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Para melhores cuidados na área de saúde, aceitem a irracionalidade

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    Estamos em abril de 2007
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    e Jon Corzine, o governador de Nova Jersey
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    tem um acidente de viação horrível.
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    Está no banco do passageiro
    da frente de um SUV
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    quando tem um acidente
    na Garden State Parkway.
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    É transportado para um centro
    de trauma de Nova Jersey
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    com vários ossos partidos
    e muitas lacerações.
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    Precisa de uma operação imediata,
    sete unidades de sangue,
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    um ventilador mecânico
    para o ajudar a respirar
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    e diversas outras operações posteriores.
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    É espantoso ele ter sobrevivido.
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    Mas talvez ainda mais espantoso
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    era ele estar sem cinto de segurança.
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    Na verdade, ele nunca usava
    cinto de segurança.
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    Os agentes da polícia de Nova Jersey
    que conduziam o Governador Corzine
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    costumavam pedir-lhe para pôr o cinto
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    mas ele não o punha.
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    Antes de Corzine ser governador
    de Nova Jersey
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    tinha sido senador de Nova Jersey
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    e antes disso, tinha sido
    o CEO da Goldman Sachs,
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    responsável pela oferta pública
    da Goldman Sachs,
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    que lhe rendeu centenas
    de milhões de dólares.
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    Independentemente do que vocês
    achem das políticas dele
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    ou sobre como ele ganhou dinheiro,
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    ninguém diria que ele era estúpido.
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    Mas ali estava ele,
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    um passageiro sem cinto
    num acidente de viação,
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    numa época em que todos os americanos
    sabem que os cintos salvam vidas.
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    Esta história mostra uma fraqueza básica
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    na nossa abordagem para melhorar
    os comportamentos de saúde.
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    Quase tudo o que dizemos aos médicos
    e tudo o que dizemos aos pacientes
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    baseia-se na ideia de que
    nos comportamos racionalmente.
  • 1:25 - 1:29
    Se me derem informações, eu processo
    essas informações na minha cabeça
  • 1:29 - 1:32
    e, como resultado,
    o meu comportamento mudará.
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    Jon Corzine não sabia
    que os cintos de segurança salvam vidas?
  • 1:35 - 1:37
    Acham que ele não recebeu
    o memorando?
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    (Risos)
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    Jon Corzine não tinha
    nenhum défice de conhecimento
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    tinha um défice de comportamento.
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    Não é que ele não soubesse.
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    Ele sabia muito bem.
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    Mas não agia como devia.
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    Penso que a mente é uma via
    de alta resistência.
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    Mudar a mente de alguém
    com informações já é muito difícil.
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    Mudar o comportamento de alguém
    com informações
  • 2:02 - 2:04
    ainda é mais difícil.
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    A única maneira de podermos fazer
    melhorias substanciais
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    na saúde e nos cuidados de saúde
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    é fazendo melhorias substanciais
    no comportamento e nos cuidados de saúde.
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    Se alguém acertar no meu tendão patelar
    com um martelo de reflexos,
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    a minha perna salta para a frente
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    e salta para a frente mais
    depressa e mais previsivelmente
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    do que eu tenho tempo para pensar.
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    É um reflexo.
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    Precisamos de procurar os reflexos
    comportamentais equivalentes
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    e basear os cuidados de saúde neles.
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    Mas acontece
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    que a maioria das abordagens
    convencionais à motivação humana
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    baseiam-se na ideia de educação.
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    Assumimos que, se as pessoas
    não se portam como deviam,
  • 2:44 - 2:46
    é porque não sabiam.
  • 2:46 - 2:50
    "Se as pessoas soubessem
    como é perigoso fumar, não fumavam."
  • 2:50 - 2:52
    Ou, pensamos na economia.
  • 2:52 - 2:55
    Presumimos que estamos todos
    sempre a calcular
  • 2:55 - 2:57
    os custos e os benefícios
    de cada uma das nossas ações,
  • 2:57 - 3:02
    a tentar otimizá-las para tomar a decisão
    mais correta e racional possível.
