Urgente aprender a reaprender | Wilson Leite | TEDxGoiânia

Não basta ficarmos com aquilo que sabemos (ou achamos saber). Ou basta? Professor universitário e artista, Wilson Leite tem como missão ajudar as pessoas a verem o mundo e a si mesmos com um novo olhar: o olhar de quem aceita que não sabe tudo, que não está sempre com a razão, de quem pode não encontrar a solução imediata, o olhar de quem aceita que precisa reaprender diariamente. O mundo muda e, perante essa mudança, cabe-nos ter medo ou coragem de agir. Qual você geralmente escolhe? E qual você vai escolher agora? Comunicador por formação e criativo por predileção. Educador de profissão, sempre em busca de formas melhores de repassar o que aprende. This talk was given at a TEDx event using the TED conference format but independently organized by a local community. Learn more at https://www.ted.com/tedx

[música dramática]

[Wilson Leite] Quero trazer
uma proposta

de nos permitirmos

APRENDER a REAPRENDER.

Basicamente três pontos

Irão orientar a minha fala.

O medo, o cérebro

e a criatividade.

A respeito do medo

que pode ser despertado

por diferentes processos.

Eu quero focar em um medo específico,

que, de acordo com Dean Burnett,

é gerado pelo nosso cérebro.

O qual, mesmo após milhões
de anos de evolução

continua tendo como
propósito primário

a nossa sobrevivência.

Como se ainda vivêssemos
naquele tempo.

Para essa parte primitiva
do cérebro,

Se tem algo que é fundamental
para a nossa sobrevivência

É que a gente faça parte de um grupo.

Ou seja,

um dos medos mais comuns que
o cérebro desperta no ser humano

é o medo de ser
excluído do grupo

de ser abandonado à própria sorte.

O que, há milhões de anos,
significaria a morte

E por ainda estar muito ligado
àqueles tempos,

o cérebro entra em estado de alerta,

sempre que acha
que existe algum risco

[com eco] "De sermos rejeitados!"

Burnett explica que,
mesmo diante de perigos imaginários.

o cérebro ativa um dispositivo
que nos estimula a

FUGIR ou a LUTAR

Fuga, que é fácil de perceber
em situações como

quando pensamos em desaparecer

ou em se esconder
ou inventar que está doente.

Você que me assiste,
se lembra de alguma situação

que te tirou da zona de conforto?

Que te exigiu fazer algo diferente que

gerou algum tipo de medo?

Pode ser algo simples,
como falar em público,

pedir um aumento,

passar no exame para tirar
carteira de motorista

ou tomar iniciativa para

conversar com alguém
com quem você se interessava.

Eu, por exemplo, fico pensando...

[com eco] "E se rirem de mim?"

[com eco]
"E se eu esquecer tudo na hora?"

O fato é que

eu também sofro do medo
de ser abandonado pelo grupo.

E isso me faz ter medo de errar,
de não ser aprovado.

Me faz ter medo de críticas.

Um medo mais conhecido
como timidez.

Me imaginem ministrando aulas
para universitários em cursos de

Design, Fotografia,
Publicidade e Propaganda.

Dando palestras e oficinas.

Eu já ouvi muitas vezes:

[com eco]
"Nunca que você é tímido!"

Mas eu sou.

É que entre LUTAR e FUGIR

a escolha foi correr o risco.

E eu acredito que,
se não fizesse isso,

ia passar a vida me perguntando:

E se eu tivesse abandonado
a contabilidade,

estagiado na agência aos 26 anos,

pedido ao chefe para ser Diretor de Arte,

feito vestibular aos 32,

me arriscado
como Diretor de Criação,

entrado numa sociedade,

sido professor aos 40,

concluído o mestrado,

[com eco] "E se eu tivesse
aceitado palestrar no TEDx?"

Pode até não parecer,
mas não é fácil para mim.

Eu sempre tremo nas bases.

Dá vontade de fugir.

O coração vai a mil!

Só que

a vida vai ensinando.

E conforme enfrentamos o medo

vamos percebendo que

não dá para acabar com ele.

O medo vem no pacote.
Ele faz parte de nós.

E, muitas vezes,
por causa desse medo

preferimos aguentar uma coisa
que não é boa para nós

por muito tempo.

Ficamos esperando as coisas melhorarem.

Mas, veja só: isso acontece
porque o nosso cérebro

tem a capacidade de se adaptar.

E é por isso que, quando estamos

de fora da situação,
nos perguntamos:

[com eco]
"Como é que alguém aguenta tanto?"

Para entender melhor...

leia esse texto:

Perceba que, no início,

é preciso algum tempo

para compreender o código.

Mas o cérebro vai se adaptando.

e começa a ler mais rápido.

Eu acredito que é importante
entender melhor

como o nosso medo se manifesta.

E isso pode nos ajudar
a aprender a negociar.

A apresentar para nós mesmos

uma outra versão da história.

