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Como um relógio atómico miniaturizado poderá revolucionar a exploração espacial

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    Há seis meses,
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    assisti com grande expetativa
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    à aterragem da sonda InSight da NASA
    na superfície de Marte.
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    Duzentos metros,
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    80 metros,
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    60, 40, 20, 17 metros.
  • 0:18 - 0:21
    Receber a confirmação
    da aterragem com êxito
  • 0:21 - 0:25
    foi um dos momentos
    mais felizes da minha vida.
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    E ouvir essa notícia foi possível
    graças a dois pequenos grupos de cubos
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    que seguiram para Marte
    com a InSight.
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    Esses dois cubos transmitiram
    ao vivo a telemetria da Insight
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    para a Terra
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    de forma a assistirmos
    quase em tempo real
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    a sonda InSight a avançar na direção
    da superfície do planeta vermelho,
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    e a entrar na atmosfera de Marte
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    a uma velocidade de ponta
    de 19 300 km por hora.
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    Este evento foi transmitido
    ao vivo para nós
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    a mais de 145 milhões
    de quilómetros de distância.
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    Foi transmitido ao vivo de Marte.
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    Entretanto,
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    as duas naves espaciais Voyager
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    — estes são dois exploradores
    incrivelmente intrépidos
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    que foram lançados
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    no mesmo ano em que nos
    apresentaram o Han Solo
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    pela primeira vez.
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    E ainda estão a enviar dados
    do espaço interestelar
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    há mais de 40 anos.
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    Nós estamos a enviar
    mais naves para o espaço
  • 1:31 - 1:33
    a uma distância nunca dantes vista.
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    Mas todas essas naves no espaço
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    dependem da execução da sua navegação
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    aqui na Terra
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    para perceberem onde estão
    e, mais importante ainda,
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    para onde estão a ir.
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    E nós temos de fazer essa navegação
    aqui na Terra por uma simples razão:
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    as naves espaciais
    são péssimas a contar o tempo.
  • 1:54 - 1:56
    Mas, se conseguirmos mudar isso,
  • 1:56 - 2:00
    podemos transformar a forma
    como exploramos o espaço.
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    Neste momento, eu sou navegadora
    do espaço profundo.
  • 2:03 - 2:06
    e sei que, provavelmente,
    estão a pensar: "Que profissão é essa?"
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    É uma profissão muito especial
    e também muito divertida.
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    Eu dirijo naves espaciais,
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    desde o momento em que se separam
    de seu veículo de lançamento
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    até quando chegam
    ao seu destino no espaço.
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    E esses destinos
    — Marte, por exemplo, ou Júpiter —
  • 2:20 - 2:23
    estão realmente muito longe.
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    Para pôr o meu trabalho
    em contexto para vocês:
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    é tipo eu parada aqui, em Los Angeles,
    a atirar uma flecha
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    e com essa flecha, eu acerto num alvo
    do tamanho de uma moeda,
  • 2:35 - 2:40
    que está situado na Times Square,
    em Nova Iorque.
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    Agora, eu tenho a oportunidade
    de ajustar o curso da minha nave
  • 2:44 - 2:46
    algumas vezes ao longo da trajetória,
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    mas, para fazer isso,
    preciso de saber onde ela está.
  • 2:51 - 2:54
    E rastrear uma nave espacial
    enquanto ela atravessa o espaço profundo
  • 2:54 - 2:57
    é fundamentalmente um problema
    de medição do tempo.
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    Eu não posso pegar numa régua e medir
    a distância a que está a minha nave.
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    mas posso medir quanto demora
  • 3:04 - 3:07
    um sinal a lá chegar e a regressar.
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    O conceito é exatamente
    o mesmo de um eco.
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    Se eu me puser em frente
    duma montanha e gritar,
  • 3:14 - 3:18
    quanto mais tempo demora
    eu ouvir o eco voltar para mim,
  • 3:18 - 3:20
    mais longe aquela montanha está.