  • 3:02 - 3:04
    Se isso fosse verdade,
    bastaria encontrar
  • 3:04 - 3:06
    o sistema perfeito
    de remuneração para os médicos
  • 3:06 - 3:09
    ou as prestações e as deduções
    perfeitas para os doentes.
  • 3:09 - 3:10
    e tudo correria bem.
  • 3:10 - 3:14
    Uma abordagem melhor está
    na economia comportamental.
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    Os economistas comportamentais
    reconhecem que somos irracionais.
  • 3:18 - 3:20
    As nossas decisões baseiam-se em emoções,
  • 3:20 - 3:23
    ou se elas são sensíveis ao enquadramento
    ou ao contexto social.
  • 3:23 - 3:27
    Nem sempre fazemos o que é
    do nosso interesse a longo prazo.
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    Mas a contribuição principal
    para a economia comportamental
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    não é reconhecer que somos irracionais,
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    é reconhecer que somos irracionais
    de formas altamente previsíveis.
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    Na verdade, é a previsibilidade
    de nossas fraquezas psicológicas
  • 3:40 - 3:43
    que nos permite elaborar
    estratégias para superá-las.
  • 3:43 - 3:46
    Avisar é prevenir.
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    Na verdade, os economistas
    comportamentais
  • 3:48 - 3:52
    usam esses mesmos comportamentos
    reflexos que nos causam problemas
  • 3:52 - 3:54
    e alteram-nos para nos ajudarem
  • 3:54 - 3:56
    em vez de nos prejudicarem.
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    Vemos a irracionalidade a funcionar
  • 3:59 - 4:01
    numa coisa chamada
    "preconceito do presente",
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    em que os resultados à nossa frente
    são muito mais motivadores
  • 4:05 - 4:09
    do que os resultados futuros
    ainda mais importantes
  • 4:10 - 4:13
    Se eu estiver de dieta
    — eu estou sempre de dieta —
  • 4:13 - 4:14
    (Risos)
  • 4:14 - 4:19
    e alguém me oferecer
    um tentador bolo de chocolate,
  • 4:19 - 4:22
    eu sei que não devia comer
    esse bolo de chocolate.
  • 4:22 - 4:27
    Esse bolo vai ficar naquela parte
    do meu corpo — permanentemente —
  • 4:27 - 4:29
    onde esse tipo de comida
    normalmente se aloja.
  • 4:29 - 4:32
    Mas o bolo de chocolate
    parece tão bom e tão delicioso
  • 4:32 - 4:33
    e está mesmo à minha frente
  • 4:34 - 4:36
    que a dieta pode esperar até amanhã.
  • 4:36 - 4:38
    Eu adorava o comediante Steven Wright.
  • 4:38 - 4:41
    Ele tinha aquelas saídas zen.
  • 4:40 - 4:42
    A minha favorita era:
  • 4:42 - 4:44
    "O trabalho duro dá frutos no futuro
  • 4:44 - 4:47
    "mas a preguiça dá frutos agora mesmo."
  • 4:47 - 4:48
    (Risos)
  • 4:48 - 4:51
    Os doentes também sofrem
    do preconceito do presente
  • 4:51 - 4:53
    Se tivermos pressão arterial alta,
  • 4:53 - 4:56
    mesmo que queiramos evitar
    desesperadamente um enfarte
  • 4:56 - 4:58
    e sabemos que tomar
    medicação anti-hipertensiva
  • 4:59 - 5:01
    é uma das melhores formas
    de reduzir esse risco,
  • 5:01 - 5:06
    o enfarte que evitamos pertence ao futuro
    e tomar os medicamentos está no presente.
  • 5:06 - 5:11
    Quase metade dos pacientes que tomam
    comprimidos para a tensão alta
  • 5:11 - 5:13
    deixam de os tomar ao fim de um ano.
  • 5:13 - 5:15
    Pensem em quantas vidas podíamos salvar
  • 5:15 - 5:19
    se conseguíssemos resolver
    somente este problema.
  • 5:20 - 5:24
    Também temos tendência a sobrevalorizar
    o valor de pequenas possibilidades.
  • 5:24 - 5:27
    Isto explica porque é
    que as lotarias são tão populares,
  • 5:27 - 5:30
    apesar de as possibilidades
    de retorno serem tão pequenas.
