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Como os estudantes de cor enfrentam o síndroma da impostura

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    A minha vida começou
    em Bronx, em Nova Iorque,
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    num apartamento de um único quarto
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    onde eu vivia com as minhas duas irmãs
    e a minha mãe imigrante.
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    Eu adorava o nosso bairro.
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    Era um bairro cheio de vida.
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    Havia sempre o merengue, em alto som,
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    vizinhos a socializarem
    nas escadas de acesso aos prédios
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    e conversas animadas
    sobre o jogo de dominó.
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    Sentíamo-nos em casa
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    e era agradável.
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    Mas não era simples.
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    De facto, toda a gente na escola
    conhecia o quarteirão em que vivíamos,
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    porque era ali que as pessoas iam comprar
    erva e outros tipos de drogas.
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    E onde se vende droga há conflitos.
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    Assim, nós íamos para a cama
    ao som de tiroteios.
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    Passei a maior parte
    da minha infância preocupada,
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    preocupada com a nossa segurança.
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    A nossa mãe também.
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    Preocupava-se que a violência
    a que assistíamos
  • 1:02 - 1:04
    viesse a dominar a nossa vida,
  • 1:04 - 1:06
    que a nossa pobreza significasse
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    que os vizinhos com quem
    vivíamos e partilhávamos o espaço
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    viessem a fazer-nos mal.
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    Toda a nossa vida era em Bronx,
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    mas a angústia da minha mãe
    encorajou-a agir
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    e, em breve, estávamos
    a caminho de Connecticut...
  • 1:23 - 1:23
    ( Risos)
  • 1:23 - 1:28
    ... a reboque, para escolas internas,
    com bolsas de estudo.
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    Nunca subestimem
    o poder de uma mãe,
  • 1:34 - 1:37
    apostada em manter
    a segurança dos seus filhos.
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    (Aplausos)
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    No internato, na escola,
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    pela primeira vez,
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    pude dormir sem preocupação.
  • 1:53 - 1:56
    Não precisava de fechar à chave
    a porta do meu quarto,
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    podia andar descalça na relva,
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    e, à noite, olhar para o céu
    cheio de estrelas.
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    Coisas novas felizes.
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    Mas também havia outras coisas novas.
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    Cedo percebi que eu não pertencia ali.
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    Percebi que não falava como devia ser.
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    Para me mostrar
    a forma apropriada de falar,
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    as minhas professoras davam-me lições
    frequentemente, em público,
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    sobre o modo adequado
    de pronunciar certas palavras.
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    Uma vez, uma professora
    deu-me uma lição no corredor:
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    "Asss - king".
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    Ela disse isto em voz alta.
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    "Dena, não se diz "axing" como se andasses
    por aí com um machado.
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    "É ridículo".
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    Já podem imaginar as piadas
    das minhas colegas.
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    Mas ela continuou:
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    "Tens que separar a palavra
    em "ass" e "king",
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    "depois, juntas as duas
    e pronuncias corretamente
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    "Asking".
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    Havia outros momentos que me faziam
    lembrar que eu não pertencia ali.
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    Uma vez, entrei no quarto
    de uma colega de turma
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    e reparei que ela estava a tomar conta
    dos seus bens valiosos à minha volta.
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    Fiquei a pensar:
    Porque é que ela faz isto?
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    Outra vez,
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    uma outra colega de turma,
    entrou no meu quarto
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    e deu um grito: "Oh!"
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    quando eu estava a pôr
    uma solução oleosa no couro cabeludo.
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    Há danos emocionais quando os jovens
    não podem ser eles próprios,
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    quando são obrigados a ser o que não são
    só para serem aceites.
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    É uma espécie de violência.
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    Por fim, a minha história
    é um êxito genuíno.
  • 4:02 - 4:05
    Frequentei um colégio interno
    e uma faculdade em New England,
  • 4:05 - 4:07
    estudei no estrangeiro no Chile
  • 4:07 - 4:11
