O condor-da-califórnia
foi levado à beira da extinção
quando só existiam
22 condores restantes no mundo.
Imaginem só!
Vinte e dois!
Isso foi devido a pressões
resultantes de atividades humanas.
O condor remonta ao Pleistoceno.
Alguns dos animais hoje mencionados
viveram nessa época:
a preguiça-gigante,
o mastodonte americano,
o gato dentes-de-sabre.
O condor vivia entre esse animais.
Conseguem imaginar?
Mas ele foi o único, dentre eles,
a sobreviver até nossos dias.
Após 10 mil anos,
os registros fósseis mostram
que foi no estado de Nova York
e no norte da Flórida.
E à medida que os colonizadores
europeus avançaram pelo país,
seu último refúgio foi a região
de Vancouver ao noroeste do México.
O condor é único.
É a maior ave voadora da América do Norte
com uma envergadura de quase 3 metros,
60 centímetros a mais que isto.
Ele vive mais que 60 anos.
Por ser uma espécie estrategista K,
ele tem uma taxa de reprodução baixa.
E amadurece sexualmente
quando tem em torno de cinco a seis anos.
Após esses 10 mil anos,
em 1987, houve uma grande discussão.
O número de condores
estava decaindo tão rapidamente
que se temia que chegassem a ser extintos.
A causa eram os poluentes na natureza,
como chumbo e DDT,
e eletrocussões e colisões
com fios elétricos e postes de energia.
Por um lado, um grupo de pessoas dizia:
"Vamos deixar a espécie
morrer com dignidade".
Por outro lado,
outro grupo dizia que esta não era
uma extinção natural,
e tínhamos a responsabilidade de intervir.
Então após ações judiciais e debates,
o órgão federal de conservação ambiental
tomou a medida corajosa
de proteger o condor
enquanto alguns desses
problemas se resolviam,
abrigando as aves remanescentes
nos zoológicos de San Diego e Los Angeles.
Após 10 mil anos,
o condor estava extinto na natureza.
Imaginem então a responsabilidade
que esses dois zoológicos tiveram
em cuidar dessas aves
e garantir que não entrassem em extinção.
Nós tivemos que recorrer
a uma variedade de recursos.
Tivemos que usar aquilo que chamo
de "Inovação em Conservação",
literalmente escrevendo o livro
enquanto tentávamos salvar a espécie.
Tivemos que recorrer à nossa experiência
de trabalho com espécies relacionadas
como o condor-dos-andes
e outras espécies de aves.
Mas tivemos que rapidamente reunir
uma variedade de recursos e conhecimentos.
Tivemos que projetar e construir
centros de criação como este do zoológico.
É uma série de viveiros de aves
ligados com ninhos.
Alguns disseram que não conseguiríamos
criar essa espécie num zoológico.
Nosso único objetivo sempre foi
soltar essa ave de volta à natureza.
Então tivemos que tomar algumas medidas
enquanto avançávamos nessa direção.
Tivemos até que colocar nas instalações,
como podem ver no slide,
arame de concertina
em cima da cerca de perímetro.
Isso porque a discussão a respeito
dos condores chegou a tal ponto
que algumas pessoas
ameaçavam invadir o espaço
e soltar os condores de volta ao perigo.
Lembro que eu mesmo
passei algumas noites no zoológico,
para garantir que isso não acontecesse.
Nós tivemos que empregar técnicas
como a ninhada dupla.
Na natureza, o condor
cria um filhote a cada dois anos.
Mas usando essa técnica da ninhada dupla,
nós removemos o primeiro ovo
e o colocamos em segurança
numa incubadeira
e então ele foi chocado.
Isso permitiu aos pais criarem
o que chamamos de ovo substituto.
Nesse mesmo período de dois anos,
conseguimos produzir quatro filhotes
em vez de um só.
E estávamos interessados no processo
de reconhecimento deles.
Como eu disse, o objetivo
era devolvê-los à natureza.
E por isso desenvolvemos fantoches.
E bem ao lado desse fantoche
está um dos nossos funcionários,
fazendo o impossível
para alimentar e cuidar desse filhote.
Esse fantoche se tornou a sua salvação:
ele alimentou o filhote,
socializou e brincou com ele.
Em dado momento da vida desse filhote,
ele é colocado numa área
onde ele pode olhar por um portal
e ver outros condores,
e assim começar a entender como vai ser.
Esse processo leva seis meses
a partir do momento em que o ovo é chocado
até o filhote emplumar.
E às vezes quando não estão
emplumando com os pais,
eles emplumam com mentores.
O objetivo é restabelecer
a espécie na natureza.