  • 5:30 - 5:32
    Alguns de vocês talvez joguem na lotaria
  • 5:32 - 5:35
    — é divertido, há a hipótese
    de ficarem ricos...
  • 5:35 - 5:36
    Mas sejamos sinceros:
  • 5:36 - 5:40
    isso seria uma péssima forma de investir
    as nossas poupanças para a reforma.
  • 5:40 - 5:44
    Uma vez vi um autocolante num carro
    que dizia — e não estou a inventar:
  • 5:44 - 5:48
    "As lotarias são um imposto especial
    para quem não sabe fazer contas."
  • 5:48 - 5:50
    (Risos)
  • 5:50 - 5:52
    Não é que não saibamos fazer as contas,
  • 5:52 - 5:55
    é que não sentimos as contas.
  • 5:55 - 5:58
    Também prestamos
    muita atenção ao arrependimento.
  • 5:58 - 6:01
    Todos odiamos a sensação
    de não participar.
  • 6:01 - 6:04
    Houve recentemente uma lotaria,
    uma mega loteria,
  • 6:04 - 6:07
    que tinha um prémio enorme,
    mais de mil milhões de dólares.
  • 6:07 - 6:10
    E todos no meu escritório
    se juntaram para comprar bilhetes,
  • 6:10 - 6:12
    mas eu não me juntei.
  • 6:12 - 6:14
    E lá estava eu, às voltas no escritório:
  • 6:14 - 6:17
    "As lotarias são um imposto especial
    para quem não faz contas."
  • 6:17 - 6:18
    (Risos)
  • 6:18 - 6:20
    E depois percebi:
  • 6:20 - 6:23
    "Oh oh. E se eles ganharem?"
  • 6:23 - 6:25
    (Risos)
  • 6:25 - 6:27
    "Vou ser o único a aparecer
    para trabalhar amanhã."
  • 6:27 - 6:28
    (Risos)
  • 6:28 - 6:31
    Não é que eu não quisesse
    que os meus colegas ganhassem.
  • 6:31 - 6:33
    Só não queria que ganhassem sem mim.
  • 6:34 - 6:37
    Teria sido mais fácil
    pôr uma nota de 20 dólares
  • 6:37 - 6:39
    no triturador de papel
  • 6:39 - 6:41
    porque os resultados seriam os mesmos.
  • 6:41 - 6:43
    Mesmo sabendo que não devia participar,
  • 6:43 - 6:46
    dei-lhes a nota de 20 dólares
  • 6:46 - 6:48
    e nunca mais a vi.
  • 6:48 - 6:50
    (Risos)
  • 6:50 - 6:53
    Fizemos muitas experiências com pacientes
  • 6:53 - 6:56
    em que lhes damos
    frascos de comprimidos eletrónicos
  • 6:56 - 6:59
    para vermos se eles estão
    a tomar o medicamento ou não.
  • 6:59 - 7:01
    E recompensamo-los com um prémio.
  • 7:02 - 7:03
    Eles ganham prémios.
  • 7:03 - 7:06
    Mas só ganham prémios
  • 7:06 - 7:08
    se tiverem tomado os medicamentos
    no dia anterior.
  • 7:08 - 7:12
    Se não tomaram, recebem uma mensagem
    que diz qualquer coisa como:
  • 7:12 - 7:13
    "Você podia ter ganho cem dólares
  • 7:13 - 7:16
    "mas como ontem não tomou
    o medicamento, não ganha."
  • 7:16 - 7:19
    Bem, os pacientes odeiam isto.
  • 7:19 - 7:21
    Odeiam a sensação de perderem algo
  • 7:21 - 7:24
    e, como conseguem antecipar
    aquele sentimento de arrependimento
  • 7:24 - 7:25
    e querem evitá-lo,
  • 7:26 - 7:28
    ficam mais propensos
    a tomarem os medicamentos.
  • 7:28 - 7:32
    Aproveitar esse sentimento
    de odiar arrepender-se, funciona.
  • 7:32 - 7:35
    E leva-nos ao ponto mais importante:
  • 7:35 - 7:38
    quando reconhecemos
    que as pessoas são irracionais,
  • 7:38 - 7:42
    ficamos numa posição
    muito melhor para as ajudar.
