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Fotografar um momento rouba a vossa experiência?

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    Qual o lugar mais belo onde já estiveram?
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    Quando lá estavam, tiraram alguma foto?
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    Este é um local no topo da minha lista.
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    É Mesa Arch, no Utah,
    no Parque Nacional de Canyonlands,
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    ao nascer do sol.
  • 0:17 - 0:21
    É o território tradicional do povo
    de Pueblo, Ute, os Palutes e Navajos.
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    Quando lá estamos,
    é absolutamente deslumbrante.
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    O nascer do sol ilumina
    a base do arco cor de laranja,
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    e, por detrás do arco, vemos
    os "buttes", as nuvens e os penhascos.
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    Mas o que não se vê nesta minha foto
  • 0:34 - 0:38
    são as 30 pessoas por detrás de mim
    que também estavam a tirar fotos.
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    E são só as pessoas mais determinadas,
    que vieram ver o nascer do sol.
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    Quando pensamos nisso,
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    deve haver centenas, se não milhares,
    de fotos do Mesa Arch
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    tiradas todas as semanas.
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    Há anos que partilho
    as minhas fotos no Instagram,
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    e começou a ser muito interessante
    e até mesmo engraçado
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    ver quantas fotos parecidas
    dos mesmos lugares
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    eu comecei a ver "online".
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    E eu participava nisso.
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    Então, isso fez-me pensar:
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    Em primeiro lugar: porque é
    que tiramos fotos?
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    Às vezes, visito um local
    de referência famoso
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    — este é o Horseshoe Bend, no Arizona.
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    Vejo todas as pessoas
    com os telemóveis e as câmaras,
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    a tirarem uma foto
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    e, em seguida, voltam para o carro
    ou voltam para o trilho.
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    Às vezes parece que estamos
    a perder o objetivo
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    de ir a esse local
    para vivê-lo para nós mesmos
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    ou para vê-lo com os nossos olhos.
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    Quando estou atrás da câmara,
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    reparo nos pequenos detalhes:
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    as camadas de luz nas montanhas
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    enquanto a luz se dissipa no fim do dia;
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    as formas que a natureza
    faz tão habilmente,
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    abstratas e, contudo,
    totalmente perfeitas.
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    Eu podia continuar a meditar
    sobre a complexidade deste planeta
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    e como isso me faz sentir.
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    Fotografar a beleza
    e a complexidade deste mundo
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    para mim, é como fazer
    um retrato de alguém que amo.
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    Quando eu tiro uma foto,
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    tenho de pensar no que eu quero
    que ela transmita.
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    Tenho de me perguntar como quero
    que as pessoas a sintam.
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    Quando comunicamos
    através de uma imagem,
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    todas as escolhas criativas
    são importantes.
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    Às vezes, planeio
    partilhar as minhas fotos
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    mas outras vezes, tiro-as apenas para mim.
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    Atualmente, apresento uma série de vídeos
    sobre o futuro dos locais ao ar livre,
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    e num deles quisemos explorar
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    a relação entre a fotografia
    e os espaços ao ar livre.
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    Ouvi falar da investigação
    de Kristin Diehl e seus colegas
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    da Universidade da Califórnia
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    que estudaram o efeito
    de tirar fotos sobre o nosso prazer.
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    Concluíram que,
    quando estamos atrás da câmara,
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    quando somos nós a tirar fotos,
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    desfrutamos mais da experiência,
    e não menos.
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    Mas nem sempre isso é verdade.
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    Se as pessoas tiram uma foto
    só com a intenção de a publicar,
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    não há aumento no prazer,
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    porque não o fizeram para si mesmas.
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    Isso sugere uma diferença importante:
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    as fotografias podem enriquecer
    a nossa experiência
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    se isso for feito intencionalmente.
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    O importante é a intenção.
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    Como fotógrafa, eu tive
    de me interrogar sobre isso.
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    Quando é que me ajuda ter a minha câmara?
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    Quando preciso de a pôr de lado?
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    Numa vagem ao Alasca,
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    tive a oportunidade de fotografar
    os ursos-pardos do Alasca.
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    Eu estava num barco
    com outros quatro fotógrafos
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    e todos nós ficámos impressionados