  • 3:21 - 3:26
    Então nós medimos o tempo
    do sinal com muita precisão,
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    porque errar,
    apenas por uma fração de segundo,
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    pode definir a diferença entre
    a nave pousar segura e suavemente
  • 3:35 - 3:37
    na superfície de outro planeta
  • 3:37 - 3:40
    ou criar outra cratera nessa superfície.
  • 3:40 - 3:42
    Basta uma pequena fração de segundo
  • 3:42 - 3:46
    e isso pode ser a diferença
    entre a morte e a vida da missão.
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    Assim, nós medimos meticulosamente
    o tempo do sinal, aqui na Terra,
  • 3:51 - 3:54
    até ao milésimo de milionésimo de segundo.
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    Mas tem de ser medido aqui na Terra.
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    Há um grande desequilíbrio de escala
    na exploração espacial.
  • 4:03 - 4:09
    Historicamente, temos conseguido
    mandar pequenas coisas para muito longe,
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    graças a coisas muito grandes
    aqui no nosso planeta natal.
  • 4:13 - 4:16
    Por exemplo, este é o tamanho
    de uma antena parabólica
  • 4:16 - 4:19
    que usamos para falar
    com as naves no espaço profundo.
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    Os relógios atómicos que usamos
    para navegação também são grandes.
  • 4:23 - 4:25
    Os relógios e todos
    os seus aparelhos de suporte
  • 4:25 - 4:28
    podem atingir o tamanho
    de um frigorífico.
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    Agora, se quisermos falar em colocar
    essa capacidade no espaço,
  • 4:34 - 4:36
    esse frigorífico precisa de encolher
  • 4:36 - 4:39
    até a um tamanho que caiba
    dentro da gaveta de produção.
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    Porque é que isso é importante?
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    Bom, vamos revisitar um dos nossos
    corajosos exploradores, o Voyager 1.
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    O Voyager 1 está a 20 mil milhões
    de quilómetros de distância agora.
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    Como sabem, levou
    mais de 40 anos para lá chegar,
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    e um sinal, a viajar à velocidade da luz,
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    demora mais de 40 horas
    para lá chegar e regressar.
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    O que se passa com estas naves
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    é que se movem realmente depressa.
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    O Voyager 1 não fica à espera
    que enviemos direções da Terra.
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    O Voyager 1 continua a mover-se.
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    Nessas 40 horas
    em que ficamos à espera
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    de ouvir o eco do sinal, aqui na Terra,
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    o Voyager 1 deslocou-se
    cerca de 2,5 milhões de quilómetros.
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    São 2,5 milhões de milhas de distância
    em território amplamente desconhecido.
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    Então, seria ótimo
  • 5:31 - 5:35
    se pudéssemos medir o tempo do sinal
    diretamente na nave.
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    Mas a miniaturização
    da tecnologia do relógio atómico...
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    é difícil.
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    Não só a tecnologia dos relógios
    e de todos os aparelhos de apoio
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    precisa de encolher,
  • 5:47 - 5:50
    mas também tem de funcionar.
  • 5:50 - 5:53
    O espaço é um ambiente
    excecionalmente hostil,
  • 5:53 - 5:56
    e se uma peça se partir
    neste instrumento,
  • 5:56 - 5:59
    não podemos mandar
    o técnico substitui-la
  • 5:59 - 6:01
    e continuar o caminho.
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    As viagens que estas naves fazem
    podem durar meses, anos,
  • 6:07 - 6:09
    até décadas.
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    Conceber e construir um instrumento
    de precisão que aguente isso
  • 6:14 - 6:19
    é uma arte, e é também
    uma ciência e uma engenharia.
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    Mas há boas notícias: estamos
    a fazer progressos surpreendentes,
  • 6:24 - 6:27
    e estamos em vias de dar
    os primeiros passos
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    para uma nova era
    de relógios atómicos espaciais.