  • 7:42 - 7:47
    Este tipo de irracionalidade funciona
    até nos lavabos masculinos.
  • 7:47 - 7:52
    Para quem não frequenta urinóis públicos,
  • 7:52 - 7:54
    vou explicar como funciona.
  • 7:54 - 7:55
    (Risos)
  • 7:55 - 7:57
    O chão está cheio de urina.
  • 7:57 - 7:59
    (Risos)
  • 7:59 - 8:02
    Parece que se consegue
    resolver este problema
  • 8:02 - 8:06
    gravando a imagem de uma mosca
    no fundo do urinol.
  • 8:06 - 8:09
    (Risos) (Aplausos)
  • 8:09 - 8:11
    E faz todo o sentido.
  • 8:11 - 8:12
    (Risos)
  • 8:12 - 8:16
    Se eu vir uma mosca,
    vou querer apanhá-la.
  • 8:16 - 8:19
    (Risos)
  • 8:19 - 8:21
    Aquela mosca vai descer
  • 8:21 - 8:23
    (Risos)
  • 8:23 - 8:26
    Isto faz-nos perguntar porque é
    que, se os homens sabem fazer pontaria,
  • 8:26 - 8:29
    porque é que urinam no chão?
  • 8:29 - 8:32
    Se vão urinar para o chão, porque é
    que se põem em frente do urinol?
  • 8:32 - 8:34
    Podem urinar em qualquer lugar.
  • 8:34 - 8:35
    (Risos)
  • 8:35 - 8:38
    A mesma coisa acontece
    nos cuidados de saúde.
  • 8:39 - 8:41
    Tivemos um problema no nosso hospital
  • 8:41 - 8:45
    em que os médicos
    receitavam medicamentos de marca
  • 8:45 - 8:48
    quando havia medicamentos
    genéricos disponíveis.
  • 8:48 - 8:51
    Cada uma destas linhas no gráfico
    representa um medicamento diferente.
  • 8:51 - 8:54
    Estão organizados pela frequência
    com que são receitados
  • 8:54 - 8:56
    como medicamentos genéricos.
  • 8:56 - 8:59
    Os que estão no topo são receitados
    100% das vezes como genéricos.
  • 8:59 - 9:02
    Os que estão em baixo
    são receitados como genéricos
  • 9:02 - 9:03
    menos de 20% das vezes.
  • 9:03 - 9:07
    Tivemos reuniões com clínicos
    e todo o tipo de sessões educativas
  • 9:07 - 9:08
    e nada funcionou
  • 9:08 - 9:11
    — todas as linhas são
    praticamente horizontais.
  • 9:11 - 9:14
    Até que alguém instalou
    um pequeno item de "software"
  • 9:14 - 9:16
    nos registos eletrónicos de saúde
  • 9:16 - 9:20
    que colocava como "default"
    nas prescrições os medicamentos genéricos
  • 9:20 - 9:22
    em vez dos medicamentos de marca.
  • 9:22 - 9:24
    Não é necessário um estatístico
  • 9:24 - 9:27
    para ver que esse problema
    foi resolvido da noite para o dia,
  • 9:27 - 9:30
    e que se manteve resolvido desde então.
  • 9:30 - 9:33
    Na verdade, nos últimos dois anos e meio
    desde que esse programa começou,
  • 9:33 - 9:36
    o nosso hospital economizou
    32 milhões de dólares
  • 9:36 - 9:39
    Vou repetir: 32 milhões de dólares.
  • 9:40 - 9:43
    E a única coisa que fizemos
    foi tornar mais fácil para os médicos
  • 9:43 - 9:48
    fazer o que eles queriam
    fazer desde sempre.
  • 9:49 - 9:54
    Também ajuda mexer
    com a noção de perda das pessoas.
  • 9:54 - 9:58
    Fizemos isso num concurso
    para ajudar as pessoas a caminhar mais.
  • 9:59 - 10:02
    Queríamos que todos dessem
    pelo menos 7000 passos,
  • 10:03 - 10:05
    e medimos as contagens
    dos passos das pessoas
  • 10:05 - 10:07
    com um acelerómetro
    nos telemóveis deles.