Nos laboratórios do Centro de Pesquisa
de Conservação no zoológico de San Diego
não podíamos deixar de abordar
as questões genéticas.
Quando a população era de apenas 22 aves,
cada uma foi mapeada geneticamente,
para que soubéssemos
o parentesco entre elas.
Isso é primordial quando se lida
com uma população tão pequena
devido aos efeitos do cruzamento
endogâmico com outras espécies.
Assim que conseguimos os identificadores,
inserimos os dados
nos modelos informatizados.
A partir daí, os pais foram estabelecidos.
Felizmente, condores são fáceis
de lidar em relação a isso.
Quando colocamos só dois condores juntos,
considerando dados e não comportamento,
na maioria das vezes eles reproduziam.
Isso era crucial.
E nesses mesmos laboratórios,
pela primeira vez,
foi desenvolvida uma técnica
para saber o sexo das aves
por meio do DNA,
a partir de membranas
deixadas nos ovos chocados.
Foi muito importante para nós também,
à medida que começávamos a estabelecer
novos casais reprodutores.
Conseguimos classificá-los
na idade adequada,
do contrário teríamos
que esperar cinco ou seis anos
até a maturidade sexual deles
para sabermos o sexo de cada um.
Ao administrar a população geneticamente,
nós tivemos que garantir
que, ao estabelecer
novos centros de criação,
e começarmos a liberar aves
em vários locais de soltura
na Califórnia, Arizona
e noroeste do México,
queríamos replicar os genes,
caso houvesse qualquer catástrofe
como um incêndio ou surto de doença,
protegendo as linhas genéticas.
Alguns dos fatores conhecidos que causam
a morte e diminuição de condores,
são a colisão com fios de alta tensão
e o pouso em estruturas elétricas.
Talvez perguntem: "Muitas aves
pousam em estruturas elétricas?"
Com uma envergadura de quase três metros,
eles encostariam em fios e transformadores
e seriam eletrocutados.
Trabalhamos com uma empresa local
para instalar postes elétricos falsos,
nos quais os fios liberariam
uma baixa carga elétrica.
O condor é uma espécie
muito inteligente e curiosa.
Inteligente o bastante para saber
que, após terem pousado num poste
e levado choque uma ou duas vezes,
eles não vão querer mais fazer isso.
Essa mudança de comportamento correspondeu
exatamente ao que aconteceu no campo.
Quando soltamos condores
de volta à natureza,
eles pararam de pousar
em áreas perigosas para eles.
Contudo, eles ainda se chocavam
em alguns fios elétricos.
Quando um condor evolui
e o meio de vida dele é voar em térmicas,
ele não precisa olhar pra frente
estando a 300 metros do chão.
E quando ele sobe ao topo
de uma montanha voando numa térmica
e se depara com fios de alta tensão,
isso provoca essas colisões.
Quando as empresas de energia
se deram conta disso,
começaram a enterrar os fios
dessas regiões chave.
Em um projeto como este,
que está ativo há 30 anos,
alguns desses fatores
podem ser previstos, outros não.
Ninguém poderia ter previsto
que o vírus do Nilo Ocidental chegaria
nos Estados Unidos em 1999,
e rapidamente varreria o país,
levando consigo vidas humanas,
bem como muitas espécies de aves.
E os condores não ficaram imunes a isso.
Perdemos condores para esse vírus.
Mas o Centro de Controle de Doenças
desenvolveu uma vacina usada por nós
que nos obrigou a vacinar
todos os condores da população.
Fácil de falar, porém mais difícil fazer
quando se tem aves tanto na natureza
quanto nos centros de criação.
E após serem vacinados, devem receber
uma dose de reforço ao ano.
Uma estratégia monumental de se fazer
apenas para proteger a população.
Nós também descobrimos
que o ambiente em que soltávamos
os condores estava bastante sujo.
E nós tínhamos subestimado isso.
Isto é o que chamamos de microlixo,
itens que as pessoas deixam para trás
quando estão curtindo a natureza.
São tampas de garrafa, cacos de vidro,
objetos plásticos e aparelhos elétricos.
E vocês podem ver nessa radiografia
esse microlixo no corpo de um condor.
Para removê-lo é necessário cirurgia.
Condores adultos ingerem esse microlixo.
Não temos certeza do porquê,
mas teoriza-se que condores,
durante certas épocas,
ingerem fragmentos de osso, pelo cálcio,
em especial quando as fêmeas
se preparam para botar um ovo.
Esse comportamento deu lugar
à ingestão desses fragmentos,
que eles acham que são de ossos,
mas que na verdade é microlixo.
O condor ocupa
um importante nicho ecológico.
Trata-se de uma espécie necrófaga.
