Como a quinoa ajudou a combater a fome e a subnutrição
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0:01 - 0:03Como muitos de vocês
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0:03 - 0:05quando tenho fome, abro o frigorífico
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0:05 - 0:08e pego em algo para comer
sempre que quiser. -
0:08 - 0:12Isto é algo em que muitos de nós,
que vivemos em países desenvolvidos, -
0:12 - 0:14não pensamos muito.
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0:14 - 0:18Mas é um luxo que nunca pensei
que teria na minha vida, -
0:18 - 0:22quando vivi num campo de refugiados
na Tanzânia, há 23 anos, -
0:22 - 0:23ou mesmo há sete anos,
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0:23 - 0:25quando vivia no meu país natal, no Ruanda
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0:26 - 0:28antes de vir para os EUA.
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0:28 - 0:29Eu tinha apenas sete anos
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0:29 - 0:31quando o meu país natal do Ruanda
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0:31 - 0:34passou pela tragédia do genocídio
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0:34 - 0:36que matou muitas vidas.
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0:36 - 0:38Fez-nos fugir do país
e tornámo-nos refugiados. -
0:39 - 0:42A vida num campo de refugiados
não era vida. -
0:43 - 0:45Era sobrevivência.
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0:46 - 0:49Eu vi muitas pessoas a morrer de doenças,
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0:49 - 0:52por falta de saneamento, de fome.
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0:52 - 0:54A comida tornou-se num bem raro.
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0:54 - 0:56Foram dias maus.
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0:56 - 0:58A minha família e eu
conseguimos sobreviver -
0:58 - 1:00graças às folhas e às ervas do bosque.
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1:00 - 1:03Houve também tempos piores,
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1:03 - 1:08quando passávamos dois ou três dias
sem nada para comer, -
1:08 - 1:11e apenas bebíamos água do pântano.
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1:11 - 1:13Após três anos no campo de refugiados,
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1:13 - 1:16decidimos voltar para o Ruanda.
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1:16 - 1:18O nosso problema com a comida continuou.
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1:18 - 1:23Mas, a agricultura provou ser
a única fonte fiável de comida -
1:23 - 1:27Mas a nossa comida tinha falta
de diversidade de nutrientes -
1:27 - 1:29e continuávamos a depender
da ajuda alimentar -
1:29 - 1:32do Programa Alimentar Mundial da ONU
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1:32 - 1:34para equilibrar a nossa alimentação.
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1:34 - 1:38Ainda hoje, mais de 70% dos ruandeses
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1:38 - 1:40trabalham no setor agrícola.
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1:40 - 1:44Mas a subnutrição e o atraso
do crescimento continuam alarmantes. -
1:44 - 1:48Eu acabei por perceber que não era
por as pessoas produzirem pouco -
1:48 - 1:50que havia insegurança alimentar
e subnutrição. -
1:52 - 1:55Era porque as pessoas não estavam
a cultivar os alimentos certos. -
1:56 - 1:57Por fim, deixei o Ruanda
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1:57 - 2:01e fui para os EUA fazer uma pós-graduação
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2:01 - 2:04e descobri uma possível solução
para esse problema. -
2:04 - 2:07Essa solução é a quinoa.
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2:08 - 2:12A quinoa é nativa das regiões índias
da América do Sul, -
2:12 - 2:16nos países como a Bolívia ou o Peru.
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2:16 - 2:19É muito conhecida
pelos seus nutrientes poderosos. -
2:19 - 2:22Contém todos os nove
aminoácidos essenciais -
2:22 - 2:25o que a torna numa proteína completa.
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2:25 - 2:28Infelizmente, a quinoa
não é muito cultivada -
2:28 - 2:30noutras partes do mundo.
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2:30 - 2:32Por exemplo, no Ruanda,
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2:32 - 2:35os feijões são a única coisa
que nos mantiveram vivos -
2:35 - 2:39durante aqueles tempos de fome.
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2:39 - 2:41De facto, o Ruanda é o país
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2:41 - 2:45que consome mais feijões,
por habitante, do mundo. -
2:45 - 2:47Nesta parte de África,
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2:47 - 2:50os feijões são a única cultura
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2:50 - 2:53que fornece uma fonte
de alimento imediata, -
2:53 - 2:56porque podemos comer feijões
em qualquer fase do crescimento. -
2:56 - 3:00Nós comemos feijões, folhas e vagens
antes da colheita. -
3:00 - 3:02Infelizmente, não podemos cultivar feijões
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3:02 - 3:05no mesmo terreno,
estação após estação -
3:05 - 3:07Temos de garantir
que há uma rotação regular -
3:07 - 3:10para evitar doenças e pragas.
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3:10 - 3:12Tal como com os feijões,
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3:12 - 3:16os agricultores podem apreciar
as folhas nutritivas da quinoa. -
3:16 - 3:19Embora os feijões
sejam considerados nutritivos, -
3:19 - 3:21a quinoa tem muito mais micronutrientes,
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3:21 - 3:25e com a quinoa, conseguimos
fazer mais comidas e bebidas -
3:25 - 3:26do que com os feijões.