  • 10:07 - 10:11
    Ao Grupo A, o grupo de controlo,
    dissemos apenas
  • 10:11 - 10:13
    que caminhassem os 7000 passos.
  • 10:13 - 10:16
    O Grupo B teve um incentivo financeiro.
  • 10:16 - 10:21
    Demos-lhes 1,40 dólar por cada dia
    em que andassem 7000 passos.
  • 10:21 - 10:23
    O Grupo C teve
    o mesmo incentivo financeiro,
  • 10:23 - 10:27
    mas foi considerado como uma perda
    em vez de um ganho:
  • 10:27 - 10:30
    1,40 dólar por dia
    são 42 dólares por mês
  • 10:30 - 10:34
    Demos a esses participantes
    os 42 dólares no início de cada mês,
  • 10:34 - 10:36
    numa conta virtual
    que eles podiam acompanhar,
  • 10:36 - 10:41
    e tirávamos 1,40 dólar por cada dia
    em que não caminhassem os 7000 passos.
  • 10:41 - 10:44
    Um economista diria
    que esses dois incentivos financeiros
  • 10:44 - 10:45
    são a mesma coisa.
  • 10:45 - 10:50
    Em cada dia que caminhavam 7000 passos,
    ficavam 1,40 dólar mais ricos.
  • 10:50 - 10:53
    Mas um economista comportamental
    diria que são incentivos diferentes.
  • 10:53 - 10:57
    porque somos muito mais motivados
    a evitar a perda de 1,40 dólar
  • 10:57 - 11:00
    do que motivados a ganhar 1,40 dólar.
  • 11:00 - 11:02
    Foi exatamente o que aconteceu.
  • 11:03 - 11:07
    Os que recebiam 1,40 dólar por dia
    em que tivessem caminhado os 7000 passos
  • 11:07 - 11:10
    não atingiam as mesmas metas
    que os do grupo de controlo.
  • 11:10 - 11:12
    O incentivo financeiro não funcionou.
  • 11:12 - 11:15
    Mas os que tinham um incentivo de perda
  • 11:15 - 11:18
    cumpriram as metas mais de 50% das vezes.
  • 11:18 - 11:21
    Isso não faz sentido económico,
    mas faz sentido psicológico.
  • 11:21 - 11:24
    porque as perdas parecem
    maiores que os ganhos
  • 11:24 - 11:26
    E hoje utilizamos incentivos
    baseados na perda
  • 11:26 - 11:28
    para ajudar os pacientes a andarem mais,
  • 11:28 - 11:30
    perder peso
  • 11:30 - 11:32
    e tomar os medicamentos.
  • 11:32 - 11:34
    O dinheiro pode ser uma motivação.
  • 11:34 - 11:36
    Todos sabemos isso.
  • 11:36 - 11:40
    Mas é muito mais influente
    quando aliado à psicologia.
  • 11:41 - 11:43
    O dinheiro, certamente,
    tem as suas desvantagens.
  • 11:43 - 11:47
    O meu exemplo favorito
    envolve um programa de creches.
  • 11:47 - 11:50
    O maior pecado que podemos
    cometer numa creche
  • 11:50 - 11:52
    é ir buscar os filhos depois da hora.
  • 11:53 - 11:54
    Ninguém fica feliz.
  • 11:54 - 11:56
    Os filhos choram porque não os amamos.
  • 11:56 - 11:58
    (Risos)
  • 11:58 - 12:01
    Os professores ficam irritados porque
    têm de ficar até mais tarde.
  • 12:01 - 12:03
    E nós sentimo-nos
    terrivelmente culpados.
  • 12:03 - 12:06
    Uma creche em Israel
    decidiu acabar com esse problema,
  • 12:06 - 12:09
    e fizeram algo que muitas creches
    nos EU fazem,
  • 12:09 - 12:12
    que é estabelecer uma multa por atrasos.
  • 12:12 - 12:15
    A multa escolhida foi de 10 "shekels"
  • 12:15 - 12:17
    que é mais ou menos três dólares.
  • 12:17 - 12:19
    Sabem o que aconteceu?
