha base
de conhecimento do manual cognitivo.

Fica muito mais fácil, "né"?

JS: Olha, eu não sei vocês,

eu sei que a hora que acende uma luzinha
no painel do carro e eu não sei o que é,

me dá um trabalho primeiro
de achar os óculos dentro da bolsa,

porque eu não enxergo já.

Aí, eu vou lá, pego o livrinho,

procura qual é a página,
procura aquele sinal,

até descobrir o que é que aquela luzinha
está querendo me dizer.

Gente, eu acredito que, de fato,
a tecnologia está aqui pra ajudar a gente.

Porque a gente tem muitos desafios,

a gente tem desafios gigantes,

e a gente está ouvindo
histórias maravilhosas hoje,

e a gente precisa de ajuda.

A tecnologia vai ajudar a levar
isso pra muitos lugares

onde a gente não imaginaria
que poderia estar chegando.

Obrigada!

(Aplausos) (Vivas)