Mais positiva do que aquela que o
nosso instinto de sobrevivência criou.

E nós sabemos, não é?

O nosso cérebro é muito bom
para nos convencer

de que existe um perigo ali.

Ele nos conhece melhor
do que nós mesmos.

Sem contar que, por causa do medo,

para nós é muito mais
difícil mudar de caminho.

No livro "O Choque do Futuro",
Alvin Toffler comenta

que o ato de aprender
requer energia

e o de reaprender requer
mais energia ainda.

Porque para reaprender nós

precisamos deixar um caminho
todo sinalizado e iluminado,

para nos aventuramos por um desvio
que não tem garantia nenhuma

de nos levar a algum lugar.

Repensar.

Reaprender.

Reformular.

[com eco] "É correr riscos!"

Quando precisamos enfrentar
algum tipo de mudança

O nosso instinto de sobrevivência
não fica muito confortável.

Quantas vezes a quebra de rotina
não nos incomodou?

E eu não estou falando de:

[com eco] "Ah!
Eu não gosto de mesmice!"

Eu falo de coisas que
nos tiram do caminho habitual.

Nos tiram daquilo que
já estamos acostumados.

Fatos que exigem que façamos algo
de um modo muito diferente

ou pior:

que não permite que
façamos aquilo

da forma que sempre fizemos.

E essa sensação de incômodo

também serve
para entender uma coisa.

A Criatividade,

tão desejada,

admirada,

elogiada,

também

incomoda.

A Criatividade dá medo.

Porque ela exige de nós
a abertura para reaprender.

E não se trata daquela criatividade
que todo mundo aceita

porque não vai mudar muita coisa.

Eu falo daquela que transgride,

questiona,

reformula.

Aquela que inova,

E inventa formas diferentes
de se fazer as coisas.

A Criatividade que nos tira
da zona de conforto.

Quase sempre que uma ideia
realmente nova surge

sofre resistência.

Justamente porque ela tira
as pessoas de seu lugar seguro.

Do caminho já aprendido.

E, por causa de nosso
instinto de sobrevivência,

Ela dá medo até
em quem teve a ideia.

Isso porque

as pessoa nos avaliam.

O grupo nos julga.

[com eco] "O que vão
pensar de mim?"

Um exemplo, que pode servir
para entender como nos sentimos

quando somos forçados a mudar,
é essa pandemia.

Sem querer
entrar em pontos sensíveis,

mas observando algumas mudanças
em nossos hábitos e costumes.

[com eco]
"Ela bagunçou com a nossa rotina"

Nós tivemos que reaprender,

nos adaptar,

modificar a nossa forma
de trabalhar, vestir,

de nos relacionar.

Um dia desses, as compras de
uma senhora caiu perto de mim...

e eu não pude ajudar.

Porque o meu gesto de educação

teve de ser o de não invadir
o espaço do outro.

Nesse contexto,

nós estamos sendo forçados
a reaprender muita coisa.

E isso vai influenciar a forma que

consumimos, nos alimentamos,
nos relacionamos com o outro,

que lidamos com a nossa saúde,
com o meio-ambiente.

Gente, nós estamos no início
de um novo milênio!

Que pede a chegada de gente
com mente aberta, criativa,

inovadora!

Gente que saiba lidar
com os novos problemas,

que traga novas ideias.

Gente que realmente
pense fora da caixa.

Que pense de uma forma

que vai dar medo
em nosso cérebro primitivo.

Porque as mudanças
radicais incomodam.

E nesse novo milênio,
de acordo com Toffler,

é o conhecimento que
se torna mais valioso...

do que um produto ou serviço.

Sendo que a Criatividade já é
uma ferramenta indispensável

para encarar os novos desafios.

Mas nós ainda temos muito medo.

Porque não sabemos muito
sobre o que virá.

No entanto, hoje,

nós já temos problemas que exigem
de nós uma mudança de atitude

e de entendimento sobre
o que ainda é tido como

"o que sempre foi assim"

Nós precisamos ter a coragem
de pensar diferente.

Mas essa atitude

pode gerar muito incômodo nos outros.

E incomodar os outros gera medo.

No entanto,

quanto mais gente se permitir

reaprender e inovar,

tendo a coragem de deixar
os medos naturais para trás

mais gente criativa nós teremos

pensando e repensando
esse nosso mundo.

Mentes que não terão mais
as certezas do século passado,

mas, sim, muitas perguntas
a serem respondidas.

Isso porque o pensar criativo

nos faz questionar as certezas.

Precisamos enfrentar o incômodo
que o pensar criativo provoca.

Pois é o outro (o grupo)
que precisa entender

que o RE-APRENDER,
sempre foi uma necessidade

do nosso instinto de sobrevivência.

Por isso,
é mais do que urgente

que a gente se permita
APRENDER a REAPRENDER

a pensar com CRIATIVIDADE.

E que a gente escolha por LUTAR

e não por FUGIR.

Pense nisso!