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3:26 - 3:28Em 2015,
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3:28 - 3:30juntamente com a minha equipa
de investigação -
3:30 - 3:32da Universidade do estado de Washington
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3:32 - 3:35introduzimos a quinoa no Ruanda,
pela primeira vez. -
3:35 - 3:38Testámos 20 variedades de quinoa
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3:38 - 3:42para ver a sua adaptabilidade
em três zonas ecológicas do Ruanda. -
3:42 - 3:45Os resultados foram surpreendentes.
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3:45 - 3:47Entre as 20 variedades testadas
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3:47 - 3:5115 delas mostraram um bom potencial
de crescimento no clima do Ruanda. -
3:52 - 3:55Depois, iniciámos o Programa de
Agricultores para o Modelo Quinoa. -
3:55 - 3:58Demos essas variedades potenciais
aos agricultores -
3:58 - 4:01para as cultivarem nas quintas
e nas comunidades. -
4:01 - 4:02Começámos com 12 agricultores,
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4:02 - 4:04e, após três anos,
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4:04 - 4:06estamos a trabalhar com cerca
de 500 agricultores, -
4:06 - 4:08incluindo a minha mãe,
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4:08 - 4:11que é conhecida localmente
como "a rainha da quinoa", -
4:11 - 4:16por causa do seu trabalho a ajudar
outros agricultores a adotar esta cultura. -
4:16 - 4:18Demos-lhes sementes,
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4:18 - 4:20ensinámo-los como as cultivar
e como cozinhar a quinoa. -
4:20 - 4:22Os agricultores são muito criativos,
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4:22 - 4:25inventam as suas receitas.
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4:25 - 4:28Começámos a notar mudanças
notáveis na vida deles, -
4:28 - 4:30incluindo histórias de sucesso
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4:30 - 4:35em que muitos deles conseguem ter acesso
a alimentos nutritivos três vezes por dia. -
4:35 - 4:37Eu gostaria de acrescentar
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4:37 - 4:40que a quinoa não deve substituir
todas as outras culturas. -
4:40 - 4:43Nós introduzimos a quinoa
como um suplemento -
4:43 - 4:46para proporcionar mais saúde e nutrição,
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4:46 - 4:50complementando a nossa alimentação
para combater a subnutrição crónica. -
4:50 - 4:53Começámos este modelo
com a quinoa, no Ruanda, -
4:53 - 4:56mas ele pode ser reproduzido
em diversos países -
4:56 - 4:59que sofrem com fome e subnutrição.
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4:59 - 5:03Cerca de uma em nove pessoas
em todo o mundo -
5:03 - 5:05sofrem de subnutrição crónica.
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5:05 - 5:07Começámos uma colaboração
de investigação -
5:08 - 5:12com instituições em países
como o Quénia, o Malauí, o Uganda -
5:12 - 5:15e outros que experimentam
fome e subnutrição. -
5:15 - 5:18A quinoa não é a única colheita mágica.
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5:18 - 5:23Há diversas culturas com grande
poder de adaptação e valor nutricional, -
5:25 - 5:29cultivos como o milho, o sorgo,
o painço fonio, a cevada, a aveia, -
5:29 - 5:31só para referir alguns.
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5:31 - 5:33Estes cultivos têm grande
poder de adaptação -
5:33 - 5:35e reagem bem à alteração climática.
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5:35 - 5:39Podemos cultivar estes produtos mágicos
em diversas partes do mundo, -
5:39 - 5:40preenchendo o fosso,
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5:40 - 5:44para haver alimentos nutritivos
acessíveis para toda a gente. -
5:45 - 5:47Eu sei o que é passar fome.
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5:47 - 5:49Já estive nessa situação.
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5:49 - 5:52E sei o que é estar subnutrido,
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5:52 - 5:54porque também já estive nessa situação.
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5:54 - 5:57As culturas com maior biodiversidade
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5:57 - 6:00e maior poder de adaptação
e de valor nutritivo -
6:00 - 6:04terão um papel importante
na criação da segurança alimentar, -
6:04 - 6:07da soberania de sementes
e na produção sustentável -
6:07 - 6:12em comunidades e em países
que sofrem fome e subnutrição. -
6:13 - 6:17Ter alimentos nutritivos
não pode ser um luxo. -
6:17 - 6:20Há a necessidade de garantir
que há alimentos nutritivos -
6:20 - 6:23acessíveis e económicos para toda a gente.
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6:23 - 6:27E este é o passo em frente
para fazer com que isso aconteça. -
6:28 - 6:29Obrigado.
- Title:
- Como a quinoa ajudou a combater a fome e a subnutrição
- Speaker:
- Cedrik Habitaremye
- Description:
-
Numa missão para criar um mundo sem fome, Cedric Habiyaremye, empresário agrícola iniciou um processo de cultivo de quinoa — e outros cereais versáteis e ricos em nutrientes — em locais que sofrem de subnutrição, como no seu país natal, o Ruanda. Ele fala-nos de um modelo que ajuda os pequenos agricultores em África a diversificar os seus campos com culturas nativas e nutritivas, dando um passo em frente para garantir que haja alimentos saudáveis, acessíveis e económicos para toda a gente.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 06:42
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