O sexo na Idade Média - Nota Bene # 29
-
0:00 - 0:02Caros camaradas, bom dia!
-
0:02 - 0:05Atenção, este episódio pode conter
afirmações ou imagens -
0:05 - 0:07que os menores de 18 anos não devem ver.
-
0:07 - 0:09Enfim, eu tinha que dizer isto.
-
0:09 - 0:12Pelo menos, estão avisados,
hoje vamos falar de sexo. -
0:13 - 0:15E como o sexo é melhor com mais gente,
-
0:15 - 0:17apresento-vos Laurent Turcot,
um historiador de Quebec -
0:17 - 0:20que já participou
em diversos episódios deste canal. -
0:20 - 0:24Laurent Turcot: Olá Ben. Queres dizer
que vamos fazer isto os dois... -
0:24 - 0:25quer dizer, a cápsula?
-
0:25 - 0:30Bom, quanto ao resto,
podemos dar um jeito, se quiseres. -
0:32 - 0:34B: OK. Com o teu sotaque de Quebec,
-
0:34 - 0:37de certeza que vamos obter
muitos likes e comentários. -
0:40 - 0:43[O sexo na Idade Média]
-
0:44 - 0:45Quando pensamos na Idade Média,
-
0:46 - 0:49temos sempre esta imagem
duma época sombria, bárbara, casta... -
0:49 - 0:52Mas, se são habitués das minhas emissões
-
0:52 - 0:54sabem que conta-se muita porcaria
sobre este período -
0:54 - 0:57e que há uma imensidade
de preconceitos a deitar abaixo. -
0:57 - 1:01Por exemplo, não há qualquer prova
da existência do direito de pernada, -
1:01 - 1:03O cinto de castidade também é um mito.
-
1:03 - 1:06Quanto ao sexo,
se a Idade Média, em princípio, -
1:06 - 1:08se baseia num bom comportamento,
-
1:08 - 1:10como devem imaginar,
também era razão de divertimento. -
1:10 - 1:15LT: Aliás, a perceção de sexo
e das relações evolui durante os mil anos -
1:15 - 1:17que dura a Idade Média.
-
1:17 - 1:20Por exemplo, embora a religião
seja muito estrita -
1:20 - 1:25quanto às regras que regulam o sexo
antes do casamento, -
1:25 - 1:30e, até este período, os padres
tinham o direito de viver como casal, -
1:30 - 1:34e até havia quem se casasse.
-
1:34 - 1:39Só em 1139 o casamento
foi proibido aos padres, -
1:39 - 1:43mas não porque não se quisesse vê-los
com mulheres, nada disso, -
1:44 - 1:49mas porque se queria que a herança deles
revertesse para a Igreja. -
1:49 - 1:53A caridade bem orientada
por nós é começada. -
1:54 - 1:57B: Vocês dirão que estamos aqui
para falar de sexo, não de casamento. -
1:57 - 1:59LT: Reembolsem! E já!
-
1:59 - 2:00B: OK, OK. Voltemos ao tema.
-
2:00 - 2:04Entre aqueles que vão determinar
a arte de os piedosos terem prazer -
2:04 - 2:06na Idade Média, os médicos
vão ter uma influência decisiva. -
2:06 - 2:09Entre eles, Avicena,
o célebre médico persa -
2:09 - 2:12que influencia, no século XIII,
toda uma área da medicina ocidental -
2:12 - 2:14com a sua famosa obra
"Cânone da Medicina". -
2:14 - 2:18Para ele, o coito é uma coisa útil
para a saúde física... e mental. -
2:18 - 2:23Melhor ainda, ele fala duma certa arte
erótica, por uma razão muito simples: -
2:23 - 2:25a mulher, quando tem prazer,
produz um esperma, -
2:25 - 2:28e é através da mistura
do esperma masculino e feminino -
2:28 - 2:29que se cria a vida.
-
2:29 - 2:31Era o que se acreditava na época.
-
2:31 - 2:34Assim, para garantir que a mulher
produzisse o tal esperma, -
2:34 - 2:36ela devia sentir o máximo de prazer.
-
2:36 - 2:39LT: Vários médicos
vão dar uma série de conselhos -
2:39 - 2:44relativos ao estímulo erótico da mulher,
-
2:44 - 2:49colocando a questão dos preliminares
no centro da sua reflexão. -
2:49 - 2:51Tudo isso pressupõe um certo conhecimento
-
2:51 - 2:53das zonas erógenas da mulher.