  • 12:19 - 12:22
    Os atrasos aumentaram.
  • 12:22 - 12:25
    Se pensarmos bem, faz todo o sentido.
  • 12:25 - 12:28
    Que grande negócio! Por 10 "shekels"...
  • 12:28 - 12:29
    (Risos)
  • 12:29 - 12:31
    podem cuidar dos meus filhos a noite toda!
  • 12:31 - 12:33
    (Risos)
  • 12:33 - 12:37
    Agarraram numa motivação intrínsica,
    muito forte para não se atrasarem,
  • 12:37 - 12:39
    e aproveitaram-se dela.
  • 12:39 - 12:42
    E o pior é que, quando o pessoal
    da creche descobriu o seu erro,
  • 12:42 - 12:44
    e retirou o incentivo financeiro,
  • 12:44 - 12:47
    os atrasos continuaram
    em níveis elevados.
  • 12:47 - 12:50
    Já haviam envenenado o contrato social.
  • 12:50 - 12:54
    A área da saúde está cheia
    de fortes motivações intrínsecas.
  • 12:54 - 12:58
    Nós temos médicos e pacientes
    que querem fazer a coisa certa.
  • 12:58 - 13:01
    Os incentivos financeiros podem ajudar
  • 13:01 - 13:04
    mas não podemos esperar
    que o dinheiro na área da saúde
  • 13:04 - 13:06
    faça todo o esforço pesado
  • 13:06 - 13:11
    Pelo contrário, o maior influenciador
    do comportamento na saúde
  • 13:11 - 13:13
    talvez sejam as nossas interações sociais.
  • 13:13 - 13:15
    O compromisso social funciona na saúde
  • 13:15 - 13:18
    e funciona em duas direções.
  • 13:18 - 13:23
    Primeiro, fundamentalmente preocupamo-nos
    com o que os outros pensam de nós.
  • 13:23 - 13:26
    Por isso, uma das mais poderosas
    formas de mudar o nosso comportamento
  • 13:26 - 13:30
    é fazer com que as nossas atividades
    sejam testemunhadas pelos outros.
  • 13:30 - 13:33
    Portamo-nos de modo diferente
    quando estamos a ser observados.
  • 13:33 - 13:37
    Estive em restaurantes
    que não têm lavatório na casa de banho.
  • 13:37 - 13:39
    Em vez disso, quando se sai,
    o lavatório está cá fora,
  • 13:39 - 13:41
    na parte principal do restaurante,
  • 13:41 - 13:43
    onde toda a gente pode ver
    se lavamos as mãos ou não.
  • 13:43 - 13:45
    Não tenho a certeza,
    mas estou convencido
  • 13:45 - 13:47
    de que há muito mais lavagens de mãos
  • 13:47 - 13:49
    naqueles locais à vista.
  • 13:49 - 13:52
    Sempre nos portamos melhor
    quando estamos a ser observados.
  • 13:52 - 13:54
    De facto, houve um estudo fantástico
  • 13:54 - 13:58
    feito numa unidade de cuidados intensivos
    num hospital da Flórida.
  • 13:58 - 14:01
    A taxa de lavagens de mãos
    era muito baixa, o que é perigoso, claro,
  • 14:01 - 14:03
    porque pode espalhar infeções
  • 14:03 - 14:07
    Assim, os investigadores colocaram
    um quadro com os olhos de uma pessoa
  • 14:07 - 14:08
    por cima do lavatório.
  • 14:08 - 14:11
    Não era uma pessoa de verdade.
    Era só uma fotografia.
  • 14:11 - 14:15
    Nem sequer era um rosto inteiro,
    eram só aqueles olhos a olharem para nós.
  • 14:15 - 14:16
    (Risos)
  • 14:16 - 14:18
    As lavagens de mãos mais que duplicaram.
  • 14:18 - 14:20
    Preocupamo-nos tanto
    com o que os outros pensam de nós
  • 14:20 - 14:22
    que o nosso comportamento melhora
  • 14:22 - 14:25
    mesmo que só imaginemos
    que estamos a ser observados.
  • 14:26 - 14:29
    Não só nos preocupamos
    com o que os outros pensam de nós,
  • 14:29 - 14:33
    como baseamos os nossos comportamentos
    naquilo que vemos os outros fazerem.