    ao mesmo tempo
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    por estarmos tão próximos desses animais.
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    É uma experiência emocionante.
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    Estar cara a cara com aqueles ursos
    deu-me uma sensação de interligação
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    que vai para além das palavras.
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    Nessa altura, ter a câmara comigo
    intensificou tudo isso.
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    Estávamos todos a criar, independentemente
    mas totalmente naquele momento,
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    tanto com a Natureza
    como uns com os outros.
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    Lembro-me nitidamente
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    de fotografar as gotas de água
    e o movimento dos ursos a nadar
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    e os filhotes fofos atrás das mães.
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    Aquele grupo e eu
    teremos todos essa experiência
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    e essas imagens para recordar
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    vezes sem conta
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    e é a fotografia
    que nos permite partilhar isso.
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    Outras vezes, eu prefiro
    pôr a câmara de lado
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    e penso que essa escolha melhora
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    tanto a minha experiência
    como o meu trabalho.
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    Recentemente fui à ilha de Tonga,
    no sul do Pacífico
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    para nadar com as baleias jubarte.
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    Reparei que me sentia pressionada
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    e de certa forma obrigada
    a levar a câmara comigo,
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    quando, por vezes, só queria
    uma experiência pura.
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    E essa experiência é realmente incrível.
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    Estou a falar de estar dentro da água
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    com um filhote curioso
    do tamanho de uma carrinha,
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    rodeada de partículas que flutuam
    à nossa volta a brilhar,
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    com a mãe a nadar graciosamente
    por baixo de nós.
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    Houve momentos, obviamente,
    que levei a câmara comigo
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    e esses momentos
    também foram incríveis de captar.
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    mas a instalação é imponente.
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    É como uma caixa grande.
    É este o aspeto que tem.
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    Então isto é entre mim e as baleias,
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    e às vezes parece uma barreira
    entre nós e a realidade.
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    Será diferente
    quando é apenas o telemóvel?
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    No ano passado, fui a Uluru
    na Austrália Central,
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    que é esta rocha gigantesca
    que se eleva no meio do deserto.
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    Esta terra é sagrada para os Anangus
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    que são os aborígenes desta região
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    e os donos tradicionais do território.
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    Há pontos específicos em Uluru
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    que não se podem fotografar
    profissionalmente,
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    porque são culturalmente delicados.
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    Para os Anangus são equivalentes
    às sagradas escrituras.
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    Por isso, a maioria das minhas fotos
    ou são de longe, como esta aqui,
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    ou de ângulos específicos no parque.
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    Pode dizer-se que algumas das vistas
    mais bonitas e interessantes de Uluru
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    estão situadas nessas áreas delicadas,
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    mas o pedido para não as fotografar
    torna-se um convite explícito e direto
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    para aprender mais sobre a terra,
    a sua importância e o seu povo.
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    Não é o que devíamos
    fazer de qualquer forma?
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    A minha visita a Uluru rapidamente
    deixou de ser sobre mim,
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    e passou a ser
    a minha ligação com o local.
  • 5:51 - 5:53
    Ironicamente e sem surpresa
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    descobri que a presença e a ligação
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    também contribuem para tirar
    fotos mais fascinantes.
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    Todos nós podemos indicar as redes sociais
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    como um bom lugar para partilhar
    fotos das nossas viagens e da nossa vida.
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    Não só partilhamos
    partes do mundo que já vimos,
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    como também partes das nossas
    experiências do dia a dia.
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    E se aplicarmos a intencionalidade
    nas fotos que tiramos,
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    com alguma sorte, também
    partilhamos essa intenção.
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    Para mim, permitir que as pessoas vejam
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    pedaços da minha história
    e da minha perspetiva "online"
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    fez-me lembrar que não estou sozinha.
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    Ajudou-me a criar apoio e uma comunidade
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    para fazer o mesmo pelos outros.
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    Vou ser clara.
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    Não estou a tentar
    desencorajar-vos de tirar fotos.
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    Apesar de milhares de pessoas
    terem ido a um local qualquer
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    e terem tirado exatamente a mesma foto,
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    eu encorajo-vos a sair e a criar também.
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    O mundo precisa de todas as vozes
    e de todas as perspetivas,
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    incluindo a vossa voz.
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    Mas o que estou a tentar mostrar
    é que a câmara ou o telemóvel
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    não precisam de estar sempre a postos.
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    O que estou a tentar encorajar-vos a fazer
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    é pô-los de lado, só por instantes,
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    um instante para vocês.
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    Voltemos à Mesa Arch,
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    ao modo como a rocha
    cintila cor de laranja
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    e às belas camadas de azul ao fundo.
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    E se da próxima vez
    que forem a algum local maravilhoso,
  • 7:13 - 7:15
    não puderem levar a câmara ou o telemóvel?
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    E se não for permitido
    tirar nenhuma fotografar?
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    Sentir-se-iam limitados?
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    Ou sentir-se-iam aliviados?
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    Então o que podemos fazer?
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    Da próxima vez que sentirem o impulso
    de pegarem na câmara ou no telemóvel,
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    ou, como no meu caso,
    quando perceberem que já pegaram nele...
  • 7:33 - 7:34
    (Risos)
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    Primeiro: parem.
  • 7:36 - 7:37
    Façam uma pausa.
  • 7:38 - 7:39
    Respirem fundo.
  • 7:40 - 7:43
    Olhem à vossa volta.
    Em que é que reparam?
  • 7:44 - 7:47
    Estão a viver esse momento
    com mais alguém?
  • 7:47 - 7:50
    Lembrem-se que esse momento
    só acontece uma vez.
  • 7:50 - 7:53
    A fotografia pode fazer parte
    de uma bonita experiência.
  • 7:53 - 7:56
    Mas não deixem que seja
    um bloqueio entre vocês e a realidade.
  • 7:56 - 7:58
    Sejam intencionais
  • 7:58 - 8:02
    e não percam uma recordação
    bela e insubstituível,
  • 8:02 - 8:05
    por terem estado demasiado
    concentrados em tirar a foto.
  • 8:05 - 8:06
    Obrigada.
  • 8:06 - 8:09
    (Aplausos)
Title:
Fotografar um momento rouba a vossa experiência?
Speaker:
Erin Sullivan
Description:

Quando testemunhamos algo incrível, muitos de nós instintivamente pegamos no telemóvel e tiramos uma foto. Essa obsessão em fotografar tudo interfere com as nossas experiências? Numa palestra meditativa, Erin Sullivan reflete como ser mais intencional com as lentes melhoraram a sua capacidade de aproveitar o momento — e também poderá ajudar-nos a fazer o mesmo.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:23

Portuguese subtitles

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