-
2:53 - 2:54Quando a mulher não sente prazer
-
2:54 - 2:57e se o parceiro experimenta
dificuldades em lá chegar, -
2:57 - 2:59aconselha-se o homem a deitar-se de costas
-
2:59 - 3:02e a mulher a acariciar os órgãos genitais
para facilitar a ereção. -
3:02 - 3:04Oh! O mínimo que podemos dizer
-
3:04 - 3:09é que os textos médicos,
em especial o de Jean de Gaddesden, -
3:09 - 3:13sugerem um conhecimento
do erotismo bastante evidente. -
3:13 - 3:17Para ele, os beijos
tanto servem o aspeto mental -
3:17 - 3:19— estimular o amor
que sentimos pelo outro — -
3:19 - 3:22como a mecânica do assunto,
-
3:22 - 3:25se é que percebem o que eu digo.
-
3:25 - 3:28B: Em certas obras, vai-se mais longe,
muito mais longe mesmo. -
3:28 - 3:31O "Miroir du Foutre",
uma obra anónima do século XIV, -
3:31 - 3:34é considerado o Kamasutra catalão.
-
3:34 - 3:36É dirigido tanto ao homem como à mulher,
-
3:36 - 3:39e como pretendemos o vosso bem,
é o que vai acontecer. -
3:39 - 3:41Seja por que meio for. Compreendido?
-
3:41 - 3:44Vamos lá então ao "Miroir du Foutre".
-
3:44 - 3:48LT: Saibam que, segundo
esta obra do século XIV, -
3:48 - 3:52a vida da mulher comporta
cinco grandes períodos: -
3:52 - 3:571. A infância, até aos oito anos,
-
3:57 - 3:59em que ela não sente qualquer vergonha.
-
3:59 - 4:032. Até aos 20 anos,
ela mostra-se mais reservada. -
4:03 - 4:063. Até aos 30 anos e um pouco mais,
-
4:06 - 4:10está formada e dispõe
de tudo aquilo de que precisa. -
4:10 - 4:144. Até aos 40 anos,
ela gosta mais dos homens, -
4:14 - 4:19cuida do seu aspeto
e gosta de observar. -
4:19 - 4:24Por fim, 5. Até que deixa
de ter menstruação, -
4:24 - 4:29lemos que "a visão e os calores diminuem
as carnes relaxam, -
4:29 - 4:33"mas mantém-se muito útil para o homem."
-
4:33 - 4:35B: E já que aqui estamos, também lemos
-
4:35 - 4:39"a mulher é muito volúvel, porque tem
as regras todos os meses -
4:39 - 4:42"e digo isto para que saibam
em que momento ela sente prazer -
4:42 - 4:45"e quando ela satisfaz melhor
a sua vontade e o seu desejo." -
4:46 - 4:48LT: Quanto aos homens, ficamos a saber
-
4:48 - 4:51que, para produzirem
um esperma de primeira qualidade, -
4:51 - 4:54é preciso ter uma verga grande e rígida,
-
4:54 - 4:58não ser muito grossa nem muito delgada.
-
4:58 - 4:59B: Agora, quanto às posições.
-
4:59 - 5:02A mais simples: a mulher deita-se
numa cama macia, -
5:02 - 5:04e o homem põe-se em cima dela.
-
5:04 - 5:06Esperem, ainda não acabou.
-
5:06 - 5:10Ela deve ter as pernas levantadas
e a cabeça o mais elevada possível. -
5:10 - 5:13O homem deve pôr a mão esquerda
sob os ombros dela -
5:13 - 5:16enquanto que, com a mão direita,
a enlaça e a aproxima o mais possível. -
5:16 - 5:21LT: O mínimo que podemos dizer
é que é muito preciso. -
5:21 - 5:25B: É chato não estarmos na mesma sala
porque podíamos exemplificar. -
5:26 - 5:27LT: Hum... não.
-
5:27 - 5:31B: Ainda não acabou. Descrevem-se
nada menos de 24 posições -
5:31 - 5:33todas elas classificadas
em cinco rubricas. -
5:33 - 5:35É coisa para grande fadiga
para um homem e uma mulher -
5:36 - 5:37e calha bem, Catarina Sforza,
-
5:37 - 5:40nas suas Experimentações, indica
a forma de "reparar" os órgãos -
5:40 - 5:42que forem utilizados demasiadas vezes.
