Vida... tem tudo a ver com assumir o desafio. Todos os dias, nosso laboratório reúne alguns dos principais cientistas ambientais do mundo, e usa todo esse poder cerebral para desesperadamente tentar descobrir como circular uma bola num grupo de pessoas sem usar nossas mãos. É muito bom: você segura uma bola e um frisbee, arremessa a bola no ar, depois o frisbee para outra pessoa que pega o frisbee e depois a bola sem que ela toque nas mãos dela. Esse desafio, chamado frisball, é inacreditavelmente viciante pelo simples motivo que é muito difícil. As falhas podem ser catastróficas. Mas quando você se empolga com esse jogo, se deixa levar e é inacreditável como essas falhas simplesmente desaparecem em comparação à verdadeira glória do sucesso. (Risos) Sempre pensei que tinha essa obsessão com jogos por que penei na universidade. Quando fui expulso da aula no final do meu primeiro ano, achei que seria o fim do meu curso. Tive que enfrentar 300 pessoas. Fiquei arrasado, mas um professor me chamou de lado e me perguntou: "Por que se incomodar? Por que se incomodar com ecologia se você nem vai tentar?" Eu expliquei que sempre fui obcecado por biodiversidade. Como a vida surgiu nesse planeta continua a ser o maior mistério, sem falar em como se diversificou ao redor do globo. Mas simplesmente não consigo acompanhar. É muito difícil continuar motivado quando você não consegue acompanhar, além disso, sou disléxico, então não me interessava pelas leituras chatas, e, em vez disso, preferia jogar com meus amigos. E esse professor me deu um conselho muito simples. Ele disse: "Se gosta disso de verdade, por que não fazer da ecologia seu próximo jogo?" E sei que parece simples, mas isso teve um grande impacto em mim. Ele disse: "Você não precisa tentar se esforçar, nem ser mais inteligente, mas se você assumir o desafio, terá mais chances de sucesso, e mesmo que não tenha, ninguém se importará se você estiver se divertindo, e, no fim das contas, esse é o ponto de tudo isso". Bem, esse simples conselho foi muito importante para mim, e oito anos depois, ainda estou estudando biodiversidade, dessa vez, em escala global. Na verdade, estou estudando uma das maiores ameaças de todos os tempos que a biodiversidade vem enfrentando na mudança climática. Esse tópico deprimente, que cada um neste auditório está cansado de saber, então não se preocupem, não vou incomodar vocês com detalhes deprimentes. Todos sabemos o quão ameaçador é para nós e nossas gerações futuras, mas o grande desafio é descobrir como podemos nos engajar e causar um impacto tangível para desacelerar a velocidade dessa ameaça devastadora. Porque a atmosfera que estamos tentando proteger é incrivelmente fina e vulnerável, é mais ou menos análoga à espessura da borracha em um balão. E todo ano, emitimos 10 gigatoneladas de carbono nesse espaço. Sei que 1 gigatonelada é um número estranho, mas é basicamente 1 bilhão de toneladas de carbono. Dez gigatoneladas correspondem a 27 mil prédios do Empire State. Um pouco disso vai parar no solo, e um pouco nos oceanos, mas uma grande parte permanece na atmosfera, e está aumentando ano após ano, o que significa que já aumentamos a carga em mais ou menos 300 gigatoneladas desde o início da Revolução Industrial. Sou cientista, então gosto de números, então mencionarei alguns números absurdos, mas se conseguirem se lembrar de apenas um número, lembrem-se dessas 300 gigatoneladas, porque essa é a escala do problema que precisamos abordar. Então, claro, precisamos urgentemente de soluções tecnológicas para impedir anualmente essas 10 gigatoneladas. Precisamos evitar emissões, mas se queremos capturar essas 300 gigatoneladas que já existem, precisaremos de um sistema extremamente poderoso. E esse é o sistema que temos até hoje: o sistema natural. Esta é uma linda simulação do ciclo do carbono feita pela NASA, mostrando altas concentrações de dióxido de carbono, indicadas em vermelho, no início do ano. Mas quando avançamos para a primavera e depois para o verão, vemos essas concentrações desaparecerem, como consequência de uma razão simples: o aparecimento das folhas nas árvores. Esse simples processo ecológico transforma o ciclo de carbono todo ano, e é um dos vários grandes fluxos ecológicos que equilibram um ao outro