    e voltei para o Bronx
    como professora do liceu.
  • 4:11 - 4:14
    Recebi uma bolsa de estudos Truman,
  • 4:14 - 4:17
    uma bolsa do Fulbright e da Soros.
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    E ainda podia citar mais.
  • 4:19 - 4:20
    (Risos)
  • 4:20 - 4:22
    Mas não vou citar.
  • 4:22 - 4:23
    (Risos)
  • 4:24 - 4:27
    Fiz o doutoramento
    na Universidade da Columbia.
  • 4:29 - 4:31
    (Aplausos)
  • 4:31 - 4:33
    E arranjei um emprego em Yale.
  • 4:33 - 4:35
    (Aplausos)
  • 4:35 - 4:40
    Sinto-me orgulhosa por tudo
    o que consegui fazer,
  • 4:40 - 4:42
    no meu percurso, até aqui.
  • 4:45 - 4:48
    Sofro do síndrome de eterna impostora.
  • 4:49 - 4:52
    Ou fui convidada porque sou um símbolo,
  • 4:52 - 4:54
    o que não sou nada,
  • 4:54 - 4:58
    talvez seja mais uma caixa
    que alguém queria verificar.
  • 4:58 - 5:01
    Ou então sou excecional,
  • 5:02 - 5:06
    o que significa que eu tive
    que abandonar as pessoas que amo.
  • 5:08 - 5:14
    É o preço que eu e muitas mais pessoas
    pagam por estudarem, embora sejam de cor.
  • 5:16 - 5:19
    (Aplausos)
  • 5:23 - 5:26
    Eu estou sempre a questionar-me.
  • 5:28 - 5:30
    Será que as minhas calças
    estão apertadas demais?
  • 5:31 - 5:34
    Devo amarrar o cabelo
    ou liberto-o à moda africana?
  • 5:35 - 5:37
    Devo falar de mim mesma,
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    ou a força das minhas palavras
    serão reduzidas a: "Ela está zangada"?
  • 5:44 - 5:47
    Porque é que tive que sair de Bronx
  • 5:47 - 5:50
    para ter acesso a uma educação melhor?
  • 5:52 - 5:56
    Porque é que, para ter
    essa melhor educação,
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    tive que sofrer o trauma
    de apagar aquilo que me fez a mim...
  • 6:04 - 6:08
    uma menina de cor escura, de Bronx,
    criada por uma mãe de Antígua.
  • 6:11 - 6:15
    Quando penso nas atuais iniciativas
    de reforma do ensino,
  • 6:15 - 6:17
    não posso deixar de perguntar:
  • 6:18 - 6:22
    O que é que os nossos estudantes de cor
    aprendem sobre si mesmos?
  • 6:24 - 6:27
    Três décadas de investigação revelam
  • 6:27 - 6:31
    que os estudantes de cor
    são suspensos e expulsos
  • 6:31 - 6:34
    três vezes mais, em relação
    a estudantes brancos,
  • 6:34 - 6:39
    são punidos mais rigorosamente
    para as mesmas infrações.
  • 6:41 - 6:45
    Também se sabe isso pela ausência
    da sua vida e da sua história,
  • 6:45 - 6:47
    nos programas de ensino.
  • 6:47 - 6:52
    The Cooperative Children's Book Center
    fez uma análise de quase 4000 livros
  • 6:53 - 6:57
    e descobriu que somente 3% dos livros
    eram sobre afro-americanos.
  • 6:59 - 7:00
    E também descobriram isso
  • 7:00 - 7:03
    pela falta de professores
    parecidos com eles.
  • 7:06 - 7:10
    Uma análise de dados do Centro Nacional
    de Estatísticas de Ensino
  • 7:10 - 7:16
    descobriu que 45% dos alunos
    do pré-escolar ao ensino secundário
  • 7:16 - 7:17
    eram alunos de cor,
  • 7:19 - 7:23
    enquanto só 17%
    dos nossos professores são de cor.
  • 7:25 - 7:28
    Os nossos jovens de cor
    pagam um preço enorme
  • 7:28 - 7:30
    quando as escolas lhes mandam a mensagem
  • 7:30 - 7:32
    que eles devem ser controlados,
  • 7:32 - 7:35
    que têm que deixar em casa
    a sua identidade,
  • 7:35 - 7:37
    para terem êxito nos estudos.
  • 7:39 - 7:42
    Todas as crianças merecem
    formação escolar
  • 7:42 - 7:46
    que lhes garanta a segurança de estudar
  • 7:46 - 7:50
    sentindo-se bem com a cor da sua pele.
  • 7:51 - 7:54
    (Aplausos)
  • 8:00 - 8:05
    É possível criar turmas
    emocional e fisicamente seguras.
  • 8:05 - 8:08
    onde os estudantes
    também prosperem academicamente.
  • 8:09 - 8:12
    Eu confirmo isto porque
    experimentei-o na minha turma,
  • 8:12 - 8:14
    quando voltei ao Bronx para ensinar.
  • 8:16 - 8:18
    O que é que eu fiz?
  • 8:19 - 8:21
    Concentrei o meu ensino
  • 8:21 - 8:25
    nas vidas, nas histórias
    e nas identidades dos meu alunos.
  • 8:27 - 8:30
    Fiz tudo isso, porque queria
    que os meus alunos soubessem
  • 8:30 - 8:33
    que toda a gente à sua volta os apoiava
  • 8:33 - 8:36
    para eles serem o seu melhor.
  • 8:37 - 8:42
    Embora eu não pudesse controlar
    a instabilidade na casa deles,
  • 8:42 - 8:45
    a dúvida de ter ou não
    a refeição seguinte,
  • 8:45 - 8:49
    ou os vizinhos barulhentos
    que os impediam de dormir,
  • 8:49 - 8:52
    eu dei aos meus alunos
    uma sala de aulas com amor
  • 8:52 - 8:55
    que os fazia sentirem-se
    orgulhosos de quem eram,
  • 8:55 - 8:59
    que os fazia saber
    que eles também eram importantes.
  • 9:00 - 9:01
    Sabem uma coisa?
  • 9:03 - 9:08
    Sempre que eu oiço ou digo
    a palavra "asking",
  • 9:11 - 9:13
    estou de novo na escola secundária.
  • 9:14 - 9:19
    Começo a pensar em "ass" e em "king"
  • 9:20 - 9:24
    e em juntar as duas palavras
    para falar de uma forma
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    em que alguém no poder
    queira ouvir-me.
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    Há uma maneira melhor,
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    que não force os miúdos de cor
    a ter duas caras,
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    uma maneira de eles preservarem
    os seus laços com a família,
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    e com as suas comunidades.
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    Uma maneira que os ensine
    a confiar na sua intuição
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    e a ter fé no seu génio criativo.
  • 9:55 - 9:56
    Obrigada.
  • 9:56 - 9:59
    (Aplausos)
Title:
Como os estudantes de cor enfrentam o síndroma da impostura
Speaker:
Dena Simmons
Description:

Enquanto mulher de cor, oriunda da zona mais difícil de Bronx, que veio a obter todas as distinções do prestígio académico, Dena Simmons sabe que, para os estudantes de cor, o êxito na formação escolar é adquirido, muitas vezes, à custa de viver com autenticidade. Hoje é professora e analisa como podemos criar um ensino que faça com que todos os estudantes se sintam orgulhosos daquilo que são. Ela diz que todas as crianças merecem um ensino que lhes garanta a segurança e o conforto de estudarem, independentemente da cor da pele.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:20

Portuguese subtitles

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