-
5:42 - 5:46LT: A maior parte das vezes, exercícios
para, conforme ela escreve, -
5:46 - 5:49"uma mulher parecer intacta
e se manter muito estreita"! -
5:49 - 5:52B: Nesta altura, perguntarão:
"E a Igreja, o que diz a isso?" -
5:52 - 5:54Ela reconhece que a sexualidade
é necessária -
5:54 - 5:57mas tenta limitá-la à procriação.
-
5:57 - 6:00LT: Dois limites impedem um casal
de a gozar como lhes apetecer. -
6:00 - 6:04O primeiro, bastante lógico, tem a ver
com o ciclo menstrual da mulher. -
6:04 - 6:08O segundo, tem a ver
com o ciclo litúrgico. -
6:08 - 6:11Os esposos devem abster-se
de relações sexuais ao domingo. -
6:11 - 6:13B: É o dia de descanso do Senhor.
-
6:13 - 6:16LT: Além disso,
a quarta-feira e a quinta-feira -
6:16 - 6:19são dias de luto, portanto
as relações são interditas. -
6:19 - 6:22Ah e, como é preciso preparar o domingo,
-
6:22 - 6:25o conselho é de se abster
também ao sábado. -
6:26 - 6:30Juntemos também as três quaresmas,
cada uma de 40 dias cada, -
6:30 - 6:33antes do Natal, da Páscoa
e do Pentecostes. -
6:33 - 6:35B: Acho que nos viram
as coisas ao contrário. -
6:35 - 6:37LT: Segundo as estimativas,
-
6:37 - 6:40se o casal respeitasse
todos os preceitos da Igreja -
6:40 - 6:42só conseguiria fazer festas
de pernas no ar -
6:42 - 6:46entre 91 a 113 dias por ano.
-
6:48 - 6:50B: A grande questão:
toda a gente respeitava isso? -
6:50 - 6:52Sim e não.
-
6:52 - 6:55Não, porque alguns
inclinavam-se para o prazer -
6:55 - 7:00e sim, porque a não observância podia
atirar a falta dos pais para os filhos. -
7:00 - 7:02Ameaça-se os casais de trazer ao mundo
-
7:02 - 7:04leprosos, epiléticos ou crianças
com membros disformes. -
7:04 - 7:07A falta dos pais ficaria impressa
no corpo da sua progenitura. -
7:07 - 7:12LT: Bernardino de Siena levanta a questão
da procura incessante do prazer, e diz: -
7:12 - 7:16"Os maridos dizem com frequência:
-
7:16 - 7:21" 'Porque não hei de gozar
dos meus bens e da minha mulher?' " -
7:21 - 7:22E Bernardino responde:
-
7:22 - 7:25"Ela não é tua, pertence a Deus."
-
7:25 - 7:27B: Mas, apesar disso,
a coisa é tolerada -
7:27 - 7:29e sabe-se que a sexualidade
é um mal necessário. -
7:30 - 7:33A Igreja acaba por pôr o prazer
masculino acima do prazer feminino. -
7:33 - 7:35Globalmente, até ao século XII,
-
7:35 - 7:37a única posição oficialmente
reconhecida e autorizada -
7:37 - 7:41é a do missionário, porque é considerada
como a melhor para a reprodução. -
7:41 - 7:45Isso aligeira-se um pouco mais tarde,
mas aquela que será sempre condenada -
7:45 - 7:48é a posição a que se chamou
a posição do "cavalo erótico". -
7:48 - 7:52LT: Oh, a partir de agora
é assim que lhe vou chamar. -
7:52 - 7:55B: Estudando certos textos judiciais,
chega-se à conclusão -
7:55 - 7:59de que o que é horrível e condenável
na época é a sodomia. -
7:59 - 8:03E aí, mete-se tudo... sem querer
fazer trocadilhos. -
8:03 - 8:07Ou seja, para além da sodomia clássica,
fala-se também de felácio, por exemplo. -
8:07 - 8:10E o que é divertido nisto tudo
é que, se os homens das leis -
8:10 - 8:13foram obrigados a descrevê-lo na época,
-
8:13 - 8:15é que isso é uma prova de que existia.
-
8:15 - 8:19LT: Aliás, segundo Burchard de Worms,
um religioso jurista do século X, -
8:19 - 8:23determinadas mulheres desejando simular
o desejo amoroso de um homem -
8:23 - 8:25não hesitam em beber o seu esperma.
-
8:26 - 8:28Sim, ouviram bem, beber o seu esperma.
-
8:28 - 8:30B: Se ele o diz, é porque é verdade.
-
8:30 - 8:32LT: Sempre segundo Worms,
determinadas mulheres -
8:32 - 8:35agarram num peixe vivo,
introduzem-no no sexo, -
8:35 - 8:38e mantêm-no lá até ele morrer.