totalmente. Devido à escala massiva desse sistema, precisamos administrá-lo como sendo uma de nossas mais brilhantes opções na luta contra a mudança climática. Mas é também a opção absurda, a solução que todos já ouvimos antes: "Plante uma árvore, salve o mundo". mas que claramente não funcionou, senão estaríamos bem. Mas o verdadeiro motivo é que não conseguimos nos engajar. Porque não é uma solução tangível e científica, pelo simples fato de que não temos ideia do que é fisicamente possível. Até sabermos o que somos capazes de conquistar, quem irá gastar seu tempo e energia restaurando ecossistemas se não sabemos qual será o impacto? Observando as melhores soluções para a mudança climática, e "Project Drawdown" é uma organização genial que as está listando, e no topo da lista, com o potencial de eliminar 24 gigatoneladas, está o gerenciamento efetivo de refrigeração. Mas se procurarmos nesta lista por gerenciamento global de ecossistema, ele não aparece nela, porque não temos ideia do potencial global dos ecossistemas. Eles são divididos em partes menores e listados abaixo das melhores soluções. De novo, quem vai gastar tempo valioso e energia nisso, a não ser que saibamos o que podemos conquistar de fato? O grande desafio é que a terra é enorme. É muito difícil compreender toda essa informação global. Então temos usado satélites muito bem nessas últimas décadas, o que proporciona grande cobertura global, mas eles não conseguem ver abaixo da cobertura vegetal. Até recentemente, achávamos que havia cerca de 400 bilhões de árvores no planeta. E essa era a base da campanha inicial da ONU, "Um Bilhão de Árvores": plantar 1 bilhão de árvores para salvar o mundo. Mas sabíamos que precisávamos de uma nova geração de modelo que fosse construído de milhões de locais onde as pessoas estariam no chão contando árvores e estimando a altura e espécies delas. E uma vez que reuníssemos toda essa informação teríamos visões de dentro da estrutura dessa floresta. E ao juntar esses milhões de dados usando aprendizado de máquina e inteligência artificial, agora podemos começar a preencher as lacunas e ver os padrões em densidade arbórea, e como eles variam por meio dos gradientes de temperatura da umidade e características do solo, para gerar a primeira compreensão quantitativa da densidade arbórea global, revelando, de forma bem simples, que há mais de 3 trilhões de árvores em nosso planeta. De novo, sei que é difícil entender o que é 1 trilhão, mas, em resumo, é mais do que pensávamos anteriormente. E essa simples informação foi suficiente para transformar a campanha de 1 bilhão de árvores na campanha de 1 trilhão de árvores. Agora estamos restaurando 1 trilhão de árvores, e isso está causando um grande impacto. Como sabemos o tamanho dessas árvores, também sabemos que elas armazenam cerca de 450 gigatoneladas de carbono. Essa é a base do nosso trabalho. Esses modelos não nos dizem apenas onde as árvores estão. Ao caracterizar o ambiente que pode suportar as árvores, os modelos também nos ajudam a ver onde elas podem existir no planeta, mostrando que há espaço para muito mais do que temos hoje. Obviamente, a maior parte dessa terra está atualmente coberta por florestas e precisamos de uma grande proporção dela para área urbana e agrícola para abrigar uma população humana em crescimento. Mas quando retiramos essas terras, ainda sobra algo incrível. Esses são os 0.9 bilhões de hectares de terras degradadas, áreas onde as árvores poderiam existir naturalmente, mas não existem, muito embora não estejam sendo usadas amplamente. Se fôssemos restaurar ecossistemas por todas essas terras, haveria um adicional de 1 trilhão de árvores nessas áreas e elas armazenariam espantosas 205 gigatoneladas de carbono. Mas há muita incerteza nesse número. Pode ser um pouco maior ou um pouco menor, mas a escala disso, quando comparada às 300 gigatoneladas que mencionei antes, podemos ver que há uma solução vasta e muito poderosa de redução de carbono nas florestas do mundo. Obviamente, levaria mais de 100 anos para acumular todo esse carbono, mas assim que essas árvores estiverem no chão, elas não apenas absorverão carbono como também produzirão nuvens, as quais refletem muito da energia solar, resfriando o planeta com um efeito imediato. Por