  • 6:32 - 6:33
    Em breve estaremos a lançar
  • 6:33 - 6:37
    um relógio atómico com base em iões,
    adequado para o espaço.
  • 6:37 - 6:40
    Esse relógio tem o potencial de mudar
    totalmente a forma como navegamos.
  • 6:40 - 6:42
    O relógio é tão estável
  • 6:42 - 6:44
    e mede o tempo tão bem
  • 6:44 - 6:48
    que, se eu o colocar aqui,
    o ligar, e afastar-me,
  • 6:48 - 6:52
    quando voltasse,
    nove milhões de anos depois,
  • 6:52 - 6:55
    a medição do relógio
    pode estar errada num segundo.
  • 6:55 - 6:58
    O que podemos fazer
    com um relógio destes?
  • 6:58 - 7:01
    Em vez de fazer toda a navegação da nave
  • 7:01 - 7:03
    aqui na Terra,
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    que tal se deixarmos
    que a nave espacial navegue por si só?
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    A navegação autónoma a bordo,
    ou uma nave auto dirigível
  • 7:10 - 7:12
    é uma das tecnologias
    mais necessárias
  • 7:12 - 7:14
    se quisermos sobreviver
    no espaço profundo.
  • 7:15 - 7:19
    Quando inevitavelmente mandarmos
    pessoas a Marte ou até mais longe,
  • 7:19 - 7:21
    precisamos de navegar nessa nave
    em tempo real,
  • 7:21 - 7:24
    sem ter de esperar instruções da Terra.
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    E a medição incorreta do tempo
    mesmo por uma pequena fração de segundo
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    pode significar a diferença
    entre a vida e a morte da missão,
  • 7:31 - 7:34
    o que já é muito mau
    para uma missão robótica,
  • 7:34 - 7:38
    mas pensem nas consequências,
    se houver uma tripulação humana a bordo.
  • 7:38 - 7:41
    Mas vamos assumir que podemos
    colocar os nossos astronautas
  • 7:41 - 7:43
    em segurança na superfície
    do seu destino.
  • 7:43 - 7:47
    Logo que lá chegarem, acho que gostariam
    de uma forma de reconhecerem o local.
  • 7:47 - 7:48
    Com esta tecnologia de relógio,
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    podemos agora construir
    sistemas de navegação tipo GPS
  • 7:52 - 7:54
    noutros planetas e luas.
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    Imaginem ter um GPS na Lua ou em Marte.
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    Estão a ver uma astronauta
    na superfície de Marte
  • 8:00 - 8:03
    com o Monte Olimpo ao fundo,
  • 8:03 - 8:07
    a olhar para o Google Maps,
    na edição de Marte,
  • 8:07 - 8:09
    para ver onde está
  • 8:09 - 8:12
    e para traçar o caminho
    para chegar onde tem de ir?
  • 8:12 - 8:14
    Deixem-me sonhar por momentos,
  • 8:14 - 8:16
    e vamos falar sobre uma coisa
    bem longe no futuro,
  • 8:16 - 8:20
    quando estivermos a enviar pessoas
    para lugares mais distantes que Marte,
  • 8:20 - 8:25
    lugares onde esperar por um sinal
    da Terra para navegar
  • 8:25 - 8:26
    não é realista.
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    Imaginem nesse cenário
    que podemos ter uma constelação,
  • 8:31 - 8:35
    uma rede de satélites de comunicação
    espalhados pelo espaço profundo
  • 8:35 - 8:37
    transmitindo sinais de navegação,
  • 8:37 - 8:40
    e qualquer nave recebendo aquele sinal
  • 8:40 - 8:44
    pode navegar de destino
    em destino, em destino,
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    sem qualquer ligação direta com a Terra.
  • 8:48 - 8:51
    A capacidade para medirmos
    com rigor o tempo no espaço profundo
  • 8:51 - 8:54
    pode mudar para sempre
    o modo de navegarmos.
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    Mas também tem o potencial
    de nos dar uma ciência muito útil.
