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Title:
A neurociência da imaginação — Andrey Vyshedskiy
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Description:
Vejam a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/the-neuroscience-of-imagination-andrey-vyshedskiy
Imaginem, por instantes, um pato a ensinar uma aula de francês. Uma partida de pingue-pongue em órbita à volta dum buraco negro. Um golfinho a equilibrar um ananás. Provavelmente nunca viram uma coisa destas. Mas podemos imaginá-las instantaneamente. Como é que o cérebro produz uma imagem duma coisa que nunca vimos? Andrey Vyshedskiy explica a neurociência da imaginação.
Lição de Andrey Vyshedskiy, animação de Tomás Pichardo-Espaillat.
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Imaginem, por instantes, um pato
a ensinar uma aula de francês.
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Uma partida de pingue-pongue
em órbita à volta dum buraco negro.
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Um golfinho a equilibrar um ananás.
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Provavelmente nunca viram
uma coisa destas.
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Mas podemos imaginá-las instantaneamente.
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Como é que o cérebro produz uma imagem
duma coisa que nunca vimos?
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Pode não parecer difícil,
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mas isso é porque
estamos habituados a fazê-lo.
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Na verdade, isto é um problema complexo
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que exige uma coordenação sofisticada
no interior do cérebro.
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Isso porque, para criar
estas novas imagens, esquisitas,
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o cérebro agarra em pedaços conhecidos
e organiza-os de um modo diferente,
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como uma colagem
feita de fragmentos de fotos.
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O cérebro tem que manipular
um mar de milhares de sinais elétricos
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levando-os a todos até ao seu destino
precisamente na altura certa.
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Quando olhamos para um objeto,
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disparam milhares de neurónios
no córtex posterior.
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Estes neurónios codificam
diversas características do objeto:
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pontiagudo, fruto,
castanho, verde e amarelo.
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Estes disparos sincronizados
reforçam as ligações
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entre esse conjunto de neurónios,
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interligando-os naquilo que se conhece
como um conjunto neuronal,
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neste caso, para um ananás.
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Na neurociência, chama-se a isto
o princípio de Hebb,
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os neurónios que disparam em conjunto
interligam-se em conjunto.
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Se, posteriormente, tentarem
imaginar um ananás.
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todo o conjunto se iluminará,
formando uma imagem mental completa.
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Os golfinhos são codificados
por um conjunto neuronal diferente.
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Com efeito, cada objeto que viram
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é codificado por um conjunto neuronal
a ele associado,
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os neurónios interligados
por aquele disparo sincronizado.
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Mas este princípio não explica
o número infinito de objetos
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que podemos evocar na nossa imaginação
sem sequer os termos visto.
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Não existe nenhum conjunto neuronal
para um golfinho a equilibrar um ananás.
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Então, como o conseguimos imaginar?
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Uma hipótese, chamada
Teoria da Síntese Mental,
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diz que, mais uma vez,
a sincronização é fundamental.
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Se os conjuntos neuronais
para o golfinho e o ananás
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forem ativados ao mesmo tempo,
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percebemos os dois objetos separados
como uma única imagem.
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Mas tem que haver qualquer coisa
no cérebro para coordenar esses disparos.
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Um candidato plausível
é o córtex pré-frontal,
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que está envolvido
em todas as funções cognitivas complexas.
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Os neurónios do córtex pré-frontal
estão ligados ao córtex posterior
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por extensões de células longas e delgadas
chamadas fibras nervosas.
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A teoria da síntese mental propõe que,
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tal como um bonecreiro
manipula os cordéis,
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os neurónios do córtex pré-frontal
enviam sinais elétricos,
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através das fibras nervosas,
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para múltiplos conjuntos
no córtex posterior.
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Isso ativa-os em uníssono.
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Se os conjuntos neuronais
forem ativados ao mesmo tempo,
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obtemos a imagem composta
tal como se a tivéssemos visto.
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Esta sincronização
consciente e intencional
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de diferentes conjuntos neuronais
pelo córtex pré-frontal
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chama-se síntese mental.
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Para que a síntese mental funcione
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os sinais têm que chegar ao mesmo tempo
a ambos os conjuntos neuronais.
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O problema é que alguns neurónios
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estão muito mais afastados
do córtex pré-frontal do que outros.
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Se os sinais viajarem pelas fibras
à mesma velocidade,
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vão chegar dessincronizados.
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Não podemos alterar o comprimento
das interligações,
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mas o cérebro, principalmente
quando se desenvolve na infância,
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tem forma de alterar
a velocidade da condução.
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As fibras nervosas estão envolvidas
numa substância lípida, chamada mielina.
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A mielina é um isolante
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e acelera os sinais elétricos
que percorrem a fibra nervosa.
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Algumas fibras nervosas
têm 100 camadas de mielina.
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Outras só tem umas poucas.
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As fibras com camadas
mais espessas de mielina
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podem conduzir sinais
100 vezes mais depressa, ou mais ainda,
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do que as que têm camadas delgadas.
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Alguns cientistas pensam
que esta diferença nas camadas de mielina
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podem ser a causa da uniformização
do tempo de condução no cérebro
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e, por consequência,
da nossa capacidade de síntese mental.
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Muita desta mielinização
ocorre na infância,
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por isso, desde tenra idade,
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a nossa imaginação vibrante
tem muito a ver com a formação do cérebro
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cujas interligações
cuidadosamente mielinizadas
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podem estimular sinfonias criativas
durante toda a nossa vida.