Isso é importante porque
eles limpam o ambiente
quando um animal morre.
Eles se alimentam das carcaças.
Essas carcaças apresentam toxinas
tais como botulismo e antraz,
que são prejudiciais ao humanos
e certamente a outras espécies selvagens.
O condor é imune a esses tipos de toxina,
portanto, acabam fazendo uma limpeza.
Mas com relação a esse comportamento,
eles não fazem distinções
quando se alimentam de uma carcaça.
Ingerem tecidos, órgãos,
e fragmentos de osso.
E às vezes ingerem
o chumbo da caça esportiva.
Sabemos que caçadores existem
desde o início da humanidade.
E essa comunidade gera US$ 8 bilhões
ao ano para conservação.
E é importante que programas
como esse sejam sustentáveis.
Mas o chumbo que os condores
ingerem é tóxico para eles,
assim como para outras formas de vida.
Esta é uma radiografia de um fragmento
de chumbo retirado de dentro de um condor.
Devo dizer que alguns
dos nossos maiores conservacionistas,
como John Audubon e Theodore Roosevelt,
eram ávidos caçadores, mas também
eram conservacionistas dedicados.
Então não é uma questão de caça esportiva,
mas sim de toxinas num ambiente.
E uma delas é o chumbo.
Já tivemos chumbo
em outros produtos, como tintas.
E descobrimos que crianças
colocando seus brinquedos na boca,
ou mordendo o berço
estavam ingerindo chumbo da pintura.
Ele foi removido da tinta e da gasolina.
O chumbo foi removido até de cartuchos
de espingarda e substituído por aço
por causar problemas a aves aquáticas.
Podemos fazer ajustes
em projetos como este
na medida em que isso afeta
a vida selvagem e seres humanos.
Nós também temos que prever
qual poderá ser o próximo desafio.
E a vinda de turbinas eólicas
aos Estados Unidos
é uma boa iniciativa ecológica pra reduzir
nosso consumo de combustíveis fósseis.
E a energia eólica é uma das alternativas.
E até agora, nenhum condor jamais
se chocou com uma turbina,
mas elas já afetaram outras aves
de rapina, como águias e gaviões.
E por isso estamos trabalhando
com empresas de energia eólica,
para desenvolver técnicas
que reduzam o perigo.
Podemos fazer isso observando condores
e como eles utilizam seu habitat
por meio da ecologia espacial,
não apenas observando como voam
para norte, sul, leste e oeste,
mas também como voam
na terceira dimensão, em altitude.
Então trabalhamos com empresas para ver
se estão dispostas a ajustar o campo
com base na atividade de um condor,
e entender a preferência de habitat deles.
Isso é parte da pesquisa no momento.
Também estamos trabalhando
com empresas de energia
na área de sistemas de detecção precoce.
Condores equipados com dispositivos
que enviam um sinal
à medida que seguem em direção
a um campo com turbinas,
já instalada ou em planejamento.
Isso permitiria às empresas de energia
desligar essas turbinas quando os condores
estivessem voando na área.
Num projeto como este,
é imprescindível a colaboração
de tantas pessoas
e organizações diferentes.
Nenhuma entidade pode fazer
tudo isso sozinha,
mas coletivamente, como vimos, é possível.
Então onde estamos hoje?
Nós começamos com 22 condores
restantes no mundo.
Agora temos mais de 400,
dos quais mais da metade
estão voando livremente
nos céus da Califórnia,
Arizona e noroeste do México.
O projeto completou seu ciclo.
Como podem ver, há um ovo
no habitat natural prestes a chocar.
O ponto preto no ovo é a casca quebrada,
pois um filhote está prestes a nascer.
E a foto no canto inferior direito mostra
um filhote chocado no habitat natural.
Aves que cresceram em zoológicos
e centros de criação e foram soltas
estão agora cumprindo o ciclo de vida
por si mesmas na natureza.
As pessoas sempre me perguntam: "Por quê?"
E ouvimos isso hoje:
"Por que gastar tantos recursos
e tanta energia para salvar uma espécie?"
Se pensarem nessas espécies: o condor
o urso panda, o elefante e o tigre,
compartilhamos os mesmos ambientes
ao redor do planeta.
Vivemos nos mesmos lugares que eles.
Se os virmos como indicadores ambientais,
eles nos mostram que o ambiente
que compartilhamos está saudável.
Só precisamos ver o que estão mostrando.
Nós podemos gerar mudança.
Já vimos isso acontecer.
Podemos gerar mudança ao redor do mundo.
Apenas não devemos nos esquecer
de dar continuidade a essas iniciativas
porque tudo isso é possível.
Obrigado.
(Aplausos)