-
8:38 - 8:43Depois de o cozer e grelhar,
dão-no a comer ao marido -
8:43 - 8:47para ele se inflamar mais por ela.
-
8:47 - 8:49B: Sim... é mesmo quente...
-
8:49 - 8:52Seja como for, a sexualidade
mantém-se bem presente na Idade Média -
8:53 - 8:58e há quem esteja preparado para tudo
para atrair o desejo de outrém. -
8:58 - 9:00Incluindo pedir dinheiro.
-
9:00 - 9:02Sim, porque, quando falamos de sexo,
-
9:02 - 9:04dificilmente podemos
esquecer a prostituição. -
9:04 - 9:07Porque, se a sodomia e a felácio
são um pecado para a Igreja, -
9:07 - 9:10há outra coisa que também não é perdoada.
-
9:10 - 9:11É a masturbação
-
9:11 - 9:13Assim, encorajam-se os homens
-
9:13 - 9:16a preferir a prostituta da esquina
em vez do calor da própria mão, -
9:16 - 9:18mesmo quando se é casado.
-
9:18 - 9:21Aliás, há uma frase que aparece
com frequência, quando se fala nisso: -
9:21 - 9:23"Gozar pagando é gozar sem pecar".
-
9:23 - 9:25LT: Quando as cidades explodem,
no século XII, -
9:26 - 9:28aparecem numerosos bordéis.
-
9:28 - 9:31Os homens vão lá aliviar-se,
os jovens aprender, -
9:31 - 9:34e os homens da Igreja aproveitar um pouco,
-
9:34 - 9:38porque representam,
por vezes, 20% da clientela. -
9:38 - 9:41Sim, 20% da clientela.
-
9:41 - 9:43B: Os marotos!
-
9:43 - 9:48LT: Estes bordéis são casas fechadas
clássicas geridas por proxenetas, -
9:48 - 9:53ou banhos públicos que, com frequência,
são locais de deboche ou de sexo, -
9:54 - 10:00diretamente abertos na cidade,
que existem entre os séculos XIV e XVI. -
10:00 - 10:04Sim, se controlarmos a atividade,
ela é mais bem gerida -
10:04 - 10:07e evita-se ser-se ultrapassado.
-
10:07 - 10:11B: Também é interessante ver
que a tolerância com as prostitutas, -
10:11 - 10:13é muito flutuante durante a Idade Média.
-
10:13 - 10:16Há indícios que atestam o facto
de que elas podiam estar tranquilas -
10:16 - 10:18e, por vezes, até eram ajudadas
em abortos, -
10:18 - 10:20durante outros períodos,
eram estigmatizadas, -
10:20 - 10:23privadas dos seus bens e obrigadas
a usar sinais distintivos. -
10:23 - 10:26Uma coisa gira é que, ao contrário
das mulheres de boas maneiras, -
10:26 - 10:29estavam proibidas de usar véu.
-
10:29 - 10:30Estão a imaginar?
-
10:30 - 10:33Obrigado a todos
por terem seguido este episódio. -
10:33 - 10:36Se vos agradou, não hesitem em visitar
o canal YouTube de Laurent Turcot, -
10:36 - 10:38"L'Histoire nous le dira".
-
10:38 - 10:41É uma pérola e ele produz imensos vídeos.
-
10:41 - 10:43Obrigado, Laurent,
por me teres acompanhado. -
10:43 - 10:45Quem sabe, talvez venhamos a fazer outros.
-
10:45 - 10:46LT: Obrigado, Ben.
-
10:46 - 10:48Venham ver-me, se quiserem!
-
10:48 - 10:53E, Ben, na próxima, fazemos uma coisa
sobre o Quebec! Por favor! -
10:53 - 10:55B: OK, mas tu pagas-me o bilhete de avião.
-
11:12 - 11:14Tradução de Margarida Ferreira
- Title:
- O sexo na Idade Média - Nota Bene # 29
- Description:
-
A Idade Média, um período sombrio, chato, bárbaro, casto? Nem por isso! Quando se trata de sexo, até os monges não douram a pílula. Neste 29.º episódio de Nota Bene descubram os prazeres do sexo na Idade Média e como a Igreja tentava controlá-los. Estados dos costumes, superstições, posições, bordéis... um episódio escaldante para partilhar sem moderação!
- Video Language:
- French
- Duration:
- 11:26
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Le sexe au Moyen-âge - Nota Bene #29 |