  • 14:34 - 14:36
    E tudo isso faz-nos voltar
    aos cintos de segurança.
  • 14:37 - 14:42
    Quando eu era criança, adorava
    a série "Batman" na TV, com Adam West.
  • 14:42 - 14:45
    Tudo o que o Batman
    e o Robin faziam era tão fixe,
  • 14:45 - 14:48
    e, claro, o Batmóvel,
    era o mais fixe de tudo.
  • 14:48 - 14:52
    Essa série foi para o ar de 1966 a 1968.
  • 14:53 - 14:57
    Naquela época, os cintos de segurança
    eram acessórios opcionais nos carros.
  • 14:57 - 15:00
    Mas os produtores daquela série
    fizeram algo realmente importante.
  • 15:00 - 15:03
    Quando o Batman e o Robin
    entravam no Batmóvel,
  • 15:03 - 15:05
    a câmara focava o peito deles,
  • 15:05 - 15:08
    e víamos o Batman e o Robin
    a colocar os cintos de segurança.
  • 15:08 - 15:10
    Ora, se o Batman e o Robin
    colocavam os cintos,
  • 15:10 - 15:12
    podem apostar que eu
    também iria colocar o meu.
  • 15:12 - 15:15
    Aposto que aquela série
    salvou milhares de vidas.
  • 15:15 - 15:18
    E novamente, isso também funciona
    na área de saúde.
  • 15:18 - 15:21
    Os médicos usam antibióticos
    mais adequadamente
  • 15:21 - 15:24
    quando veem como outros médicos os usam.
  • 15:24 - 15:28
    Muitas atividades na área da saúde
    são ocultas, não são testemunhadas,
  • 15:28 - 15:30
    mas os médicos são animais sociais,
  • 15:30 - 15:35
    e têm um melhor desempenho
    quando veem o que outros médicos fazem.
  • 15:35 - 15:38
    Assim, a influência social funciona
    na área de saúde.
  • 15:38 - 15:42
    O mesmo se aplica às noções
    de arrependimento ou aversão à perda.
  • 15:42 - 15:47
    Nunca usaríamos essas ferramentas
    se pensássemos que todos são racionais
  • 15:47 - 15:49
    permanentemente.
  • 15:49 - 15:52
    Para ser claro:
    Não estou a condenar a racionalidade.
  • 15:52 - 15:54
    Quero dizer, isso seria muito irracional.
  • 15:55 - 15:59
    Mas todos sabemos que é na parte
    não racional das nossas mentes
  • 15:59 - 16:03
    que obtemos a coragem,
    a criatividade, a inspiração
  • 16:03 - 16:05
    e tudo o mais que desperte paixão.
  • 16:05 - 16:07
    E sabemos algo mais, também.
  • 16:07 - 16:11
    Sabemos que podemos ser mais eficazes
    a melhorar as condutas na saúde
  • 16:12 - 16:16
    se trabalharmos com a parte
    irracional da nossa natureza
  • 16:16 - 16:19
    em vez de ignorar ou de lutar contra ela.
  • 16:19 - 16:21
    Quando se trata da área de saúde,
  • 16:21 - 16:23
    entender a nossa irracionalidade
  • 16:23 - 16:26
    é apenas mais um acessório
    na nossa caixa de ferramentas
  • 16:26 - 16:28
    E aproveitar essa irracionalidade
  • 16:29 - 16:32
    pode ser o movimento
    mais racional de todos.
  • 16:32 - 16:34
    Obrigado.
  • 16:34 - 16:38
    (Aplausos)
Title:
Para melhores cuidados na área de saúde, aceitem a irracionalidade
Speaker:
David Asch
Description:

Porque tomamos más decisões que sabemos serem negativas para a nossa saúde? Nesta palestra franca e engraçada, o economista comportamental e especialista em políticas de saúde David Asch explica porque o nosso comportamento é muitas vezes irracional — de formas altamente previsíveis — e mostra como podemos aproveitar essa irracionalidade para tomar melhores decisões e melhorar o nosso sistema de saúde em geral.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:53

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