isso quando anunciamos esses dados há menos de dois meses, algo aconteceu, e tudo tornou-se completamente viral. As organizações da mídia internacional cobriram o assunto em grande escala. Era como se o público finalmente visse uma opção para nos engajarmos. E isso foi seguido por um aumento inacreditável em financiamentos para projetos de restauração. E vimos projetos começando em todo o mundo, e esses são só alguns com os quais nosso laboratório está conectado diretamente, embora há milhares de outros surgindo para restaurar ecossistemas para a captura de carbono. Mas isso também nos apresentou para algumas das maravilhas das mídias sociais, e foi uma percepção assustadora. Recebemos uma quantidade absurda de mensagens, mas, quando as filtramos, encontramos alguns temas muito importantes e valiosos. A primeira crítica: "Que idiotice! Não podemos plantar árvores em todo lugar. É preciso reduzir as emissões". Apesar de não ter curtido muito o início da mensagem, ela está totalmente correta. Não posso discutir com isso. Claro, todo mundo tem que saber que precisamos de mudanças tecnológicas e a níveis de sistema pra evitar emissões. Mas isso tem que ser feito em conjunto com uma poderosa redução de carbono. A mudança climática é grande demais para ficarmos discutindo sobre soluções, precisamos de todas elas agora. A segunda crítica: "Não! Precisamos conservar as florestas já existentes". De novo, é muito difícil discordar porque está absolutamente correto! Claro, aumentar a cobertura global das florestas não faria sentido se só ganhássemos novas florestas às custas das já existentes. Preservar as florestas existentes é crucial para nosso objetivo geral. É sem dúvida fundamental, então devem ser feitos em conjunto. E a terceira crítica, podem ver um padrão agora, é que precisamos preservar e restaurar as pastagens naturais e as savanas, e, não querendo ser repetitivo, mas está corretíssimo! Esses ecossistemas são extremamente importantes, e foi, em parte, por isso que fizemos o estudo, para conseguirmos identificar onde as árvores deveriam ser plantadas ou não, pois esses ecossistemas também são essenciais, armazenam quantidades enormes de biodiversidade, e o carbono deles é incrível também, mas ele não é armazenado na vegetação e sim no solo. Agora estamos construindo uma nova geração de modelos. Em vez de baseá-los na observação de árvores, eles são baseados em milhões de amostras de solo coletadas ao redor do globo. E usando a mesma inteligência artificial e o aprendizado de máquina, começamos a enxergar padrões, revelando que há mais de 1,5 mil gigatoneladas de carbono no solo embaixo de nossos pés, com a maioria dele existindo em áreas de alta latitude, onde temperaturas frias prendem o carbono no solo. E o mais incrível é que se restaurássemos esses solos ao redor do globo, conseguiríamos capturar outras 116 gigatoneladas de carbono. Essa é a segunda solução incrivelmente poderosa de redução de carbono que apresentei para vocês, e está simplesmente no solo. E isso se expande por todos os ecossistemas. Nossas florestas, pelo simples fato de serem conservadas e preservadas, poderiam capturar 30% do carbono. Mas pastagens e áreas com arbustos cobrem uma extensão ainda maior, e poderiam capturar 41% desse potencial, se as restaurássemos de forma eficaz. E o bom é que elas não interferem com nenhum outro tipo de uso do solo. Então, é possível ter a terra cultivada, ao mesmo tempo que preserva e captura mais carbono. Na verdade, os mais eficientes de todos esses ecossistemas são os pântanos e as turfeiras que cobrem menos de 5% da superfície da terra e podem capturar cerca de 30% desse total. Então, quando todos são combinados, podemos ver que esses ecossistemas têm um potencial incrível para capturar essas 300 gigatoneladas. Essa poderosa solução de redução na emissão de carbono não é só imensa, como também pode engajar cada um de nós e deve ser feita associada a reduções nas emissões de gás de efeito estufa. Mas devem ser feitas de forma ecologicamente responsável. Por vezes, projetos de restauração falham porque as árvores são restauradas no solo errado ou em ecossistemas sem uma comunidade microbiana que possa sustentá-las. Então passamos todo o nosso tempo e energia produzindo mapas que possam mostrar