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    Vejam, o mesmo sinal
    que usamos para a navegação
  • 9:01 - 9:04
    diz-nos algo sobre a sua origem
  • 9:04 - 9:08
    e o caminho que percorreu
    enquanto viajava de antena em antena.
  • 9:09 - 9:13
    Essa jornada, que nos dá dados,
    informações para criar modelos melhores,
  • 9:13 - 9:18
    modelos melhores de atmosferas planetárias
    através do nosso sistema solar.
  • 9:18 - 9:23
    Nós podemos detetar oceanos abaixo
    da superfície em distantes luas geladas,
  • 9:23 - 9:27
    talvez até detetar pequenas ondulações
    no espaço devido à gravidade relativa.
  • 9:28 - 9:32
    Navegação autónoma a bordo
    significa que podemos sustentar,
  • 9:32 - 9:35
    mais naves espaciais e mais sensores
    para explorar o universo,
  • 9:35 - 9:39
    e também liberta os navegadores
    — pessoas como eu —
  • 9:39 - 9:43
    para trabalhar e encontrar respostas
    para outras questões.
  • 9:44 - 9:47
    E ainda temos muitas questões a responder.
  • 9:48 - 9:52
    Nós sabemos muito pouco
    sobre o universo à nossa volta.
  • 9:53 - 9:58
    Recentemente, descobrimos
    cerca de 3000 sistemas planetários
  • 9:58 - 10:00
    fora do nosso sistema solar.
  • 10:01 - 10:05
    Esses sistemas albergam
    quase 4000 exoplanetas.
  • 10:05 - 10:07
    Colocando isto em contexto:
  • 10:07 - 10:10
    quando eu aprendi os planetas
    pela primeira vez, quando criança,
  • 10:10 - 10:12
    havia nove,
  • 10:12 - 10:14
    ou oito, se não contasse com Plutão.
  • 10:14 - 10:17
    Mas agora há 4000.
  • 10:17 - 10:20
    Calcula-se que a matéria escura
  • 10:20 - 10:23
    compõe cerca de 96%
    do nosso universo,
  • 10:23 - 10:26
    e nós nem sabemos o que é.
  • 10:26 - 10:29
    Toda a ciência que proveio
  • 10:29 - 10:32
    de todas as nossas missões
    do espaço profundo em conjunto,
  • 10:32 - 10:35
    é só uma simples gota de conhecimentos
  • 10:35 - 10:38
    num vasto oceano de perguntas.
  • 10:39 - 10:41
    E se queremos aprender mais,
  • 10:41 - 10:44
    descobrir mais, compreender mais,
  • 10:45 - 10:47
    precisamos de explorar mais.
  • 10:48 - 10:51
    A capacidade de gerir rigorosamente
    o tempo no espaço profundo
  • 10:51 - 10:55
    vai revolucionar o modo
    como podemos explorar este universo,
  • 10:55 - 10:59
    e pode ser mais uma das chaves
    para revelar alguns desses segredos
  • 10:59 - 11:02
    que ela guarda tão ciosamente.
  • 11:02 - 11:03
    Obrigada.
  • 11:03 - 11:07
    (Aplausos)
Title:
Como um relógio atómico miniaturizado poderá revolucionar a exploração espacial
Speaker:
Jill Seubert
Description:

Perguntem a qualquer navegador do espaço profundo, como Jill Seubert, o que torna tão difícil dirigir uma nave espacial, e dir-vos-ão que é a cronometragem; uma fração de segundo pode decidir o êxito ou o fracasso da missão. Então o que fazer, quando uma nave espacial tem dificuldade em dizer as horas? Damos-lhe um relógio — um relógio atómico, obviamente. Seubert vai espantar-vos com o potencial revolucionário de um futuro em que poderemos receber direções estelares, parecidas com as de um GPS —qualquer que seja o local onde estivermos no universo.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:20

Portuguese subtitles

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