aos agricultores como administrar corretamente esses ecossistemas para que possam focar suas áreas de interesse e não só dizer quantas árvores cabem ali ou quais espécies devem plantar, mas é possível ver até qual é a comunidade microbiana do solo, para verificar se suportam árvores. E é possível até mesmo calcular onde as florestas teriam um impacto de aquecimento ou resfriamento em diferentes partes do globo para entender as consequências ecológicas dessas ações. E ainda mais importante do que isso é que esses projetos têm que ser socialmente responsáveis. É comum projetos de restauração comprarem uma porção de terra, excluindo as pessoas dela, mas essa terra é o sustento da comunidade. Isso não é somente socialmente irresponsável como insustentável, pois essas pessoas voltarão e cortarão essa floresta e a usarão para sua subsistência. A restauração deve ser feita em conjunto com as comunidades locais, assim todo o financiamento destinado aos projetos de restauração pode ser afunilado dentro dessa comunidade, para que ela possa se conectar ao projeto. Além disso, eles podem se beneficiar das centenas de serviços ecossistêmicos como comida, remédio, água e ar limpo que trazem enormes benefícios socioeconômicos quando feito corretamente. Todos esses projetos, os pontinhos que mostrei antes, estão fazendo isso: trabalhando em conjunto com as comunidades locais para restaurar ecossistemas ao redor do mundo, e estão obtendo resultados sociais e econômicas incríveis. E os melhores deles estão fazendo isso pelo pequeno valor de US$ 0,30 por árvore. E isso significa que se restaurássemos nossos 1 trilhão de árvores, se otimizássemos a produção, poderíamos fazer tudo com somente US$ 300 bilhões. Isso não é nada comparado aos trilhões de dólares que gastamos todo ano em virtude da mudança climática. Então, agora temos uma solução climática que consegue engajar cada um de nós por meio de ações simples e tangíveis que tenham um impacto positivo, ou vocês mesmos podem restaurar os ecossistemas, observando os mapas para ver exatamente onde e como fazer isso, ou simplesmente fazendo doações. Clique em um desses pontos para doar para um desses incríveis projetos de restauração que estão fazendo um trabalho ótimo para o nosso bem. Ou, por fim, invista o seu dinheiro de maneira inteligente. Quer estejam gastando ou investindo, concentrem-se nas organizações que têm um impacto ambiental positivo, assim podemos ter resultados tangíveis na mudança climática. Somos 8 bilhões nesse planeta. Isso nos dá um poder de ação global sem precedentes. Mas até agora, ações climáticas sempre tiveram a ver com desistir de coisas que gostamos, e enquanto esses esforços são incrivelmente importantes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, agora também temos ações positivas que podemos assumir, que nos fazem sentir bem e nos envolve nessa luta. O que me leva à última crítica: "Isso tudo parece bom, mas é muito ingênuo. Nunca conseguiremos restaurar o globo todo". Essa crítica também pode estar correta, mas é também totalmente irrelevante. Porque essa mentalidade não ajuda em nada. No fim das contas, essa é só uma desculpa para não fazer nada: "Se não conseguirmos alcançar 100%, é melhor deixar para lá!" Esse é o tipo de mentalidade que nos colocou nessa situação, Se alcançássemos nem que fossem 5% dos nossos objetivos, os impactos na biodiversidade e mudança climática seriam incríveis, e prometo a vocês, ultrapassaremos essas conquistas com milhares de pessoas restaurando ecossistemas ao redor do mundo. Só espero que aqueles que dizem que isso não pode ser feito não atrapalhem as pessoas incríveis que já estão fazendo isso acontecer. Superar essa mentalidade negativa, essa depressão sobre a mudança climática, é um dos maiores obstáculos que ainda resta para nos engajarmos. E para fazer isso, valho-me das palavras daquele mentor genial, o Dr. Hefin Jones, que disse: "Simplesmente assuma o desafio. Não apenas teremos chances de sucesso, mas todos nós, literalmente, apreciaremos o processo". Talvez sejamos a primeira sociedade enfrentando a verdadeira ameaça da mudança climática, mas isso obrigatoriamente significa que somos a primeira sociedade que tem a oportunidade de salvar o mundo desta ameaça. Muito obrigado. (Aplausos)